Tranco a porta e me jogo no sofá ao lado de minha mãe, minha cabeça ainda estava repassando o encontro com Alec. Se ele não estava na festa, o que fazia na reserva à noite? Ah... Ele é muito lindo e misterioso, isso me deixa completamente louca. E aqueles lábios avermelhado, uma tentação só de imaginar.
— Como foi a festa querida? — Ela pergunta empolgada.Minha mãe parece uma adolescente as vezes.
— Até que foi legal! Apesar de ter sido no mato, mas me diverti bastante.
—E o rapaz que te trouxe, quem é? — Seu olhar curioso recai sobre mim, seguro o riso.
— Mãe estava me espiando? — Ela se entrega com um sorriso travesso.
— Só fiquei curiosa querida, nada demais.
— É só um colega da escola, Trevor Belmont a senhora conhece?
— Os Belmont são uma família antiga aqui na cidade! Mas não os conheço pessoalmente.
— Mãe me fala sobre a reserva. O que realmente é aquele lugar?
— Querida,eu não sei muita coisa, só que os Belmont, Griffin, Scott e os Green se juntaram e transformaram parte da floresta em uma reserva ambiental, para não ter caça e nem desmatamentos. Porquê?
—Curiosidade.... Então a comunidade nada mais é que estás quatro famílias? — Questionei a encarando de soslaio.
— Sim, e minha avó me contava histórias sobre eles serem descendentes dos Cheyenne, uma das primeiras tribos do Norte da América.— Arqueio a sobrancelhas.
— Tudo isso é muito interessante, mas eu vou subir...—Bato em minhas pernas me levantando.— Estou cansada e amanhã tenho aula. — Beijo seu rosto. — Boa noite mãe.
— Durma bem,minha vida.
Subi as escadas devagar, sentindo o chão de madeira ranger sob meus pés. Meu corpo pedia descanso, mas minha mente… estava acesa, como se algo tivesse sido despertado. Fechei a porta do quarto e encostei as costas nela, inspirando fundo. Meus dedos ainda formigavam com a lembrança do toque de Trevor. Mas era Alec quem me deixava em alerta. Aqueles olhos... não eram normais.
Troquei de roupa lentamente, calçando uma meia macia, vestindo uma camiseta velha que cheirava a lavanda. Deitei na cama, puxei o cobertor até o queixo e fiquei encarando o teto, com as mãos sobre o peito, como se tentasse segurar o coração dentro do corpo.
> O que ele fazia ali, sozinho no meio da floresta?
Como sumiu daquele jeito?
E por que a voz dele parecia… ecoar direto dentro de mim?
Fechei os olhos e a cena se repetiu como um filme: a névoa baixa entre as árvores, os olhos vermelhos brilhando, o sorriso calmo demais para a situação, e o jeito como meu nome soou na boca dele.
"Sophie."
Foi quase um sussurro. Mas eu senti como se ele tivesse tocado minha pele.
Suspirei, virando de lado. A conversa com minha mãe também pesava. Os nomes que ela citou... Belmont, Griffin, Scott, Green. Não era só um grupo de famílias influentes — parecia mais do que isso. Eles fundaram a reserva. Descendentes de nativos... Cheyenne? Isso não parecia coincidência.
Olhei para a janela. As árvores dançavam sob o luar, como se escondessem segredos demais entre seus galhos. Um arrepio percorreu minha espinha.
Peguei o celular, digitei o nome de Alec no buscador, mas nada. Nenhum Alecxander, nenhum Alec da cidade. Era como se ele não existisse. Ou estivesse se escondendo.
> Ou pior…
Um barulho seco lá fora me fez prender a respiração. Levantei devagar e fui até a janela, afastando a cortina apenas o suficiente para espiar. Não vi ninguém. Mas tive a nítida sensação de estar sendo observada. Meus olhos vasculharam a rua silenciosa. Nada.
Estava ficando paranoica.
