Maurício
O dia já estava clareando quando Luise surgiu das árvores, sozinha e cambaleando pelo trajeto. Antes mesmo que eu pudesse falar algo ela olhou para cima e me viu na janela, apressou seus passos e correu para dentro do dormitório, o semblante dela mudou assim que me viu e pelo que eu percebi todo o álcool que ela ingeriu acabou de sair. Passaram quase vinte minutos e Maria não apareceu, então eu resolvi ir até lá ver o que rolou nessa saidinha e o porquê dela não ter fugido quando teve oportunidade.
Não sei explicar o alívio que senti em vê-la. Hoje é dia de folga para todas, menos para Louise, deve ser por esse motivo que Maria não retornou.
(...)
As luzes do quarto estavam apagadas e ela não estava na cama. Entrei sem fazer barulho algum e pude ouvir barulho vindo do banheiro, a porta estava aberta e pude ver ela ajoelhada com as mãos apoiadas ao sanitário e seu rosto com uma aparência muito bêbada.
— Onde você estava? — Ela enxugou o canto da boca e me olhou com um olhar cansado, não obtive resposta porque em seguida ela vomitou quase nos meus pés e estava muito mole.
Segurei sua cabeça e coloquei umas das mãos suas costas. Seu corpo estava quente e ela cheirava à terra e à flor.
— Eu saí, fui me divertir um pouco. Não queria causar problemas, mas… eu prometo não fazer de novo. Desculpe. — Respondeu com a voz baixa e olhando baixo.
— Por que voltou? — Perguntei enquanto segurava ela. — Você está com febre!
— Porque eu tenho certeza que você é capaz de qualquer coisa. Se não me matou ou não me vendeu ainda, sem dúvidas mandaria aqueles homens me caçar por aí, sabe-se lá que fim eu teria.
— Sem dúvidas eu mandaria! Vou te ajudar a tomar um banho e depois você vai descansar. — Disse por fim a vendo abaixar os olhos e a cabeça, dando mais um olá ao sanitário. — Mas, você poderia ter fugido para bem longe, passou muitas horas longe e ainda sim estou me queixando do porquê tenha voltado. Deixou cair isso aqui! — Mostrei sua pulseira e ela sorriu fraco.
— Você já acabou com a minha vida uma vez, sem dúvidas acabaria novamente. E eu não esqueci, apenas guardei para não perdê-la.
— Eu não acabei com a sua vida! Olha agora, você voltou de uma festa e o que eu te fiz? Te machuquei? Estou a obrigando a algo que não seja da sua vontade? Agora bem, vou te ajudar a entrar debaixo do chuveiro. Você precisa descansar um pouco. E eu não vou te machucar, eu não sou um abusador e saiba que abomino qualquer ato que seja de sua semelhança.
— Entendi. Mas só pra deixar claro, eu ainda tenho medo de você. — Soltou entre os dentes e já sem força, deixando o vômito sair junto aos gemidos de dores.
Louise
Meu corpo está um caco, nunca na minha vida eu imaginei estar em uma situação dessas. Maria resolveu ficar e eu vim embora. O caminho quase sem luz e alguns lugares eram iluminados apenas com a claridade da lua e mais nada. Quando me aproximei pude ver os homens que sempre ficavam rodando a casa, vigiando e ao cometer o erro de olhar para cima vi o Maurício sentado na varanda do quarto dele e me olhando com ódio, nem queria imaginar o que ele estava pensando. Ao entrar no quarto não vi ninguém, melhor assim. Corri até o banheiro porque eu não estava nada bem, alguns minutos depois a porta foi aberta e Maurício entrou com um olhar furioso sobre mim, mas eu ignorei e fingir não vê até que ele não saía e cada segundo ele se aproximava mais e mais… até o momento em que meu estômago revirou e eu senti meu corpo mole, quase bati a cabeça no sanitário e por sorte ele segurou minha cabeça, alegando que iria me ajudar a tomar um banho.
Eu ainda estava usando uma roupa que Maria me emprestou, como eu uso 38 e ela 42 posso dizer que eu estava parecendo um balão dentro do vestido longo dela, que por sorte ela é baixinha e até que não ficou tão ruim assim.
A forma como Maurício falava nesse momento era um tanto estranha. Eu estou sendo arrogante ou ele que está sendo um bom samaritano?
— Não precisa, eu aguento me levantar sozinha e tomar banho também. Sozinha!
— Eu não perguntei se você queria! — Fui suspensa por seus braços e em seguida eu teria que me despir, a vergonha e o medo dentro de mim só aumentam cada vez mais.
— Mas eu estou dizendo que não preciso e por favor, saia daqui, eu não me sinto confortável com ninguém me olhando, e pare de me olhar como se quisesse minha cabeça. Meu pai quem fez a merda, deveria estar cobrando isso dele e me deixar em paz! — Gritei as palavras ditas em seu rosto, talvez a bebida tenha me dado um pouco de coragem porque se eu estivesse sóbria o máximo que eu estaria era chorando por dentro agora.
— Eu quero que o Parkinson se foda. Agora para de birra e entra logo debaixo desse chuveiro antes que eu mesmo o faça, caralho. Não vê que você teve um livramento? Quando vai enxergar que seu pai é um merda? Deveria me agradecer por isso. Não iria a lugar algum morando com aquele verme.
Eu nunca fui igual ao meu pai, sempre busquei a melhoria e jamais quis ser igual a ele algum dia. As palavras de Maurício me machucam, é como se ele batesse em meu rosto sem ter pausa e isso estava pesando.
— Eu estou ficando sem paciência, sabia que eu detesto quem faz hora com a minha cara? — Ele continuava me olhando nos olhos enquanto segurava meu braço, mas sem apertar.
