CAPÍTULO 5

   Nos despedimos dos clientes italianos e eles se foram. Antes disso acontecer, eu pude ver o tamanho do profissionalismo da senhorita Lancaster. Ela se comunicou com um dos clientes usando a língua italiana. Eu amei o seu sotaque e como ela se expressou, sempre usando as mãos em suas explicações, mesmo eu não entendendo praticamente nada, porém, ela traduzia sempre para mim.

   Eu tive uma conversa mais que agradável com o outro italiano que era muito fluente em meu idioma. Nos encontramos em um restaurante da preferência deles. Disseram que era o melhor em toda Massachusetts. Confesso que os pratos estavam deliciosos. E então resolvemos todo o assunto nessa reunião.

— O que você acha de caminharmos um pouco antes de voltarmos para o hotel? — estamos encostadas no carro e o motorista nos aguarda dentro do mesmo, pois eu disse a ele para ele permanecer lá.

   Mia olha algo em seu celular enquanto segura o notebook, parecendo ignorar a minha pergunta, mas logo, diz:

— Já são 23 horas... devemos voltar para o hotel.

— Eu não quero voltar ainda — eu digo num tom de reclamação.

— A viagem de volta para Nova York esta marcada para as 10 horas... você, quero dizer, a senhorita precisa descansar.

— Quem disse que estou cansada? — pergunto e puxo ela mais para perto de mim. E ela quase resiste.

   Bom... eu fiz aquilo por impulso, no entanto, eu a toquei, mesmo que por segundos.

— Ninguém disse — ela responde olhando em meus olhos — mas se a senhorita não quiser voltar para o hotel agora... eu voltarei sozinha.

— Você não pode fazer isso!

— Posso sim... o meu horário de trabalho já foi cumprido.

— Mesmo assim... eu quero que me acompanhe.

   Mia se vira sem se importar com o meu pedido e abre a porta do carro. Fecho apressadamente e me encosto na mesma para ela não entrar.

— Senhorita Hannah... com licença?

— Não!

— Ótimo... voltarei de táxi.

   Qual é o problema dela? Eu só quero ter mais um momento com ela, mesmo que seja em silêncio. Já que ela não se esforça nem a sorrir para mim. Mas para qualquer outro, o sorriso dela vai de orelha a orelha.

— Não! — seguro seu pulso — Eu só quero que me acompanhe. Eu nunca estive em Massachusetts, então quero conhecer algum ponto turístico. Como aqui é movimentado deve ter algum... pode ser até legal.

— Senhorita... me desculpe, mas eu estou cansada... preciso descansar. Viagens de avião me deixam um pouco mal.

— Mas você dormiu praticamente a viagem toda! Trinta minutos depois que o jatinho decolou... você dormiu.

— Estou ciente disso.

— Mas... por que você dormiu tão rápido? — solto o pulso dela e cruzo os braços tentando entender aquele fato.

— Porque eu tomei um remédio para enjôo e ele acabou me deixando com sono... sempre tomo esse remédio para evitar enjôos em aviões.

   E eu pensando que ela tinha tido uma noite ruim e que não dormiu bem, como fui ingênua em me preocupar.

— Mas e depois da viagem... o que ficou fazendo que não descansou?

— Eu fiquei revisando e memorizando os assuntos que seriam tratados na reunião.

   Por isso que a pequenina se saiu tão bem.

— Por falar nisso... você foi ótima.

— Obrigada — ela diz e assente sem demonstrar nenhuma feição. E eu me esforçando para ganhar pelo menos um sorriso dela.

   Olho ao redor e então decido esquecer a ideia de ir caminhar, já estava tarde e ela estava cansada, mas não porque ela disse, e sim porque era visível em seus olhos caídos.

   Entro no carro depois de abrir a porta em que eu estava encostada e me sento no meio, na intenção de ficar perto dela. Mas Mia entra atrás de mim jogando o notebook em minhas mãos como se eu fosse a empregada dela.

   Me afasto dela, me encostando na janela e deixo o notebook no banco entre nós. Ela quem me induziu a fazer aquilo. Bem esperta.

   O motorista segue para o hotel e um momento depois, eu decido fazer algumas perguntas aleatórias a Mia. No entanto, eu nem me esforço para olhar para ela por causa das suas atitudes comigo e porque eu estava de olho nas ruas iluminadas.

— Então senhorita Lancaster... qual a sua nacionalidade?

...

— A quanto tempo você vive em Nova York?

...

— Você tem irmãos?

...

