Maya Feliciano
Vou ser sincera, esses dias de folga estão me deixando muito preguiçosa.
Preferi não tirar férias nesse tempo todo que estou
trabalhando, por isso tenho plena certeza que ninguém me julgaria por não querer
sair da cama.
Mas hoje é um dia que não vou poder ficar enrolando na cama, tenho
muita coisa para fazer e quando estamos em casa o dia passa voando.
Viro-me na cama e vejo minha amiga ainda dormindo, o lado do seu
rosto está bem vermelho, os seus olhos estão bem inchados de tanto chorar, foi
muito difícil para ela conseguir dormir.
Suas costelas estavam doendo e mesmo depois que minha
mãe a medicou, ela ainda demorou muito para pegar no sono. Vou deixá-la descansar mais um pouco, ela é como eu,
não quis pegar férias em nenhum momento, acho que por
medo de ficar em casa com seu pai e quando estávamos de férias da faculdade,
ela passava todas as noites aqui em casa. Levanto-me bem devagar para não fazer
barulho, entro no banheiro, faço minha higiene, desço para tomar café junto com minha mãe.
— Bom dia, mãe!
— Bom dia meu amor, dormiu bem?
— Consegui pegar no sono já era bem tarde, depois que você medicou
a Ester, ela ainda ficou acordada por um bom tempo e não era justo eu a dormir
e deixar sozinha sentindo dor né.
As costelas dela estavam bem roxas, deve ter doído
muito quando ele bateu nela, nem posso imaginar o que deu no pai dela para ele
fazer isso, sendo que mesmo chegando sempre bêbado, ele nunca tinha levantado a
mão para ela, acho que pelo fato dela sempre se esconder.
— Minha filha, ninguém espera isso de alguém que amamos, principalmente de um pai.
Lógico que sabemos que tem muitos que judiam de seus filhos desde pequenos e
que muitas vezes as agressões são tantas, que a pessoa carrega esse trauma pelo
resto da vida, vi muito isso quando eu trabalhava no hospital e muitas das
vezes, não era um só, eram os dois pais que judiavam de um ser tão inocente e
que não podia se defender, mesmo assim, muitas das vezes, o Conselho Tutelar não fazia
nada e as crianças continuavam com os pais abusivos. Essa realidade não muda. O
pai dela foi sempre negligente com ela, por tudo que ela nos contou sobre ele,
eu ainda achei que demorou muito para ele fazer uma coisa dessas, como ela mesma
disse, tinha noites que ele destruía tudo, eu já imaginava que isso iria
acontecer cedo ou tarde, graças a Deus foi
tarde. Você pode imaginar se ele tivesse feito
isso quando ela era pequena, quem iria ajudá-la? Com certeza o Conselho tutelar teria levado ela para outra
família e só Deus sabe se seria um lugar bom ou não. O pai dela sempre foi
fraco e usou a bebida para não ter responsabilidade nenhuma, soube usar a morte
da mulher em seu favor, apenas queria ficar sugando a filha, mesmo ela sendo
ainda pequena, ele viu nela a oportunidade de não fazer nada, já que ela sempre
foi em busca de colocar o que comer em casa, mesmo tendo apenas 12 anos. Eu
sinceramente não acredito que esse homem irá mudar e tenho certeza de que ele
vai fazer de tudo para tirar muito mais do que já tirou.
— Pior mãe, é que
existem tantas pessoas passando pelo mesmo que a Ester. Onde os pais são oportunistas e abusivos, e nem todos tem como
sair dessa situação e encontrar um lugar melhor. Eu sempre estarei ao lado
dela, não quero que ela sofra mais do que já sofreu, eu falei com ela ontem que
não vamos deixar que se mude dessa casa, podemos colocar outra cama em meu
quarto.
Assim que termino de falar, minha amiga aparece na cozinha,
senta-se do meu lado e percebo que ainda não está bem.
— Bom dia!
— Bom dia
Maya e dona Isaura!
— Bom dia
querida! Como está se sentido, ainda sente muita dor?
— Não está doendo tanto hoje, mas vou tomar outro remédio, depois do café, sei que tomar
esse tipo de medicação sem estar com o estômago cheio faz muito mal.
— Isso mesmo, tome seu café e depois lhe trago outro remédio, esse
é muito mais forte e com certeza irá melhorar e muito suas dores. Enquanto vocês terminam de tomar
café, vou arrumar os quartos, senão vamos nos
atrasar para buscar a beca de vocês e a ida ao salão. Faz muito tempo que eu
não piso em um salão de beleza.
— Pois é mãe, hoje você vai e ainda vai ganhar uma bela massagem,
nesse corpinho.
— Maya! Você não tem jeito.
Depois de tomarmos café e limpar a cozinha, subimos para nos
arrumar, primeiramente iríamos até a loja onde tínhamos alugado a nossa beca,
voltaríamos para casa, pois precisa vamos dos vestidos, já que sairíamos direto do salão para a
colação de grau e depois para o baile.
Foi um dia maravilhoso, fizemos tudo o que tínhamos direito hoje
nesse salão. Nem parece que somos as mesmas que entramos aqui. Quando olhamos para o espelho o resultado ficou espetacular.
Agora é hora de colocar os vestidos.
Quando recebemos os canudos e, a oradora falou suas palavras
finais, foi uma gritaria total, chapéu e canudos voaram para o alto dando
fim colação de
grau. Finalmente estávamos formadas, foi uma noite memorável.
Eu só gostaria que meu pai estivesse aqui, mas sei que de
onde ele estiver, está orgulhoso de tudo que eu consegui conquistar, o mesmo
não é possível falar do pai da Ester, que nem compareceu mesmo ela entregando a
roupa e o convite, isso a deixou muito triste, ele não merece uma filha como a
ela.
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Atualizado até capítulo 49
Comments
Eliana Fazano
👀bora bora
2024-11-27
0
Maria Aparecida Monteiro Firmino Cida
quando elas vão encontrar os lindos, tá demorando muito
2023-12-05
1
Euza Lisboa
Tadinha da Esther e das crianças e adolescentes que passam por tentas agressões físicas e psicológicas. São traumas profundos.
2023-07-09
0