CAPÍTULO 16

— Foi um prazer te conhecer, senhorita Blackwood.

— O prazer foi meu. Espero vê-la novamente para tratarmos mais alguns assuntos sobre o seu investimento na minha empresa. Nos vemos.

   Me despeço da senhora Wang. Uma cliente chinesa. Vejo ela ir embora acompanhada por alguns seguranças, logo entrando em um carro preto. Creio que seja um pouco exagerado tal situação, mas quem sou eu para discutir sobre a segurança dela?

   O nosso encontro foi no Central Park, o lugar de sua preferência. O clima nesse parque é agradável e faz com que o meu estresse seja aniquilado de pouco a pouco.

   Pela manhã, eu falei umas palavras bem duras para Malu porque ela ousou passar dos limites. Vou ficar bem longe dela, senão vou acabar sendo importunada de novo. Ela está interessada em mim, mas eu não sinto nada além de respeito por ela, mesmo ela não me respeitando corretamente. Só não irei demiti-la porque ela precisa de um emprego e foi indicada por Jennifer. Mas esse importuno será um segredo, não é necessário que alguém fique sabendo.

— Com licença, senhorita.

— Oi? O que? Sim... — sorrio do meu constrangimento ao perceber que uma garota morena se senta ao meu lado no banco da praça. Ela carrega consigo um violino já bem velho.

   O silêncio que nos rodeia é gentilmente espantado quando ela começa a tocar. Aquela bela canção invade os meus ouvidos e me traz à memória o lindo rosto de Mia. Vejo flashes de nossos beijos, do nosso contato físico e do seu contagiante sorriso. Eu nunca vou poder esquecer essa mulher.

   De repente, desperto dos meus pensamentos porque a canção que me agradou foi brutalmente interrompida. Olho para a garota sem a intenção de ser invasiva e vejo que uma das cordas do violino arrebentou, por isso a canção parou.

   A garota cabisbaixa mexe na corda arrebentada e murmura algo que eu não consigo ouvir, mas com certeza se refere a sua tristeza por ter acontecido algo tão trágico.

— Olá, com licença — eu decido me pronunciar — tudo bem aí?

— Hã? Não... quer dizer, não sei — ela continua com o olhar baixo.

— Posso te ajudar com isso? — toco o seu ombro e a mesma olha surpresa imediatamente para mim.

— Hã?

— Se quiser... eu te compro uma corda nova.

   A garota sorri, mas logo me encara com desconfiança. Eu sei que não nos conhecemos e é normal ela agir assim.

— Não tenha medo de mim... eu só quero te ajudar a continuar compartilhando o seu talento por aí. Você manda muito bem.

— Obrigada — ela agradece e sorri timidamente.

— Você sempre vem ao Central Park?

— Às vezes eu venho para tocar e vê se consigo um pouco de dinheiro... as coisas lá em casa não são tão boas — diz tristemente.

— Entendo... Qual é o seu nome? — tenho um plano em mente para ajudá-la e também para uma coisinha que acabo de bolar para a noite.

— Hillary.

— Certo, Hillary... — pego um cartão da empresa do bolso do meu terno — pegue. Ligue para este número quando você chegar em casa e assim eu te atenderei.

— Por que está me dando isso, senhorita? — ela pega o cartão e olha os dois lados como se estivesse brincando.

— Tenho um serviço para você hoje à noite. Você vai tocar pra mim.

— Isso é sério? — pergunta surpresa.

— Sim, mas não se preocupe... vou te recompensar muito bem pelo seu talento — me levanto porque devo ir para a empresa — Você tem talento. Vou aguardar a sua ligação. Até breve.

— Até.

   Sei que Hillary ficou animada. Eu estou mais ainda para ver o que a noite me reserva.

   14 horas

— Ian?

— Sim, senhorita Hannah... O que deseja?

— Tenho um pequeno serviço pra você, então me ouça com atenção!

— Sou todo ouvidos.

— Quero...

   Passo algumas instruções a Ian depois de receber a aguardada ligação da violonista talentosa e dar à ela informações. Ian atende ao meu pedido.

A noite será perfeitamente romântica hoje e o melhor, vou estar com Mia.

   20:30 horas

   TOQ, TOQ, TOQ

Batidas na porta me alertam que Mia está vindo ao meu encontro. Toda vez que a vejo, o meu coração erra as batidas. Hoje ela quase não compareceu ao meu escritório e toda vez que entrava, não fazia nenhum contato físico comigo, somente visual, mas a mensagem que enviei à ela, deixou bem claro que queria ela em minha sala depois que o expediente de trabalho terminasse.

   Quero sua companhia hoje à noite!

   A porta se abre e Mia entra à minha procura. Quando ela fecha a mesma atrás de suas costas, eu a pego de surpresa em um abraço forte, ouço um sorriso assustado e então viro ela de frente para mim.

