Noite das meninas

Luna

Após a reunião com o meu chefe e os investidores, retorno para a minha sala.

Termino as minhas demandas e às 18 horas, Juliana vem me esperar como faz diariamente.

- Amiga, tenho uma novidade incrível! - Diz animada.

- O que houve, Ju? - Pergunto.

- Aquela comédia romântica que você estava louca para assistir, vai passar no cinema hoje. Nós bem que podíamos ver né? - Diz com uma carinha pidona que me faz sorrir.

- Ai Ju - Suspiro - Não faz essa cara que eu amoleço - Digo aos risos.

- Isso é um sim? - Sorri em expectativa - Podemos chamar também as nossas amigas Sofia e a Chiara. Faz tempo que não saímos com elas. Depois do filme vamos comer aquele lanche que você ama e tomar um sundae gigante de sobremesa.

Sei que a minha amiga só quer me animar, mas eu não estou no clima. Ainda estou muito magoada com o que o Benício disse.

- Ju... - Suspiro - Vá com as meninas, eu vou ficar bem - Dou um sorriso triste.

- Não - Juliana diz cruzando os braços como uma criança birrenta - Se você não for, eu também não vou.

- Ai Juliana... - Reviro os olhos.

- Lu, você precisa se divertir. Vamos, por favorzinho - Junta as mãos em súplica.

Não resisto e dou uma gargalhada:

- Ok, você venceu... - Digo - Mas quero voltar cedo. Nós duas trabalhamos amanhã.

- Combinado! - Juliana brinca fazendo sinal de continência.

A minha amiga me ajuda a organizar as minhas coisas e saímos da empresa.

Ao chegar em casa tomo um banho rápido e visto um vestido curto e florido vermelho.

No horário combinado, encontramos as nossas amigas:

Sofia e Chiara são argentinas e nos conhecemos na universidade.

Sofia Chiara

Ambas são divertidas e espontâneas assim como Juliana. Acho que a única mais inibida do grupo sou eu.

Éramos um quarteto inseparável nos tempos de faculdade e apesar das nossas amigas argentinas terem namorado, sempre arrumamos um tempinho para sairmos as quatro juntas em um passeio só de meninas.

- Uau amigas! - Sofia diz - Como vocês estão lindas!

- Estamos vestidas para matar - Chiara completa nos causando risos.

- Obrigada, amigas - Juliana diz - Foi difícil mas eu consegui tirar essa pessoinha de casa - A morena se refere a mim enquanto me abraça pelos ombros.

- Nós ficamos sabendo que você e o Benício brigaram, amiga - Chiara diz com pesar.

- Seja o que for que tenha acontecido entre vocês, vai passar - Sofia pisca - Todo casal briga.

Olho para Juliana sem entender e ela me lança um olhar cúmplice. As meninas ainda não sabem da minha gravidez. Sinal que a Ju foi discreta e não contou. Melhor assim. Ainda não me sinto bem em espalhar essa notícia.

O que mais me preocupa é a reação dos meus pais e da minha irmãzinha quando souberem.

Desde eu me entendo por gente, os meus pais trabalham duro para dar o melhor para nós duas.

O meu pai Raul é motorista de transporte escolar e a minha mãe Carolina é professora de uma escola primária. Desde pequena, eles me incentivaram a estudar muito para ser uma profissional de sucesso. Até o quinto ano estudei em um colégio particular que eles pagavam com muito esforço.

Quando entrei no sexto ano, fiz uma prova e consegui uma bolsa nesse mesmo colégio.

Estudei muito para manter as minhas notas em alta e não perder a bolsa.

Sempre fui motivo de orgulho para a minha família. Quando a Luísa nasceu, eu tinha 14 anos e mesmo sob os protestos da minha mãe, fazia questão de ajudar com a minha irmãzinha.

Me mudei para a Argentina quando a pequena tinha , 4 aninhos e sofri muito longe dela. Todas as férias fazia questão de ir ao Brasil visitá-los e mimar a minha irmã.

Ela eu sempre tivemos uma forte ligação. Luísa me copiava em tudo e nos passeios que fazíamos juntas durante as minhas visitas, ela me exibia pra todos com orgulho. Lágrimas brotam nos meus olhos quando penso no péssimo exemplo que estou dando para a minha irmãzinha.

- Luna? Está tudo bem, amiga? - A voz de Juliana tira-me dos meus pensamentos.

- Oi, Ju. Estou sim - Enxugo uma lágrima solitária.

- Oh amiga... - Sofia diz comovida - Você está chorando.

- Não é nada, Sofi - Forço um sorriso - Só estou pensando nos meus pais e na minha irmã.

- Convide eles para virem aqui nas próximas férias, amiga - Juliana diz - Lugar para eles dormirem é o que não falta.

- É… vou convidar sim - Sorrio - Bom, vamos ver o filme?

- Só se for agora! - Chiara diz empolgada.

Compramos os nossos ingressos e pipocas e entramos na sala onde será transmitido o longa que escolhemos.

O filme é ótimo e até me arranca algumas risadas. Assim que saímos, vamos à praça de alimentação onde comemos lanches com batata frita, refrigerante e eu tomo um delicioso sundae de chocolate de sobremesa.

Por volta das 21:30, os namorados de Sofia e Chiara ligam avisando que vão buscá-las e elas se despedem de Juliana e eu, já que a morena quer passar em uma loja onde viu um sapato que quer comprar.

Assim que saímos da loja de calçados, caminhamos rumo à saída do ‘shopping’, quando me detenho ao passar por uma loja de bebês. Olho cada roupinha encantada. Juliana percebe e diz:

- Vamos entrar? - Sorri e eu assinto.

Eu ia esperar descobrir se o meu bebê é menino ou menina antes de começar a comprar as coisinhas do enxoval. Mas não resisto à tanta fofura junta.

Compro um macacão branco de algodão e um par de sapatinhos da mesma cor.

Enquanto me preparo para ir ao caixa realizar o pagamento, vejo Juliana pegar um carrinho de bebê todo azul-marinho.

- O que é isso, Juliana? - Pergunto a rir.

- O primeiro presente do meu sobrinho - Sorri divertida.

- Ai Ju - Dou uma gargalhada - Você não tem jeito. Já viu o preço desse carrinho? É muito caro!

- Ah que bobagem, Luna - Revira os olhos - Aceita vai - Junta as mãos em súplica.

- Ok... - Sorrio - Eu aceito com uma condição - Digo e ela me olha em expectativa - Se você aceitar ser madrinha do meu bebê.

- Opa! É claro que eu aceito, amiga! - Diz aos pulinhos e me abraça - Agora vem, vamos passar essas compras senão daqui a pouco a loja fecha e nós não conseguimos comprar.

Rimos e após pagar pelo que compramos, nos dirigimos ao estacionamento. Enquanto Juliana coloca o carrinho desmontado no porta malas, eu me preparo para entrar no carro.

De repente detenho-me ao ver uma cena que acaba de vez com o meu dia. Lágrimas descem pesadamente pelos meus olhos.

Não, não pode ser...

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