Capítulo 04

Bella

Paro meu carro no estacionamento, do meu prédio e Raul estaciona seu carro ao lado do meu.

— O apartamento é seu ou alugado?

— Alugado. –digo entrando na portaria. — Boa tarde seu João. –João é porteiro do prédio.

— Boa tarde Bella, Carmem mandou doce de abacaxi pra você. –sorrio.

Carmem é a esposa do seu João, a conheci no dia do aniversário dele, sim, eu me tornei amiga de um senhor de sessenta anos e também da esposa dele.

— Ah! Não precisava se incomodar seu João.

— Besteira, ela gostou muito de você, Henrique também ficou bem animado com você. –sorrio.

— Muito obrigada seu João, agradeça a dona Carmem também, assim que tiver uma folga vou visitar vocês outra vez.

— Vá mesmo.

— Vou sim, muito obrigada.

— Nada menina.

Raul entra no elevador em silêncio, percebo que ele está tenso.

— Quem é Henrique? — ele pergunta.

— O filho mais novo do seu João.

— Seu namorado não tem ciúmes?

— Namorado?

— Sim, o tal Pedro.

— Ah! Não, ele não é meu namorado, somos amigos.

— Ele não quer ser só seu amigo.

— Mas é o que ele é.

— Você já colocou o cara na friendzone como fez comigo! Qual o seu problema em ter alguém que tenha sentimentos por você?

— Nenhum, contando que não seja meus amigos.

— Eu nunca vou sair da friendzone não é?

— Aí Raul! Entre. –digo abrindo a porta do apartamento para ele, moro no quinto andar.

— É muito bonito seu apartamento.

— Obrigada.

— Lilás, sua cara.

— Sim.

— Não pensa em comprar um apartamento para você?

— Eu tenho um na capital, Caio e Raquel deram um pra mim e outro pra Liz.

— Caio é o marido da Raquel?

— Sim.

— Pensei que ela ia acabar se casando com o Matheus.

— Eu também, mas Caio é ótimo, gosto muito dele.

— Eles são bem famosos, tipo celebridades, sempre vejo uma coisa ou outra sobre eles, só não vejo muitas fotos das crianças.

— Eles não autorizam publicar fotos das meninas, até já processaram algumas pessoas por conta disso.

— Eles têm mesmo cinco filhas?

— Sim, as trigêmeas de nove anos e as gêmeas de cinco e Raquel está grávida outra vez, de gêmeos, mas esses ainda não sabemos o sexo.

— Nossa! É muito filho.

— Acho que agora eles fecham a fábrica de vez.

— E você quer ter filhos?

— Claro, amo crianças, eu amo ir para os eventos da família do Caio, eles têm muitas crianças, todos os irmãos de Caio também têm filhos.

— Se quiser eu posso ser o pai dos seus filhos, seriam crianças lindas. –sorrio e reviro os olhos.

— Aí Raul! Francamente. –nego com a cabeça.

—O que foi?

— Não fala essas coisas.

— Por que não? Tenho vinte e cinco já, você vinte e quatro, estamos na idade de termos filhos. –sorrio e nego com a cabeça.

— Quer beber alguma coisa?

— O que você tem aí?

— Vinho tinto e rosê.

— Pode ser um tinto.

— Ok.

Coloco minhas coisas na mesinha de centro e tiro meu tênis, algo que faço todos os dias quando chego do trabalho.

Vou até a cozinha, guardo o doce que seu João me deu na geladeira e pego duas taças e coloco o vinho para nós dois, corto alguns queijos que tenho na geladeira e arrumo tudo em uma tábua e levo para sala.

Raul tirou o terno e a gravata, abriu os primeiros botões da camisa e dobrou as mangas até o antebraço.

— Aqui, já volto. 

— Obrigado.

Vou até ao quatro trocar de roupa, o jeans está me apertando. Visto uma calça de malha de cor preta e uma regata branca.

Gosto de ficar sem roupa quando chego em casa, mas óbvio que não posso fazer isso.

— Voltei.

— Por que sumiu por anos Bella?

— Ah! Eu não sumi, apenas me dediquei aos meus estudos, depois surgiu essa oportunidade de trabalhar aqui e eu vim.

— Não tem mais redes sociais?

— Tenho.

— Você me bloqueou Bella? –fico meio constrangida em ter que admitir, mas não sou de mentir.

— Sim. — ele me olha incrédulo.

