Oliveira
Olho em volta.
— Oliveira está tudo certo para a demolição do prédio?
— Sim! Sr. Antônio.
— Você já verificou se não há ninguém dentro do prédio? Aqui é um
lugar que as crianças gostam de brincar.
— Ainda não!
— Então como você diz que o prédio está pronto para a demolição? Váverificar agora.
— Sim, vou verificar agora! Vamos homens, cada um vai a um andar,
é para verificar tudo.
— Meu Deus do céu, o que é isso?
— Oliveira! Oliveira!
— O que foi homem?
— Tem um corpo aqui.
— Como assim tem um corpo aí?
— Tem um corpo todo amarrado pelos pés e braços, ele está todo
machucado, parece morto.
— Não mexa em nada, estou subindo.
— Só o que me faltava, encontrar um cadáver.
— Meu Deus, quem fez isso com esse pobre coitado, você
verificou se ele está mesmo morto?
— Eu não vou colocar a mão nele não! — diz, Joaquim.
— Tu é covarde por acaso? Nem parece que usa calça. Deixa-me ver.
Chego perto do homem, não sei se rezo para ele estar vivo, mais o
estado em que ele se encontra, duvido muito, coloco minha mão em seu pulso, não
encontro pulsação, não tem nada.
— Ele está morto, quem mata alguém desse jeito? O cara apanhou muito.
— Joaquim, me ajude a tirar o corpo dele daqui.
— Não vou mexer em gente morta não.
— Então desça e avise o senhor Antônio que encontramos um corpo,
que vai ser preciso chamar a polícia.
— Sr. Antônio! Encontramos um corpo de um homem, todo amarrado e o
Oliveira verificou que ele está morto, tem que chamar a polícia. — nem termino de falar, escutamos os
gritos de Oliveira pedindo ajuda.
— Alguém me ajude aqui, ele está vivo.
— Suba Joaquim, leve mais homens,vou providenciar um carro para levá-lo ao hospital.
— Oliveira! Você não disse que ele estava morto?
— Eu o ouvi gemer, me aproximei e toquei seu rosto, ele gemeu
novamente, seu coração está muito fraco, por isso não consegui sentir quando o
toquei. Parece que ele começou a respirar novamente quando eu cheguei perto.
Esse homem, se ele conseguir sair do hospital vivo, vai ser um milagre.
Hospital
Dr. Amarantes
— Enfermeira! O que temos aqui?
— Doutor! Ele foi encontrado por trabalhadores de um prédio,
estava todo acorrentado, a princípio acharam que ele estava morto, mas disseram
que ele gemeu, aíresolveram trazê-lo, mesmo antes que a polícia chegasse, pensaram que talvez
ele não sobreviveria.
— Olhando para ele até eu estou duvidando.
— Ele foi encontrado desacordado, tem ferimentos pelo corpo todo,
já pedi uma radiografia e uma tomografia da cabeça, pelos ferimentos que ele
apresenta, levou uma forte pancada, o sangue está grudado por todo seu corpo.
— Elisa, peça para Júlio vir aqui, temos que tirar essa roupa
imunda e verificar o estado de seu corpo, e já prepare o soro, ele está
desidratado. Mande limpá-lo e agilize logos esses exames não temos tempo a
perder.
— Sim, senhor.
— O estado desse homem me parece bem grave. Quando
chegar às radiografias, leve-me imediatamente.
— Júlio, me ajude a limpar o paciente. Temos que levá-lo o mais
rápido possível para a sala de exame.
— Como uma pessoa faz isso com outro ser humano? Essehomem apanhou muito, seu
rosto está praticamente desfigurado, vamos rezar para que após esses inchaços
sumirem ele consiga ver novamente. Isso se ele sobreviver — diz Júlio.
— Com
licença, Doutor Amarantes.
— Pode
entrar!
— Estão aqui
os exames do desconhecido. Já o coloquei no soro.
—
Muito bem, vamos ver o que esse coitado quebrou.
Tem três costelas quebradas, por pouco não perfurou
seu pulmão, seu braço direito está quebrado, sua perna esquerda foi quebrada.
Vamosver o que diz a tomografia craniana.
—
Aqui está — a enfermeira me entrega.
Pego os exames na mão e começo minha avaliação.
