Caminhada pela chuva

Passos leves e sem pressa, com os quais já estamos bem acostumados. Enquanto ouvíamos os passos, acompanhando o movimento daquelas duas botas pretas que ao pisar no chão, faziam o pequeno ruído de seus calçados colidindo com o piso, ao som de gotas que começavam a cair, dando notícias de uma chuva que acabara de começar. Ao seguir seu caminho por aquele lugar, passando por diversas ruas escuras e sem movimento, um completo breu, por onde ele sem dificuldades andava. Uma madrugada já silenciosa, porém, um lugar de certa claridade ao longe podia ser avistado, uma janela era iluminada, e refletia sua luminosidade para aquele homem que estava do lado de fora. Esse lugar era uma relojoaria. Alguém optou por ter trabalho extra naquela noite. Com o aproximar da imagem aos poucos, se aproximando, e se aproximando cada vez mais, víamos o interior do lugar, onde um homem caucasiano com um bigode até que bem estiloso para o padrão da época, na casa dos seus 30 anos, anotava coisas em um papel, enquanto pegava um relógio de sua mesa resmungando:

- Caramba, esse relógio é teimoso! Não quer funcionar de jeito nenhum. E ainda por cima só tenho um dia para consertá-lo? Aquele cliente deve estar brincando comigo.

Ele reclamava sobre o pedido de entrega rápida vindo de um cliente.

Ele, com o auxílio de uma lupa, a aproximava lentamente daquele relógio, tentando entender porque aquele relógio simplesmente não funcionava de jeito nenhum, seus ponteiros nem sequer saíam do lugar. Justo quando o relojoeiro estava prestes a desistir, uma voz ecoou na loja, fria e inesperada:

- O seu tempo já parou de contar.

Olhando para trás rapidamente, o relojoeiro encostava seus dois braços na mesa, assustado e nervoso.

- Você teria feito diferente? Apenas por curiosidade, teria feito diferente se soubesse da inocência dele?

Perguntava o domador de forma calma e curiosa. agora de frente para o relojoeiro, segurando um corvo, estendia seu braço para frente, enquanto o homem dizia em ritmo acelerado, desesperado e desnorteado com tantas informações que seu cérebro não dava conta de processar:

- ??? Como entrou aqui? De quem você está falando? O que você quer? Meu dinheiro?

Vendo o braço estendido do domador, um corvo que passeava pelo seu braço, saindo do ombro do domador, pulando pelo curto caminho que tinha, até chegar nas mãos do domador, de onde então saltava, voando, para cumprir sua parte, enquanto o domador soltava a resposta de sua boca:

- Eu?! Eu só queria te questionar. Mas ele, ele quer vingança.

Enquanto o corvo chegava na face daquele homem, tampava nossa visão de sua face, que era atacada, enquanto o homem gritava como alguém que sente a dor em sua maior intensidade. Não nos permitindo vislumbrar demais, a cena dentro da relojoaria tornou-se cada vez mais intensa, até que finalmente, a visão se afastou, nos levando de volta à rua escura e chuvosa onde tudo começou. Se afastando aos poucos, nos levava ao lado de fora do estabelecimento novamente, apenas para vermos o domador saindo pela porta, após a conclusão, daquilo que talvez, poderia ser chamado de a "verdadeira justiça?" Devido ao local de trabalho abafado, para a infelicidade daquele homem, ele apenas seria encontrado dias depois. Coisa que não importava aos olhos do domador, pois ele havia cumprido sua parte, e agora, descendo pela pequena escadaria que havia do lado de fora da relojoaria, se direcionava por entre as vielas e ruas escuras novamente. Seus últimos destinos eram chegados. Um obreiro que se encontrava dormindo no quarto junto de sua mulher, enquanto seus três filhos dormiam no andar de baixo. E aquele carpinteiro, o carpinteiro que no momento se encontrava em uma bela reunião familiar. Ele comemorava o aniversário de sua filha, sendo o pai solteiro que ele era, um bom pai, atencioso e carinhoso com Li Mei. Embora isto não o apagasse do pacto, ele sem saber, aproveitava dos últimos momentos que teria com sua amada filha. Uma canção de parabéns, palmas, e uma batida na porta. Espere! A batida não tinha a ver com a sequência, porém interrompia sua comemoração. O pai que se encontrava no momento com sua filha na sala principal daquela casa, pedia para a filha que estava completando seus oito anos, ele a pedia para esperá-lo, ele voltaria em breve. Aquele homem, com cautela, chegava até a porta. Não era comum uma visita naquela hora da noite. Ele ao chegar na porta, perguntava quem estava ali, sem obter nenhuma resposta. Somente o silêncio. Ele decidia não abrir, caminhando novamente até a sala, indo aproveitar seu tempo com sua filha, o último tempo que lhe foi permitido. Pois ele não abriu a porta, mas a vingança não precisava de permissão para entrar. A cena sendo lentamente desfeita, nos tirando a visão daquela casa, era lentamente refeita. Porém, quando ela era novamente introduzida em nossa mente, víamos novamente o caminhar e o movimentar sincronizado daquelas duas botas pretas, que ao pisar no chão colidiam com aquele piso molhado, pela chuva que continuava caindo. Nos sugerindo que aquela vingança já havia sido concretizada, seguindo os passos do domador rumo ao seu último alvo, nós víamos ele continuar andando por dentre aquelas ruas. Enquanto o domador continuava seu caminho, ele acabava de entrar numa rua particularmente sombria. Apesar do silêncio e da escuridão, dois homens de má índole estavam encostados no canto da parede, conversando em sussurros, planejando um ato de roubo e vandalismo. Conforme conversavam, eles começaram a ouvir um barulho, leve e baixo, mas contínuo, eram passos. Que ao olhar para trás, um homem andando tranquilamente, sem se importar com nada em sua volta, apenas seguindo aquilo que seria seu trajeto. Enquanto os dois homens, em suas piores índoles, em sua mente pensando terem uma vítima em mãos, planejavam assaltar aquele homem ali mesmo. Eles se preparavam para surpreendê-lo, aquele homem que na mente deles seria apenas um rato imbecil que continuava seguindo em direção ao bote da cobra. Ele então passava do lado deles, um dos homens sacou sua arma, já tentando intimidar aquele homem, enquanto falava:

-Acho melhor você passar o que tem, gracinha.

Dizia ele, somente até perceber que seu corpo começava a tremer. Ele percebia que não conseguia manter controle sobre sua arma, ele tremia, seus nervos se mantinham inquietos. Porém, ele estava imóvel e sem ação, tal como o parceiro que em seu lado estava. O homem que era para ser sua vítima, continuou seu caminho, em lentos passos por aquela rua escura, deixando para trás, apenas rastros nas memórias daqueles dois. Algo que eles além de nunca esquecerem, jamais compreenderiam. Pelo caminhar tranquilo do domador, já nos era confirmado que aquele débito seria quitado em breve, e mais um corvo voaria em sua liberdade. Nós apenas não iríamos presenciar...

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Comments

Kacey

Kacey

Para quem tem uma imaginação bem fluida, ler sua história se parece muito com ver um filme, pois as mudanças das cenas são bem descritas. Isso é bem legal.

2024-01-16

1

ー💋┊ʿⁱᵗ'ˢ𝕳`𝗮𝗿𝘂. nmd

ー💋┊ʿⁱᵗ'ˢ𝕳`𝗮𝗿𝘂. nmd

aí meu dedo

2024-01-13

1

Ver todos

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