Infestation, Sobreviva.

Infestation, Sobreviva.

Capítulo 1: Manifesto

Escola estadual 14: 36, pm.

O silêncio residia como antecipando a tragédia. Trancado no armário da sala de informática, somente a respiração ao ritmo do coração podia ser ouvido. Tudo estava quieto, antes de passos apressados surgirem acompanhados de um choro infantil.

— Me ajuda, socorro!- uma menininha caiu frente ao armário, indefesa. Observar o desespero através de uma pequena abertura, quieta, era impossível para mim.

Para salvar uma vida, uma nova correria se iniciou fugindo para sobreviver. Derrapando e voltando a correr, não havia opção de parar, mas o destino é traiçoeiro e o sangue no chão estava espalhado impedindo passos largos. A queda foi inevitável. Aguardando a morte, último abraço foi dado perante o choro aguçado.

— O que tá fazendo aí?! VEM!- como um herói de capa branca, o presidente do conselho estudantil surge através da porta do laboratório, estendendo a mão.

Por segundos uma mão podre e ensanguentada atinge as pernas sujas dos sobreviventes ao solo, porém a porta foi trancada a tempo, impedindo qualquer tragédia.

Ofegante estirada sobre o chão, disponho-me. Cabeça girando a mil, mal noto a menina que resgatei de joelhos agradecendo-me.

— Obrigado! Obrigado! Obrigado!- mais choro.

— É, tudo bem...- orgulhosa de mim, afago seus cabelos que estão grudentos de tanto suor.

— Silêncio.- ordena o presidente. A sala naturalmente iluminada, têm janelas vetadas com armários e papel colados por fitas. O líder fica armado com um estilete vigiando a fresta pequena que leva ao corredor onde estávamos. Os grunhidos e bater vão diminuindo, mas os passos seguem como se tivessem nova vítima a perseguir.

— Sanna?- tá me zoando. Perplexa olho para cima ainda deitada, vendo a cara lambida do meu ex-satanás, ops, namorado.

— Se você tá aqui, ela também deve tá.- suspiro no fundo aliviada, me iludindo antes da hora.- Cadê a Rose, Jacob?

— E-eu não sei...- cara de rato maldito. De fúria ponho-me de pé num salto, acertando seu rosto com um soco.

— Hey, chega!- o presidente me segura.

— Como você não sabe onde ela tá? Seu covarde desgraçado! Abandou ela grávida lá fora!

— Shhhh!!- minha boca é contida pelo líder, que prende seus dedos nos meus lábios impedindo-me de disparar mais veneno.- Eles estão lá fora...- eles, vocês perguntam, quem? Não sabemos.

Contenho-me por asco, indo para o outro lado do laboratório ignorando os olhares dos outros alunos. Inquieta olho o celular buscando por sinal, preocupada com Rose. Sei do que aquela vagabunda foi capaz de fazer, mas não vou deseja-la ver morta por isso.

— Moça...- a menina de antes se ajoelha na minha frente.- Muito obrigado... por me salvar.- e pensar que se tivesse me retido, eu estaria longe desse escória mas teria visto seu rostinho morto aos meus pés. Sorrio admitindo fazer a coisa certa.

— O que uma menina do fundamental faz aqui, no segundo prédio?- pergunto voltando a procurar sinal de celular.

— Eu... vim atrás da minha irmã, ela estuda no último ano.- certo, então deve estudar comigo ou já devo ter visto-a.- Ela tava na enfermari-

— Okay, chega!- quase solto o aparelho quando alguém grita.- Será que alguém pode fazer a gentileza de me explicar que inferno tá acontecendo aqui?!- ninguém sabe, esse é o problema.

— Contenha-se, Suzan, a não ser que queira virar jantar daquelas coisas lá fora.- o presidente sem qualquer gentileza, fala. Isso é o bastante para deixa-la quieta.

