Infestation, Sobreviva.

Infestation, Sobreviva.

Capítulo 1: Infecção

O silêncio residia antecipando a tragédia. Trancado no armário da sala de informática, somente a respiração ao ritmo do coração podia ser ouvida. Tudo estava quieto, antes de passos apressados surgirem acompanhados de um choro infantil.

— Alguém me ajude! Socorro!

Uma menina caía em frente ao armário, suas pernas cedendo ao cansaço, indefesa. Observar o desespero através de uma pequena abertura do armário, quieta, parecia impossível para mim.

Para salvar uma vida, uma nova correria se iniciou para sobreviver. Derrapando e caindo, mas sem parar por nada, não havia essa opção. Mas o destino é traiçoeiro o bastante para rir de nós. O sangue no chão foi a nossa ruína, quando a queda inevitável deu-se, sem mais chances de reação.

Em meus braços a menina chorou, um último abraço antes da morte que certamente, nos alcançaria.

— O que tá fazendo?! VEM!

Como um herói de capa branca, o presidente do conselho estudantil surgiu através da porta do laboratório, estendendo a mão.

Foram menos de dois segundos de reação, quando puxadas através da porta, as mãos dos mortos arranharam meu calcanhar, impedindo o que parecia o fim.

Ofegante estirada sobre o chão, disponho-me. Cabeça girando a mil, mal noto a menina que resgatei de joelhos agradecendo-me.

— Obrigado! Obrigado! Obrigado! — ela chorou.

— É, tudo bem... — expirei, orgulhosa de mim mesmo.

— Silêncio — ordenou o presidente.

A sala naturalmente iluminada, perdia sua luz entre as janelas vetadas com armários e papelão colados por fitas. O líder, armado com um estilete vigiando a fresta pequena que leva ao corredor onde estávamos, tensiona seus ombros como se esperasse que a qualquer momento, a porta fosse invadida. Os grunhidos e bater vão diminuindo, mas os passos seguem como se tivessem nova vítima a perseguir.

— Sanny...?

Os meus olhos se arregalaram.

Perplexa olho para cima ainda deitada, vendo a cara lambida do meu ex-satanás, ops, namorado.

— Se você está aqui... — ela também deve estar. Um suspiro aliviado me escapou. Girei no chão, olhando em volta, mas não a vi — Cadê a Rose, Jacob?

Ele engoliu a seco.

— E-eu não sei... Eu me perdi dela...

Cara de rato maldito.

Sem controlar meus impulsos, saltei de pé em sua direção. Antes que ele pudesse terminar de erguer as mãos em rendição, meu punho fechado foi de encontro com o seu rosto, o jogando contra a parede.

— Como você não sabe onde ela tá? Seu covarde desgraçado! Abandonou ela grávida lá fora!

A menininha resgatada entrou no meu caminho, se prendendo as minhas pernas como se pudesse me deter.

Um grito engasgado desce pela garganta mais uma vez, quando sinto uma mão tapar a minha boca e um estilete se pressionar na minha garganta.

— Quieta, ou te jogo para fora daqui — o residente rouquejou ao meu ouvido.

Os passos e sons do lado de fora continuavam. Eles estavam lá ainda, à espreita, somente aguardando.

Eles... Aquelas coisas...

Contenho-me por asco, libertando-me do seu agarro e indo para o outro lado do laboratório ignorando os olhares dos outros alunos.

Inquieta olho o celular buscando por sinal, preocupada com Rose. Sei do que aquela vagabunda foi capaz de fazer, mas não vou deseja-la ver morta por isso. Principalmente com um bebê na barriga.

— Moça... — a menina de antes se ajoelha na minha frente. — Muito obrigado... Por me salvar.

E pensar que se tivesse ficado quieta a vendo morrer, eu estaria longe desse escória. Mas teria visto uma criança morta aos meus pés.

— Você é do fundamental, não é? O que faz aqui, no segundo prédio? — perguntei voltando a procurar sinal de celular.

— Eu... Vim atrás da minha irmã, ela estuda no último ano — certo, então deve estudar comigo ou já devo ter esbarrado nela por aí. — Ela tava na enfermari...

