Uma grande revelação

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Eu perdi a paciência com Ítalo.

Estou esperando ele chegar em casa pra dar um jeito nessa situação, tenho tentado saber o que acontece, mas nenhum dos meus funcionários conseguiu derrubar as barreiras digitais dele. Eu queria saber das conversas com o tal de Lupo.

Antonieta passou o dia inteiro me mimando e apesar de não ter maus sinais de alerta ligados com ela, isso começou me chamar atenção.

Espero que uma conversa seja o suficiente.

No fim do dia ele aparece, está com uma postura de quem tenta esconder alguma coisa. Está disfarçando com um sorriso.

- Boa noite pra vocês!

Espero por ele cumprimentando de maneira pessoal a mulher.

- Ítalo, será que nós podemos conversar?

Rizzo abre um sorriso pra mim. Ele me deixa confuso, me trata muito bem, mas mesmo assim eu não posso deixar de pensar que o motivo pelo qual me trouxe aqui é muito grave.

- Vem comigo até o meu escritório.

O acompanho e eu passo na frente enquanto Ítalo fecha a porta.

- O que deseja, Mancini?

Solto o ar enquanto retiro meus óculos. Eu não posso mais ficar aqui fingindo demência, tenho que arriscar mesmo e ir direto a fonte pra saber a raiz desse problema de uma vez por todas. Deixo que ele perceba que estou irritado.

- Você foi atrás de mim por quê? Qual o seu interesse em mim, senhor Rizzo? Achou que eu não fosse descobrir que sua mulher é sobrinha do marido da minha mãe relapsa e distante, e viria pra cá no escuro? Me diz agora o que você quer, ou nós vamos passar de amigos cordiais a inimigos mortais, porque eu sei, e você sabe, que não somos o que mostramos para o mundo ser.

A expressão de incredulidade dele me mostra que achou mesmo que eu estava aqui no escuro.

- Não estou entendendo, Mancini.

Eu dou uma risada debochada.

- Não gasta mais a minha paciência do que você já tem gastado, Rizzo. Eu exijo que me diga de uma vez qual o motivo da sua aproximação.

A postura dele agora é outra.

Cruza os braços e estreita os olhos pra mim.

- Quem você pensa que é pra falar comigo desse jeito na minha casa? Não tenho nada pra te falar, essa situação não compete a mim!

Me aproximo dele e ficamos cara a cara.

- Eu sou aquele que vai te desmascarar dentro de vinte e quatro horas se não me contar o que quer.

A resposta automática vem.

- Suma da minha casa!

- Eu vou, com todo o prazer...

Ando até a porta e olho pra ele uma última vez.

-... vinte e quatro horas, Ítalo, nem um minuto a mais!

********

Eu vim para o Lifestayle, marquei meu primeiro dia de entrevistas com Pietra pra hoje, vou decidir se pego ela pra mim ou não. Mas admito que estou muito tentado a usar a irmãzinha de Rizzo pra fazer raiva nele.

Está me fazendo raiva demais!

De repente meu telefone toca com um número que não conheço, mas o código de área pertence a Roma.

📲🔊 - Paolo falando.

A voz feminina e aveludada invade a linha.

📲🔊 - Oi senhor Mancini, aqui é a Ambra. Tudo bem?

Ora, ora... a senhora Rizzo está de volta ao jogo. Decido continuar sendo educado, pra saber ate onde ela vai.

📲🔊 - Tudo ótimo, senhora Rizzo. O que deseja?

A resposta dela é automática.

📲🔊 Te ver, Paolo, nós temos um assunto importante pra tratar. Tenho certeza que do seu absoluto interesse.

Do meu interesse?

Será que Ítalo foi covarde a ponto de mandar a mulher?

Vou pagar pra ver!

📲🔊 - Agora eu tenho um tempo, pode vir até o Lifestayle, estou hospedado aqui e tem um bom bar.

Desço para o bar e peço uma garrafa de frisante branco. Espero por Ambra em uma mesa de fácil localização e observo as pessoas na Piazza Navona. A senhora Rizzo aparece depois de trinta minutos, bem vestida como sempre, nem parece que tem apenas dezenove anos.

Me levanto para recebe-la na mesa.

- Confesso que estou curioso com a sua ligação. O que quer comigo, Ambra?

Já disparo apenas esperando por ela se sentando.

- Quero tratar de um assunto delicado, Paolo, e talvez eu não seja a mais indicada pra isso, mas estou vendo uma boa mulher sofrendo e ela já sofreu demais e por mais de vinte anos. Não é justo que continue.

Sirvo um pouco de vinho pra ela enquanto dou um sorriso de canto. Esse papo meloso não vai colar comigo, eu nao vou perder meu tempo com sentimentalismo barato. Fausta é uma d*sgraça na minha vida!

