Apenas um contrato.

Não sei o que Samir pensa ao falar comigo daquela forma, como assim não quer saber com quantos homens eu já me deitei? O que ele pensa que eu sou? Incrível como em um segundo o admiro e no outro quero atirar ele janela abaixo. Sinceramente não vou gastar minha energia com ele, estou com fome, vou me arrumar para o jantar. Estou com receio de encarar aquela gente toda de novo, mas a fome é maior. Olho e vejo algumas sacolas com roupas, das minhas coisas não tenho mais nada, vejo uma calça cumprida azul celeste e uma blusa de de mangas longas que vai até o meio das minhas coxas, apesar de tanto pano, é tudo muito bonito, cheio de bordados, parece ser feita a mão. Me visto, penteio meus cabelos e coloco um lenço também azul, olho para Samir e o vejo de calça social e uma camisa de mangas e botões branca, descemos juntos, a mesa é enorme e farta, bem colorida. Sento-me ao lado de Samir, ele fala baixinho:

- Pegue a comida com a mão direita e se sirva depois dos mais velhos.

- ufa, não sei porquê tanta regra até para comer- Suspiro baixinho.

-Virginia, agora não- Ele me diz.

Coloco a comida no meu prato, as coisas são diferentes, mas estou faminta, vou provar um pouco de tudo.

-Minha filha, deixei esse prato para você, pegue- A mãe de Samir passa o prato para mim.

Dou a primeira garfada e a comida enrola na minha boca, tem pimenta no frango, tem canela em alguma coisa, céus! Como eles comem isso? A comida enrola na minha boca e sinto vontade de cuspir, porém sempre fui extremamente educada, respiro fundo e engulo de uma vez só, pego o copo que está ao meu lado e me sirvo mais, esse chá, de novo? Chá de hortelã, isso eu gosto e reconheço de longe, mamãe fazia para mim e me colocava para tomar sempre que ficava resfriada. E assim tento ir comendo aos pouquinhos, mexendo para lá e para cá.

-Não gostou, minha filha? A mãe de Samir me pergunta.

-Está uma delícia, é que comi muito no avião, ainda estou farta- Digo com um sorriso meio forçado.

Desde que desci Samir disse que eu também falava francês, seus familiares também falam, além do árabe aqui é um dos principais idiomas, menos uma dificuldade para mim, ufa.

Terminamos e vamos para a sala novamente, vejo o irmão de Samir me olhar estranho, até que ele pergunta:

-E então cunhada? Como vocês se conheceram mesmo?

-Ziah, não precisa encher minha esposa com questionamentos agora-Samir fala tomando a frente na conversa.

-O que foi, irmão? Não posso querer saber sobre esse seu casamento misterioso? Ou vai nos confessar que você arrastou essa coitada pra cá e lhe encheu os bolsos de dinheiro só pra salvar os couros de Sâmia? Vamos, pode falar, os anciãos já foram embora.

-Ziah, não me venha com seus venenos a essa hora- Samir fala extremamente irritado.

- Ou mais, vai me falar que ela é uma meretriz qualquer que está te dando o golpe assim como aquela lá tentou fazer?

-Chega Ziah, chega ou não respondo por mim.

Percebo Samir extremamente exaltado e tento diminuir a tensão naquele ambiente, estou cansada demais para lidar com brigas hoje, toco na sua mão sutilmente e digo:

-Deixa, eu conto.

Ele me olha com olhos desconfiados e acena com a cabeça, então começo:

-Ano passado Samir tratava de investimentos que Zair havia feito nos restaurantes do meu pai, no Brasil, e foi jantar lá em casa, na primeira vez que eu o vi, ele usava uma túnica branca muito bonita, o achei engraçado e muito charmoso, e diferente, vi sua barba bem feita e seus cabelos negros lisinhos, ele sorriu pra mim e o achei encantador. Como fazia faculdade com Hannah no Brasil perguntei a ela sobre ele, um dia ela preparou um jantar na casa dela e me convidou, e por coincidência Samir também estava lá, jantamos juntos e percebi que ele me olhava diferente, naquele momento também senti algo que não sei explicar, ele se ofereceu para me levar em casa e eu aceitei, pois já estava tarde, conversamos por todo o caminho e quando ele parou o carro nos despedimos em frente ao meu condomínio.

"- Entao senhorita, está entregue. Foi um prazer te conhecer- Samir me disse.

-Igualmente senhor Samir- eu respondi abrindo a porta.

— Virgínia, espera!"

Ele me puxou, naquele momento os nossos olhos encontraram-se e foi como se o mundo parasse naquele instante. Continuamos nos encarando e nos observávamos detalhadamente. Dai Samir deslizou os seus dedos pelo meu rosto e eu tremi, não sabia como reagir, mas sentir seu toque era maravilhoso.

Vejo que Samir olha para mim agora e seus olhos estão brilhando, como se ele também estivesse se recordando daquela noite. Ele me interrompe dizendo:

-Senti sua pele macia com meus dedos, suspirei fundo e avancei mais e quando dei por mim já estavamos com os lábios colados, ali, no carro, eu olhei pra ela e constatei o quão maravilhosa ela é, nos despedimos e naquela noite decidi que a queria para mim, no dia seguinte a pedi para que se casasse comigo. O resto podemos contar depois...

Percebo que todos ao nosso redor ficaram meio emocionados, principalmente as moças que estavam por ali, alguns nos abraçaram e nos desejaram um casamento feliz.

Samir diz que já vamos nos deitar pois ainda estamos cansados da viagem, eu concordo e subo com ele.

-Fomos bem convincentes, não é?

-Sim, bastante- Ele responde.

-Quem vê até pensa que realmente nos apaixonamos- digo entre risos.

- Pois é, estamos nos saindo bons enganadores, ninguém diria que isso não passa de um contrato.

-Sim, e nunca passará disso - Eu respondo jogando um lençol e um travesseiro no sofá.

-Concordo! Boa noite, querida esposa.

-Boa noite, senhor meu marido, respondo virando de costas para ele e apagando o abajur do quarto.

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