— Okay, chega! — quase solto o aparelho quando alguém grita. — Será que alguém pode fazer a gentileza de me explicar que inferno tá acontecendo aqui?!

Ninguém sabe, esse é o problema.

— Contenha-se Suzan, a não ser que queira virar jantar daquelas coisas lá fora — o presidente repreendeu sem gentileza.

Isso é o bastante para deixa-la quieta, bufando como um touro bravo.

De um lado estão alunas recolhidas abraçadas, usando livros ou mesas para se barricarem. Alguns nerds estão mexendo nos detritos de química enquanto 4 jogadores de futebol estão quietos olhando pela janela. Jacob está ao lado de um aluno gótico que fuma despreocupado com a vida, e meu pensamento deve ter sido magnético, pois o mesmo me olha.

— Não é permitido fumar aqui — informei o vendo dar de ombros. — Sabia que tem bagulho inflamável por todos os lados, principalmente aqui dentro?

— Apaga isso, Rodolfo — tava na cara que o presidente era o líder daqui. E sua autoridade foi o bastante para fazer o moleque obedecer.

— Alguém deve ter chamado a polícia, não é? — Augusto, esse eu conheço. O melhor jogador de futebol americano da escola.

— Claro que sim! Quem não chamou?! Não viu a explosão lá fora?! — Suzan tem razão, o acidente foi alto o bastante para chamar as forças armadas, bombeiros, a NASA, vingadores e até o Batman.

Era nisso que todos se agarraram antes das horas se passarem.

Os nervos já estavam se agitando mais com a espera, e nenhum barulho de sirene se ouvia, somente ruídos e batidas pelos corredores. O mais angustiante era o tic tac do relógio de parede e... O subir e descer do estilete.

— Quer parar com isso?!

O presidente poderia atravessar uma alma só de olhar, mas felizmente não era o dia para isso. Ele guarda o estilete.

— Alguém por acaso, tem um fone de ouvido com fio?

— E pra que você quer isso? — com tamanha arrogância diante da morte, Suzan exibe o objeto mencionado.

— Quero sintonizar no rádio, ao menos tentar saber que droga está acontecendo.

Sintonizando no canal certo, um fone com fio serve de antena externa que pode abrir para canais de rádio. Por segundos todos se veem esperando esperançosamente uma resposta do celular, prontos para julgar se der tudo errado.

Mas logo uma frequência começa a soar.

— ... Manifestações de ataques estão acontecendo em todo o país — o locutor anunciou, estática cortando metade das suas palavras — O exército... As pessoas... As instruções mandam trancarem as portas e... Seguras... Os militares tentam... Os médicos não sabem... Atacando umas, as outras.

Não é preciso ser um gênio para saber que estão falando dos recentes ataques. Pode ser uma epidemia, um ataque terrorista ou sabe se lá o que mais. O que sabemos é que as pessoas estão enlouquecendo atacando umas as outras.

E que devemos ficar seguras até as forças armadas nos resgatarem.

— Que inferno... — Augusto se afasta passando as mãos nos cachos escuros.

— Então é isso. Vamos ter que esperar aqui — o presidente suspirou.

— O que?! Com aqueles malucos lá fora?! Você tá maluco ou o quê?! — Suzan refuta nervosa, andando de um lado para o outro.

— Que escolha temos? Devemos esperar o resgate — afirmei sentando na mesa vazia — Os militares devem estar próximos, normalmente nesses acontecimentos a uma evacuação e os locais mais cheios são alvos de resgate.

— Então é você... — Rodolfo falou atraindo meu olhar, um sorriso torto subindo na sua face — Você é a tão filha do Sargento.

Todos olharam de volta para mim, com uma nova percepção de imagem. Uma percepção que eu tentei evitar por muito tempo.

— Então você é a filhinha do sargento? — Suzan cospe escárnio, rindo na minha direção — É bom saber. É claro que vão vir nos resgatar, a filhinha especial tá aqui!

Suzan é bonita, ruiva natural e a imagem de beleza da escola particular, mas como esperado, não é a pessoa mais gentil do mundo. Pegar no meu pé é seu hobby favorito.

— Aposto que ela até sabe o que tá rolando lá fora.

