CAPÍTULO 7

   Terça-feira...

   Já fazia algum tempo que eu estava no meu escritório depois que voltei do horário de almoço. Havia muitos documentos para revisar, assinar e muitas outras pautas importantes para se resolver naquele dia.

   Caminhava em círculos no meu escritório enquanto lia uma notícia qualquer no meu celular, pois estava descansando um pouco do trabalho. De repente, me lembro dos lábios da pequena mulher. Mia continuava me distraindo. Tal situação deveria ser resolvida, senão eu iria acabar enlouquecendo.

   Fiquei intrigada por uns dias enquanto me lembrava da mulher importuna beijando Mia. Mia era tão misteriosa que era difícil saber o que ela estava pensando quando entrava na minha sala. Sua expressão facial nunca mudou. Ela sempre estava de bom humor. Era incrível.

   Guardo meu celular no bolso do meu terno e em seguida, escuto batidas na porta. Esperava que fosse a minha bela secretária. Precisava vê-la, nem que fosse por dois minutos.

— Sim, entre! — digo e aguardo a entrada da pessoa.

   Mia.

Eu estava com sorte ou o meu pensamento foi tão específico e desejado que acabou se realizando.

   Ela entrou segurando dois cafés nas mãos e fechou a porta com um leve empurrão de cotovelo. E vi que mesmo com uma expressão feliz, os seus olhos estavam meio tristes. Não costumava  observar esse tipo de coisa nas pessoas, mas, parecia que ela era uma excessão agora.

   Mia para a um passo de mim e me entrega um dos cafés sem me dizer nada. Muito bem, teria de aceitar. Iria aceitar tudo o que ela quisesse me dar.

   Observo o que tenho em mãos por um momento e enquanto isso, vou ganhando tempo ao lado dela. Devo usar estratégias.

— É café sem açúcar, senhorita — Mia diz e eu olho para ela — Miranda me contou que prefere assim depois que eu trouxe café com açúcar naquele dia.

— Hum... aquela fofoqueira — digo isso e vejo ela se conter para não sorrir e não o fez. Bem que um sorriso genuíno dela melhoraria o meu dia, apesar de que talvez ela não estivesse bem.

   Talvez eu precisasse perguntar, até porque não era nada demais um chefe se preocupar com os seus funcionários. Se estivessem com a saúde debilitada não fariam o seu trabalho corretamente.

— Mas e então... você já saiu para almoçar?

— Sim. Voltei agora pouco e resolvi comprar um café para a senhorita, já que está bastante ocupada hoje.

— Eu não estava pensando em beber café, mas já que você trouxe... eu vou beber.

— Ok... vou voltar a trabalhar agora.

— Você está muito ocupada hoje? — pergunto e caminho até o meu sofá.

— Não muito.

— Perfeito — me sento no meio do sofá.

— Hã?

   Pensei em algo enquanto ela me olhava confusa. As estratégias iriam entrar em ação.

— Senhorita? — ela me chama e eu olho com a cabeça meio torta para ela — Por que está me olhando desse jeito?

— Estou pensando em algo.

— Ah... entendi. Vou voltar ao trabalho.

— Não! — digo com seriedade e Mia desvia o olhar lentamente — Quero que use o meu computador para trabalhar.

— Quer que eu trabalhe aqui na sua sala? — então tive novamente a sua atenção. Ela estava nervosa.

— Sim, mas... é só por hoje.

— E por que eu tenho que fazer isso?

— Porque eu quero olhar você trabalhando!

— É... Hã?

— Quero ver a sua maneira de trabalhar.

— Mas...

— Você me permite?

— Ah... certo — ela aceita, mas com um certo tipo de receio.

— Ótimo... agora se sente na cadeira, ligue para Miranda e peça para ela passar as ligações para o telefone na minha mesa. Use o computador e se surgir alguma dúvida, estarei aqui para te responder.

— Como desejar, senhorita.

— Eu não quero ouvir nada além das ligações e o barulho do teclado. Quero silêncio na minha sala. Fora as suas dúvidas... não fale nada.

— Ok.

— Comece.

   Então Mia fez conforme a minha ordem. Houve algumas ligações e o teclado fez o barulho necessário. Em meio a tudo, eu apenas a observava calada. Como estava concentrada, ela olhou para mim poucas vezes e em todas, fiz questão de que ela me visse a observando e todos os seus movimentos.

   Mia parecia ser perfeita em tudo.