   Fico brava quando não recebo nenhuma resposta e sinto uma vontade absurda de sacudi-la para eu ter as minhas respostas, no entanto, quando olho para Mia, me deparo com ela dormindo e com a sua cabeça encostada na janela do carro.

   Só de vê-la tão quieta e tão frágil, eu me tranquilizo. Ela está tão cansada que só com o balançar do carro ela dormiu.

   Novamente cubro ela com o meu terno e desta vez não está frio, pois o ar quente do carro esta ligado, porém, eu fiz por querer.

   Vejo através do retrovisor que o motorista me olha com um olhar gentil. Ele é um bom trabalhador, me lembra Ian, pena que o mesmo não veio nessa viagem para ser o meu motorista porque está um pouco doente.

— Senhorita Blackwood?

— Sim, Murphy? — eu respondo enquanto olho  para o espelho retrovisor.

— Meus pêsames... o senhor John era um bom homem.

— Obrigado — e volto a olhar para Mia. Até dormindo ela é linda. Parece ter tanta paz e nenhuma preocupação.

   Chegamos na porta do quarto em que ela estava hospedada. Ela quebra o silêncio que nos acompanhou desde que saímos do carro, dizendo:

— Não era necessário, mas obrigada — ela me entrega o meu terno gentilmente.

— Hum.

— Então... boa noite — ela diz abrindo a porta do quarto.

— Boa noite — me afasto...

— E a propósito... — eu paro, me viro e assim encontro com os olhos dela. — eu sou francesa. Moro em Nova York a quatro anos e tenho uma irmã.

   Nossa meu coração. Ela me ouviu!

— Ah.

   Mia sorri de lado brevemente e entra em seu quarto fechando a porta. Pelo menos eu ganhei as respostas que eu queria e um sorriso dela naquela noite. Aí meu coração. Não surta.

   Então vou para o meu quarto e me jogo na cama para descansar e acordar disposta para mais uma viagem.

   De volta a Nova York...

— Boa noite Lili.

   Eu digo ao me sentar a mesa retangular da sala de jantar, a mesma tinha vários assentos, porém quase todas as noites eu ocupava o da ponta. Aquele era o lugar preferido de John e era onde ele costumava sentar para fazer suas refeições, ler jornais pela manhã ou conversar com algum empregado.

— Como foi a viagem, querida? — Lili pergunta ao se sentar próximo a mim.

— Como todas as outras.

— Não houve nada importante... ou novo?

— Não Lili... viajei só por causa dos negócios.

   Claro que teve algo novo. A jovem secretária que me acompanhou. Pena que ela se manteve sempre afastada. Só falou sobre os negócios futuros da empresa em nossa viagem de volta para Nova York.

— Certo. Vamos comer?

— Claro — eu concordo logo que percebo a presença de Jennifer. Ela já tinha deixado o meu prato em minha frente e estava servindo Lili.

— Querida... você deseja beber algo? — Lili pergunta e eu assinto negativamente enquanto encaro disfarçadamente a senhorita Jennifer.

   Confesso que é um pouco estranho ver todos os dias uma pessoa que cedeu facilmente ao meu desejo e agir naturalmente. Ela concordou que seria algo sem compromisso e estava levando isso a sério. Depois do que houve em meu escritório, ela não dirigiu mais a palavra a mim, a não ser em público.

   Chamei ela ao meu escritório depois do jantar e ela veio até mim.

   Quando ela entra em meu escritório, eu que estou sentada na poltrona, peço à ela para trancar a porta e a mesma segue a minha ordem.

   Chamo Jennifer e mando ela se sentar no meu colo. Jennifer me obedece e se senta posicionada em mim, enquanto se apoia em meus ombros.

   Primeiramente, eu aspiro o seu cheiro e depois desamarro os seus cabelos. Eu sou apaixonada por cabelos longos porque realça a beleza da mulher.

   Toco os cabelos dela gentilmente e desço as mãos para os botões do seu uniforme, os desabotoando. Jennifer morde os lábios deixando visível novamente a sua atração por mim e tenta me beijar, no entanto, eu viro o rosto a rejeitando.

— O que foi? — ela pergunta enquanto tenta me fazer olhar para ela.

— Não quero que me toque! — digo e seguro seus pulsos.

— Então me diga o que deseja.

— Será como dá primeira vez... eu vou tocar em você, mas você não pode me tocar e dessa vez, não fará nenhum barulho.

— Só farei o que você quiser.

— Boa garota...

   E mais uma vez eu a domino.