   Ainda próximas a porta, encosto Mia na mesma e nos beijamos em sincronia. Eu sinto como se aquele beijo fosse um beijo de saudade. Eu estava com saudade de tocá-la, de senti-la em meus braços, de ver o seu sorriso e de sorrir com ela.

— Senti sua falta — eu sussurro logo que dou um selinho nela, finalizando o nosso beijo.

— Hannah... eu estava o tempo todo do outro lado da porta — ela sorri — se você queria tanto fazer isso... era só ter me dito.

— Eu sei — saio de sua frente — mas eu quero ver disposição de sua parte também.

   Mia abaixa o olhar. Eu não devia ter dito isso.

— Esqueça isso. Me acompanhe.

— Aonde vamos? — ela pergunta logo que eu seguro sua mão.

— À um lugar.

   Ela assente e saímos do meu escritório. Passamos por sua mesa e pegamos a sua bolsa e vejo que somente Roger está no RH concentrado em uns papéis. Os outros funcionários já se foram. Bem, pelo menos não me viram segurando a mão de Mia.

   Quando entramos no elevador e as portas se fecham, eu sou impulsionada pela minha vontade insana e beijo Mia ali mesmo. É como se os meus lábios chamassem pelos dela.

   Mia acompanha o meu ritmo e sinto-me puxada pela cintura por uma de suas mãos, nos beijamos cada vez mais intensamente. É um momento perfeito, até que sou empurrada agressivamente quando as portas do elevador se abrem. Mia sai arrumando os cabelos e limpando disfarçadamente a saliva de sua boca. A acompanho fingindo estar pegando algo no bolso e passamos pelos seguranças, que nos cumprimentam com uma certa desconfiança. É, mas não fomos vistas e se isso acontecesse, eu não estaria nem aí.

   21 horas

— Por que você precisa me vendar toda vez que me leva há um lugar diferente? — ela pergunta enquanto guio ela para dentro do recinto em que eu planejei mais cedo em mostrar a ela.

— Porque gosto de fazer surpresas.

   Passamos ao lado de Ian que está calado e ele assente para mim, avisando que tudo o que pedi a ele, já esta pronto.

   Entramos naquele lugar iluminado e levo ela mais adiante, onde se encontra a surpresa. Por onde passamos a um caminho feito de rosas, mas só eu posso ver.

   Paramos e então uma canção agradável começa a ser tocada. Não estamos sozinhas. Hillary, a bela jovem talentosa está presente e toca com sentimento o novo violino que ganhou de presente.

   Momento perfeito...

— Que linda canção — Mia diz com um sorriso — Onde estamos?

   Tiro a venda com delicadeza e posso contemplar a surpresa, a alegria e a satisfação de Mia tudo ao mesmo tempo. Seus olhos começam a enxergar toda a arte que está estampada nas paredes ao nosso redor e principalmente o caminho de rosas. Ela fica olhando por um bom tempo tudo ali, enquanto nossos ouvidos são agraciados com a linda canção que é transmitida do violino e pelas mãos da linda garota.

   Hillary foi presenteada por Ian que seguiu a minha ordem, além de fazer o seu pagamento adiantado, e também a trouxe para este lugar que estamos agora. Ela é uma pessoa que merece muito mais que uma simples corda, porque seu talento é incomparável. Se um dia eu me casar, ela tocará em meu casamento.

   Sinto minha mão ser segurada e vejo Mia me puxar para ver de perto um quadro muito bonito composto por cores claras. Acho que ela gostou.

— Nós estamos em uma galeria de arte? — ela pergunta e continua olhando atentamente para o quadro.

— Sim... eu quis te mostrar o que eu costumo apreciar.

— A arte muda a vida de muitas pessoas. Eu gosto porque tem a capacidade de nos transportar para lugares que jamais imaginamos ir... elas carregam sentimentos e muitos saberes, além de uma pitadinha de magia — a canção combina tanto com tudo o que ela diz.

— Uau — sorrio do quão profundo foram as suas palavras e sinto um conforto no coração — muito inspirador.

— Eu amo a sua sinceridade — ela diz e olha atentamente para mim — eu confesso que quando te conheci, pensava que você fosse uma pessoa arrogante e que colocava as suas necessidades acima das dos outros, mas me enganei... você é igual ao senhor John.

— Obrigada — me emociono ao ouvir o nome de John, mas ainda contenho as minhas lágrimas.

— Eu realmente sinto muito pela sua perca — Mia faz um carinho na minha bochecha e me abraça.

   Eu sinto um consolo em seus braços e não choro. As minhas lágrimas secam e o meu coração acelera ao sentir o seu corpo tão junto ao meu. Sinto o coração dela bater mais rápido e a sua respiração calma no meu pescoço.

   Assim que ela volta a me olhar nos olhos, ela sorri genuinamente e me leva com ela pela galeria de arte, explorando todos os cantos em que víamos uma pintura, mas sem sair do caminho de rosas. E ainda assim a canção nos acompanha.

— Por que a galeria esta vazia? Onde estão os apreciadores da arte?