— Não viaja, Suzan — Jacob interveio — Deixa ela em paz!

Antes que mais uma discussão começasse, o celular na minha mão começou a tremer.

Saltei da mesa ficando de pé, vendo que era uma ligação via satélite.

— Alfa Bravo para Delta, responda, Delta — um suspiro me escapou ao ouvir a voz do meu pai.

— Delta para Alfa Bravo, copiando — a minha voz saiu mais emocionada do que deveria, mas o alívio de ouvi-lo era maior — Pai, sou eu!

Ao meu redor, todos os alunos se juntaram com expectativas instaladas nos rostos.

— Graças a Deus! Graças a Deus! Onde você está?!

— E-eu tô na escola, trancada no laboratório com alguns colegas e... Pai, o que tá rolando?! Teve uma explosão aqui em frente e...!

— Você está no local da explosão?! — pela primeira vez, ouvi o meu pai alterar a voz — *Sanna, escute o seu pai. Você tem que sair daí imediatament*e!

O aviso estourou adrenalina nas minhas veias.

— M-mas como vamos sair daqui?!

— Tem um ônibus lá fora — Rodolfo se pronuncia apontando para a janela. — Tá bem na entrada barrando o portão... Deve ter ficado daquele jeito por causa da explosão.

— Use o que precisar para sair daí, agora!! Estou a camin... não seja ferid... sshhhh... Não deixem eles te ferirem!

— O sinal tá falhando, pai? Pai?! O que é aquilo lá fora?!

— ... Experimento... Não deixem te alcanç... Fuja! — e bem nesse momento, a ligação caiu, assim como a energia da escola.

— Ah, não! — a menininha se agarra a mim apavorada.

— O que ele quis dizer, Sanna? — o presidente me questionou, segurando os meus ombros — O que ele quis dizer com "não deixe eles te ferirem"?

— Aposto que o pai dessa vagabunda é um terrorista! — a ruiva implicou apontando na minha cara. — Fala de uma vez o que você sabe!

— Sei tanto quanto você conhece de maquiagem. Tá borrada — apontei para seu rímel, o que é o bastante para despistar sua atenção.

— Ele parecia desesperado... Seja o que for, seu pai nos quer bem longe da exposição — Augusto pondera indo até a janela — Temos que nos arriscar.

— Tá maluco?! — Jacob balbucia nervoso — Você viu aquelas coisas lá fora?!

— Se quiser virar um deles, fique à vontade — aproximo-me da mesa do professor pegando todos os papéis que encontro — Iremos sair, com ou sem você. Seja o que for aquilo, é contagioso demais para ficar no raio de exposição.

A menina de antes corre para meu lado, pegando mais papéis.

— Uhhh, gostaria de ajudar — Rodolfo expõe seu isqueiro.

— É bom eu não morrer aqui, garota, ou juro por tudo quanto é mais sagrado que você vai pagar por isso.

— Tá bom, Suzana — revirei os olhos.

— É Suzan!

Com o que pudermos achar, fazemos explosivos com os inflamáveis do laboratório, e partimos para a morte... Ou salvação certa.

Em grupo, os jogadores seguram pedaços de cadeiras quebradas fechando as laterais e a retaguarda, as meninas no meio segurando os explosivos com Rodolfo pronto para acende-los, e Jacob, o líder e eu guiamos o caminho.

Estranhamente a saída está calma, tão calma que rapidamente chegamos ao pátio principal que leva a entrada onde está nossa fuga.

Mas o destino é imprevisível o bastante para nos trair.

— Sanna! Sanna me ajuda!

O grito retumbante vem de uma das salas, por onde Rose desce a janela fugindo... Daquelas coisas. O som dos gritos é tentador como luz para as mariposas.

— Corram, corram agora! — o líder empurra todos em direção ao ônibus. Acendendo um explosivo ele joga na direção oposta a nossa, espalhando chamas pela grama para queimar os infectados que vêem daquela direção.

Corajoso como um tolo, o líder vai em direção aos pedidos de socorros. E eu, como uma mascote, vou atrás, e Jacob milagrosamente me segue.

Rose ofegante tropeça sempre cair, a sua mão segurando a barriga enquanto se obriga a correr.

