Capítulo 10

Bella

Encaro o homem parado à minha frente segurando um buquê de rosas imenso.

— Eu não quero flores Raul! Não pode me comprar com flores.

— Eu sei que não, mas achei que fosse gostar, você sempre foi tão romântica.

— Exatamente, fui, não sou mais, foi-se o tempo em que eu acreditava nessas coisas, pode ir embora daqui! E leve suas flores. –digo abrindo a porta, mas antes que eu feche ele coloca a mão e acabo machucando seus dedos.

— Aí! Nossa Bella! –ele grita segurando a mão.

— Aí meu Deus! Por que colocou a mão na porta?!

— Porque eu queria entrar!

— Entra Raul, vou pegar gelo pra você.

Jogo minhas coisas em cima do sofá e vou até a cozinha e pego uns cubos de gelo e enrolo dentro de um pano e entrego para ele.

— Que ideia essa sua hein?! Está muito inchado Raul, será que quebrou?

— Acho que não, mas ao que parece vai ficar inchado por alguns dias.

— Quer ir ao médico?

— Eu sou médico Bella.

— Ah é! Como seu pai?

— Não, estou fazendo residência em cirurgia geral.

— Ah! E você não deveria estar estudando ou coisa assim? Passando 36 horas em um hospital?

— Mas eu estou.

— Você só vive aqui agora.

— Me transferi para cá, queria ficar perto de você.

— Ah Raul, francamente! Por que fez isso?

— Não é óbvio?

— Não deveria ter feito isso.

— Eu sei o que devo fazer Bella.

— Eu não vou ficar com você Raul! Pode tirar isso da sua cabeça.

— Por que não?

— Porque eu não quero ora!

— Você está parecendo sua irmã agora, está falando como ela.

— Somos iguais!

— Você entendeu o que eu quis dizer, está muito dura, igual a ela, você sempre foi mais doce e calma.

— Não sou mais criança Raul.

— Eu sei que não, você é uma mulher e muito bonita por sinal. –reviro os olhos.

— Como vai assumir a direção do hospital do seu pai se está aqui?

— Não vou, só estou ajudando, Ricardo vai ficar responsável, eu só vim até aqui porque ele não podia viajar, a esposa dele está grávida e a gravidez é de risco, ele não queria deixá-la sozinha, mas quem vai assumir a direção é ele, e foi muito bom eu ter vindo, só assim eu te encontrei.

— Você desistiu de assumir a direção pra ficar aqui?

— Em parte sim, mas eu preciso terminar minha residência primeiro.

— E sua noiva?

— Ex noiva, está na cidade dela cuidando do pai.

— Está tudo bem com ele?

— Sim, eu só fui dar apoio a ela, não aconteceu nada entre nós.

— E mesmo que tivesse isso não é problema meu.

— Só estou querendo te explicar para que entenda de uma vez por todas que ela e eu não temos mais nada.

— Pois eu digo que deveria voltar para ela.

— Eu não vou voltar Bella! Entenda de uma vez por todas.

— Mas também não vai ficar comigo.

— Vou!

— Não vai!

— Eu costumo ser bem insistente quando quero.

— Eu não quero ficar com você Raul!

— Mas vai querer, eu sei esperar, além de insistente sou muito paciente.

— Você já está melhor da mão, já pode ir.

— Está me expulsando Bella? Se sua mãe te visse fazendo isso ia ficar bem brava, sabe que ela gosta de tratar bem as visitas.

— Eu não sou ela e ela não está vendo.

— Me deixa ficar mais um pouco vai? Está tão bom aqui com você, por favor Bê?

— Não me chame de Bê!

— Eu sempre te chamei assim.

— Mas eu não quero mais que chame.

— Ok, como você quiser.

— Já está na hora de ir, quero descansar e tomar meu banho relaxante.

— Me deixa relaxar com você?

— Óbvio... Que não! –ele sorrir.

— Vá tomar seu banho, eu te esperto aqui, vou pedir algo para nós comermos, você me deve um jantar, nós íamos jantar juntos da última vez em que estive aqui.

— Não lhe devo nada, você foi embora porque quis!

— Foi necessário.

— Então quer dizer que toda vez que ela ligar você vai sair correndo?

— Não, a não ser que seja algo grave.

— Sei, Raul vai pra sua casa, eu quero descansar, passei o dia trabalhando.

— Vá tomar seu banho e eu vou pedir algo para nós jantarmos, quando terminar eu vou pra casa, me deixa ficar um pouco com você Bella?

Meu celular toca, eu até já sei quem é, minha Laurinha.

Pego o celular e é o número da Raquel, chamada de vídeo.

— Oi tia. –sorrio imediatamente.

— Oi princesa.

— Como foi no trabalho?

— Tudo bem, só muito cansativo, e a escola?

— Tudo bem, estamos fazendo as últimas provas e já fico de férias.

— Eu também vou ficar de férias esses dias.

— A senhora vem?

— Vou sim amor, vou passar o mês com vocês.

— Que bom tia, estou com saudades.

— Eu também meu amor, como estão todos aí? Seus pais? Suas irmãs? Tia Laila? Vovó?

