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Tenho me sentido tão suja ultimamente.
Lio aparecer aqui só me deixou mais triste, muito embora ele tenha me dito que não me puniria pelo que fiz. Mas eu acho que já é punição o suficiente ter que dormir e acordar pensado que fui uma burra de mão cheia e me entreguei pro primeiro idiota que apareceu.
Me encaro no espelho.
- É, parece que a inteligência ficou toda para o grande Diavolo e não sobrou nada para a ingênua Coccinella.
Pelo menos Enrico morreu. Não vai dar com a língua nos dentes por aí.
Agora eu preciso sacudir a poeira e deixar as coisas pra trás, talvez algum dia eu encontre alguém que me ame de verdade e que não se importe com um himem rompido antes das alianças.
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Coloquei um vestido soltinho pra receber minha melhor amiga, Ambra. Ela se casou com meu irmão e eu juro por Deus que eu não sei o que se passou na cabeça dele por obrigar ela a esse casamento, mas estou feliz por ver que Ítalo tem sido um bom marido agora.
Ela vem me ver, bem vestida como sempre depois que se casou e que também foi obrigada a abandonar os jeans e tênis.
Já estamos na hora do almoço.
- Você sumiu ontem.
Ela se vira e se apressa em me dar um abraço bem apertado enquanto eu contenho as lágrimas.
Fez um rabo de cavalo pra conter a cabeleira negra e grossa, e uma maquiagem leve destacando os olhos verdes feito pedras preciosas. É linda, e o casamento só aumentou isso.
Ambra estala a língua e depois diz:
- Seu irmão me deixou presa e incomunicável em casa.
Isso me pega de surpresa. Lio deixa Ambra tão livre, tanto que ela deu a louca antes de se tornarem marido e mulher de verdade e foi na boate dele do lado Norte.
Não me agrada pensar que possam ter brigado por minha causa.
- Eu fiz uma grande merda, né?
Nós duas nos sentamos no sofá em formato de "U" da minha sala, e minha amiga segura as minhas mãos me olhando.
- Não pensa assim. Me diz, o que seu irmão te disse?
Olho para o tapete por uns instantes e depois digo:
- Acordei e ele estava sentado na poltrona do meu quarto me esperando. Não brigou comigo, mas disse que estava bem chateado com nós duas, depois ainda me contou que havia resolvido o problema e que vamos manter em segredo.
Quando vi Ítalo sentado naquela poltrona eu realmente achei que ganharia uns dois tapas na cara pelo menos, mas ele cresceu tendo meu padrinho como referencial. Nunca vi na vida Lupo agir com agressividade dentro de casa com nossa madrinha e ele ensinou bem a Ítalo como tratar uma mulher.
Ambra me esclarece um pouco mais as coisas.
- Ele me deu uma prensa pra saber o que estava acontecendo depois que esqueci meu celular perto dele e você ligou várias vezes.
Mais uma vez eu fazendo cagada. Coço meus olhos irritada comigo mesma.
- Eu tinha tido uma idéia, sabe, vender as minha jóias e pagar pela operação a vista. Estava animada pra te contar.
No auge do meu desespero pra tentar esconder de Ítalo que não era mais virgem eu pesquisei como voltar a ter o que eu nao tinha mais, e a internet me deu a himenoplastia. O problema seria como pagar por ela, já que meu irmão controla nossas finanças e sabe exatamente com o quê gastamos cada centavo, muito embora ele não ligue pra gastos exorbitantes era bem capaz de chegar no hospital e me arrancar da sedação pra saber porque eu queria reconstruir meu himem.
Ambra fala comigo.
- Bom, estamos livres da mentira agora pelo menos.
Pelo menos isso.
- Ítalo brigou com você?
Minha amiga me acobertou desde o início, quando me interessei por aquele miserável e por mais que Ambra tenha me dito pra contar logo a Enrico quem eu era de verdade, eu não fiz por medo. Medo dele se afastar de mim.
Antes eu tivesse feito.
Mas sabe, Lio me disse que Enrico me respeitaria quando soubesse, mas que não valeria de nada e meu irmão tem razão. Continuaria sendo um podre, só que disfarçado.
- Não, só me disse que não escondesse mais nada.
Isso me deixa mais aliviada, ela errou muito mais do que eu. Escondeu algo grave do marido, ainda mais sendo quem ele é.
Para a minha sorte ele é líder. Se eu fosse uma simples filha de alguém dessa merda de Sindicato, eu teria, na melhor das hipóteses, uma vergonha grande exposta.
Nós duas almoçamos juntas e ela tenta me animar a todo o momento. Passa o dia inteiro comigo e quando se vai eu me sinto mais conformada com a minha vida.
*********
É um domingo de sol lindo e eu estou na casa do meu segundo casal favorito no mundo.
- Para a melhor amiga do mundo!
Estendo a sacola pra Ambra e ela abre um sorriso pra mim. Seu aniversário já passou, mas meu irmão levou ela pra viajar, não tive oportunidade de entregar no dia esse ano. Depois veio o casamento que ela organizou, e aí que não tivemos tempo mesmo!
Ela abre e sorri vendo uma pulseira da amizade, que combina com uma que estou usando. É platina e cheia de berloques que nos representam.
Ganho um abraço apertado.
- Obrigada!
Ajudo ela a colocar a pulseira no braço.
- E então, como foi a viagem?
Ambra fecha os olhos e sorri largo.
- Ai, foi um sonho. Veneza é realmente incrível, e seu irmão deixou tudo melhor ainda. Acredita que ele me deu uma estrela? Tipo, uma de verdade mesmo!