   Em um momento do dia, eu vi que a sua respiração havia ficado desregulada e ela perdeu um pouco de sua concentração. Mas ela não me fez nenhuma pergunta. E como eu queria responder suas perguntas.

   Me levantei do sofá quando vi que já eram 19:50 da noite e Mia olhou para mim e desviou o olhar, fazendo o mesmo repetidamente. Era certo que ela estava desconfortável.

   Enquanto caminho pela sala, vejo Mia massagear a nuca e respirar profundamente. Só aquele pequeno detalhe chamou a minha atenção. O trabalho a deixou cansada. Acho que foi de tanto que olhei pra ela, mas não, não era necessário tamanho exagero.

   Me aproximo da mesa na intenção de fazer uma coisa e Mia se levanta imediatamente, como se eu fosse um fantasma. Paro e pergunto:

— O que foi?

— É... nada — sua voz tremeu.

— Se não é nada, então... sente-se!

— Ok — ela se senta e volta a mexer no computador, mas me olha ao mesmo tempo.

   Vou caminhando devagar até parar ao lado dela e ver que ela estava fechando uma pasta no computador.

   Enquanto ela fazia aquilo, vejo ela começar a tremer uma das pernas e também uma das mãos no teclado de tanto nervosismo. Qualquer hora ela passaria mal.

   É, a minha estratégia estava funcionando.

   Vou para trás da cadeira e vejo ela continuar tremendo, então eu toco com as minhas duas mãos os seus ombros, porém com delicadeza e sinto ela arrepiar.

   Mia deixa o computador de lado um momento depois que eu comecei a massagear os seus ombros e pergunta:

— O que está fazendo?

— Estou aliviando a sua tensão... percebi que está um pouco cansada e nervosa.

   Continuo massageando os ombros dela e a mesma segura as minhas mãos, me impedindo de continuar.

— Isso... isso não está certo, senhorita — sua voz tremeu — a senhorita não pode me tocar dessa forma.

— Por que você está com medo? — sussurro em sua orelha.

— Você é a minha chefe e isso não está certo.

— Você tem medo de que alguém nos veja... é isso?

— Sim, senhorita.

— Você não deve ter medo.

   Mia engole em seco e eu tiro as mãos dela.

— Se não se incomodar... peço que me deixe ir embora — ela diz ainda sentada — por favor?

— Pode ir — digo e pego o seu pulso, então levanto ela da cadeira.

— Obrigada, senhorita Hannah.

— Não por isso... mas antes de ir... pode me responder uma coisa?

— Claro — vejo que ela ainda está tensa, mas deu um breve sorriso de lado.

— Por que você fica tão nervosa quando eu me aproximo?

— Eu... eu... — ela diz enquanto mantém contato visual comigo — eu não sei.

— Ok... mas quero que saiba que eu não mordo — solto o seu pulso — e também que eu... gosto de te olhar.

— Ah... eu... — ela não sabe como agir — eu preciso ir agora.

— Tudo bem... espero vê-la amanhã.

— Estarei aqui... Tenha uma boa noite.

— Igualmente.

   Então a vejo indo embora...

Fiquei me lembrando de como toquei os seus ombros. E aquela tentativa seria considerada a primeira. Tentaria novamente. Não era de desistir tão fácil.

   Quarta-feira...

   Volto do almoço e acabo encontrando Mia e Miranda no caminho para o elevador, onde nós três entramos. Eu fiquei por trás das duas enquanto elas mantinham o profissionalismo, mas os meus olhos estavam vidrados na pequena mulher de vestido preto. Estávamos ambas de preto. Eu usava roupas pretas todos os dias, então já era um costume meu.

   Mia chegou novamente atrasada. Soube dessa nova falha através de Miranda. Miranda era mesmo um amorzinho.

   Ainda no elevador eu disse a Mia que a queria no meu escritório, algo que ela logo concordou. É feio não dar explicações de quando se esta obviamente falhando no serviço. Uma conversa íntima deixaria ela mais atenta.

   TOQ TOQ TOQ...

   Mia bateu na porta e entrou logo em seguida. Eu parei de estralar os meus dedos. Estava tentando aliviar uma dor repentina na mão.

   Ela veio até a minha mesa, dizendo:

— Pois não, senhorita?

   Estava novamente com uma tristeza no olhar. Ela estava passando por algum problema. Ou talvez fosse apenas a minha imaginação.

   Me levanto da minha cadeira, dou a volta na mesa e paro ao lado dela, olhando toda a extensão do seu corpo sem exitar. Queria que ela visse como eu estava a desejando. Era óbvio que ela já estava ciente das minhas intenções, pois ela juntou as mãos e abaixou a cabeça.

