Cap. 2

Vitória terminou de fazer a prescrição da receita e de recomendações para o pai de Celina, e voltava para o quarto onde a criança estava em observação quando foi parada por ele.

_ Quem a Doutora pensa que é para me tirar de perto da minha filha? Perguntou segurando o braço de Vitória.

_ E quem o senhor pensa que é para me tratar assim? Por favor, tire a sua mão de mim, antes que, ao invés da segurança do hospital, eu peça para chamar a polícia para o senhor. Os dois ficaram se olhando de forma hostil.

_ Olha ... Antes que ele pudesse ofender Vitória, foram interrompidos pela chegada de outra médica.

_ Vitória, desculpe a demora e obrigada por vir até aqui.

_ Não foi nada, venha comigo que vou te repassar todas as informações da paciente. Falou se soltando do pai de Celina e agradecendo mentalmente pela chegada da colega de trabalho, ignorando o homem que a chamava por ela outra vez.

_ Aquele homem estava te agredindo? Perguntou Fernanda preocupada.

_ Não, ele é apenas um homem ignorante que não consegue conversar civilizadamente. Fala abrindo a porta do quarto onde estava Celina que esperava pela ansiosa pela volta de Vitória.

_ Vitória eu posso embora? Perguntou esperançosa.

_ Sim, você vai ir para casa daqui a pouco,  e essa é a Doutora Fernanda, ela vai revisar os seus exames e te dar alta.

_ Que bom Vitória. Comemorou Celina eufórica.

_ Fique calma, está bem. Falou Vitória com receio de que Celina caísse da cama devido a sua felicidade.

_ Eu vou ficar. Falou se deitando na cama como se tivesse recebido uma ordem.

Vitória ficou atenta a atitude da menina enquanto explicava para a pediatra do pronto atendimento o caso de Celina. Repassou a Fernanda os exames e a receita que havia preparado, separando a folha em que fez anotações especificas para o pai da menina.

_Obrigada mais uma vez. Agradeceu Fernanda.

_ Foi um prazer te ajudar e conhecer essa mocinha linda. Celina sorriu para ela.

_ E quem está acompanhando ela?

_ O pai, ele está lá fora, vou pedir para ele entra quando eu sair do quarto. Vitória suspirou pois teria que falar mais uma vez com aquele homem grosseiro.

_ Mocinha, vou conferir seus exames e daqui a pouco você poderá ir para casa. Celina sorriu feliz e Vitória se aproximou para se despedir dela.

_ Fique bem, e não se esqueça da nossa conversa mais cedo, não deve esconder nada do seu pai.

_ Esta bem. Fala sem confiança abraçando Vitória. _ Você é linda. Celina segurou uma mecha do cabelo da médica. _ Vitória, ter cabelo grandão com o seu dá trabalho?

_ Não, por quê?

_ Minha mãe nunca deixou meu cabelo crescer, ela dizia que era mais fácil deixar assim, bem curtinho, mas  eu sempre quis ter o cabelo como o seu.

Vitória estava certa de que Celina havia passado por maus tratos quando estava com a mãe e isso mexia com seu coração, pois a sua mãe sempre foi amorosa e fazia de tudo pelos filhos, inclusiva agora que eles já eram adultos.

_ Olha, seu cabelo é lindo e quando ele crescer, vai ficar mais bonito ainda.

_ Mas será o que o meu pai vai deixar? Ele não sabe pentear meu cabelo direito, só quando a minha vovó vai lá casa que deixa o meu cabelo bonitinho.

_ Ele vai aprender com o tempo, e daqui a pouco, você vai aprender a cuidar do seu cabelo sozinha.

_ Verdade..., eu até já sei pentear o meu cabelo.

_ Que bom. Agora eu preciso ir, foi muito bom cuidar de você.

_ Ahhh... Celina ficou triste. _ Eu não vou te ver outra vez?

_ Não fique triste, eu quero te ver bem, e não no hospital, ok. Falou sem responder a pergunta diretamente. _ Tchau Celina. Falou dando um beijo na bochecha da menina e acenando ao sai do quarto, dando de cara com o pai dela.

_ Sabia que eu estou cansado de lidar com a Doutora... Vitória. Diz depois de olhar o nome de Vitória no jaleco. _ Você...

_ Senhor... Vitória interrompeu sua fala. _Já pode entrar para ver a sua filha, e isso é para o senhor. Falou estendendo uma folha de papel para ele.

_ O que é isso?

_ Anotei nesse papel o nome de duas excelentes escolas infantis na cidade, pois a sua filha está preocupada com o senhor e com receio de ficar sem estudar pois segundo a Celina, ela não quer te dar trabalho. E também anotei o nome de duas psicólogas infantis que trabalham no hospital, são profissionais qualificadas para lidar...

_ Por que eu deveria levar minha filha a uma psicóloga? Por acaso a senhorita acha que ela tem problemas? Perguntou levantando o tom da voz.

Vitória respirou fundo tentando se manter calma.

_ O senhor sabia que sua filha tem asma e que o remédio que ela usa, acabou ?

_ Não, mas o que isso tem haver com a tal psicóloga? A voz do pai de Celina irritava Vitória por causa da sua arrogância. _ Pensa que eu não conheço pessoas com a senhorita, que agem tentando tirar vantagem dos outros. Por acaso a senhorita sabe como é  sentir e saber que as pessoas tiram vantagem  da gente aproveitando-se de um momento de fragilidade? Quando abusam da nossa confiança? Garanto que não sabe. Fala tocando em uma ferida profunda de Vitória que sabia muito bem qual era essa sensação, e a fala do pai de Celina a fez lembrar de momentos que queria esquecer para sempre. _ E eu posso ver que a Doutora é esse tipo de pessoa, e eu estou cansado de pessoas como a senhorita tentando se aproveitar de mim. Vitória perdeu o restante da paciência naquele instante.

