Capítulo 19 - Amo Borboletas

Adam: Sara sorri e chora sentindo o vento tocar o rosto dela.

Sara, o que houve?

Sara: Não entenderia Adam.

Falo angustiada.

Adam: Tenta.

Sara: Eu aceitei a minha condição, mas é tão ruim sentir o vento e não poder ver a paisagem. Posso sentir você ao meu lado, mas não faço ideia se está me olhando ou mesmo se está prestando atenção no que estou falando. É escuro e solitário Adam. O Alan me bateu e não tive chance alguma, de me proteger das agressões dele, é sempre assim.

Adam: Fico refletindo nas palavras da Sara por alguns instantes.

Sara, tem chance de voltar a enxergar?

Sara: O glaucoma causa danos ao nervo óptico e a lesão glaucomatosa é irreversível.

Sinto o Adam tocar o meu rosto é secar as minhas lágrimas com cuidado.

Adam: Como chegou ao ponto de perder a visão, se glaucoma tem tratamento?

Sara: Evoluiu rápido, usei o colírio mesmo com dor quando aplicava, mas não foi suficiente, principalmente porque o diagnóstico veio tarde.

Adam: Sinto muito por isso.

Queria muito ouvir a Sara dizer que tinha uma forma dela voltar a enxergar, mas a resposta me quebrou.

Sara: Adam me puxa para o peito dele e fico quietinha.

Adam: O céu está azul, quase não tem nuvens e o sol está a direita. Estamos passando por uma rua movimentada, tem muitos prédios, alguns bem altos...

Vou narrando todo o trajeto para Sara, que direciona olhar para fora e fecha os olhos. Ela deve estar imaginando tudo, como ver isso e não poder fazer nada é ruim a ponto de ser doloso. Chegamos ao jardim e ajudo ela a descer.

Sara: Aonde estamos?

Adam: Conservatory Garden, é um jardim Sara.

Sara: Minha nossa que cheiro bom. Não me torture Adam, me faça ver.

Adam segura a minha mão e caminhamos até o jardim, posso ouvir os pássaros, o barulho da fonte e as pessoas passando por nós.

Adam: Estamos próximo a uma fonte com uma estátua no meio, ela é de bronze, tem três mulheres que parecem estar dançando de mãos dadas e em volta tem muitas flores.

Sara: Adam me leva até as flores e posso sentir o aroma delas.

Adam: Não sei que flores são essas, mas são coloridas. Tem rosa, vermelha, amarelo, branca e lilás. Tem muitos tipos diferentes e tem várias borboletas.

Sara: Amo borboletas, são as minhas preferidas!

Adam: As borboletas são laranjadas e pretas e estão em cima das flores. Espera, não se mexe.

Sara: O quê?

Pergunto imóvel.

Adam: Uma borboletas pousou no seu ombro e vou tirar uma foto.

Sara abre um lindo sorriso e tiro a foto.

Sara: Deu certo, a foto?

Adam: Ficou linda Sara.

Sara: Fico constrangida com o elogio do Adam, é a primeira vez que ele me elogia. Continuamos andando e ele vai me contando tudo em detalhes, consigo visualizar e fico encantada com esse lugar.

Moraria aqui.

Adam: Podemos fazer um jardim na mansão Sara.

Sara: Os cachorros não o destruíram?

Adam: Cachorros?

Sara: Os cachorros bravos que são soltos a noite.

Adam: Quem te falou isso Sara? Não tenho cachorros.

Sara fica confusa.

Sara: Começo a rir.

Morria de medo de sair a noite da casa. Um jardim seria incrível, mas queria fazer ele, colocar a mão na massa, literalmente.

Adam: Me sento no banco com a Sara.

Sara: Adam, me deixe te conhecer, quero tocar o seu rosto e saber como é.

Adam pega as minhas mãos e coloca no rosto dele.

Adam: Sara passa as mãos cuidadosamente sobre o meu rosto, me sinto sufocado, segurando o ar com essa aproximação dela. Ela sorri tocando cada parte do meu rosto e a minha única vontade é beijá-la.

Sara: Os seus cabelos são lisos e macios. A barba estar por fazer ou usa barba?

Adam: Tenho barba Sara.

Sara: Adam me fala a cor dos olhos dele, a cor dos cabelos, o tom da pele dele e vou construindo a imagem dele. Me levanto com ele para irmos embora.

É um homem bonito Adam.

Adam: Encaro a Sara e dou um pequeno sorriso de lado com o elogio dela.

Quer almoçar fora?

Sara: Quero.

Repondo animada.

Adam: Amanhã você tem psiquiatra.

A empolgação da Sara se desfazer e ela fica triste.

Sara: Isso significa abrir as feridas, ainda dói falar sobre isso, dói muito. Pode me acompanhar a consulta?

Adam: Sara tudo que passou é minha culpa e sinto muito por isso. Eu te prometi que estarei ao seu lado e vou estar enquanto me permitir.

Sara: Escuto com atenção as palavras do Adam, será possível que ele está mudado comigo por pena? Meu peito chega a doer, nunca quis ser um peso para ninguém, mas é o que sou. Mileide me falou tantas vezes que ninguém nunca iria me amar, que sempre estariam comigo por pena, que isso marcou a minha alma. Infelizmente ela não estava errada, falei tanto sobre as minhas dores ao Adam que é natural que ele sinta pena de mim.

Adam: Droga! Não deveria ter falado sobre isso agora, Sara estava tão feliz, certamente pensar em falar tudo que passou com o Alan a psiquiatra fez ela reviver aquele momento.

Sara, vou estar com você e te ajudar a passar por tudo isso.

Sara: Quero ir embora.

Adam: Não quer mais almoçar fora?

Sara: Não... por favor.

As lágrimas descem mesmo tentando lutar contra isso. Mais uma vez afirmando o que Mileide dizia, não sirvo nem para ser um peso de porta, só atrapalho e dou trabalho para quem está a minha volta.

Adam: Me lembro que foi uma péssima ideia jogar a Sara nos meus ombros e pego ela nos meus braços. Caminho até o carro sem saber o que fazer para acalmá-la. Tudo que queria era confortá-la, mas nem isso sei fazer. Como posso ser egoísta a ponto de querer a Sara na minha vida, se nem ao menos sei como cuidar dela? Ela é tão doce e delicada. Não a mereço e sei disso, preciso fazer o que é certo por ela.

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