— Eu não sei... o que eu sei é que hoje você pode olhar quantas pinturas quiser, sem ter que esperar a vez do próximo.

— Sério? — ela pergunta animada e sempre sorri quando vê um quadro.

— Sim.

— Mas... como conseguiu ter ela vazia só pra você... quero dizer, pra nós?

— Eu dei um jeito.

— Que jeito?

— O meu jeito milionário.

— Ah... esqueci que você tem o poder nas mãos.

— É... eu tenho.

   Rimos e ouvimos a canção ser encerrada. Nós olhamos para Hillary que está de olhos fechados e vemos ela começar a tocar uma nova canção.

Essa nova canção é repleta de sentimentos...

— Você sabe o que mais me chamou atenção? — Mia pergunta em minha orelha.

— Não... me diga.

— O talento dessa linda garota... as canções que ela toca são tão cheias de amor e aquecem o coração.

— Por isso que a escolhi para essa noite. O talento dela é incrível.

— Estou totalmente de acordo.

— Eu sei... fiz isso pensando em você, Mia... mesmo sem saber os seus gostos, os seus hobbies.

— Você seguiu o seu coração — ela diz pousando a mão sobre o meu seio esquerdo — e ele acertou. Vocês dois acertaram.

   Ela tira um sorriso genuíno de mim...

— Eu não pretendo errar... quero sempre estar certa quando estiver ao seu lado, em todos os momentos.

— Hannah... você tem mexido muito comigo.

   Aí meu coração... É agora...

— É exatamente assim que farei você se apaixonar por mim e quero muito que isso seja logo.

— Hannah... eu gosto de você, mas ainda... não me vejo apaixonada.

— Não tem problema... tudo tem o seu tempo e eu vou saber esperar. Eu te prometo que vou esperar.

— Eu acredito em você.

— Acredita?

— Sim... e para te provar... quero que dance comigo.

— Dançar? Aqui?

— Isso... dance comigo.

— Aceito...

   Começamos a dançar como se fossemos um casal apaixonado...

Bem, eu já fui enlaçada por essa paixão. Mia repousa a sua cabeça sobre o meu ombro e eu faço o mesmo em seu ombro fazendo um encaixe perfeito.

O meu coração dança de emoção.

...

   Mia voltou para casa todo o trajeto com sua cabeça repousada no meu braço, enquanto eu dirigia. Ela dormiu que nem percebeu quando chegamos em seu apartamento.

   Mia me disse que aquela foi a primeira noite em que ela se sentiu realmente viva.

— Mia acorda... Mia, já chegamos — desperto ela, fazendo um leve carinho em sua bochecha.

— Oh... me desculpe — ela diz meio sonolenta.

— Não se preocupe... está entregue.

   Mia afasta a cabeça do meu braço e olha para o prédio. Fica olhando por uns segundos sem dizer nada. Não vou atrapalhar os seus pensamentos.

   De repente...

— Você não quer entrar? — ela pergunta apontando para o prédio. Vejo que o seu sono sumiu milagrosamente.

— É... — penso por uns segundos — acho que já está tarde e você precisa dormir... e eu preciso ir pra casa.

— Ok — ela aceita sem nem mesmo pensar em insistir.

— Você vai ficar chateada se eu não te acompanhar? — pergunto e repouso a mão sobre sua coxa.

   Mia olha para a minha mão e eu tento tirar no mesmo segundo, no entanto, ela segura a mesma e me olha nos olhos.

— Não!... Eu não vou ficar chateada.

— Fico feliz em saber que...

— Mas vou ficar chateada se você não me der um beijo de despedida! — ela me interrompe e me surpreende.

   Fui pega de surpresa...

— Tudo bem... vem aqui — chamo ela com o indicador.

   Mia umedece os lábios e aquilo me provoca. Mordo os meus lábios com força para ver se causo alguma reação nela e de repente, eu sou surpreendida por um beijo.

   Mas não era eu quem iria fazer isso primeiro, mocinha?!

   Mia segura o meu rosto e eu sigo o beijo no ritmo dela. Aperto inconscientemente sua coxa e ela morde o meu lábio inferior, me causando uma leve excitação.

   Nossos lábios se afastam e Mia sai do carro sem me dizer o famoso tchau. Espero ela entrar no prédio porque me preocupo com a sua segurança.

   Sei que ela se despediu com um beijo, mas não custa nada dizer umas palavrinhas, no entanto, se isso acontecer mais vezes em nossas despedidas, eu nunca mais vou me lembrar de vocabulário.

   Então sigo para a minha casa.

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Comments

Lindinalva Tavares

Lindinalva Tavares

25/05/2024
parabéns...

2024-05-25

3

Ana Faneco

Ana Faneco

História maravilhosa lendo pela segunda vez ☺️

2024-04-22

3

Nataly Lopes

Nataly Lopes

Amando a Hannah toda romântica ❤️
Agora sim a Mia vai se apaixonar 🫶

2023-08-10

4

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