Bella
Paro meu carro no estacionamento, do meu prédio e Raul estaciona seu carro ao lado do meu.
— O apartamento é seu ou alugado?
— Alugado. –digo entrando na portaria. — Boa tarde seu João. –João é porteiro do prédio.
— Boa tarde Bella, Carmem mandou doce de abacaxi pra você. –sorrio.
Carmem é a esposa do seu João, a conheci no dia do aniversário dele, sim, eu me tornei amiga de um senhor de sessenta anos e também da esposa dele.
— Ah! Não precisava se incomodar seu João.
— Besteira, ela gostou muito de você, Henrique também ficou bem animado com você. –sorrio.
— Muito obrigada seu João, agradeça a dona Carmem também, assim que tiver uma folga vou visitar vocês outra vez.
— Vá mesmo.
— Vou sim, muito obrigada.
— Nada menina.
Raul entra no elevador em silêncio, percebo que ele está tenso.
— Quem é Henrique? — ele pergunta.
— O filho mais novo do seu João.
— Seu namorado não tem ciúmes?
— Namorado?
— Sim, o tal Pedro.
— Ah! Não, ele não é meu namorado, somos amigos.
— Ele não quer ser só seu amigo.
— Mas é o que ele é.
— Você já colocou o cara na friendzone como fez comigo! Qual o seu problema em ter alguém que tenha sentimentos por você?
— Nenhum, contando que não seja meus amigos.
— Eu nunca vou sair da friendzone não é?
— Aí Raul! Entre. –digo abrindo a porta do apartamento para ele, moro no quinto andar.
— É muito bonito seu apartamento.
— Obrigada.
— Lilás, sua cara.
— Sim.
— Não pensa em comprar um apartamento para você?
— Eu tenho um na capital, Caio e Raquel deram um pra mim e outro pra Liz.
— Caio é o marido da Raquel?
— Sim.
— Pensei que ela ia acabar se casando com o Matheus.
— Eu também, mas Caio é ótimo, gosto muito dele.
— Eles são bem famosos, tipo celebridades, sempre vejo uma coisa ou outra sobre eles, só não vejo muitas fotos das crianças.
— Eles não autorizam publicar fotos das meninas, até já processaram algumas pessoas por conta disso.
— Eles têm mesmo cinco filhas?
— Sim, as trigêmeas de nove anos e as gêmeas de cinco e Raquel está grávida outra vez, de gêmeos, mas esses ainda não sabemos o sexo.
— Nossa! É muito filho.
— Acho que agora eles fecham a fábrica de vez.
— E você quer ter filhos?
— Claro, amo crianças, eu amo ir para os eventos da família do Caio, eles têm muitas crianças, todos os irmãos de Caio também têm filhos.
— Se quiser eu posso ser o pai dos seus filhos, seriam crianças lindas. –sorrio e reviro os olhos.
— Aí Raul! Francamente. –nego com a cabeça.
—O que foi?
— Não fala essas coisas.
— Por que não? Tenho vinte e cinco já, você vinte e quatro, estamos na idade de termos filhos. –sorrio e nego com a cabeça.
— Quer beber alguma coisa?
— O que você tem aí?
— Vinho tinto e rosê.
— Pode ser um tinto.
— Ok.
Coloco minhas coisas na mesinha de centro e tiro meu tênis, algo que faço todos os dias quando chego do trabalho.
Vou até a cozinha, guardo o doce que seu João me deu na geladeira e pego duas taças e coloco o vinho para nós dois, corto alguns queijos que tenho na geladeira e arrumo tudo em uma tábua e levo para sala.
Raul tirou o terno e a gravata, abriu os primeiros botões da camisa e dobrou as mangas até o antebraço.
— Aqui, já volto.
— Obrigado.
Vou até ao quatro trocar de roupa, o jeans está me apertando. Visto uma calça de malha de cor preta e uma regata branca.
Gosto de ficar sem roupa quando chego em casa, mas óbvio que não posso fazer isso.
— Voltei.
— Por que sumiu por anos Bella?
— Ah! Eu não sumi, apenas me dediquei aos meus estudos, depois surgiu essa oportunidade de trabalhar aqui e eu vim.
— Não tem mais redes sociais?
— Tenho.
— Você me bloqueou Bella? –fico meio constrangida em ter que admitir, mas não sou de mentir.
