Acidente de Ester
— Senhora Maya?
— Sim! Sou eu.
— Bom dia! Chamo-me Rafael e estou falando do Hospital Central, nessa madrugada deu entrada na
emergência uma moça, que pela sua identidade se chama Ester Silva, a senhora
conhece?
— Conheço sim! O que aconteceu com ela?
— Senhora, infelizmente, não posso passar informações pelo
telefone, peço, por favor, que venha até o hospital, onde o responsável pelo
atendimento passará todas as informações, peço que quando chegar vá direto ao
terceiro andar.
— Eu! Eu estou indo.
Foi a única coisa que eu consegui falar antes de desligar o
telefone, meu coração parecia que iria sair pela boca, minhas mãos tremiam tanto,
que eu mal conseguia segurar o telefone, liguei para a enfermeira e contei tudo
o que tinha acontecido e inclusive quis saber onde ficava esse hospital. Ela disse que o hospital era um
dos melhores e o mais caro de Londres e que todo motorista de táxi sabia chegar
lá.
Desligo o telefone e não espero ela chegar, saio correndo vou até
meu quarto pego minha bolsa, nem aviso a minha tia, que ainda está dormindo. Saiodo apartamento e assim que
chego à rua, dou sinal para o táxi, informo que preciso ir ao Hospital Central,
no caminho não consigo controlar as lágrimas, que caem sem parar, vejo o senhor
que está dirigindo me olhar, ele pega no porta luvas uma caixa de lenços e me
entrega. Mas não me pergunta nada e continua dirigindo e assim que paramos na
porta do hospital, ele me deseja boa sorte e que tudo irá ficar bem, saio do
carro sem respondê-lo, estou muito nervosa.
Já dentro do hospital, na recepção, informo o nome de minha amiga
e eles me entregam um crachá de visitante, me indicaram o elevador que deveria
subir. Assim que
chego à recepção do terceiro andar, me mandaram esperar pelo médico
responsável. Como estou nervosa nem percebo que a alguns passos têm dois homens
sentados, vejo que um deles está visivelmente nervoso assim como eu. Não demora
muito quando o médico se aproxima.
— Bom dia! Vocês
devem ser os familiares do meu paciente?
— Eu sou o irmão dele! Como ele está doutor? —disseo loiro.
— Ele chegou aqui com hemorragia interna, foi necessária a
cirurgia para tirarmos o excesso de sangue de seu pulmão, tem duas costelas fraturadas, mas vai se recuperar,
daqui a pouco ele irá para o quarto, mas ficará desacordado por um tempo, aconselho
que volte depois para vê-lo.
— Doutor e a mulher que meu irmão atropelou, o senhor tem alguma
informação?
— O estado dela é grave, o carro a jogou longe com o impacto,
causando fratura na sua coluna cervical, após a cirurgia é que saberemos se os
danos serão permanentes ou não.
— O que o senhor quer dizer com isso?
— Que talvez ela possa ficar sem andar para sempre.
Quando o médico relata que minha amiga poderá ficar sem andar, eu
não consigo me controlar.
— NÃO! Pelo amor de Deus. Diz que é mentira, que não é minha
amiga.
— Senhora, tenha calma!
— O estado de sua amiga é muito grave, estamos fazendo tudo para
que ela saia dessa cirurgia com uma possibilidade de poder andar, mas não quero
dar falsas esperanças, são muito raros os casos que isso acontece, se for o
caso dela, vai ser preciso muita fisioterapia por um período bem longo. Volto
mais tarde com mais informações, assim que a cirurgia acabar, ela será
transferida para o quarto e você poderá vê-la.
Assim que o médico se vai, minhas pernas perdem toda a forçam, só não caio ao chão porque
alguém me segura, sou colocada sentada na cadeira, uma das enfermeiras me
entrega um copo com água, tento segurar firme, mas minhas mãos estão tremendo tanto, que ela me ajuda a
beber, disse que se precisar de mais alguma coisa e só chamar, eu apenas
agradeço. Continuo sentada de cabeça baixa quando escuto uma voz rouca, que me
tira dos meus pensamentos, quando ele fala:
— O que a mulher do acidente é sua?
— Minha amiga!
— Não precisa se preocupar com as despesas do hospital, tudo será
pago enquanto ela estiver aqui e mesmo depois se for necessário.
— Nada mais justo vocês pagarem! Já que o acidente foi causado por alguém de sua família. Fique
sabendo, que se minha amiga não conseguir andar mais, eu irei processar quem
fez isso, tirarei cada centavo, tenho certeza de que a pessoa que atropelou
estava bêbada. Minha amiga Ester não merece ficar sem andar por um
irresponsável.
Assim que falei isso, me levantei e fui para bem longe deles, não
quero falar com ninguém nesse momento. Percebi que eles foram embora, as horas
estavam passando e minha angústia só aumentava, eu não sei o que fazer se ela não conseguir
andar novamente, estou rezando para que ela saia dessa cirurgia bem.
Já são dez horas, quando eu vejo novamente o mesmo médico vir em minha direção.
— Doutor, como ela está?
— A cirurgia acabou a pouco, vou explicar o que ocorreu com sua
amiga, para que entenda melhor a situação — ele respira fundo e começa a me
explicar. — Quando há lesão das costas em acidentes muito violentos, os ossos
podem ser quebrados ou tracionados para fora do alinhamento normal. Fraturas e
luxações da coluna vertebral são lesões muito graves, ocorre devido a uma força
de arrancamento de C2 sobre C3, o que leva a um escorregamento de uma vértebra
sobre a outra, por isso o tratamento cirúrgico é indicado, em grande parte dos
casos, implicam em danos neurológicos e sequelas permanentes — eu o olho
confusa. Ele continua. — Então, só saberemos quando ela acordar e depois que o ortopedista
fizer sua avaliação. Mas por favor, não perca a esperança, já vi muito caso que
mesmo nos médicos dizendo que o paciente não voltaria a andar, fomos surpreendidos.