Voltei para a cama. Tentei fechar os olhos, me obrigar a dormir. Mas tudo dentro de mim pulsava como se algo estivesse prestes a acontecer. E talvez estivesse.
Porque em cidades como MistFalls — onde quatro famílias dominam as terras, onde florestas são protegidas por tradição e silêncio, e onde garotos com olhos de jaspe aparecem e somem como fumaça — nada é tão comum quanto parece.
E de alguma forma, eu sabia.
Aquilo tudo ia mudar minha vida.
Logo o sono me envolve como um nevoeiro denso, e o mundo ao meu redor desaparece. Mas, quando abro os olhos novamente, percebo que não estou no meu quarto.
Estou na reserva.
A escuridão é quase total. Só a luz pálida da lua atravessa os galhos retorcidos das árvores, lançando sombras alongadas sobre o chão úmido de folhas. O ar é pesado, silencioso, como se até os grilos tivessem parado para assistir o que viria a seguir.
Ali, no centro da clareira, vejo uma mulher. Ela está de costas, usando um vestido branco antigo que esvoaça com o vento. Nos braços, um bebê envolto em panos escuros. Ela se ajoelha no meio da terra fria... e o deixa no chão, lentamente, como se aquilo fosse um ritual.
— Ei! — minha voz sai fraca, como se o próprio ar me impedisse de falar.
Corro até ela, mas meus pés afundam na terra, e por mais que tente, estou presa ao lugar. Minhas mãos estendidas não conseguem alcançar o bebê.
Então, do meio das árvores, um rosnado rasga o silêncio.
Os galhos se curvam com o vento que não sopra.
E surge ele.
Um lobo gigantesco, de pelos negros como petróleo, olhos vermelhos incandescentes como brasa viva. Ele avança lentamente, imponente, com as patas pesadas esmagando a vegetação. Meu coração martela no peito, meus pulmões esquecem de respirar. O instinto grita perigo, mas... o lobo não ataca.
Ele se aproxima do bebê, deita-se ao lado da criança e a envolve com o próprio corpo, como um escudo quente contra o frio da noite.
Eu tento piscar. Tento entender. Meus olhos percorrem ao redor, buscando qualquer sentido, qualquer explicação. Quando volto a olhar para o bebê… ele não está mais deitado na terra.
Agora é uma mulher que o segura nos braços.
Uma mulher de cabelos negros caindo sobre o rosto, olhos tão vermelhos quanto os do lobo. Sua pele é pálida, os lábios tingidos de sangue. Ela me encara. Um sorriso mínimo se forma em sua boca, e seus olhos... eles brilham com um reconhecimento que me atravessa.
Sinto um arrepio subir pela espinha.
— Quem... é você? — sussurro.
Mas antes que qualquer som ou resposta venha, um uivo dilacera o céu.
E acordo.
---
Salto na cama ofegante, o despertador apita como se tentasse competir com os batimentos acelerados do meu coração. Apoio as mãos nos joelhos, tentando recuperar o fôlego, a garganta seca e o corpo suando frio, apesar da brisa que entra pela janela.
Foi só um sonho... certo?
Levanto devagar, como se estivesse pisando entre o mundo dos sonhos e a realidade. Entro no banheiro, ligo o chuveiro e deixo a água quente cair sobre mim, tentando lavar a poeira da festa e, principalmente, o peso do que acabei de ver.
Mas mesmo com os olhos fechados, o rosto da mulher... e os olhos do lobo... permanecem ali.
E uma pergunta ecoa dentro de mim com força:
> Por que aquele lobo me parecia tão familiar?
...☆゚.*・。゚☆゚.*・。゚...
— Querida, o café está pronto! — grita minha mãe das escadas, com aquela energia exagerada para alguém que ainda não tomou café.
— Já estou descendo, mãe — respondo, prendendo os cabelos diante do espelho.
Mas algo me faz parar. Me aproximo do vidro, estreitando os olhos. Inclino o rosto, desconfiada.