— Ele apresenta um quadro de hematomas intracraniano, causado pelo
acúmulo de sangue dentro do cérebro, por causa das pancadas na cabeça, o caso
dele não é muito grave, ainda bem. Vamos colocar ele em coma
induzido, essa é nossa única opção e vamos rezar para que ele volte do coma com todas suas funções motoras intactas, apesar de estar
com tantas lesões — olho a enfermeira em minha frente. — Euquero deixar ele por um período maior, até todo seu rosto
voltar ao normal para constatarmos que não houve lesões também na sua visão, só
saberemos quando ele acordar. As pessoas com traumatismos cranianos, mesmo não
sendo graves, poderão perder a consciência ou ter sintomas de disfunção cerebral.
— Doutor, será que ele é um criminoso e alguém quis acertar as
contas? Porque no estado que ele chegou, todo sujo e fedendo.
— Não estamos aqui enfermeira para julgar ninguém. Se
ele for ou não uma pessoa ruim, é nosso dever cuidar dele, foi isso que nos
ensinaram na faculdade, você já deveria saber disso e não ficar julgando quem entra
no meu hospital — a repreendo. — Peça para que
o ortopedista veja as fraturas do braço e da perna, devemos fazer a cirurgia
enquanto ele estiver em coma, será muito mais fácil, assim não vai ser
necessário esperar ele acordar, e causar mais dor ao paciente. Eleficará em coma por 48 horas, assim dará tempo do inchaço
de seu rosto melhorar um pouco e o efeito da cirurgia passar.
Com 48 horas o paciente foi retirado do coma, aparentemente não havia nenhum dano no cérebro,
mas só saberíamos com exatidão quando ele acordasse. Os sedativos foram retiradosgradualmente, seu rosto já não estava tão inchado.
Três dias depois
Anthony Guerra
— Olha só! O paciente mais bonito desse hospital acordou. Meu nome
é Elisa, sou a enfermeira que está
cuidando de você. Você consegue falar? Se não conseguir não tem problema, apenas tente balançar um
pouco a cabeça que eu entenderei. Sabe que você nasceu de novo, não é bonitão?
— Onde estou? — minha voz é fraca.
— No hospital de Braga!
— Por favor, me dê água — peço, minha garganta está arranhando.
— Vou molhar apenas seus lábios, você não pode beber nada ainda. Não se mova, porque está
todo enfaixado e não tente mexer muito sua cabeça. Você foi trazido há três dias, seu estado não era muito grave,
felizmente as pancadas que sofreu, não levou você a um trauma mais grave. Após tirar você da sedação, o
médico viu que os danos foram leves. Mas, temos que refazer alguns exames para
saber como está sua coordenação motora, o seu olho esquerdo está muito inchado, vamos esperar ele melhorar para avaliar se sua visão
está boa. Pelo visto sua fala não foi comprometida, você chegou aqui com três
costelas quebradas, por pouco não perfurou seu pulmão. Suaperna esquerda estava com fratura exposta e o braço
quebrado em dois lugares, foi feita cirurgia para colocar tudo no lugar, por um
tempo você não poderá andar, terá fisioterapia, mas penso que não será por
muito tempo. Pode me dizer o que aconteceu?
— Não.
— Pode pelo menos pode me dizer o seu nome?
— Anthony.
— Lindo nome! Combina com você, vou
chamar o médico, já volto. Bem-vindo de volta
bonitão.
A enfermeira que fala mais que tudo sai e eu respiro com
dificuldade. Um tempo depois um homem de brando entra no quarto.
— Boa tarde! Como está se sentindo? — o médico me cumprimenta e
pergunta. Apenas aceno com a cabeça e ele continua. — Sou o Doutor Amarantes,
fui responsável pelo seu atendimento. Aparentemente não houve danos
permanentes, mais teremos que fazer mais
alguns exames para ter certeza, sua perna tinha uma fratura exposta, tivemos
que colocar no lugar e foram colocados alguns pinos, tanto na perna quanto no
seu braço que foi quebrado em dois lugares, mas fora isso, espero que esteja
tudo bem — ele olha uma prancheta. — Vou recomendar que passe por um psicólogo
do hospital, conforme a enfermeira me comunicou, você não deseja falar sobre o
ocorrido, isso é um direito seu, mas eu acho bom falar com alguém e não guardar
isso dentro de você, posso imaginar tudo que passou pelo estado que chegou
aqui, falar com um profissional será muito bom, não precisa falar nada na
primeira consulta, mastente. Bem, volto depois dos seus exames e falaremos, mas, qualquer coisa é só
chamar a enfermeira Elisa.