— O que deseja de mim, senhorita? — ela quebra o silêncio entre nós, mas não a minha concentração.

   Desejo você — eu pensei — e como desejo.

— Desejo falar sobre o seu atraso hoje... já é o terceiro que você comete.

— Peço que me perdoe pela minha negligência.

— Vou pensar — então ela olha para mim e as suas sobrancelhas se juntam.

— A senhorita só me chamou aqui para me dizer isso?

— Hum... tecnicamente... sim — começo a dedilhar os dedos na minha mesa e ela se atenta nos mesmos.

— Então... — ela me encara — devo deixá-la sozinha para pensar melhor se irá me perdoar ou não.

— Eu não permite que você saísse!

   Mia ficou com temor nos olhos e eu mordi os meus lábios vendo a sua apreensão. Depois de segurar na sua cintura, eu a empurro devagar na mesa para não machucá-la e a mesma não conseguiu fazer nada para sair de perto de mim. Ela estava claramente nervosa agora, enquanto eu estava cheia de vontades e pensamentos.

   Me coloco em sua frente e percorro todo o seu corpo com os olhos.

   Decidi tocar o seu ombro e assim fiz, seguindo para o outro e depois descendo lentamente entre os seus seios, nisso senti o quão acelerado estava o seu coração e a sua respiração. Por fora, ela talvez não demonstrava claramente o seu desequilíbrio, mas o seu interior não podia mentir. Desço até o seu abdômen e depois volto para o meio dos seus seios.

   De repente, Mia segura a minha mão e nos olhamos profundamente. Tão penetrante o seu olhar. Então eu tento mover a minha mão, mas ela me impede.

— Acho melhor parar por aqui, senhorita Hannah.

   Ignoro suas palavras e toco o seu rosto com a minha outra mão. Faço um carinho por uns segundos e ela somente recebe o meu toque calada. Até que...

— Senhorita... não faça isso.

— Só estou sentindo o quanto a sua pele é macia.

   Toco desta vez o seu lábio inferior com o polegar e o encaro por um instante. Mordo os meus lábios como se estivesse sentindo os dela nos meus. E então ela diz:

— Para... por favor — ela implora passando a língua nos próprios lábios — por favor?

— Tudo bem — digo engolindo a minha vontade de beijá-la e então ela me deixa livre. Ela sentiu desejo por mim, só pelo fato de lamber os lábios, isso é visível — você sabe fazer massagem em mãos?

— Hã?

   Ela quase sorri. Nem sei porque perguntei tal coisa. Bem, pelo menos deu uma aliviada na tensão que eu provoquei. Ela parece mais confortável agora que eu não estou mais a tocando.

— Estou precisando de uma massagem em uma das mãos... Você pode massagear para mim?

   Ela pensa por um momento. Com certeza está tentando escolher em aceitar ou voltar para o seu trabalho. Acho que a sua escolha neste momento seria estar bem longe de mim.

— Está bem... eu faço isso.

— Então comece.

— Qual mão?

— A direita — entrego a minha mão para ela e a mesma começa a fazer conforme o meu pedido.

   Um momento depois, já próximas da porta, eu a vejo quase saindo, mas então ela se vira e pergunta:

— Você já me perdoou?

— Não!

— Mas por que não?

— Ainda estou pensando... talvez eu diminua dez por cento do seu salário ou te dê uma advertência.

— Hum?... Mas...

— Você não tem o direito de reclamar, senhorita Lancaster. Você não mostra nenhum motivo pelo qual se atrasou... preciso saber os motivos e só assim, saberei ponderar a sua situação.

   Mia olha para o chão pensativa.

Por que isso parece ser tão difícil de responder? Por que ela não fala logo o que tanto esconde?

— Desculpe, senhorita, mas... não vou lhe dizer o motivo.

   Mia abre a porta e sai, me privando das minhas palavras.

Eu queria continuar aquela conversa, mas pelo visto não poderei. E sobre os dez por cento a menos no seu salário ou a advertência, era só uma pequena ameaça para tentar descobrir algum segredo seu. Missão não cumprida. No entanto, eu consegui outra das minhas tentativas. A toquei.

   Volto a trabalhar na minha mesa para não perder a hora, pois acho que hoje vou dormir muito quando me jogar na minha cama. Não pretendo me divertir porque afinal de contas, não tenho ânimo pra isso.

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Comments

Nilva Vieira Santos

Nilva Vieira Santos

muito bom sua história 👏

2023-08-07

8

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