- Está falando da minha mamãezinha, mulher do seu tio?

O meu tom de voz bravo e desdenhoso não deixa dúvidas pra ela de quem eu sou

A encaro retirando meus óculos e solto o ar.

- Sabe senhora Rizzo, eu questionei ao seu marido o que ele queria comigo, mas não obtive resposta concreta...

Coço a minha bochecha escolhendo as palavras certas.

- Dei a Ítalo a chance de abrir o jogo comigo, passei alguns dias envolvido no teatrinho dele sem propósito, mas eu já estava ciente de quem ele é e de com quem era casado quando eu cheguei aqui. A questão toda é que ele se limitou a dizer que não me falaria, porque não compete a ele. Eu não sou uma marionete, Ambra, e a minha paciência está no limite com seu marido e esse circo que ele armou. Então se você veio aqui para conter os danos dessa palhaçada que ele está fazendo, eu espero que tenha bons argumentos, porque o meu tempo vale muito. Tanto quanto do seu maridinho de vida dupla que eu vou fazer questão de expor por aí, e eu não sei não, mas algo me diz que não é seguro nem pra você e muito menos pra ele.

Ela me encara perplexa por ver um lado meu que não é qualquer um que conhece. Aliás, eu costumo usar meu lado predatório entre quatro paredes somente, mas essa situação está tirando o verdadeiro Paolo do armário.

Ambra está petrificada e eu ergo a minha mão e estalo os dedos já irritado.

- Anda, garota. Fala logo!

A senhora Rizzo pisca atordoada. Ela bebe um pouco de vinho pra sair do choque.

- Não vim pra falar daquela vagabunda. Eu espero que os cães do inferno a arrastem quando chegar a hora.

Isso chama a minha atenção. Me recosto na cadeira e decido dar a ela a oportunidade falar.

- Pois bem, quem é a mulher de que você falou então?

Ela puxa o ar criando coragem e solta de uma vez:

- Eu não sei qual foi a conversa que você e meu marido tiveram, e nem me interessa. O meu papel aqui é por alguém bom, uma mulher que me acolheu de imediato assim que nos conhecemos quando eu fui obrigada a me casar por causa das raízes da minha família.

Ambra é esperta, sabe que não adianta medir palavras comigo.

O problema é que o que ela me diz me deixa mesmo surpreso, eu levo um golpe duro e que jamais imaginei que levaria.

- Fausta não é a sua mãe de verdade, a sua mãe é a Antonieta. Ela achou que você havia morrido junto com o Paolo pai, que te adotou pra ajudar ela que não teria condições de te criar. É uma historia sofrida que ela tem, e o homem que a ajudou e te acolheu era bom, e deixava até ela te ver, mesmo sendo Capo Regime. As pessoas de fora nos tacham como animais violentos e sanguinários, mas somos justos na maioria das vezes. O defeito do seu pai foi ter se casado com Fausta. Quando ele foi morto em uma emboscada ela se livrou de você e deixou Antonieta pensando que você havia morrido também.

Disfarço o impacto desa notícia servindo a ela mais vinho quando acaba com a taça. Continuo ouvindo Ambra falar.

- Trazer você pra cá foi uma surpresa pra Antonieta. Eu sei que meu marido é truculento e que não atende pelo nome de Diavolo atoa, mas ele é muito amoroso com quem se importa de verdade, ele queria agradar a sua mãe e não mediu esforços pra isso. Cuida dela. De verdade. Então é isso, eu descobri porque já havia escutado seu nome e também achava que Fausta era sua mãe biológica, mas Ítalo me contou as coisas e Antonieta também. Eu dei um jeito de enfiar ela no livro pra vocês ficarem a sós e se conhecerem melhor, mas ela não teve coragem de se abrir, então estou fazendo por ela, porque também sou grata demais àquela mulher.

Passo as mãos por meu rosto incrédulo com tudo que acabei de ouvir. Ambra está chorando de verdade enquanto fala sobre esse assunto, tem nada de fingimento aqui. Gosta mesmo da mulher que diz ser minha mãe.

- Você tem uma mãe boa de verdade, seja gentil com ela, Paolo. Antonieta é meu Amorzinho, é assim que eu a chamo.

Uma mãe boa? E isso existe mesmo?

Me obrigo a dizer algo:

- E como Ítalo conheceu ela?

A minha pergunta a faz parar de chorar, a peguei de surpresa.

- Hãn... Não perguntei, mas acho que não passou de uma coincidência. Ítalo não morava aqui em Roma, morou muitos anos em Florença. Deve ter a conhecido lá.

Opa... temos um ponto aqui.

Rizzo está escondendo algo grande da mulher e ela é inocente o suficiente pra não questionar o marido, certamente envolvida pela boa ação dele de procurar pelo mundo a fora o filho perdido da governanta.