— Todos bem tia, meus pais estão muito felizes que os bebês são meninos.

— Nosso clã não será mais cem por cento feminino.

— Não, mas eu gostei que são meninos.

— Eu também amor, vamos amá-los da mesma forma que amamos vocês.

— Tia Liz vem também.

— Eu sei, vamos fazer uma festa do pijama.

— Eba!

— Vamos Lalá, hora do banho. –Raquel diz. — Diga tchau pra sua tia.

— Tchau tia, vou tomar banho agora, te amo muito.

— Também te amo princesa, mande um beijo pras suas irmãs também.

— Tá tia, aqui mamãe seu celular, obrigada.

— Por nada meu amor. –Raquel diz. — Oi Belinha.

— Oi Quel.

— Como está?

— Muito bem e você?

— Cansada, estar grávida é muito cansativo.

— Imagino que sim, vai fechar a fábrica agora?

— Óbvio, não quero mais filhos, agora só meus sobrinhos, pode começar a treinar.

— Eu não quero filhos agora, nem namorado eu tenho.

— E o Pedro?

— Somos amigos.

— Ele é lindo.

— Ele é, mas é só amizade. –olho para Raul e ele revira os olhos.

— Ainda gosta do Raul? –olho para ele e ele levanta as sobrancelhas e sorrir.

— Só amizade também. –o sorriso dele se fecha e ele encolhe os ombros.

— Tem que arrumar um namorado Belinha, eu sou team Pedro, Liz torce pelo o italiano. –sorrio.

— Vocês duas são impossíveis.

— Oi Bella. –Caio surge na tela.

— Oi Caio.

— Raquel já está tentando te corromper?

— Já Caio, me defenda!

— Que feio vida, Bella é a alma pura dessa família, se ela for seguir seus conselhos e da Liz coitada dela.

— Caio Alencar! –sorrio dos dois, eles ficam muito bem juntos.

— Não escute ela Bella.

— Saia daqui! Vá ver se as gêmeas já estão de pijama.

— Ok, manda quem pode, quando você vem Bella?

— No final de semana.

— Quer que eu mande te buscar?

— Não, eu vou dirigindo, são três horas de viagem, prefiro ir de carro, de ônibus é mais demorado.

— Se quiser mando o motorista te buscar.

— Não precisa, obrigada Caio.

— Por nada, até mais.

— Até.

— Tchau Belinha.

— Tchau Quel.

— Te amo.

— Também te amo. –encerro a chamada e Raul me olha.

— Fala de mim com suas irmãs?

— Falava, faz tempo que não falo mais.

— Ah! Então quer dizer que suas irmãs querem que você fique com um daqueles otários?

— Sim, são meus pretendentes segundo elas.

— E eu sou o quê?

— Meu ex crush.

— Maravilha.

— Ora o que você queria?!

— Um espaço no seu coração.

— Isso você sempre teve.

— Mesmo?

— Sim Raul, você sempre foi melhor amigo, sempre teve um lugar muito especial em meu coração.

— Eu sempre te quis como mais que uma amiga, desde sempre.

— Eu acho que não é uma boa ideia nós ficarmos juntos.

— Por que não Bella?

— Raul você acabou de sair de um relacionamento de cinco anos e meio, não pode simplesmente entrar em outro assim de cara, certamente você ainda tem sentimentos por ela.

— Sentimentos eu tenho, sinto carinho, ela é uma pessoa muito boa, assim como você, mas eu não a amo e ela não é você.

— E porquê passou tanto tempo com ela?

— Costume sabe, a rotina, nos dávamos muito bem, mas ela sempre soube dos meus sentimentos por você, veja. –ele pega o celular e me entrega.

Há muitas fotos nossas de quando éramos mais novos, e também algumas fotos minhas que são das minhas redes sociais e também algumas fotos que eu nem sabia que existiam.

— De onde tirou essas fotos?

— Eu quem as tirei, nunca consegui apagar essas fotos, e ela sabia disso, desde o começo ela sabia que eu gostava de você, dos 16 até os 19 eu curti muito, fiquei com muitas pessoas, aí ela apareceu, nos tornamos amigos, a princípio eu não queria ficar com ela, minha esperança era te procurar até te encontrar, mas o tempo foi passando e eu não tinha ideia de onde você estava e ela sempre por perto, ela apenas foi ficando e quando percebi já estávamos juntos, parei de ir à baladas e ficar com uma e com outra, eu sei que não foi certo o que eu fiz, mas eu passei todo esse tempo com ela gostando de você, não houve um só dia em que não pensei em você, no que você poderia estar fazendo, se você também estava com alguém, e agora que eu te encontrei não tente me afastar, porque dessa vez eu não vou.

— Eu não quero ter que competir por sua atenção Raul, eu vi a forma como falou com ela, como você simplesmente saiu daqui e foi encontra-la, eu não vou me submeter a isso, eu gosto de você Raul, não vou negar, mas eu não quero algo assim, não quero dividir sua atenção com ninguém, porque eu não tenho ex nenhum atrás de mim, eu não tenho ninguém que me prenda.