— Porquê?

— Eu não queria te ver com outras. — falo sincera e ele me olha confuso.

— Por que não Bella?

— Porque eu meio que comecei a gostar de você, só que você estava em outra em fase da vida, pegando todas e depois começou a namorar, então decidi me afastar, não tinha o menor direito de chegar e te dizer que tinha mudado de ideia e queria ficar com você.

— Tinha o direito sim e deveria ter feito isso, eu largaria tudo por você Bella. –ele olha nos meus olhos. 

— Eu não achei justo, te vi com ela, você estava feliz e logo eu que te rejeitei a vida inteira chegar e atrapalhar vocês.

— Eu realmente estava feliz, nós iríamos nos casar esse ano.

— E porque terminaram?

— Ela disse que enquanto eu não deixasse de te amar eu não ia ser feliz com ninguém. –olho para ele surpresa. — Ela foi a única pessoa com quem eu pensei em ficar de verdade depois de você, ela é uma pessoa muito boa e pra falar a verdade ela me lembra muito você, não fisicamente, mas na personalidade e no jeito de ser, sempre me peguei comparando vocês duas.

— Falou de mim pra ela?

— Sim, nós éramos amigos antes de começarmos a namorar.

— Entendi.

— Ela sabe tudo o que sinto por você.

Sente?! No presente.

— E ela disse que eu nunca iria ser feliz com ninguém enquanto continuasse te amando.

— Você amava ela?

— Não, mas tinha sentimentos muito fortes, ela foi a única que me fez chegar perto de sentir o que sinto por você.

— Sente?

— Sinto, eu fiquei louco quando você sumiu, cheguei a falar com a Liz para perguntar por você, mas ela não quis dizer e ameaçou minhas bolas se não te deixasse em paz. –sorrio.

— Bem, a cara dela mesmo fazer isso.

— Sua irmã é louca.

— Deixa minha irmã!

— Mas ela é louca mesmo! Sente falta dela, não é?

— Muita, também da minha mãe, da Quel, Caio e das meninas. Ah! Minha mãe casou.

— Sério?

— Sim.

— Que bom.

— Como estão seus pais e seus irmãos?

— Estão bem, estão morando na capital agora.

— Você também?

— Agora sim, mas antes estava morando em outra cidade com a Karina.

— Karina é sua noiva?

— Sim, ex noiva.

— Quer mais vinho? –pergunto ao ver sua taça vazia.

— Sim, você tá tão crescida bebendo até vinho. –revirei os olhos e encho a taça dele.

— Até parece que você é bem mais velho que eu!

— Um ano apenas.

— É.

— Você gosta de trabalhar para o Adams?

— Sim, o salário é bom, os benefícios também.

— Liz está morando em Milão, não é?

— Sim, trabalha em um ateliê lá.

— Você e sua irmã são muito diferentes.

— Acho muito engraçado quando falam isso, porque nós somos iguais. –digo e sorrio.

— Fisicamente sim, é assustador até, sem contar que ainda tem a Raquel, que é uma versão mais velha de vocês.

— É por que não viu minhas sobrinhas ainda, são idênticas a nós. –pego meu celular para mostrar fotos das meninas para ele. — Olha, essas são as trigêmeas, Anna Laura, Anna Luiza e Anna Letícia, a única coisa que elas têm de diferente são os cabelos e os olhos, herdaram do pai delas.

— Mas mesmo assim são iguais a Raquel e a você e a Liz.

— Essas aqui são as gêmeas, Anna Clara e Anna Cecília.

— Essas são idênticas a vocês, credo! Vocês só fazem cópias uma das outras.

— Herdamos do meu pai, não temos nada da minha mãe.

— Verdade.

De repente um silêncio estranho toma conta do ambiente, sinto a tensão entre nós e me afasto um pouco dele.

— Por que está se afastando de mim Bella? Eu não mordo não, não precisa ter medo de mim, eu não vou fazer nada.

— Talvez eu tenha medo de que eu possa fazer alguma coisa.

— Ah! Bella não fique falando essas coisas, estou lutando muito para me segurar aqui.

— Quanto tempo faz que rompeu com sua noiva.

— Um mês.

— Então ainda há possibilidade de voltarem.

— Ela disse que enquanto eu não me decidir ela não volta pra mim, que enquanto eu não parar de gastar de você as coisas nunca vão dar certo entre nós.