De um lado estão alunas recolhidas abraçadas, usando livros ou mesas para se barricarem. Alguns nerdes estão mexendo nos detritos de química enquanto 4 jogadores de futebol estão quietos olhando pela janela. Jacob está ao lado de um aluno esquisito, gótico que fuma despreocupado com a vida, e meu pensamento deve ter sido alto, pois o mesmo me olha.

— É permitido fumar aqui?- ele dá de ombros.- Sabia que tem bagulho inflamável aqui dentro?

— Apaga isso, Rodolfo.- mandão, o líder pede sem sequer olhar para trás. O esquisito obedece.

— Alguém deve ter chamado a polícia, não é?- Augusto, esse eu conheço. O melhor jogador de futebol americano da escola.

— Claro que sim! Quem não chamou?! Não viu a explosão lá fora?!- Suzan tem razão, o acidente foi alto o bastante para chamar as forças armadas, bombeiros, a NASA, vingadores e o Batman.

Era nisso que todos se agarraram antes das horas se passarem. Os nervos já estavam se agitando mais com a espera, e nenhum barulho de sirene se ouvia, somente ruídos e batidas pelos corredores. O mais angustiante era o tic tac do relógio de parede e o subir e descer do estilete.

— Quer parar com isso?!- o presidente poderia atravessar uma alma só de olhar, mas felizmente não era o dia para isso. Ele guarda os estilete.- Alguém tem um fone de ouvido com fio?

— E pra que você quer isso?- de tamanha arrogância diante da morte, Suzan exibe o objeto mencionado.

— Vou fazer o rádio.- e assim a tecnologia vence mais uma vez.

Sintonizando no canal certo, um fone com fio serve de antena externa que pode abrir para canais de rádio. Por segundos todos se veem esperando esperançosamente uma resposta do celular sintonizado.

— Alfa Bravo chamando torre de comando.- como um E.T cor de rosa, os olhos recaem sobre mim.

— Que droga é essa, garota?!- Augusto se afasta.

— Ela tá ligando pro pai dela.- Jacob retruca, fofoqueiro como sempre.

— Então é você...

— Torre de comando responde, Prossiga Alfa Bravo.- suspiro.- Sanna? Sanna é você?!

— Pai.- a voz sai mais emocionada do que deveria, mas o alívio de ouvi-lo era maior.- Sou eu, Sanna.

— Graças a Deus! Onde você está?!

— Tô na escola presa com alguns alunos. O que tá rolando?! Teve uma explosão aqui enfrente e-

— Você está no local da explosão?! Sanna, escute seu pai. Você tem que sair daí imediatamente.- o aviso estoura adrenalina pelos estudantes, ativando também o medo.- Saía daí agora, antes que seja tarde!

— M-mas como vamos sair daqui?!

— Tem um ônibus lá fora.- o esquisito se pronuncia.- Tá bem na entrada barricando o portão... deve ter ficado daquele jeito por causa da explosão.

— Use o que precisar para sair daí, agora. Estou a camin... shhhh... não seja peg-... sshhhh...

— O sinal tá falhando. Pai? Pai?! O que é aquilo lá fora?!

— ... shhh... experimento... shhhh... fuja!- a ligação cai.

— Não parece coincidência demais ter a filha de um militar no momento do acidente aqui?- conspirações espacam da ruiva sarnenta.- Você sabe o que é aquilo ali fora! Adimita!

— Sei tanto quanto seu conhecimento por maquiagem. Tá borrado.- aponto para seu rimel, o que é o bastante para despistar sua atenção.

— Ele parecia desesperado... seja o que for, seu pai nos quer bem longe da exposição.- o líder pondera indo até a janela.- Temos que nos arriscar.

— Tá maluco?!- Jacob balbucia nervoso.- Você viu aquelas coisas lá fora?!

— Se quiser virar um deles, fique a vontade.- aproximo-me da mesa do professor pegando todos os papéis que encontro.- Iremos sair, você vem?- a menina de antes corre para meu lado, pegando mais papéis.

— Uhhh, gostaria de ajudar.- Rodolfo expõe seu isqueiro.

— É bom eu não morrer aqui, garota, ou juro por tudo quanto é mais sagrado que você vai pagar por isso.

