Capítulo 17 — Um bom samaritano

Maurício

 Eu nunca vi uma pessoa mais desastrada feito Louise, ela parece que faz de propósito, que se machuca porque quer sentir dor ou algo do tipo, porque não é possível a pessoa se ferrar sem precisar de ajuda. 

Ligação Ativa 

— Fica atento ao celular que ela já deve estar vindo. 

— Ela acabou de passar por aqui. Tem certeza que isso vai dar certo? 

— Hum… tá preocupado com isso? — Ela falou com uma voz irritante, imitando a Juliana. 

— Estou. É minha reputação que está em jogo. Imagina se ela disser um não e espalhar isso entre as outras!?

— Qual o problema de levar um não? É a coisa mais normal do mundo, eu inclusive já levei vários. 

— Por que não? Eu a vejo como qualquer outra mulher, ela não tem nada de diferente! 

 Roberto sempre brincou demais com tudo e já estava mais que nada hora de dar um basta nisso. 

— Ok… foi mal. Eu vou aguardar e fazer a coisa certa, além disso é bacana conversar com ela. 

— Mas o que você tem que falar é somente o necessário, não precisa ficar de conversinhas não. 

Ligação Inativa

 O pouco de paciência que eu tinha estava indo embora neste instante. Tenho várias coisas pra resolver sobre o próximo leilão e não sei como vou conseguir falar com todos os meus sócios, ou melhor, se ela aceitar vou convidá-los a virem pessoalmente. 

Louise

 Por sorte Maria me emprestou um vestido da filha dela quando eu disse que fui convidada a não sei o quê! Ela não pensou duas vezes e me  dentro de um longo vermelho, definitivamente eu estou me sentindo muito estranha, rsrs. 

 A porta do quarto dele já estava aberta e eu não tive como não olhar pra ele arrumando os cabelos. 

— Acho que cheguei cedo demais. — Ainda não sei onde eu estou com a cabeça de estar fazendo essa loucura. 

— Que nada, chegou na hora certa. Vamos? — Roberto arruma o cabelo e me oferece o braço. 

 As luzes do jardim estavam todas acesas e para minha surpresa Emma estava lá também, como se tudo fosse o combinado de alguma coisa. Mas ele pareceu estar surpreso com ela aqui também. 

— Tentando fisgar mais uma Roberto? — Indagou Emma e me olhou sorrindo. — Não está com frio, garota? 

— Quem recusa um vinho? 

— Cuide-se e não caia na lábia dele! Aproveitem a noite e se puder me chamem. — Emma piscou e seguiu caminho. 

Havia uma toalha forrada abaixo de uma árvore bem florida. Não sabia que tinha uma mata por aqui até vir, espero que ele não me dê um fim por aqui mesmo, não tem uma vida por aqui, tudo muito escuro e amedrontador. 

 — Então, você não é de falar muito, não é? 

— Eu nunca fui muito boa de conversa. Mas estou tentando me enturmar mais com as pessoas. 

 — Isso é bom. Na verdade eu quero te pedir desculpas por ter te dado trabalho ontem, não foi a minha intenção. Eu queria ajudar, mas acabei ferrando com tudo. 

 Havia muito tempo que eu não bebia algo tão saboroso. A noite em que saí com Maria foi maravilhosa, mas tenho que confessar que as bebidas eram horríveis e não sei como me desceram tão facilmente. Acho que foi o desespero. 

— Eu já disse que não me deve nada. Mas, por que me chamou aqui? Você e o Maurício são o quê afinal? Primos, irmãos?...

— Somos primos, mas nos consideramos irmãos, você não tem irmãos? 

— Infelizmente não, ou felizmente. Imagina o Parkinson ter tido que criar duas pessoas, não consigo nem imaginar. Ainda bem que alguma outra pessoa foi poupada. 

— Ele iria continuar sendo um filho da puta, só que com mais muitos, mas reconheço que ele te criou muito bem, em questão de educação e respeito ao próximo. 

— Eu estudei pra isso. Não é porque seu pai não tá nem aí pra você, que você tem que ser uma pessoa ridícula. E eu não gosto de pessoas ridículas. 

— Ok… acho que você tem muitos argumentos para uma briga.

— Eu não sou muito boa em brigas, olha bem pra minha cara e vê se eu tenho cara de quem gosta de confusão? 

— Percebi que não. — Antes mesmo que ele falasse alguma coisa, Maurício apareceu no meio da pequena estrada, com uma carranca e segurando uma taça. 

— Espero que eu não esteja atrapalhando. — Se ele soubesse… 

Maurício

 O combinado era eu sair na hora que ela já estivesse indo embora, mas eu simplesmente não consegui. Ela estava bonita, bonita até demais pra quem não tem nada com o que se arrumar. 

— Não precisa ficar com essa cara Louise, eu não vou te comer. 

— Infelizmente é a cara que eu tenho. 

— Percebo que fica nervosa quando me vê. Eu te deixo assim? 

— Se quer saber, eu não tenho porque ficar nervosa perto de você. Roberto, se esse for algum truque saiba que está perdendo seu tempo. Já sou fodida o suficiente. — Ela levantou, arrumou o vestido e nos deu as cotas.

— Antes que ela consiga ir longe vai atrás dela, eu tô indo em um lugar especial agora. — Roberto foi embora caminhando rápido e eu fui correndo até Louise. 

— Eu só quero conversar contigo numa boa Louise, mas se você não facilitar vai ser pior pra você. — Os olhos dela se encheram d'Água e eu mehucar ou apertar. Me senti um filho da puta. 

— Se quiser me matar vai em frente. Mas não me faz passar por tudo outra vez, por favor! Eu te peço que não faça isso. — Seus joelhos se dobraram e ela caiu chorando aos meus pés. 

— Eu só quero conversar, beleza? Eu não vou te tocar Louise, calma! Qual foi? Para com isso. 

— Tudo bem, me desculpa. Acho que tive uma das crises que eu... — Ela negava com a cabeça e tentava esconder as mãos que já estava frias. 

— Se estiver me escondendo alguma coisa pode ter certeza que eu irei descobrir. — Ela me olhou sem jeito e eu pedi para que ela sentasse. 

 Havia começado a garoar e Louise estava tremendo de frio. A chamei para dentro, acendi a lareira e peguei duas taças e uma garrafa de vinho. 

— Tira da sua cabeça que eu vou te tocar algum dia, está fora de cogitação. Não sou estuprador e saiba que detesto e abomino esses tipos. Foi até bom você está aqui agora, eu tenho uma proposta para ti…

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