— Eu não vou a lugar nenhum enquanto você estiver me olhando. Eu não quero ser vista nua, conhece a palavra limite? Pois bem. — Disse decidida, encostando meus corpo no cimento frio e só de imaginar que eu irei sentir a água fria tocar a minha pele, me dá uma sensação de frio e desespero juntos.
— E eu não vou sair daqui até que você entre nesse caralho, Louise. — Seu tom de voz não estava alterado, o que me deixou um tanto surpresa, agora por que ele está aqui?
— Deixa a água escorrer um pouco, a primeira jorrada sempre é mais fria. — Eu já sentia a água entrando como se fossem farpas rasgando meu corpo.
— Vem comigo então! Você toma banho e volta se quiser… — Não estava e nunca estará em meus planos aceitar alguma coisa do Maurício, mesmo que eu esteja na pior, tipo agora.
Tirei o vestido e entrei debaixo de um dos chuveiros que havia, como o banheiro é coletivo e não tem electricidade a água estava muito fria e quase que eu gritei de dor quando senti a primeira gota tocar minha pele. Daria tudo por um banho quente agora, já não basta o frio que está fazendo.
— Quando acabar me avise! — Ele deu às costas e saiu.
Só consegui me concentrar no frio. O fogo deixou minha pele mais fina e sensível, até em toque leve pode machucar e está sendo torturante para mim essa água que mais parece gelo, mas eu fui quase obrigada a tomar banho e isso está fazendo com que eu sinta a dor a cada gota.
Não tenho roupas além daquele uniforme ridículo. — Por que você fez isso comigo Parkinson? Eu era sua única filha seu desgraçado e você ainda vai me pagar por isso. — Falei para mim mesma, mas tenho a leve impressão que eu falei alto demais. Devo está delirando por causa do frio.
— Está precisando de ajuda? — Queria estar sonhando, mas a voz me tirou do transe. — Está tudo bem? Louise?
— Não entra aqui, eu ainda estou pelada! – Cobrir os seios e torci para que ela não entrasse, mas foi inútil.
— Eu já te vi nua. — Disse sério e me olhando sem nenhuma vergonha, me deixando muito constrangida.
Maurício estava estudando meu corpo com os olhos. Sem vergonha nenhuma, ele foi descendo os olhos em meus seios, até chegar você já sabe onde.
— Toma, veste isso aqui e me acompanha! — Maurício estendeu a mão e me deu um roupão, agradeci e logo o vesti, pois estava com muito frio e meus dedos já estavam ficando dormentes.
— Posso beber algo quente? Me satisfaço com um café, se não for pedir demais.
Sem dúvidas eu faria qualquer coisa por uma coberta bem quente, uma cama fofa e sem ninguém me perguntando. Mas eu estaria pedindo demais, não é assim que as coisas funcionam. Ainda falta muito para que eu tenha minha independência, se é que viverei ver esse dia chegar.
— Vem, vamos providenciar algo. — Eu não sabia nem mesmo onde estavam minhas sandálias, pois voltei descalça e agora estava descalça também. Mas, pelo menos eu estava vestida, e era quentinho.
(...)
Maurício
Cometi um erro grave ao mandar ela ir tomar banho e não lembrei que a água daqui ainda seria tão fria. Louise saiu com os lábios roxos e a pele enrugada. Percebi que ela estava tremendo e a puxei para perto de mim, abracei ela a levando comigo até o meu quarto. Pedi para Betina fazer um chá de maçã e levar pra ela enquanto eu estoavy indo resolver um assunto com a Juliana.
— Não precisa se preocupar comigo, eu estou bem. Agradeço por ter me ajudado, mas não o faça mais. Já disse que me viro sozinha. — Retrucava Louise ao me ver sair da cozinha.
— O que está fazendo aqui? Eu te disse para ficar no quarto que Betina iria te levar algo quente. — Ignorei sua voz e segui andando até a sala.
— Eu não vou dormir naquele quarto se é o que pensa. Já disse que estou muito bem, obrigada. Agora por favor, me dê licença que eu…
— Você é muito teimosa, Louise. Sabe o que poderia ter acontecido com você quando estava voltando sozinha? Além disso, eu não vou dormir em casa hoje, pode ficar tranquila se é isso que a incomoda.
— Eu não fugir mais, já diss. Só quis me divertir um pouco e acabei me divertindo até demais. Mas não irá acontecer novamente, eu nem gostei tanto assim...
— Espero que não tenha gostado mesmo!
— Obrigada por… — Ela parou de falar quando meu celular começou a tocar.
— Fica à vontade, o quarto é seu! — Disse e por fim sair.
Louise
Quando ouvir a porta bater e o barulho do carro saindo me deu um alívio! Betina não demorou para que trouxesse uma bandeja com suco de limão, água gelada, um analgésico para dor e um sanduíche light. Agradeci a senhora que me olhou e sorriu de canto e voltei para cama. Havia uma TV bem a minha frente, não hesitei e liguei a mesma. Estava passando um filme de romance. Ao deitar na cama senti meu corpo agradecer, me cobrir e ali senti a importância de uma cama e uma coberta quente. Alguns momentos antes de adormecer me peguei pensando no Maurício e o quando ele estava diferente, algo me diz que eu não devo confiar nele, mas quando eu o vejo, meu coração chega a acertar as batidas, idiota eu se imaginar algo entre nós!
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Atualizado até capítulo 111
Comments
Rutiéle Alós
Louise tu tá meu irritando mulher! Para de ser tão arisca, e conta tudooo
2023-08-02
2
Jéssica Araújo
A melhor coisa que tem.para ajudar a se kivar da ressaca e um café bem forte!
2023-07-17
0
Jéssica Araújo
Verdade fia, quem acabou com tua vida foi aquele.doente que tu chama de pai
2023-07-17
0