O zumbido espalhava-se seguido de dormência pelas áreas atingidas do corpo. O cheiro de poeira fundido a ferro e gasolina se alastrava ao retornar os sentidos corporais. Magnético estava o chão, a gravidade pesada. Vidros encravados na pele dividiam os poros vermelho-carmesim. O coração bombeava delirante atacado pela adrenalina, exigindo que os membros estivessem mais confortáveis que ali naqueles escombros.
— A-ah... ai, minha perna...!
No banco da frente, de assento único próximo às portas, estava Rose despertando, tendo uma fratura exposta da perna direita. Ânsia subia à garganta a cada esforço para sair do lugar para tentar ajuda-la.
Essa vagabunda ainda está grávida, apesar do chifre que me colocou, isso não muda o fato.
— Fica parada, eu tô indo — rangi os dentes.
— Que escolha eu... Tenho?
— Pode escolher se mexer... E... ter uma hemorragia mais grave... E morrer — só assim, seus movimentos cessam.
Vários corpos estão tortos, mal pode-se dizer se estão vivos ou mortos. Ferdinand se contorce, estando com o corpo dobrado sobre um assento. Seu ganir é de dor. O seu olhar amendoado demora para fixar em algo, antes de sair daquela posição o mais lentamente possível.
Até que um cheiro acirrado invadiu meu nariz.
— Ferdinand... Ferdinand! Gasolina — apontei.
Os seus olhos em delírio se moveram pelas janelas destruídas, vendo que o caminhão desgovernado estava vazando combustível que escorria até o ônibus, onde estávamos.
— Entendi, vá na... Argh, frente!
Quatro braços não seriam o bastante para evitar uma catástrofe maior.
Deste lado da cidade, não foi avistado humanos sãos ou o exército, então, estávamos por conta própria.
Rose range os dentes para não gritar, enquanto removo a sua perna de entulho de ferros.
— Calma, calma, eu preciso... Preciso estabilizar essa perna — olhando para os lados, agarrei uma haste de agarro do ônibus, que estava desprendida o bastante para sair no primeiro puxão.
— Não, não faz isso! — ela tentou protestar.
— Ou sou eu, ou os zumbis lá fora. Você escolhe.
Ela contorceu o rosto, mas não protestou mais. Retirando os sapatos, puxei as meias-calças para fora, para amarrar a haste na perna fraturada.
— Não grite — ordenei vendo-a morder a mão para abafar o grito trucidante inevitável.
Agarrada por baixo do busto, Rose esforça-se o máximo que pôde, sendo arrastada para fora do autocarro por uma moribunda: eu.
Deitada sobre o concreto, seu casaco surrado é feito de travesseiro enquanto busco outros ferimentos em seu corpo.
— Fica aqui, longe do ônibus. Por favor, não faça barulho!
De improviso, Rose segura uma barra de ferro que estava próximo, mostrando não estar mais indefesa.
Capengando e caindo, rastejo para o veículo, acudindo Ferdinand que empurra Rodolfo para fora por uma janela despedaçada.
— Ai, aposto que estragou o meu cabelo...
— Não tanto quanto as suas costelas — aperto a sua lateral, o fazendo gemer em desespero.
Um farfalhar adjacente atrai olhares. Pela cabine um homem salta, flexionando os seus músculos, e ajudando a pequena menina de antes a descer.
— Que bom que estão vivos — Augusto sorri exibindo alegria por seus dentes ensanguentados.
Posta no chão, a menina corre a meu encontro, abraçando-me.
— E-eu pensei que... Você estivesse morta...!
— Que azar, não é? Vá para longe... — com um último afago e sorriso fraco, empurro-a na direção de Rose.
Um, dois, três. Juntos retornarmos ao veículo, para buscar os outros.
No entanto, Jacob está desaparecido. Busco como agulha no palheiro em escombros, antes mesmo de tencionar o estômago revirado. Sangue foge dos meus lábios.
— Droga... — os braços de Augusto sustentam-me, levando-me para fora dali, antes mesmo de notar a ferida nas suas costas tendo uma hemorragia.
— Ajudem ele... — os outros jogadores feridos o sustentam.
Diante disso, penduro-me para sair também cortando a mão num metal exposto. O líquido escorre para fora, mas estou dormente de mais para focar na dor inicial.
— Desajeitada — Ferdinand escarnia desajeitadamente segurando a minha cintura. Salto tomando impulso das suas mãos, e dependuro-me na beirada, o bastante para descer da lateral virada do ônibus sem queda.
Em solo, há uma breve busca ao redor dos veículos por aqueles que ainda andam sem ajuda, mas não há sinal de Jacob. O cheiro inebriante de gasolina intensificou-se o bastante para assustar. Espaço foi necessário antes de uma mine explosão acontecer, tremendo o solo. O barulho foi alto o bastante para atrair... Aquelas coisas.
— Sanna... Sanna, saí daí! — ouço a voz da menina advertir, porém, tarde demais para o meu corpo obedecer.
Com o chão em direção da minha cara, a visão embaçada permite focar pouco no visual que se aproxima correndo.
Hiperventilando, arrasto-me para longe. Augusto com toda a sua exibição de força agarra a gola do meu uniforme surrado, e como um saco de batata me tira dali. Ferdinand pega escombros juntos dos outros alunos e arremessa contra aquelas coisas. O terror se instala permanente quando grito de Rose estoura.
De olhos esbranquiçados e dilatados, o ser de pele derretida agiganta-se por cima dela. Os seus dentes afiados expelem saliva a cada novo passo. A sua fissura se igualaria a de um animal demoníaco, se existisse um. Rose paralisa de medo.
— Eu sinto muito... — gesticulando com lábios trêmulos, saem tais palavras.
Impotente, observo o 'animal' avançar. Sabendo que não chegaria a tempo, os pés não se detém a correr, sendo impedidos apenas por algo mais rápido ainda que atravessar o caminho.
Uma viatura faz a volta 'J', chovendo tiros contra o animal. Rapidamente, outras viaturas e comboios surgem nos cercando, dançando tiros contra as criaturas.
— Estamos salvos! — a menina comemorava aliviada, soltando lágrimas de emoção.
Porém, a alegria durou pouco quando um deles passou despercebido saltando encima da menina.
— Sanna, pega!
Falta tempo para processar de quem era a voz, antes de uma espingarda ser jogada na minha cara.
Engatilhando-a, disparo um tiro perfeito. A potência joga a criatura morta para longe, e o coice da arma empurra o meu ombro para trás, deslocando-o.
— FILHO DA MÃE!
— Não xingue — um braço forte me rodeia, o suporte no corpo permite o meu desabo em dor — Foi uma mira perfeita, não esperava menos da minha filha.
O orgulho do coroa militar não abafa os sons de tiros. Mas a cena de ver as pessoas sendo resgatadas e aqueles monstros sendo mortos, é relaxante o bastante para drenar adrenalina do sangue.
No comboio, espanto-me ao ver Jacob hospitalizado sobre um colchonete, tão cheio de ferimentos quanto qualquer um de nós.
— Ele me ouviu chamar... — o pai estende o meu celular de tela trincada, mas com o fio de rádio improvisado conectado — Estávamos a caminho, tudo que precisávamos era da localização exata de vocês... Jacob correu a nosso encontro, antes que o sinal sumisse de vez.
Olha-lo dormindo em paz parece egoísta demais, no entanto, estaríamos mortos senão fosse por isso. Quase cruel demais querer espanca-lo por ter me traído.
Obrigado, seu vagabundo.
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