— Deveria voltar para a sua noiva Raul.

— Não gosta nem um pouco de mim Bella?

— Gosto, você é meu melhor amigo Raul, ou foi, sei lá.

— Eu sempre vou ser seu amigo Bella, na verdade queria ser mais que isso, mas você não deixa.

— Sabe Raul, eu não tenho nada para te oferecer, eu não sou dessas mulheres finas e elegantes, como sua noiva, eu sou isso aqui, uso jeans e tênis, coques mal feitos, nunca irei ser uma pessoa sociável que vai à festas, eu sou só isso que você está vendo, por isso acho que deve voltar para a sua noiva.

— E quem disse que eu preciso disso tudo Bella? Eu tenho gostado de você por toda a minha vida e acho que isso nunca vai mudar, é justamente por você ser quem você é que eu te amo, eu amo você Bella e não consigo mudar isso.

— Sabe Raul, eu passei anos lutando contra o que sentia por você, por medo de perder meu único amigo de verdade.

— E quem disse que não podemos ser amigos? Podemos ser tudo Bella, tudo o que você quiser.

— Você acabou de sair de um relacionamento, sei lá de quanto tempo.

— Cinco anos e meio.

— Então... Isso é muito tempo, vocês moravam juntos, tinham uma vida juntos, não dá para esquecer alguém assim do dia para a noite.

— Eu sei que não Bella, gosto muito da Karina, tenho um carinho especial por ela, mas amor eu só senti e sinto por você.

— Eu acho melhor você colocar suas ideias em ordem, ver o que quer de verdade, se não vai ter volta com sua noiva e depois nós conversamos.

— Não vai fugir de mim de novo, não é?

— Não, você sabe onde eu moro, não vou sair daqui tão cedo.

— Posso vir te visitar mais vezes?

— Pode, mas nós vamos nos ver ainda, tenho seu projeto.

— Espero que demore bastante.

— Que nada, vai ser rapidinho, com a ajuda do Pedro tudo vai bem mais rápido.

— Pedro! –ele repete o nome e revira os olhos. — Não teve mesmo nada com ele?

— Não.

— Mas ele gosta de você.

— Sim, mas ele é apenas meu amigo.

— Você é muito difícil.

— Sou.

— Já namorou alguém?

— Eu não, não tenho tempo pra isso.

— Mas já ficou com alguém?

— Sim.

Não preciso dizer que foram só beijos, ele não precisa saber disso.

— Sortudo quem conseguiu ficar com você.

— Aí Raul! Francamente.

— Vamos sair pra jantar?

— Obrigada pelo convite, mas estou bem cansada.

— Podemos pedir alguma coisa, vai por favor Bella? Estava com saudade, faz anos que não nos vemos.

— Tudo bem, mas eu preciso tomar um banho e você aproveita e vai até ao seu hotel e toma um banho também.

— O que está querendo insinuar? Que eu estou fedendo?

— Não, mas passamos o dia sem banho, credo, preciso do meu banho relaxante.

— Banho relaxante?

— Sim, de banheira.

— Tem uma banheira?

— Tenho.

— Deveria deixar eu experimentar esse banho com você.

— Vai sonhando!

— Não custa nada sonhar! — ele sorriu de lado.

— Vá de uma vez, vou te esperar aqui para jantarmos.

— Ok, mandona. –eu sorrio. — Até daqui a pouco Bê.

— Até.

Vou até a porta e abro para ele, ele se demora um pouco olhando para mim e me dá um beijo na bochecha e eu sorrio.

— Volto em meia hora.

— Ok.

Fecho a porta atrás de mim e respiro fundo, não dá nem para acreditar que acabei de beber vinho com Raul e que daqui a meia hora ela volta para jantar comigo.

Pensei que nunca mais o veria, mas o destino tem dessas.

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Comments

Elenice Martins

Elenice Martins

desculpe autora tá insistindo nisso, mais queria fotos dos personagens, acho mais legal com fotos

2025-03-11

0

Quase cinquentona🥴🥺😔😩

Quase cinquentona🥴🥺😔😩

Por que só os protagonistas têm direito a uma vida sexual ativa ( com raras exceções )? 🤔🥴

2025-01-24

3

Juliete Figueiredo

Juliete Figueiredo

será que não vai fazer igual Caio, e descobrir mesmo que gosta é da outra e que isso não passa de obsessão?

2025-02-23

1

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