O presidente passa por ela jogando mais bombas, e ela cai nos meus braços. Jacob se move para seu outro lado, onde das duas direções conseguimos apoiar ela.

Não olho para trás, mas ouço ossos sendo acertados e rangidos de dentes passando próximos à pele exposta.

No ônibus, Rodolfo é o primeiro a entrar pela janela com ajuda dos jogadores. Sem demora ele abre a porta para os outros entrarem sem demora.

— Alguém tem a chave?! — grito tentando entrar, mas acabo derrapando nos degraus quando uma mão prende meu pé.

— Não, solta ela! — Rose tenta me puxar e Augusto surge logo atrás fazendo o mesmo.

De prontidão ele desembarca e acerta a criatura que me segura, levantando-me para o ônibus. Mas antes que suba de volta, algo lhe atinge nas costas, o fazendo soltar um grito de dor.

O puxo para dentro chutando o infectado e Jacob fecha as portas.

O ônibus balança com a enxurrada de alunos infectados. Ajudando Augusto a se arrastar para os bancos, vejo suas costas sangrarem com marcas de garras que cortaram sua carne.

— Não fica parado aí, faz esse ônibus funcionar! — Suzan gritou batendo nas criaturas através da janela com uma estaca.

Rodolfo, como um bom criminoso, fez ligação direta nos fios, fazendo o motor funcionar.

— Pegou! — Rodolfo comemora o roncar do motor — Alguém sabe dirigir?

— Eu sei! — Suzan correu para o assento do motorista enquanto Rose me joga outra bomba, que arremesso acertando o chão próximo aos monstros.

Adrenalina grita pelas em caos total. A cenas da escola se repetem do lado de fora. Dos carros sobem fumaça e gritos, pelo chão sangue mancha e corpos se empilham retorcidos, enquanto pessoas que deveriam ser normais correm atrás das outras como animais enlouquecidos.

— Céus... É a doença da vaca louca? — a pobre menina perguntou assustada.

Mas nem eu tinha a resposta.

Todos tomaram os seus lugares. Rose sentou junto de Jacob, que o consolava e inventava tolas desculpas pelo abandono.

Rodolfo se posicionou ao lado de Suzan, enquanto ela desviava de carros e corpos que quebravam em baixo de nós.

Me aproximei de Augusto, que gemia de dor deitado de costas no banco.

— Tira o casaco do time, deixa eu ver o estrago — pedi, já tirando a minha própria capa para estancar o sangramento.

Augusto obedeceu, gracejando de mais dor ao retirar a peça. Estava roxo, carne fatiada como se tivesse sido cortada por uma lâmina. Engolindo a seco, coloquei a minha capa em cima da sua ferida.

— Tá muito ruim? — ele perguntou.

— Está péssimo — o presidente respondeu, antes que eu pudesse falar.

— M-mas pelo menos parou de sangrar! — complementei. — Vai sobreviver. Quando chegarmos a um refúgio, você vai ser tratado e vai ficar novo em folha.

— E com uma grande cicatriz nas costas — o presidente completou com uma risada seca.

Revirei os olhos, terminando de amarrar a minha capa no corpo de Augusto, para evitar que o ferimento ganhe mais exposição.

Abanando as mãos, olhei para o líder.

— Sanna — cumprimentei.

— Eu sei quem você é — um arrepio subiu pela minha espinha — Ferdinand.

Estendendo a mão, um aperto firme completou nossa apresentação. Nesse momento, o celular no meu bolso voltou a tocar.

— Delta? — apelido ridículo — *Conseguiu escapa*r?

— Da escola sim, dessa loucura, não.

— Vá até o antigo cais da cidade, os militares estão resgatando civis pelo porto e levando para fora do país.

— Para fora do país...? Isso é tão grave assim? — sussurro abismada — Estamos a caminho, Alfa Bravo. Delta deslig...

Como mais uma armadilha da vida, o ônibus entrou num cruzamento no momento errado. Tudo que consegui ouvir foi o buzinar antes da carroceria do caminhão atingir a lateral do nosso ônibus e o celular voar da minha mão.

— Alfa Bravo? Alô? Tem alguém?! SANNA!

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