— Sim. — ele me olha incrédulo.
— Porquê?
— Eu não queria te ver com outras. — falo sincera e ele me olha confuso.
— Por que não Bella?
— Porque eu meio que comecei a gostar de você, só que você estava em outra em fase da vida, pegando todas e depois começou a namorar, então decidi me afastar, não tinha o menor direito de chegar e te dizer que tinha mudado de ideia e queria ficar com você.
— Tinha o direito sim e deveria ter feito isso, eu largaria tudo por você Bella. –ele olha nos meus olhos.
— Eu não achei justo, te vi com ela, você estava feliz e logo eu que te rejeitei a vida inteira chegar e atrapalhar vocês.
— Eu realmente estava feliz, nós iríamos nos casar esse ano.
— E porque terminaram?
— Ela disse que enquanto eu não deixasse de te amar eu não ia ser feliz com ninguém. –olho para ele surpresa. — Ela foi a única pessoa com quem eu pensei em ficar de verdade depois de você, ela é uma pessoa muito boa e pra falar a verdade ela me lembra muito você, não fisicamente, mas na personalidade e no jeito de ser, sempre me peguei comparando vocês duas.
— Falou de mim pra ela?
— Sim, nós éramos amigos antes de começarmos a namorar.
— Entendi.
— Ela sabe tudo o que sinto por você.
Sente?! No presente.
— E ela disse que eu nunca iria ser feliz com ninguém enquanto continuasse te amando.
— Você amava ela?
— Não, mas tinha sentimentos muito fortes, ela foi a única que me fez chegar perto de sentir o que sinto por você.
— Sente?
— Sinto, eu fiquei louco quando você sumiu, cheguei a falar com a Liz para perguntar por você, mas ela não quis dizer e ameaçou minhas bolas se não te deixasse em paz. –sorrio.
— Bem, a cara dela mesmo fazer isso.
— Sua irmã é louca.
— Deixa minha irmã!
— Mas ela é louca mesmo! Sente falta dela, não é?
— Muita, também da minha mãe, da Quel, Caio e das meninas. Ah! Minha mãe casou.
— Sério?
— Sim.
— Que bom.
— Como estão seus pais e seus irmãos?
— Estão bem, estão morando na capital agora.
— Você também?
— Agora sim, mas antes estava morando em outra cidade com a Karina.
— Karina é sua noiva?
— Sim, ex noiva.
— Quer mais vinho? –pergunto ao ver sua taça vazia.
— Sim, você tá tão crescida bebendo até vinho. –revirei os olhos e encho a taça dele.
— Até parece que você é bem mais velho que eu!
— Um ano apenas.
— É.
— Você gosta de trabalhar para o Adams?
— Sim, o salário é bom, os benefícios também.
— Liz está morando em Milão, não é?
— Sim, trabalha em um ateliê lá.
— Você e sua irmã são muito diferentes.
— Acho muito engraçado quando falam isso, porque nós somos iguais. –digo e sorrio.
— Fisicamente sim, é assustador até, sem contar que ainda tem a Raquel, que é uma versão mais velha de vocês.
— É por que não viu minhas sobrinhas ainda, são idênticas a nós. –pego meu celular para mostrar fotos das meninas para ele. — Olha, essas são as trigêmeas, Anna Laura, Anna Luiza e Anna Letícia, a única coisa que elas têm de diferente são os cabelos e os olhos, herdaram do pai delas.
— Mas mesmo assim são iguais a Raquel e a você e a Liz.
— Essas aqui são as gêmeas, Anna Clara e Anna Cecília.
— Essas são idênticas a vocês, credo! Vocês só fazem cópias uma das outras.
— Herdamos do meu pai, não temos nada da minha mãe.
— Verdade.
De repente um silêncio estranho toma conta do ambiente, sinto a tensão entre nós e me afasto um pouco dele.
— Por que está se afastando de mim Bella? Eu não mordo não, não precisa ter medo de mim, eu não vou fazer nada.
— Talvez eu tenha medo de que eu possa fazer alguma coisa.
— Ah! Bella não fique falando essas coisas, estou lutando muito para me segurar aqui.
— Quanto tempo faz que rompeu com sua noiva.
— Um mês.
— Então ainda há possibilidade de voltarem.
— Ela disse que enquanto eu não me decidir ela não volta pra mim, que enquanto eu não parar de gastar de você as coisas nunca vão dar certo entre nós.