_ Celina era vítima de maus tratos, espero que o senhor tenha consciência disso. Diz Vitória com a voz trêmula sob efeito da lembrança ruim que ficaram na sua cabeça, calando com essa fala o pai de Celina._ Ela não contou que estava sem o remédio e passando mal por medo de incomoda-lo, por medo do senhor deixar de gostar dela e mandá-la de volta para morar com a mãe, e ela tem pavor só de pensar nessa hipótese. Eu não vou entrar em detalhes sobre tudo que ela me contou, mas espero que o senhor tenha entendido que ela precisa de ajuda para lidar com os traumas causados pelos maus tratos pelo quais passou. Fala dando as costas para ele. Antes de seguir, virou-se novamente para ele. _ Como disse, senhor já pode entrar para vê-la... Vitoria deu alguns passos e parou, voltando a olhar para o homem que permaneceu calado. _E só mais uma coisa, deixe o cabelo dela crescer. Falou Vitória indo embora chateada.

Enzo, o pai de Celina, sentiu um nó na garganta. Sim, ele sabia que a filha havia era maltratada pela mãe e depois de um longo processo na justiça, conseguiu a guarda da filha e Celina estava morando com ele a pouco tempo, e também sabia que a filha não costuma a se abrir com facilidade, mas com a médica, parecia ser uma exceção. Entrou no quarto ainda digerindo tudo o que ela havia dito.

_ Papai... daqui a pouco vamos para casa. Falou Celina séria.

_ Eu sei. Você está bem?

_ Sim. A Vitoria cuido muito bem de mim.

_ Com licença. Pediu Fernanda se aproximando. _ Celina está bem apesar da crise de asma que teve. Fiz a prescrição de um broncodilatador, a famosa bombinha, que vai ajudá-la caso sinta falta de ar, e algumas recomendações que vão ajudar a prevenir as crises mais graves. Recomendo conversar com o pediatra da sua filha para fazer um acompanhamento completo dessa mocinha para que ela fique cada dia melhor

_ Não será a outra médica que finalizará o atendimento da minha filha? Perguntou Enzo ainda pensando nas palavras de Vitória.

_ A doutora Vitória não trabalha no pronto atendimento, somente nos consultórios. Gostaria  pedir desculpas de antemão, pois hoje tivemos alguns imprevistos no setor de pediatria do pronto atendimento, e eu fui chamada as pressas pelo hospital, por isso Vitória veio para atender a sua filha enquanto eu não estava aqui. Garanto que ela é uma excelente profissional.

_ Eu gostei muito dela. Falou Celina.

_ Entendo. Enzo se arrependeu da forma que tratou Vitória ao saber daquele detalhe.

_ Já pode ir para casa mocinha. Falou a Fernanda.

_ Obrigada Doutora. Celina se levantava da cama quando Enzo foi até a filha e a pegou no colo e beijou seu rosto vendo um sorriso surgir na face da menina.

_ Você está bem?

_ Estou papai, não se preocupe.

_ Claro que eu me preocupo com você, você é minha vida e eu te amo. Ele olhou para o rosto bonito da filha. _ Por que você não deixa o seu cabelo crescer filha, vai ficar linda de cabelo comprido.

_ Obrigada papai, eu quero muito ter o cabelo igual ao da Vitória. Fala abraçando o pescoço do pai.

_ Obrigada Doutora. Agradeceu pegando a receita e as recomendações para a filha e

 seguiu caminhando com a filha no colo em direção a saída do hospital

_ Filha, Vamos fazer um acordo?

_ Um acordo, papai? Mas acordo não é coisa de gente grande?

_ É... mais ou menos, mas eu quero fazer e um acordo de pai  e filha.

_ Ah...Tudo bem, papai.

_ A partir de agora, você não pode esconder nada do papai, principalmente se estiver passado mal, se alguém te machucar, se estiver precisando de algo.

_ Mas eu não quero incomodar...

_ Você não me incomoda, por isso eu te trouxe para morar comigo, eu vou cuidar de você e te proteger. Está bem? E quero que você saiba que eu nunca vou deixar de amar você, nunca.

_ O senhor jura, papai? Perguntou Celina com os olhos cheios de Lágrimas.

_ Eu juro. O abraço apertado da filha fez Enzo se sentir bem, por ver a filha começar confiar nele, e mal, pela forma que falou com Vitória, pois foi a partir do que ela disse que ele conseguiu se aproximar um pouco mais da filha.

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Comments

Pra Elaine Maria

Pra Elaine Maria

eu fui muito maltratada em toda minha infância apanhei muito é fui criada sem amor e carinho,aos 15 anos fui jogada no mundo mendigando favores,fui muito maltratada, mais me ensinou que eu não tratar as pessoas como eu fui maltratada.o mal não estava em mim. procuro tratar todos com gentileza e educação. e criei meus filhos com amor ❤️

2024-04-06

27

Brenda Lemos

Brenda Lemos

Entendeu agora, embuste?

2024-05-04

2

Julia Santos

Julia Santos

hummm lixo de homem hein

2024-04-22

0

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