Durante todo o momento enquanto eu ouvia os gemidos abafados da mulher sentada em mim, eu me lembrava de Mia Lancaster, de como estava sexy naquele robe, de como os seus ombros eram perfeitos e de como o seu coque frouxo a deixava mais encantadora. Não era certo estar com uma mulher enquanto pensava em outra.

   Eu estava errada? Sim! Mas eu não sou capaz de controlar os meus pensamentos.

   Dois dias após a viagem a Nova York...

   Passo pelo departamento com o meu café sem açúcar e aceno para Miranda que assenti com um sorriso. Percebo que Mia está bem ocupada em uma ligação e nem mesmo fez questão de olhar para mim. Isso é desconfortável.

   Distraída com a rejeição da minha bela secretária, acabo sendo atropelada por um carrinho cheio de papéis e documentos e então caio e o café se espalha por quase toda a minha roupa, sorte que o mesmo não estava tão quente. Isso só pode ser má sorte ou culpa de uma palavrinha chamada cegueira.

   O funcionário que me atropelou com o carrinho está usando óculos de grau. Ele me ajudou a levantar e nesse momento, vejo todos os funcionários me olhando preocupados.

— Me desculpe chefe?! — diz o rapaz de pele clara, desesperado e vermelho de vergonha.

— Não tem problema... eu estou bem, só um pouco...

— Molhada! — diz uma voz familiar.

   Aquela palavra fez-se de duplo sentido em minha cabeça por ter sido Mia a pessoa que falou.

   Mia está agora ao meu lado analisando o meu estado. Isso teve que acontecer para eu ter a atenção dela? Se for por isso, vou sempre cair na frente dela.

— Por favor chefe... me perdoa?

— Não se preocupe rapaz... — eu nem sabia o nome dele, coitado — é só café.

— Mas... a senhorita pode ter se queimado — ele tenta por as mãos em mim e eu me afasto, mas no mesmo momento, Mia fica entre nós dois como se quisesse me proteger dele. Hum...

— Acho melhor você voltar ao trabalho, Bill.

— Me perdoe.

— Volte ao trabalho! — eu ordeno e entro em meu escritório, me poupando de mais falação e perdões desnecessários.

   Chego em minha mesa e tiro o terno que molhou só um pouco, já a minha blusa, estava praticamente encharcada e suja, como era branca, ficou marrom. Apesar de ter sido inesperado, até que foi engraçado.

   Desabotoei uns botões de minha blusa e nisso vejo Mia entrar com uma toalha branca, possivelmente trouxe do RH.

   Não sei se devo me limpar na frente dela. Penso melhor. Pego a toalha dela, que me encara calada.

— Obrigada.

— De nada.

— Perfeito. — continuo desabotoando a minha blusa enquanto mantenho contato visual com ela. — Por acaso você passou no RH?

— Não... há várias dessas na dispensa.

— Hum... ótimo.

   Então os botões ficam todos abertos. Vou ver se ela me diz um “ sim ” desta vez...

— Quer me ajudar a me limpar?

— Não!

   Como não? Agora estou com raiva dessa garota estúpida. Se Jennifer estivesse aqui, ela me limparia usando a língua porque ela deseja me tocar mais que tudo.

— Então se não vai me ajudar... por que está aqui?

— Preciso saber se deseja que eu providencie uma outra vestimenta.

— Não precisa... a Miranda faz isso. Ela sabe as minhas medidas.

   Mia revira os olhos.

E como eu queria que ela também já soubesse as minhas medidas, principalmente o cumprimento dos meus dedos.

— Ok... vou deixá-la agora... tenho ligações para atender.

— Senhorita Lancaster... — eu a chamo logo que ela abre a porta, então ela me olha com curiosidade. — me desculpe por ter feito você perder o seu tempo?!

— Sem problema... estou aqui para ajudar.

   Ah é? E por que não quer me limpar? — esse pensamento me perturba.

— Certo... E mais uma coisa.

— Sim?

— Você poderia me comprar um café? Ainda não tomei nada hoje.

— Posso sim.

— Obrigada.

   Ela assente e sai fechando a porta.

O que me resta fazer é ligar para Miranda para ela providenciar uma nova vestimenta para mim, já que essa segunda-feira será longa.

   Mas fiquei triste por não ter sentido as mãos de Mia me limpando. Eu quase nunca permitia que me tocassem, mas aquela que insiste em se manter afastada, era alguém que eu deixaria que me tocasse.

   Vou insistir e aproveitar as oportunidades do destino.

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