— Tá bom, Suzana.

— É Suzan!

Com o que pudermos achar fazemos explosivos com os inflamáveis do laboratório, e partimos para a morte certa ou a salvação. Em grupo, os jogadores seguram pedaços de cadeiras quebradas fechando as laterais e a retaguarda, as meninas no meio segurando os explosivos com Rodolfo pronto para acende-los, e Jacob, o líder e eu guiamos o caminho.

Estranhamente a saída está calma, tão calma que rapidamente chegamos ao pátio principal que leva a entrada onde está nossa fuga. Mas o destino é imprevisível o bastante para nos trair.

— Sanna! Sanna me ajuda!- virei milagreira agora. O grito retumbante vem de uma das salas, por onde Rose desce a janela fugindo... daquelas coisas. O som é tentador como luz para as mariposas.

— Corram, corram agora!- o líder empurra todos em direção ao ônibus.- Me dá.- acendendo um explosivo ele joga na direção oposta a nossa, espalhando chamas pela grama. Isso atrasa provisoriamente.

Corajoso como um tolo, o líder vai em direção aos pedidos de socorros. E eu, como um mascote vou atrás, e Jacob milagrosamente segue. Rose estava ofegante, porém antes de atingir o chão a agarro voltando a correr.

Não olho para trás, mas ouço ossos sendo acertados e rangidos de dentes passando próximos a pele exposta. No ônibus, o esquisito é o primeiro a entrar pela janela com ajuda dos musculosos. Sem demora ele abre a porta para os outros.

— Alguém tem a chave?!- derrapo nos degraus quando uma mão prende meu pé.

— Não, solta ela!- Rose tenta me puxar e Augusto surge logo atrás fazendo o mesmo.

De prontidão ele desembarca e acerta a criatura que me segura, levantando-me para o ônibus. Mas antes que suba de volta, algo lhe atinge nas costas.

— Não fica parado aí, faz esse ônibus funcionar!- Suzan pegando um pedaço de pau e me acompanhando. Rodolfo como um bom criminoso faz ligação direta nos fios.

Acerto o que posso sem ser atingida, enquanto os outros jogadores jogam bomba e puxam o ferido para dentro. De visão periférica vejo Jacob encurralado dentro de um carro, e o líder tentando espantar os bichos do teto.

— Pegou!- Rodolfo comemora o roncar do motor.- Alguém sabe dirigir?

— Aprendo agora.- Suzan corre para dentro enquanto Rose me joga outra bomba, que arremesso acertando o chão próximo aos monstros.

Com a distração, os dois correm para o ônibus. Jacob é mais rápido, mas o presidente está cansado. Com a aproximação humanoide na sua nuca, disparo um soco que o derruba.

— Isso vai doer amanhã.- sem demora entramos, e as portas se fecham antes da partida.

Adrenalina grita pelas ruas quase desertas. A cenas da escola se repetem do lado de fora. Dos carros sobem fumaça e gritos, pelo chão sangue mancha e corpos se empilham retorcidos.

— Posso ver?- minha mão roxa é tomada pelo líder, que avalia atentamente.- Dói?

— Só até a alma.- ele sorri.- É o mínimo por ter me salvado.

— Tem razão. Estamos quites...- com delicadeza seus dedos apalpam o ferimento baixando um band-aid encima.- Ferdinã.

— Sanna.- apertamos as mãos. Nesse momento, o celular volta a tocar.

— Alfa Bravo?- apelido ridículo.- Conseguiu escapar?

— Da escola sim, dessa loucura, não.

— Vá até o antigo cais da cidade, os militares estão resgatando civis pelo porto e levando para fora do país.

— Para fora do país...? Isso é tão grave assim?- sussurro abismada.- Estamos a caminho, torre de comando. Alfa Bravo desligand-

Como mais uma armadilha da vida, o ônibus é atingido por um caminhão desgovernado que o arrasta para fora da estrada.

— Alfa Bravo? Alô? Tem alguém?! Sanna!!

Tu... tu.... tu...

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