- Você conhece seu marido e esse mundo em que vivem melhor do que eu, Ambra. Acha mesmo que é tudo uma grande coincidência?

Ela baixa os olhos e encara a mesa. Pensa sobre o que eu disse, certamente vendo que eu tenho razão.

Só que agora eu não tenho tempo a perder com ela. Eu preciso lidar com essa bomba que Ambra acabou de jogar no meu colo.

- Te agradeço por ter vindo aqui na cara e na coragem, pode deixar que eu assumo a questão agora.

Ambra se despede de mim e eu corro pra tentar achar o telefone de Antonieta em algum lugar da agenda do meu celular. Eu chego a rolar a tela até seu contato, mas me falta coragem de um primeiro momento.

Tudo que eu achei que sabia sobre a minha vida era uma mentira, eu não sou filho de quem eu pensei que fosse, e se o que Ambra me contou for totalmente verdade, eu não sei agora quem é o meu verdadeiro pai.

QUE INFERNO!

Volto pra meu quarto e ligo pra Pietra desmarcando nosso encontro, é sem condições me encontrar com ela. Depois mando uma menssagem pra Rizzo quando a noite chega e eu já martelei esse assunto milhares de vezes na minha cabeça.

Precisei marcar um encontro com ele.

**********

É quinta feira a noite e eu estive no café da manhã com Ítalo. Aquele mafioso de uma figa me contou a verdade.

Paolo realmente era meu pai e ele largou Fausta depois de descobrir que ela o enganou pra casar, não admitindo que não podia ter filhos. Foi aí que conheceu Antonieta e se apaixonou.

Eles o mataram feito um animal e me tomaram dela com três anos apenas.

Aquela maldita deve ter ficado comigo pra pegar o dinheiro que eu herdaria.

Pego o telefone e arrisco uma ligação. Sou atendido no terceiro toque e a voz de Antonieta preenche a linha.

📲🔊 - Pois não, senhor Mancini.

Faço um instante de silêncio na linha, antes de conseguir destravar.

📲🔊 - Eu sei que você me botou no mundo.

É o melhor que eu posso fazer.

Escuto os soluços da mulher fragil que eu conheci na casa de Ítalo e Ambra, e isso me comove de um jeito que jamais pensei que pudesse ser comovido. Eu passei a minha vida inteira odiando a figura materna que eu tinha e de repente eu tenho uma que se importa.

📲🔊 - Eu nem sei o que te dizer, meu filho.

Sinto meus olhos arderem.

📲🔊 - Você quer, sei lá... conversar?

Antonieta responde apressada, de um jeito que diz que é o que ela mais quer na vida.

📲🔊 - Quero sim, claro que eu quero. Onde eu devo ir?

📲🔊 - Vou chamar um carro de aplicativo e você vem. Acho que no meu quarto no hotel vai ser bom, vamos ter privacidade.

Olho para os lados quando desligo a ligação e me sinto ansioso. Eu não sei o que esperar... De repente eu me lembro do esforço dela pra me tratar bem e eu finalmente entendo porque.

Um concierge me liga dizendo que Antonieta Colombo está aqui pra me ver e eu autorizo a entrada dela. Depois de uns instantes ela toca na porta e eu atendo vendo a mulher baixinha na minha frente.

Antonieta é muito mais baixa que eu, e me pega de surpresa quando me abraça forte sem dizer nada. Eu fico sem reação por uns instantes e depois consigo abraçar ela de volta.

Eu nem sei o que fazer.

- Não sabe o quanto eu esperei por isso.

A vejo levantando o rosto pra mim e os olhos estão pura água.

- Entra.

Ela entra no quarto e eu a digo pra sentar no sofá da suíte enquanto eu me sento na mesinha de centro feita de madeira nobre.

Tiro meus óculos e olho pra ela tentando ver se acho algo de parecido em nós dois.

Antonieta toca meu rosto fazendo carinho na minha barba.

- Você é tão parecido com seu pai. Eu levei um susto quando te vi, tanto que deixei cair aquela terrina. Pensei que estava vendo o grande amor da minha vida de novo.

Franzo a testa pra ela.

- Sou parecido com ele então?

Ela abre um sorriso e confirma com a cabeça. Tira da bolsa uma fotografia em que um homem muito parecido comigo aparece segurando um bebê de colo. Parece que estou me vendo no passado.

- Exceto por essa pinta que você tem aqui perto da orelha esquerda, eu tenho uma atrás da minha orelha direita.

Ela se vira mostrando a marca de nascença pra mim.

- Chorei vinte e três anos consecutivos por você, pensando que estava morto. Quando Lio te trouxe pra mim eu quase surtei. Eu te amo meu filho, eu te amo muito!

Eu tenho uma mãe que me ama?

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