O médico verifica o soro e sai. Fecho meus olhos, não quero
pensar, apenas dormir, mas acabo lembrando quando acordei aqui...
Ouvi vozes, não parecia
ser daqueles malditos, tentei me mexer mais não consegui, estava numa escuridão
total, nunca fui homem de temer nada, já fiz muita merda na vida, mais essa foi
a pior, senti alguém se aproximar, sei que falou alguma coisa, mas não consegui
entender, depois caí na escuridão novamente.
Lentamente abri meus
olhos, não queria que eles percebessem que eu estava vivo, já que a intenção
deles era acabar com minha vida. Vi que estava num quarto todo branco, tentei
olhar para o lado e vi uma mulher mexendo em alguma coisa. Vi que ela se
assustou quando perguntei onde estava, não imaginaria que estaria num hospital,
o que será que aconteceu? Elesqueriam me matar, porque
vim parar aqui?
Eu fiquei furioso com o relato da enfermeira
de como eu fui encontrado, não consegui me mexer naquele momento e não estava
enxergando direito, minha vista estava embaçada.
Saio de minhas lembranças, voltando o presente com uma questão em
mente. Como vou conseguir voltar para casa e contar o que me aconteceu, eles já
me odiavam, se eu aparecer lá desse jeito vai ser pior. Tenho quetomar uma decisão, se eles
não me acharam até agora, é melhor eu continuar sumido, com certeza o meu pai
já colocou meu irmão no meu lugar, não sou mais necessário.
Ficarei aqui por um tempo e vou usar isso ao meu favor, já
que não tenho lugar algum para ir, além do mais ainda tenho que fazer fisioterapia,
o que com certeza vai ser por uns dois meses, assim eu espero.
Quatro meses depois.
Finalmente estou bem, ainda sinto dores de cabeça, o médico disse
que era normal por causas das pancadas que levei e que por um tempo iria sentir. Receitou-me vários remédios, caso sinta dores pelo corpo e principalmente na
cabeça, no período que eu passei dentro do hospital, fui tratado muito bem,
principalmente pelas enfermeiras, os homens me olhavam com raiva, acho que é
porque mesmo todo quebrado, eu ainda chamava muita atenção.
E isso só me confirmou que mulheres são todas iguais, não pode ver
um homem que já dão em cima, elas nem imaginam que para mim agora, mulher vai
ser apenas meu depósito de esperma, que apenas me darão prazer e nada mais. Eu
aprendi muito bem a minha lição.
Quase todas as noites eu tenho o mesmo pesadelo, toda a cena era
vivida e revivida várias e várias vezes. Em alguns momentos, tinha crises
nervosas, que os médicos não souberam o motivo, tinha dia que eu levantava bem
e em outros acordava muito agitado. Sentia ódio, raiva e queria sair socando
tudo e todos, em um dia, eu não me controlei e acabei quebrando o nariz de um
dos enfermeiros.
E, mesmo passando pelo psicólogo, eu não consegui falar sobre o
assunto, tinha vergonha de expor tudo que aconteceu. Não
quero que ninguém saiba pelo que passei, seria vergonhoso demais. Além de tudo,
não tenho paciência para isso, odeio falar sobre mim, existem coisas que eu
quero manter bem escondido, não vou conseguir falar de algo que vai me
perseguir pelo resto de minha vida, jamais confiarei em outra pessoa.
Agora que saí, não sei para onde irei. Segundo o que me informaram no
hospital, estou numa cidade em Portugal, não faço a menor ideia de como vim
parar aqui, só me lembro de ter tomando alguma bebida que ela me deu ede ter acordado naquele lugar imundo, sendo espancado. Meu
dinheiro todo foi roubado, ainda bem que eu tinha perdido todos os documentos
ou também saberiam quem eu era de verdade e poderiam chantagear minha família,
apanhei mais por não ter dado esse tipo de informações para eles.
