Acordei com o som do despertador ecoando como um alarme de incêndio na minha cabeça. O céu ainda estava encoberto por uma névoa fina, típica de MistFalls, e o frio cortava o ar como pequenas agulhas. Me arrastei até o banheiro, tomei uma ducha rápida e vesti o que me fazia sentir ao menos um pouco como eu mesma: jeans rasgado, blusa roxa de manga comprida, jaqueta de couro surrada, bota até os joelhos. Passei um batom marrom — era o suficiente para me sentir pronta para enfrentar o mundo, ou pelo menos fingir que estava.
Desci com a mochila pendurada em um ombro e o cabelo ainda úmido, escorrendo pelas costas. O cheiro de café fresco e panqueca dourada me guiou até a cozinha. Minha mãe, como sempre, estava me esperando — apressada, controladora, mas tentando manter a leveza.
— Sophie, anda logo. Vai acabar se atrasando.
— Relaxa, ainda dá tempo. — Enfiei um pedaço de panqueca na boca entrando no carro e falei com dificuldade — Não precisa me levar.
— Claro que vou te levar. Você não conhece a cidade e, além disso, o colégio fica no caminho do consultório. E, por favor... — ela bateu de leve nos meus pés esticados no painel do carro — tira isso daí.
Revirei os olhos e me endireitei no banco.
— Mãe... Quando a gente vai ver o carro?
— Talvez amanhã. Preciso terminar de montar meu consultório primeiro. Está tudo uma loucura ainda.
Suspirei exageradamente, dramatizando.
— É só que... não quero parecer uma adolescente mimada sendo deixada na porta da escola pela mãe. Já tenho 16.
— Na sua idade, eu tinha vergonha de usar batom, Sophie. — Ela sorriu e me lançou um olhar nostálgico. — E nem pense em falar de garotos perto da sua avó...
— Tá bom, vovó da geração vitoriana. — Rimos, e no momento seguinte ela estacionou.
Antes que eu abrisse a porta, sua mão segurou minha jaqueta.
— Ei... meu beijo.
Rolei os olhos, mas cedi. Encostei os lábios em sua bochecha com um beijo rápido, como se dissesse "te amo" sem palavras. Desci do carro e encarei o prédio à minha frente.
Mist High School.
Dois andares, fachada pálida, duas pilastras na entrada e um letreiro antigo com o nome. Era um colégio qualquer, mas a sensação de estar sendo observada me deixava tensa. Meus passos eram pesados, e eu evitava cruzar olhares com os alunos espalhados pelo gramado.
Até que ouvi:
— Sophie! Aqui!
Sarah acenava tão efusivamente que parecia uma bandeira vermelha no meio do mar de gente. Atravessei o gramado apressada, torcendo para que ninguém tivesse prestado atenção.
— Oi, Sarah. — Forcei um sorriso.
— Pronta pro seu primeiro dia?
— Se pudesse, me enterrava agora debaixo de um cobertor. — Respirei fundo, jogando a franja pro lado com um sopro nervoso.
— Vai ser tranquilo, você só precisa... — ela gesticulou com as mãos — socializar.
Dei de ombros, tentando parecer mais segura do que me sentia.
— Preciso passar na secretaria, pegar meus horários.
— Fica no fim do corredor à direita. Te vejo mais tarde?
— Com certeza.
Ela subiu as escadas com leveza, enquanto eu segui pelo corredor. Meus olhos se perderam brevemente numa janela embaçada, onde a floresta distante parecia me chamar de volta. E então...
Bati em alguém.
Meus ombros colidiram com um corpo firme, e mãos me seguraram pela cintura, me impedindo de cair. Fui empurrada contra um peito quente e definido, o cheiro de madeira e vento misturado ao perfume amadeirado dele me atingiu em cheio.
— Ai, caramba. — Murmurei, ofegante.
Quando levantei os olhos, me deparei com dois orbes âmbar que brilhavam como ouro líquido sob a luz do corredor. Ele tinha o rosto afiado, o maxilar marcado, cabelos castanhos com reflexos dourados e lábios carnudos. E estava... sorrindo.
— Cuidado por onde anda, novata... — disse ele, voz rouca, como se estivesse se divertindo com o susto — vai acabar machucando esse rostinho lindo.
Sua mão subiu do meu quadril até meu queixo, mantendo meus olhos presos nos dele. Eu deveria dizer algo, responder à altura, mas meu cérebro pareceu congelar por um segundo. O que era aquilo?
— Idiota. — Reagi, empurrando sua mão.
Ele riu, divertido, e passou por mim como se nada tivesse acontecido.
— Eu sou idiota? Você que não presta atenção. — E desapareceu no corredor, deixando o eco da risada.
Bufei, ajeitei a mochila e segui para a secretaria.