— Obrigada doutor! Quando eu poderei vê-la?
— Nesse momento ela está sendo transferida para o quarto, assim
que ela estiver acomodada mandarei chamá-la.
Fico parada vendo-o sumir pelo imenso corredor. Passou-se algum
tempo quando uma enfermeira me disse que eu já poderia ver minha amiga, assim
que abro a porta do quarto, quase caí para trás, ela estava cheia de aparelhos,
seu rosto estava totalmente inchado, fui me aproximando da sua cama, segurei sua mão e não me
contive, chorei, chorei muito. Estava ainda segurando sua mão, quando a porta
foi aberta, vi que era o mesmo homem que tinha me segurado para eu não cair.
— Oi! Falei com
o médico, ele me disse que provavelmente você estaria aqui, soube também que a
cirurgia deu certo, de que agora depende da avaliação do ortopedista, para ter
a certeza de que sua amiga voltará a andar novamente. Saiba que eu estarei aqui
para o que vocês precisarem, o meu amigo não é um cara irresponsável, ele
jamais bebeu ao ponto de causar qualquer tipo de acidente. Tenho certeza de que assim que ele puder andar, virá ver sua
amiga e pedirá desculpas. Mas por favor, não o julgue, tenho certeza de que a
partir do momento que o conhecer, verá que o que estou dizendo é verdade.
— Qual é o nome de seu amigo e o seu?
— Eu sou André e meu amigo Jaime!
— Então André, está me dizendo que seu amigo bebeu, mas que ele
não é um cara irresponsável, então me diga, como uma pessoa bebê e sai
dirigindo nesse estado, sem pensar se pode ou não destruir a vida de outra
pessoa? Minha amiga pode nunca mais andar, por culpa dele, então não
venha me dizer que ele não é irresponsável. Uma pessoa normal jamais faria uma
coisa dessas, sabendo que poderia acabar com a vida de outra pessoa, acha mesmo,
que se eu o conhecer poderei mudar a minha opinião a seu respeito? Vou lhe dizer que está muito enganado. Agora por favor,
saia, eu quero ficar sozinha com minha amiga.
— O hospital está autorizado a me ligar para me passar informações
sobre sua amiga, também pedi que um carro fique a sua disposição, sei que deve ter que ir
para sua casa e sei que é muito cansativo e como não sabia se tinha ou não
carro, tomei a liberdade de deixar um ao seu dispor, o motorista vai ficar aqui
fora. Vou deixar meu cartão, pode me ligar a qualquer hora, eu virei assim que
você me ligar. Eu vou ao quarto do meu amigo e continuarei aqui por um tempo se
quiser conversar.
— Vou precisar sim do carro, mas quero deixar claro que isso não
irá mudar o que aconteceu, só estou aceitando porque pretendo ir e vir e não
quero deixar minha amiga sozinha.
— Qual é o seu nome?
— Maya!
— Maya! Quando não puder vir, eu poderei ficar em seu lugar, basta me ligar.
— Não será necessário, pretendo ficar o mínimo possível longe
dela.
— Tudo bem! Agora preciso
ir.
Vejo-o sair pela porta e um sentimento de ódio me consome, como ele pode vir aqui dizer
que seu amigo é uma pessoa boa? E novamente
olho para minha amiga, toda machucada, a porta é aberta e por ela entra uma
enfermeira, que começa a verificar os
aparelhos e o soro.
— Menina! Por que não vai para casa?
Ela não irá acordar agora, ainda falta muito de sua medicação, pode ir, assim que sua
medicação terminar eu ligo para você, estou vendo que está cansada, poderá
voltar mais tarde e dormi aqui se quiser.
— Obrigada! Farei isso sim, voltarei mais tarde, mas, por favor,
me prometa que se ela acordar a senhora vai me ligar.
— Prometo! Pode ir, e fique despreocupada que eu mesmo cuidarei
dela, ela será a única que cuidarei como foi pedido.
— Quem pediu isso?
— O irmão do senhor Jaime, solicitou que sua amiga tenha toda a
assistência que precise e que uma enfermeira ficasse a sua disposição.
— Obrigada por cuidar dela!
— Eu vou indo, mas volto mais tarde.
Despedi-me e saí do quarto, assim que estava quase perto do
elevador, escutei me chamarem, quando me virei, um senhor de uniforme veio em
minha direção.
— Senhorita! Fui encarregado de levá-la onde queira ir.
— Por favor, eu só preciso ir para casa.
— Venha por aqui senhorita, o carro está na garagem do prédio e
não é por esse elevador que saímos.
Ele vai à minha frente, passamos por vários quartos, quando
estávamos quase perto do elevador, a mesma voz rouca me chama. Viro-me e fico
de frente para ele e escuto ele falar:
— Como está sua amiga?
Eu apenas me viro novamente, procurando o motorista e não o
respondo, entro no elevador e quando fico de frente posso ver que ele continua
parado no mesmo lugar, seu olhar está fixo em mim, e, antes das portas se
fecharem, pude o ouvir falar:
— Mulherzinha sem educação da porra!
Como se eu fosse obrigada a falar com ele, o que me importa agora
é minha amiga e como eu vou contar para minha tia e minha mãe o que aconteceu e além do mais, será impossível
eu ir embora em dois meses como tinha combinado.
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Atualizado até capítulo 49
Comments
Euza Lisboa
Todos com sentimentos e nervos abalados.
2023-07-09
0
Lena Macêdo E Silva
educação, índole, sentimentos, etc ou tem ou não tem, só se adquire caso permita se adquirir 🤝
2023-04-08
0