100 chicotadas

Chego em casa, vejo que está amontoada de gente. Os meus pais, meus avós, meus irmãos, meus tios e primos, nossos funcionários, os anciãos do clã, ouço o choro da minha mãe.

-Mãe, onde está Sâmia? Fale Mãe, diga-me onde está Sâmia?

-Filho, o seu irmão Ziah a encontrou, e agora está arrastando ela pela praça para que seja punida publicamente, filho por favor faça alguma coisa! Minha Mãe chora tanto que mal consegue falar.

-Como ele pôde? Ele deveria proteger a nossa menina, mãe.

-Na sua ausência ele estava como chefe da família e você sabe como ele é com as regras do clã.

-Não adianta defende-la, Samir, eu sempre julguei várias mulheres que fizeram o que Sâmia fez quando era o líder, eu estou devastado, mas não posso fazer nada- Diz o meu pai com um semblante amargo, frio.

-Eu vou trazê-la mãe, vou trazer a nossa menina para casa e devolver a sua honra.

Chamo os meus homens, mando que Said prepare as armas e acelere, vou trazer a minha irmãzinha de volta , custe o que custar. Saímos em alta velocidade, de longe avisto a multidão acompanhando, mando que parem imediatamente, desço, corro em meio a multidão e grito:

-Parem com isso agora!

-Samir, você veio Samir

Vejo Sâmia falando entre lágrimas, machucada, arrastada, humilhada, aquilo me dói fundo. Ziah estava com o chicote nas mãos, Como ele teve coragem?

-Solte ela, seu bastardo. Dei-me Sâmia aqui, eu resolverei isso.

-Eu não posso Samir, você conhece as regras, você sabe que devemos seguir os mandamentos de Alaah, Sâmia cometeu adultério, não era casada, preciso terminar o seu castigo, você sabe, são 100 chicotadas de pentência, ainda falta muito-Vejo-o dizer ofegante.

-Ninguém vai terminar nada, vocês distorcem as escrituras para mostrar as maldades de vocês, você sabe que muitas não sobrevivem a isso. Sem chicotadas aqui, isso já passou dos limites!

-Você sabe que se eu não fizer, os guardas farão, e isso será muito pior.

-Ninguém fará nada, ninguém toca em Sâmia, ela irá se casar.

-Casar? Isso não é possível, você sabe muito bem que para...

-Já chega! Eu estou aqui agora, eu sou o líder do Clã, eu sou o mais velho aqui agora quem assume isso sou eu, solte ela! -nesse momento a minha paciência já está se esgotando-

-Você não a levará até que a pena seja cumprida, você não pode me desautorizar assim perante nossos homens.

-Você é que não pode me desautorizar assim, Ziah onde você está com a cabeça?

-Eu vou cumprir o veredito, não vou deixar que a honra da nossa família, que a minha honra seja manchada por um erro dessa vagabunda!

Nesse momento vejo Ziah pegar no seu coldre, engatilhar a sua arma, e ainda agarrado a Sâmia, coloca a sua arma na cabeça dela, Sâmia chora muito, olha para mim com um olhar que me quebra inteiro, olha para Ziah e vejo medo e repulsa em seus olhos, e ela abaixa a cabeça entre lágrimas, eu preciso agir, se ele quer guerra, terá guerra.

-Escute aqui-Falo sacando a minha arma- se alguém vai morrer aqui esse alguém não será ela. E aponto em direção a ele.

-Isso é o que veremos-Ele aponta a arma em minha direção.

Vejo a multidão se afastar e vários comentários ao nosso redor, algumas pessoas se abaixam, os meus homens cercam Ziah que ainda está com a arma em punho, os meus homens também sacam as suas armas ao redor dele.

-Chega, parem com isso agora! Vocês são irmãos, nós vamos resolver isso, a nossa família não vai se destruir assim.

O meu pai chega em meio a multidão, tomando Sâmia pela mão abaixamos nossas armas, e vamos em direção a nossa casa, sem que ninguém fale uma palavra. Vejo que as pessoas seguem na praça cochichando enquanto nos afastamos, nossos homens nos seguem.

Chego em casa e todos os anciãos permanecem lá, reunidos, a minha mãe só chora, olho em um canto e vejo Virgínia, perdida, com os olhos assustados, provavelmente ela não está entendendo o que está acontecendo. No meio disso tudo só agora me dei conta de que não a apresentei como a minha esposa, o que era essencial nessa situação. Meu pai ordena para nos sentarmos, e começa a falar:

-Samir, esta moça aqui afirma ser sua esposa, isso é verdade, filho?

-Sim, pai- Falo chamando Virgínia para perto de mim- Eu ia contar e quando cheguei me deparei com toda essa confusão, conheci Virgínia quando viajei ao Brasil ano passado, e agora resolvi me casar com ela, pai, essa é sua nora.

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