Depois de pegar meu horário, fui direto para a aula de biologia. Quando entrei, o professor me apresentou para a turma como a nova aluna de Los Angeles. Todos os olhos se voltaram para mim, e minha vontade foi cavar um buraco no meio do chão. Sorri com um canto da boca e me sentei na bancada vaga.
Minutos depois, a porta se abriu de novo.
O mesmo garoto entrou, com aquele andar despreocupado e confiante. O professor o repreendeu por estar atrasado, chamando-o de “senhor Belmont”. E é claro, ele veio direto para mim.
— Novata, esse é meu lugar. — Seus olhos encontraram os meus com um brilho debochado.
— Que ótimo. — Murmurei entre os dentes. Peguei minhas coisas e me mudei para o lado oposto da bancada.
Tentei ignorá-lo, mas era difícil não notar os traços perfeitos do rosto dele. Durante o exercício em dupla, me limitei a escrever em silêncio, até que ele resolveu falar:
— Eu também prefiro trabalhar sozinho. Mas ordens são ordens.
— Ótimo. Só que antes de começarmos... você me deve um pedido de desculpas. — Cruzei os braços, encarando-o.
Ele riu, balançando a cabeça.
— Você é insistente, garota. Tá bom... me desculpe por não olhar por onde ando e trombar na princesa de Los Angeles.
— Pior desculpa do mundo.
— Mas foi a melhor que vai ter. — Seus olhos brilharam, e aquela maldita covinha apareceu.
Quando terminamos a atividade, saí da sala o mais rápido possível. Sarah me encontrou no corredor.
— Sophie, por que você tá vermelha desse jeito?
— Um tal de Trevor Belmont. — Bufei. — Idiota, convencido... e, infelizmente, lindo.
Ela soltou uma gargalhada.
— Sério? O Trevor? Capitão do time de futebol americano? Você acabou de tropeçar no cara mais desejado da escola.
— Desejado? Aquele troglodita?
— Ele é fechado, meio anti-social, mas... é Trevor. — Sarah suspirou, rindo. — Você vai ver.
O resto do dia foi um borrão. No refeitório, sentei com o grupo da Sarah, mas mal toquei na comida. Senti seu olhar antes mesmo de encontrá-lo: Trevor me observava do canto da sala, com um sorriso provocador. Meus olhos encontraram os dele por um segundo, e desviei no instante seguinte, levantando apressada.
Na aula de educação física, sem uniforme, fui dispensada pelo professor e sentei nas arquibancadas. Mal comecei a revisar meus cadernos quando ouvi sua voz ao meu lado.
— Até que você é esperta, marrenta.
Fechei os olhos por um segundo, tentando me controlar.
— O que foi agora?
— Só vim ver o desempenho dos meus jogadores.
— Não deveria dar o exemplo? Você é o capitão.
— Andou perguntando sobre mim? — ele sorriu, presunçoso.
— Nem nos seus sonhos, Trevor. Foi a Sarah quem comentou.
— Gosta de onde está sentada?
— A arquibancada é enorme. Sente em outro lugar. — Continuei escrevendo.
— Mas gosto da vista daqui. — Seu olhar desceu pelo meu corpo, descarado.
Revirei os olhos e o ignorei. Quando a aula acabou, peguei minhas coisas e fui embora a pé. Caminhava pela calçada quando ouvi o ronco de um motor. Um Rolls-Royce preto diminuiu a velocidade ao meu lado.
— Vai a pé? — Trevor apoiou o braço na porta do carro.
— Sim. Algum problema?
— Entra aí, eu te deixo em casa.
— Nem morta. — Cruzei os braços.
— Se não entrar, eu te coloco à força. — Meus olhos cravaram nos dele, desafiando.
— Tenta, e você perde os dedos.
Ele riu, sem se intimidar. Bufei e entrei.
— Satisfeito?
— Você é teimosa... onde mora?
— Criviler, número 23.
— Eu sei onde é. — E arrancou com o carro.
Ficamos em silêncio. Observei seus traços de relance: o cabelo bagunçado pelo vento, os óculos escuros, a expressão relaxada. Ele percebeu meu olhar.
— Algum problema?
— Hã? Não... nada.
— Você não para de me olhar, Sophie.
— Está se achando demais. — Olhei pela janela, sem conter o sorriso tímido.
Ele riu, com aquela maldita covinha de novo.
Quando o carro parou, abri a porta depressa.
— Obrigada pela carona.
— Até amanhã, marrenta. — Ele piscou.
— É Sophie. — Bati a porta.
O observei se afastar. Meu coração ainda estava acelerado. E pela primeira vez desde que cheguei... MistFalls não parecia tão ruim assim.
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Atualizado até capítulo 81
Comments
graca lobo
nossa q lindoooo, tô gostando deste casal
2024-01-15
1
Rozineide Oliveira
aí tem está reiva vai virar amor ☺️🤫😉
2023-09-25
1
Silvia Araújo
kkkk kkkk
2022-10-30
1