Capítulo 5

No dia seguinte, Emily acordou cedo para levar as fotos que tirou ontem para o interessado, como uma pequena amostra grátis do seu trabalho. Devido ao horário marcado, ela nem tomou café da manhã e saiu às pressas, pegando um táxi direto para o escritório de artes no centro de Nova York.

O motorista a olhava pelo retrovisor, pois Emily estava com uma expressão de inquietação, batendo os pés consecutivamente e encostando os joelhos no banco da frente.

Motorista - Está tudo bem, moça?

Ela para de bater os pés e se dá conta de quanto estava ansiosa.

Emily - Sim, estou bem...

Ela pensa se falaria ou não, por ser um completo estranho e com certeza ele não estaria interessado em saber.

Motorista - Pode me contar, adoro ouvir histórias dos meus passageiros.

Ele sorri pelo retrovisor, fazendo Emily relaxar no mesmo segundo, e ergue o braço mostrando o envelope.

Emily - Tenho que mostrar algumas fotos para uma pessoa com quem estou trabalhando, e estou um pouco nervosa.

Motorista - Que tipo de fotografia é?

Emily - Fotos urbanas!

O homem para no trânsito e bate os dedos no retrovisor.

Motorista - Posso ver?

Emily - Claro!

Motorista - Nossa, são muito boas!

Emily - Obrigada, ainda este ano quero fazer uma exposição. Tenho imagens incríveis guardadas.

O sinal abre e o homem coloca as fotos no envelope, então volta a dirigir. A conversa flui durante todo o caminho, e para Emily estava sendo muito bom, pois ela não conhecia ninguém na cidade e às vezes se sentia sufocada por passar o dia inteiro sem falar com alguém. Muitas vezes tinha que jogar a voz no ar para lembrar que ela ainda estava ali.

Eles chegam no destino desejado, e ela se despede do motorista e entra no prédio de artes, dirigindo-se à sala de Max.

Secretária - Pois não?

Emily - Sou a fotógrafa Emily Cooper, tenho hora marcada com seu chefe.

Secretária - Pode entrar, ele já está esperando!

Ela dá umas batidas na porta e entra. Um homem careca e acima do peso a recebe sorridente.

Max - Olha só quem está aqui! A bela Emily!

Ele se levanta da cadeira e estende o braço para cumprimentá-la.

Emily - Muito prazer!

Max - O prazer é todo meu, por favor, sente-se!

Emily - Obrigada!

Max - Nossa, você é muito mais bonita pessoalmente!

Muito séria e profissional, ela puxa a cadeira e se senta em frente ao homem que a observava com animação. Não querendo esticar um assunto fora do trabalho, Emily trata logo de cortar qualquer invasão íntima na conversa, indo direto para o que era importante.

Emily - Aqui está, um compilado de imagens grátis!

Ela entrega o envelope e ele perde o sorriso ao perceber o incômodo dela com suas piadas.

Max - Bem, vamos ver o que temos aqui!

Ele disse, abrindo e espalhando as fotos pela mesa, colocando a mão embaixo do queixo, bastante pensativo. Entretanto, começa a falar com ela sem tirar os olhos das imagens.

Max - Interessante, vejo muita melancolia nestas fotos. Agora entendo que sua fama de dar alma às imagens, não é à toa.

Emily - Apesar de não ser o tipo de foto que eu trabalho. Prefiro contemplar as belas paisagens do mundo.

Max - Claro, é muito mais fácil e vantajoso trabalhar com a parte bela das coisas, sem a obscuridade do mundo oculto.

Emily - Isso é verdade!

Max - Você trabalha para mais pessoas?

Emily - Sim, não vou mentir, o que paga mais!

Max - Você é muito sincera, Emily. Mas também vejo dor em seus olhos. Desde que entrou nesta sala, não deu um sorriso sequer.

Ele tira a vista das fotos e olha para ela, tira os óculos de grau e em seguida, volta a observar as fotografias.

Emily - Podemos focar apenas no lado profissional?

Com a cabeça ainda baixa, ele responde:

- Eu sei o que aconteceu com você. A pessoa que me indicou seu trabalho é uma grande amiga minha e...

Emily - Não precisa continuar!

Max - Eu sei, mas saiba que sinto muito!

Ela apenas olha para o lado e observa várias fotos na parede. Isso a chamou muita atenção e a fez levantar da cadeira e se aproximar dessas imagens.

Emily - Gostei do seu mural de fotografias!

Max - Minha esposa teve essa ideia.

Emily - Ela deve ser muito boa nisso, digo, em decoração!

Max - Sim, sim, e ela iria adorar conhecê-la algum dia, vocês são bem parecidas na personalidade. (risos)

Emily - Você acha?

Max - Sim!

Emily volta a sentar na cadeira.

Max - Quer um cafezinho?

Ela confirma que sim com a cabeça e ele sorri de imediato por Emily ter se desarmado. Os dois iniciaram uma conversa que durou quase duas horas, parecia que estava nascendo uma amizade ali.

Depois do café ela sai do edifício, compra um guarda-chuva e pega um táxi retornando para o seu apartamento. O dia mais uma vez estava nublado e provavelmente iria chover bastante mais tarde. Ela prepara os equipamentos que levaria a noite em uma bolsa de couro preta para proteger da chuva.

Queria pegar a melancolia da noite, pois imagens noturnas eram muito mais expressivas, carregadas de mistérios a serem desvendados por olhos curiosos.

Emily pediu um delivery para almoçar e ficou o restante da tarde ajeitando as prateleiras de livros no quarto vago. Já eram 17h da tarde quando ela se arrumou para sair, se dirigindo para o metrô onde iria para outros bairros em busca das fotos perfeitas.

Andou noite adentro atrás de cenas da vida real que lhe chamasse atenção, parando em um beco sem saída. Haviam três latas de refrigerantes no chão e um gato brincando com uma delas.

Emily se posiciona para tirar as fotos, mas acaba recuando demais e escorregando na pequena poça de lama caindo sentada.

- Droga!

Com o barulho o animal acaba se assustando e subindo o muro rapidamente e sumindo da sua visão. Ela se levanta percebendo que seu traseiro estava sujo e bufou, olhando para o céu nublado, começando a cair pingos de chuva. Sem ter mais o que fazer, abre o guarda-chuva e vai andando tranquilamente em direção ao metrô.

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