— Meus olhos... — murmuro. — Estão... diferentes?
Há um tom lilás, quase imperceptível, atravessando o castanho habitual. Uma cintilância sutil, como reflexo de luz sobre ametista. Pisco, tentando afastar a ideia absurda. Devia ser só a iluminação.
— Sophie! O café vai esfriar! — insiste minha mãe do andar de baixo.
— Já estou indo! — respondo, tentando deixar o incômodo para depois.
Pego minha mochila, beijo o rosto dela e me sento à mesa.
— Querida, depois da aula vamos dar uma olhada nos carros na loja de usados — diz ela com um brilho nos olhos. — Você precisa da sua independência.
Meu coração bate mais rápido com a notícia.
— Sério? Mãe, isso é incrível! Estou animada demais.
— Não temos muito, mas dá pra comprar algo digno — ela franze o nariz com seu jeitinho dramático.
— Eu posso ajudar, tenho guardado um pouco...
— Não, meu amor. Quero te dar esse carro. Como um presente.
Ela sorri, acariciando meu rosto. É impossível não sorrir de volta.
— Tudo bem… — digo, terminando meu leite e me levantando. — Já vou indo. Te amo!
— Também amo você. Até mais tarde.
Abro a porta... e dou de cara com Trevor, casualmente encostado no carro, os braços cruzados, olhar preguiçoso. Ele sorri ao me ver.
— O que você está fazendo aqui?
— Vim te levar pro colégio. Só isso. — Dá de ombros, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Arqueio a sobrancelha, irritada e ao mesmo tempo... estranhamente consciente da tensão entre nós.
— Trevor, já deixei claro que não quero ser sua amiga.
— Um pouco tarde pra isso, não acha? É só uma carona. — Ele ri, cruzando os braços.
— Você tem titica nessa cabeça. — cutuco a testa dele com o indicador, fazendo-o rir.
— Só por querer te dar uma carona?
— Você força demais. Somos diferentes. Isso não vai funcionar.
— Sophie Histon, a marrenta da nova geração. Você é insuportavelmente... divertida.
Quase deixo escapar uma risada. Entramos no carro.
— Ainda bem que hoje vamos ver meu carro. Aí me livro de vez de você.
— Que beleza. E qual o estilo da donzela da floresta?
— Adivinha, se for capaz. — Lanço um olhar desafiador.
Ele finge pensar, encenando um gesto dramático.
— Conversível vermelho? — diz com um sorriso debochado.
Reviro os olhos.
— Me respeita, Sherlock. Passou longe. Queria um Mustang 65. Mas me contento com um Impala clássico.
Ele arregala os olhos, genuinamente surpreso.
— Sério? Você curte carros antigos?
— Eles têm alma. Ao contrário desse seu carro de riquinho.
— E se eu te disser que tenho um Dodge Charger?
Viro para ele de supetão, surpresa real estampada no rosto.
— Tá brincando. Você dirige um Charger?
— Era do meu pai. Herança dele. Mas... não é pra qualquer um. Você não entenderia.
— Você não presta, Trevor. Isso é uma obra de arte e você usa como se fosse um Uno.
Ele ri.
— Quer ver de perto?
— Claro! Quando?
— Amanhã. Te busco cedo. Livre?
— Livre. Sou toda... livre amanhã. — corrijo rápido, gaguejando. — Você entendeu.
Ele morde o lábio, tentando segurar o riso.
— Então combinado. Amanhã cedo.
Ele estaciona. Desço empolgada demais para fingir indiferença.
— Mal posso acreditar. Um Charger... — beijo seu rosto sem pensar. — Valeu pela carona.
— Você parece uma criança no Natal.
— Isso é melhor que Natal. — sorrio e sigo para dentro.
Ele se afasta andando de costas, ainda rindo.
— Amanhã, não esquece!
— Jamais.
...☆...
Ao entrar na secretaria, meu mundo para por alguns segundos.
