Capítulo 19 — Um grande idiota

Norely 

— Então foi esse o seu plano? Trazê-la de volta? Até que você pensou desta vez! — James andava de um lado para o outro tentando falar com Alícia, que a essas alturas já deve estar chegando. 

— Ela nunca me decepcionou pai, não vai ser agora que irá fazer.

— Mas a minha pergunta é: por quê? 

— Simplesmente porque ela irá entrar na vida do Maurício para fazer com que ele caia na lábia dela, assim fica mais fácil conseguir a Louise. 

Eu não sei até onde ele vai sustentar essa ideia maluca, mas se isso der certo vai ser o máximo, porém, tenho quase certeza que irá dar errado. 

Parkinson 

 A garrafa de whisky se tornou minha melhor amiga. Eu não sei como viver com essa dor, não deveria ter feito nada do que fiz e isso está me matando por dentro de uma maneira inexplicável. Minha filha sempre foi muito calada, mas sempre muito presente e isso está me afetando de uma forma horrível. 

— Beber desse jeito não vai adiantar de muita coisa não, ela não vai voltar… — O garçom retrucava me servindo mais uma dose. 

— Obrigada por suas palavras, mas eu ainda tenho fé em que um dia… como você sabe disso? — Não era pra ninguém saber disso, mas pelo que estou vendo alguns curiosos acabaram vendo a cena horrível do papel que eu fiz. 

— Eu sei tudo que se passa aqui no bairro, Parkinson. Todo mundo tá sabendo do que você fez e estão todos comentando sobre isso. 

 Pior que eu não tenho para onde ir. Louise nesse momento deve está pensando mil e uma coisas, eu sou um completo idiota. 

— O que as pessoas dizem? — Sorvi o líquido de uma única vez e estava torcendo para que não seja nada demais. 

— Que você é um traste em ter dado a sua filha como pagamento de dívidas de drogas. Alguns mandam você arranjar um emprego, mas eu não digo nada, cada um deve ter um motivo para agir na vida. Mas eu jamais daria uma filha minha para outra pessoa, muito menos depois do que sua filha já passou. Você tem notícias dela pelo menos? 

— Tá querendo saber demais garoto. Trás a minha conta, por favor. 

 Os últimos trocados que eu tenho vão acabar ficando aqui no bar hoje mesmo. Olhei a nota e então tive certeza que eu ficaria liso novamente.

 Cheguei em casa e fui direto para cama, mas o meu celular começou a tocar descontroladamente e eu não queria atender, mas se eu recusasse seria muito pior. 

Ligação Ativa

— O que quer, James? Eu já te disse que não quero que me ligue, não vê o que eu tive que fazer por sua causa? 

— Calma, Parkinson. Eu estou te ligando porque o meu pai me pediu. Ele mandou te avisar que você tem até mais tarde para pagar a ele, ou então terá que conseguir Louise de volta e entregá-la nas minhas mãos. Se caso nada feito, sua cabeça será um prêmio de alguns mil dólares. 

— Pode passar aqui a noite, estarei esperando com o dinheiro numa mala e pronto para você me deixar em paz de uma vez por todas. 

 A família do Norely era conhecida por ter muito poder em suas mãos, sempre usavam o dinheiro pra tudo. James sempre teve tudo o que sempre quis na vida, mas descontente fez aquela covardia com a minha filha, minha única e amada filha. Eu tenho que dá um jeito de tê-la novamente e fugir com ela para bem longe desse lugarzinho horrível. 

— Ok! Às sete eu passo aí, ou meu pai mesmo. Tenha uma boa noite, Parkinson! 

Ligação Inativa

Fechei os olhos e tentei segurar as lágrimas que já estavam rolando no meu rosto. Suspirei forte e voltei com a cabeça no travesseiro, tentando pegar no sono e talvez ir arranjar um trabalho amanhã, ou depois de amanhã mesmo. Antes que o sono tomasse conta de mim pensei que o garçom poderia estar mentindo, ele pode até ter visto, mas não deve ter comentado com ninguém ou a cidade inteira já estaria me julgando ou me apedrejando por onde eu passasse. Se eu estivesse vivo a essas alturas da vida. Não posso dizer que está tudo bem, porque não está. Minha alma sente falta da minha filha aqui sempre ao meu lado, e se eu tiver mais uma daquelas crises, quem irá me ajudar? Tudo em mim foi, a dor estou sentindo minhas forças indo embora e eu não sei até quando tempo irei  suportar toda essa dor. 

Clarice

 O trabalho está acabando comigo e como se isso não fosse o suficiente minha mãe ainda está me contando várias coisas. Como hoje é meu dia de folga eu pensei em ir até à praia, tomar um mergulho e pegar um bronze, mas fui interrompida pelos seus gritos absurdos, ela não era assim! 

— O que foi, mãe? Eu já fiz tudo que a senhora pediu, o que mais quer de mim? — Larguei a mochila no chão, ao lado do sofá e ela estava me esperando sentada na cadeira da mesa. 

— Sua amiga está desaparecida, não é? 

— Sim, mas não podemos dar ela como desaparecida, até porque ela era bem estranha e pode ter se isolado do mundo por alguns dias. Tem dias que até eu queria fazer isso, mas… 

— Não gosta de morar comigo, Clarice? Sinto muito filha, essa foi a melhor vida que eu pude te dar. Mas se não está satisfeita, sinta-se livre para seguir seu caminho como deseja. 

 Faz algumas semanas que ela está muito distante, isso sempre acontece quando ela arranja algum namorado novo, eu sempre fiquei no escanteio de tudo, hoje não haveria de ser diferente. 

— Se é assim que a senhora quer, assim será. Mas eu não posso sair daqui agora, tenho algumas coisas a pagar e além disso preciso me organizar. — Disse pegando a bolsa de volta do chão, mas antes que eu saísse ela soltou a frase que eu mais detesto na vida. 

— Se você tivesse um namorado poderia pedir ajuda a ele agora. Afinal, se não está satisfeita em morar com quem te criou, qualquer pessoa pode me substituir. 

 Engoli suas palavras em seco e continuei meu caminho. Minha mãe sempre dava um jeito de me deixar com um humor péssimo e um ânimo terrível, sempre foi assim, mas eu nunca questionei e só percebi que isso está afetando demais tanto a mim quanto a ela. 

 Encontrei alguns amigos e na esperança de esquecer o dia de hoje, me permiti ficar bêbada. 

— Você está linda, Clarice. 

— Obrigada Jones, mas dispense seus elogios para mim. Acho que alguém aqui está mais na sua que eu… — Olhei para o lado e vi Joana olhando com um brilho nos olhos. — Via lá, aproveitem a noite, pombinhos. 

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