Abro minha boca chocada.
- Sério? E como é isso?
Sei que ele não mandou alguem buscar uma do espaço, isso é impossivel.
- É um certificado de propriedade, tem meu nome e ele mandou colocar numa placa de ouro. Também me deu uma mapa do céu, do dia e hora exatos em que nos entregamos um ao outro. Foi o ápice!
Apoio meu cotovelos na ilha da cozinha e seguro meu queixo.
- Deve ter sido mesmo. Não sabia que aquele brucutu podia ser tão romântico assim.
Nós duas damos uma risada alta juntas e nem Antonieta resiste.
Quando temos a ideia de ir pra piscina nós deixamos a cozinha e vamos em direção à escada. A campainha toca quando passamos pelo hall de entrada e Ambra grita pra governanta:
- PODE DEIXAR QUE A GENTE ATENDE, AMORZINHO!
Eu me adianto e bato a mão na maçaneta, dou de cara com um homem alto, de barba bem cuidada. Ele tem os cabelos castanhos, e os olhos pretos estão atrás de um par de óculos quadrado e pequeno. Tem um cheiro envolvente. E o Pomelo, Mandarina, couro aveludado e Patchouli me levam a crer que usa Paco Rabanne.
É, eu gosto de perfumes, e One Million está no top três de masculinos pra mim.
O homem resolve falar e tem uma voz forte mas mansa.
- Bom dia! Eu sou Paolo Mancini e vim pra ver Ítalo.
Paolo é muito educado, mas muito mesmo.
Está usando uma bolsa transversal de viagem e veste uma roupa casual. Jeans e camiseta de mangas curtas verde militar, me dizem que ele veio direto do aeroporto e optou por uma roupa confortável pra viagem.
Ambra e eu não temos tempo pra dizer nada, Ítalo aparece.
- Seja muito bem vindo, Mancini. É um prazer tê-lo em minha casa!
Ítalo o diz pra entrar e apresenta nós duas ao visitante. Começando por minha amiga.
- Essa aqui é minha esposa, Ambra.
Ele estende a mão e cumprimenta Ambra.
- Muito prazer, senhora Rizzo.
Depois Lio o direciona pra mim.
- Essa aqui é Pietra, minha irmã.
Paolo me cumprimenta e eu sinto o toque macio. Tem um sorriso bonito, e a educação extrema dele em falar comigo me deixa encantada.
Eu conheço caras jovens que vivem falando gírias ou brucutus, Paolo nem de longe se parece com eles.
Depois de me cumprimentar ele segue para o escritório com meu irmão e Ambra e eu vamos colocar uns biquínis.
*********
Já estamos sentadas na beirada piscina e eu não me aguento. Preciso falar alguma coisa, se não eu vou explodir.
- Ele é bonito, não é?
Minha amiga franze a testa olhando pra mim, ela estava distraída ao que parece e não raciocinou ainda sobre quem esrou falando.
- O tal do Paolo.
Ambra faz um "Ah" e concorda com a cabeça enquanto diz:
- É sim, e muito educado.
Olho pra frente e fecho os olhos pra continuar tomando sol, mas sou surpreendida.
- Preciso te contar uma coisa, mas não sei se seu irmão sabe.
Abro os olhos e me inclino pra ela. Se Lio escuta que estamos de segredo de novo ele surta.
- E o que é?
Ambra agora praticamente sussurra.
- Paolo é filho de Fausta.
Meu queixo cai. Nunca na vida pensei que aquele homem no auge da educação e beleza fosse fruto daquele casal desgr*çado.
- Pensei que ela e Bruno não tivessem tido filhos.
Ambra nega com a cabeça e me esclarece.
- Não, ele é filho só dela. Fausta foi casada com um cara que também se chamava Paolo, ele a traiu e teve a pena aplicada, ela se envolveu com aquele estafermo pouco tempo depois e mandou o menino com três anos de idade ainda pra Suíça. Ele foi criado em um colégio interno para rapazes, nunca voltou pra Itália e sequer havia cartões postais ou algum traço de que aquela ordinária ligava para o próprio filho.
É uma a maldita mesmo, colocou o garoto no mundo e viveu a vida inteira como se ele não existisse.
Não consigo achar isso normal.
********
Na hora do almoço as coisas ficam mais estranhas ainda.
Ítalo conversa com Paolo como se fossem amigos íntimos e Ambra e eu nos olhamos de lado o tempo inteiro sem entender nada.
Depois de um pequeno incidente com Antonieta e a terrina de gazpacho, nós finalmente descobrimos durante a refeição o que Paolo veio fazer aqui quando a governanta pergunta com o quê ele trabalha.
Paolo abre um sorriso encantador outra vez.
- Sou um investidor, mas o que eu gosto mesmo é de lecionar.
Ele gesticula com as mãos.
- Sou professor de história em Cambridge, especialista em Antropologia.
Hum, está explicado então a educação.
Ouço Lio dizendo:
- Paolo está escrevendo um livro sobre casamentos, o conheci através de parceiros de negócios e ele me convidou e convidou Ambra pra relatar algumas coisas.
Olha, professor e escritor.
O senhor Mancini é um cara interessante e diferente.
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Atualizado até capítulo 56
Comments
Fatima Gonçalves
eita agora entendi nesses colégios os abusos eram muitos
2024-10-08
0
Delma Maria
alguma pista?
2024-04-01
3
Juh Machado
bem interessante 🥰👏👏
2023-12-27
0