— Deveria voltar para a sua noiva Raul.
— Não gosta nem um pouco de mim Bella?
— Gosto, você é meu melhor amigo Raul, ou foi, sei lá.
— Eu sempre vou ser seu amigo Bella, na verdade queria ser mais que isso, mas você não deixa.
— Sabe Raul, eu não tenho nada para te oferecer, eu não sou dessas mulheres finas e elegantes, como sua noiva, eu sou isso aqui, uso jeans e tênis, coques mal feitos, nunca irei ser uma pessoa sociável que vai à festas, eu sou só isso que você está vendo, por isso acho que deve voltar para a sua noiva.
— E quem disse que eu preciso disso tudo Bella? Eu tenho gostado de você por toda a minha vida e acho que isso nunca vai mudar, é justamente por você ser quem você é que eu te amo, eu amo você Bella e não consigo mudar isso.
— Sabe Raul, eu passei anos lutando contra o que sentia por você, por medo de perder meu único amigo de verdade.
— E quem disse que não podemos ser amigos? Podemos ser tudo Bella, tudo o que você quiser.
— Você acabou de sair de um relacionamento, sei lá de quanto tempo.
— Cinco anos e meio.
— Então... Isso é muito tempo, vocês moravam juntos, tinham uma vida juntos, não dá para esquecer alguém assim do dia para a noite.
— Eu sei que não Bella, gosto muito da Karina, tenho um carinho especial por ela, mas amor eu só senti e sinto por você.
— Eu acho melhor você colocar suas ideias em ordem, ver o que quer de verdade, se não vai ter volta com sua noiva e depois nós conversamos.
— Não vai fugir de mim de novo, não é?
— Não, você sabe onde eu moro, não vou sair daqui tão cedo.
— Posso vir te visitar mais vezes?
— Pode, mas nós vamos nos ver ainda, tenho seu projeto.
— Espero que demore bastante.
— Que nada, vai ser rapidinho, com a ajuda do Pedro tudo vai bem mais rápido.
— Pedro! –ele repete o nome e revira os olhos. — Não teve mesmo nada com ele?
— Não.
— Mas ele gosta de você.
— Sim, mas ele é apenas meu amigo.
— Você é muito difícil.
— Sou.
— Já namorou alguém?
— Eu não, não tenho tempo pra isso.
— Mas já ficou com alguém?
— Sim.
Não preciso dizer que foram só beijos, ele não precisa saber disso.
— Sortudo quem conseguiu ficar com você.
— Aí Raul! Francamente.
— Vamos sair pra jantar?
— Obrigada pelo convite, mas estou bem cansada.
— Podemos pedir alguma coisa, vai por favor Bella? Estava com saudade, faz anos que não nos vemos.
— Tudo bem, mas eu preciso tomar um banho e você aproveita e vai até ao seu hotel e toma um banho também.
— O que está querendo insinuar? Que eu estou fedendo?
— Não, mas passamos o dia sem banho, credo, preciso do meu banho relaxante.
— Banho relaxante?
— Sim, de banheira.
— Tem uma banheira?
— Tenho.
— Deveria deixar eu experimentar esse banho com você.
— Vai sonhando!
— Não custa nada sonhar! — ele sorriu de lado.
— Vá de uma vez, vou te esperar aqui para jantarmos.
— Ok, mandona. –eu sorrio. — Até daqui a pouco Bê.
— Até.
Vou até a porta e abro para ele, ele se demora um pouco olhando para mim e me dá um beijo na bochecha e eu sorrio.
— Volto em meia hora.
— Ok.
Fecho a porta atrás de mim e respiro fundo, não dá nem para acreditar que acabei de beber vinho com Raul e que daqui a meia hora ela volta para jantar comigo.
Pensei que nunca mais o veria, mas o destino tem dessas.
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Atualizado até capítulo 67
Comments
Elenice Martins
desculpe autora tá insistindo nisso, mais queria fotos dos personagens, acho mais legal com fotos
2025-03-11
0
Quase cinquentona🥴🥺😔😩
Por que só os protagonistas têm direito a uma vida sexual ativa ( com raras exceções )? 🤔🥴
2025-01-24
3
Juliete Figueiredo
será que não vai fazer igual Caio, e descobrir mesmo que gosta é da outra e que isso não passa de obsessão?
2025-02-23
1