Saio andando pela rua, não sei nem por onde começar a andar, não
tenho dinheiro e não poderei me hospedar, isso se esse inferno de lugar tiver
um hotel bom, o que não me parece, sento em um dos bancos numa praça próxima ao
hospital, vejo muita gente assim como eu, sem ter o que fazer, fico por meia
hora e resolvo continuar andando, para num farol e ao olhar para o lado, vejo
uma senhora que quase foi atropelada.
— A senhora se machucou?
— Não! Eu estou
bem, eu não vi o carro.
— Consegue se levantar?
— Você pode me ajudar.
— Sim!
— Pronto! Vou te
ajudar a atravessar, tudo bem?
— Sim, obrigada! Você é um amor, querido.
— Aqui estamos — digo quando já estamos do outro lado. — A senhora
está bem mesmo, posso levá-la até sua casa?
— Se não for incomodar, eu gostaria sim. Não tenho mais tanta força como
antes.
Apoio
seu braço no meu e seguimos em silêncio. Quando chegamos e ela aponta onde
mora, eu falo.
— Está entregue.
— Meurapaz
— diz sem soltar meu braço. — Quero que entre e tome um café comigo, é o meu
modo de agradecer o que fez com essa velha aqui.
— Não é necessário, não poderia ver a senhora quase ser atropelada
e não fazer nada.
— Nada disso, euinsisto em que entre.
— O meu nome é Vanda, e o seu?
— Anthony.
— Eu conheço quase todos dessa pequena cidade, mas não me lembro
de ter visto você por aqui, está de passagem ou moramais afastado da cidade?
— Nenhum e nem outro, eu estive internado por quase quatro meses,
eu tinha acabado de sair do hospital quando a encontrei, ainda não sei o que
irei fazer da vida, vou procurar um emprego e tentar achar algum lugar para
morar, sei que não vai ser fácil, já que eu não conheço essa cidade.
— Eu acho que posso te ajudar com o emprego, se você não se
importar em trabalhar com coisas pesadas, tenho um filho que é dono de armazém
de carga e descarga, tenho certeza que lá terá uma vaga e se não me engano, nos
fundos tem alguns quartos que ele alugaparaos seus funcionários, porque muitos vêm de
outros lugares e muitas vezes não tem lugar para ficar, porque aqui não tem
hotel, apenas pousadas.
— Eu não ligo para isso, eu quero mesmo é trabalhar e ter um lugar
para ficar.
— Então pode ficar aqui até ele chegar, assim vocês conversam e
fica tudo resolvido.
— Muito obrigada! Nem sei como agradecer a ajuda que a senhora está me dando.
— Pode me agradecer sempre vindo ver essa velha aqui, sei que
vocês, osmaisnovos, não gostam de conversar com pessoas velhas, mas eu adoraria que viesse.
— Não se preocupe senhora, eu virei sempre que eu puder e eu não me importo que seja de
idade, se todos os jovens tivessem a sabedoria que os mais velhos têm, talvez
não fizéssemos tantas burradas na vida.
Passei a tarde toda conversando com dona Vanda e quando o seu
filho chegou, ela contou minha historia sobre o hospital e como a ajudei, disse
para ele que eu estava necessitando de um emprego e de um lugar para ficar.
Ele falou que tinha uma vaga e que o cargo era de carregador, que
não teria outro no momento, que também tinha um quarto vago, que não era muito
grande, mas que era mobiliado e que eu só precisava levar minhas coisas que
estaria tudo certo.
Eu não quis contar que eu só tinha as roupas que estavam em meu
corpo, mas parecendo que a senhora Vanda lia a minha mente, ela me entregou
algumas roupas de seu filho, que não serviam mais nele e dois pares de sapatos,
dizendo que quando eu tivesse meu primeiro salário, poderia comprar roupas
novas. Nesse mesmo dia eu fui para o armazém, começar ali, o meu novo futuro. O
que minha família acharia disso? Nãoirei mais ser chamando de irresponsável, já que agora eu
mesmo me sustento.
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Atualizado até capítulo 49
Comments
Creusa.nonato
Nossa! cada capítulo da um livro de tão comprido
2023-12-12
1
Eluiza Dresseno
autora minha querida história maravilhosa que lição de vida mais está faltando fotos dos personagens nós seu leitores gostaríamos de ver foto
2023-10-10
1
Euza Lisboa
Que experiência dolorosa como ensinamento pra se ter um objetivo de sobrevivência.
2023-07-09
0