Alec está ali. Conversando com a senhora Palmer.
Ele se vira, como se sentisse minha presença. O mesmo olhar hipnotizante. A mesma calma inquietante.
— Alec? O que está fazendo aqui?
— Sophie... voltei a estudar. Estava fora com minha família. Retornamos há duas semanas.
— Que bom... então vamos nos ver mais vezes.
— Senhorita Histon! — Palmer me chama, seca.
— Desculpa! Vim ver meu horário.
— Até logo, Sophie — Alec sorri e sai, mas fico parada, encarando a porta fechar atrás dele.
A sensação de que algo em mim desperta toda vez que o vejo... é impossível de ignorar.
— E então, qual disciplina você escolheu, Sophie?
— Ah... Mitologia e Lendas. E Latim.
— Exótica, como sempre. Boa aula. Agora vá.
...☆...
Na hora do intervalo, me sento no refeitório, os olhos vasculhando rostos. Mas nada de Alec.
— Quem você tanto procura, Sophie? — pergunta Sarah.
— Um garoto da festa. O vi hoje cedo, mas... sumiu.
— Eu só te vi com o Trevor.
— Alec. Você conhece?
Ela trava. Engasga com a mordida da maçã.
— Alecxander? Sophie... você só pode estar brincando.
— O que tem ele?
— Ele é... estranho. Bonito, mas estranho. Fica sempre com a irmã Selene, nunca está no refeitório, desaparece por dias e volta do nada. E ninguém nunca viu ele se meter em problemas.
— Ele é reservado, só isso.
— Não. Trevor é reservado. Alec parece... personagem de filme de suspense. Tipo... o cara com um passado obscuro que todo mundo devia evitar.
Respiro fundo, tentando ignorar o frio na barriga que suas palavras trazem.
— Trevor é só um atleta popular tentando bancar o misterioso. Alec é... diferente.
— Se você diz... — ela revira os olhos. — Que tal um filme lá em casa amanhã?
— Não posso. Vou ver o carro do Trevor.
Ela engasga de novo, rindo.
— Sophie, você está passando muito tempo com ele.
— Sara, não é o que parece. É só... o carro.
— O carro, ou o dono?
Antes que eu possa responder, o sinal toca. Agradeço mentalmente pela interrupção.
...☆...
Após as aulas, minha mãe me busca e seguimos até a loja de usados. Os carros no pátio parecem todos iguais: sem alma, sem história.
— Alguma preferência? — pergunta o vendedor, entediado.
— Gosto de clássicos. Modelos antigos. Nada muito... moderno.
Ele coça a cabeça, depois sorri.
— Acho que tenho algo pra você.
Nos leva até um canto do pátio. Coberto de poeira e folhas secas, ali está ele. Um Mustang 69 conversível. Vermelho.
Caio na gargalhada.
— É esse.
— Tem certeza, Sophie? — minha mãe me observa confusa.
— É exatamente esse. Não é o 65, mas é perto o suficiente.
— Tudo bem, filha. Rogério, vamos ficar com ele.
Enquanto ela assina a papelada, fico girando ao redor do carro, admirando cada curva, cada detalhe. Há algo... simbólico nele. Como se fosse mais que um carro.
Como se estivesse esperando por mim.
Fico ali por quase uma hora após chegarmos em casa, sentada no capô, sentindo o cheiro da ferrugem antiga e o couro desgastado. O vento sopra leve, mas trás consigo um sussurro estranho da floresta.
Fecho os olhos, e por um instante, juro que ouço o uivo da noite passada ecoando dentro de mim.
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Atualizado até capítulo 81
Comments
Sara Niziato
sou do time Alec, já que é pra ficar com alguém estranho que seja o mais estranho e gato de todos kkkk
2025-03-31
0
Rozineide Oliveira
a não já chegou outro garoto agora fiquei na dúvida quem será seu companheiro 😂😂😂
2023-09-25
2
Silvia Araújo
que legal 😎
2022-10-30
1