— Eu sei que é difícil aceitar, mas prometo que você me terá por inteiro.

— Não prometa algo que não pode cumprir, pois você sabe que não é verdade, basta apenas ela ter um problema e te ligar pra você sair correndo.

— Prometo que não vou.

— Eu não quero que se afaste dela por causa de mim, ela é importante pra você.

— Você é muito mais.

— Se eu fosse não teria me deixado aqui e ido atrás dela.

— Bella por favor? Me deixa ficar nem que seja como seu amigo.

— Como amigo sim Raul, afinal nos conhecemos a vida inteira, você sempre foi meu melhor amigo.

— Tudo bem, amigos então? –ele estende a mão para mim e eu aperto.

— Amigos.

— Você vai pra capital?

— Sim.

— Posso ir com você? Aproveito e vejo meus pais.

— Vou no meu carro.

— Não tem problema, vou com você no seu carro.

— Tá.

— Viu como não custa nada dizer sim?

— Aí Raul, francamente!

— Acho que não precisa mais de gelo.

— Tudo bem com sua mão?

— Sim.

— Eu vou tomar um banho.

— Queria um banho também.

— Pois vá pra casa.

— Não vai querer jantar comigo?

— Estou cansada, só queria deitar e dormir.

— Mas precisa comer algo, vou em casa tomo banho e volto com alguma coisa pra nós dois, pode ser?

— Tá.

— Ok, eu volto logo.

— Pode levar a chave, talvez quando voltar ainda esteja no banho, preciso lavar o cabelo.

— Ok.

Ele sai e eu vou para o meu quarto e entro no banheiro, tiro minha roupa e jogo no cesto de roupas sujas.

Ligo meu celular e escolho uma música, Iris de The Goo Goo Dolls, começa a tocar, amo essa música. 

Entro no box e ligo o chuveiro, a sensação da água morna em meu corpo é muito revigorante, leva todo o cansaço embora.

Lavo meus cabelos, que estão muito compridos, está necessitando de um corte, quando for pra capital eu resolvo isso.

Termino meu banho e me enrolo em uma toalha e coloco outra no cabelo.

Vou para o quarto e começo a hidratar meu corpo, depois penteio meus cabelos e visto uma camisa masculina e um short de pijama, compro camisas masculinas, amo usá-las para dormir.

— Cheguei Bê! –Raul grita da sala.

— Tô saindo.

Ele está deixando as sacolas na bancada da cozinha e me olho de cima à baixo e seu olhar se detém em minhas coxas, que são bem grossas e realmente chamam atenção, por isso prefiro usar calças.

— Você esconde bem tudo isso hein?

— Pare de olhar! Já volto, vou vestir uma calça.

— Não precisa, você está em casa, pode ficar a vontade, eu não vou mais olhar.

— Acho bom mesmo!

Raul está usando uma camiseta de mangas na cor banca e uma calça jeans preta e um all star preto.

— Eu não trouxe tantas coisas dessa vez, trouxe sopa de frango que eu sei que você gosta, torradas com orégano, que eu também sei que gosta e torta de chocolate, tudo que você gosta.

— Obrigada.

Vou até o armário pegar tigelas para colocar a sopa e quando me viro pega o safado olhando para a minha bunda, quando percebe que foi pego ele disfarça e sorrir.

— Estou feliz por estar aqui com você Bê, não me afaste de você por favor.

— Não vou afastar.

— Vai passar o mês na capital?

— Sim, tem o aniversário das minhas cinco sobrinhas, Raquel e Caio decidiram fazer tudo no mesmo dia, aí vou pro aniversário e já fico pro natal e ano novo.

— Quer passar o ano novo comigo?

— Onde?

— No meu apartamento, fica de frente pro mar, podemos assistir a queima de fogos e os shows que vai ter, nem precisamos descer, a vista é muito boa.

— Só nós dois?

— Sim, prometo que não vou tentar nada, como amigos, se quiser pode levar a Liz.

— Vou pensar nisso.

— Pense com carinho.

— Tá.

— Gostou da sopa?

— Sim.

— Que bom, sinto saudade de quando ia na sua casa e sua mãe cozinhava para nós, sinto falta dela.

— Ela gosta muito de você.

— E eu dela, meus pais também gostam muito de você.

— Também gosto muito deles.

— Já que vai ficar o mês lá podemos marcar um dia pra você ir na casa deles.

— Sim.

— Posso ir ver sua mãe também?

— Pode. –ele fica me olhando com cara de bobo. — O que foi?

— É que te olho e nem acredito que esteja mesmo aqui, pensei que nunca mais ia te ver.

— Ah!

— Eu amo você Bella, de verdade.

— Isso não deve ser dito da boca pra fora.

— E não é, te amo desde sempre.

— Amigos lembra?

— Por enquanto...

Terminamos nosso jantar e comemos a torta, logo após tive que praticamente o expulsar para ele ir embora, porque se dependesse dele ficaria aqui, mas isso é intimidade demais.

Depois que ele sai arrumo a bagunça da cozinha, escovo meus dentes e caio na cama praticamente dormindo, o dia hoje foi bem intenso.

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