capítulo 4

Capítulo 4

Lize

Eu não tinha gostado da idéia de ficar na casa do Cassian. Mas, depois das últimas noites, quando houveram tiroteios no meu bairro, achei melhor aceitar, como ele disse, íamos ficar quinze dias juntos, o que seriam desesseis...

Agora... ele não precisava ter me humilhado sobre isso aqui ser melhor do que qualquer lugar que eu já dormi, não era mentira. Mas ele não sabia de tudo que eu já tinha enfrentado sozinha no mundo e sem ajuda. Hoje tinha onde morar... mesmo sendo um lixo de lugar, mas houveram momentos em que dormi na rua... Cassian era um babaca.

Me revirei boa parte da noite, o sofá era super confortável e grande. Parecia me abraçar de tão macio, ele era um cinza claro, com almofadas enormes no encosto. A coberta era quentinha e cheirosa. Ele com certeza tinha sistema de ar condicionado com termostato, porque estava uma temperatura agradável demais para dormir, visto que na rua estava super quente quando chegamos...

*

Acho que fui dormir, já devia estar quase amanhecendo, quando abri meus olhos vi a luz do sol entrando pelo vidro da janela da cozinha mais a frente e a silhueta malhada de Cassian passar da sala para a cozinha. Ele estava só com uma bermuda preta, bem baixa, mostrando os vincos malhados nas laterais da sua barriga. Que tanquinho era aquele... suspirei e Cassian se virou, fechei os olhos imediamente.

- Se está me admirando, fique a vontade - ele brinca

Idiota...

- Não vi nada que pudesse admirar - falo ainda rouca, visto que tinha acabado de acordar.

- Já são quase oito, achei um salão para atender você agora. Enquanto você ajeita seu cabelo, vou comprar uma ou duas malas para você e umas outras coisas... - ele diz

Me sento no sofá e meu estômago ronca, levanto e tiro as remelas dos meus olhos e caminho até a bancada da cozinha. Me sento ali e apoio meus cotovelos no mármore gelado.

Cassian apenas observa e depois coloca uma xícara gigante na minha frente e serve um café bem quente para mim.

A luz do sol no corpo daquele homem, uma hora dessas da manha, só podia ser alguma piada comigo.

- Cuidado para não babar - ele diz bebendo seu café e sentando a minha frente

Droga, ele me pegou olhando de novo...

- Nada que eu nunca tenha visto - falo com desdém.

Ele da um sorriso de leve e ergue as sobrancelhas.

Eu ataco os pãezinhos que tinha ali e coloco mortadela e queijo. O pão tava meio borrachudo, não era de hoje de manha com certeza. Mas já comi coisas muito piores e as vezes até podres... então...

Eu ainda estava mastigando, quando Cassian mandou eu trocar de roupa para sairmos. Avisei a ele novamente, que não devia mandar em mim, eu não era um dos seus cães da polícia.

Ele me levou num salão ali perto, não era nada muito chique, mas nem se comparava aos do meu bairro, que mais pareciam açogueiros... tinha quatro cadeiras de frente aos grandes espelhos, iam de parede a parede, na frente e atrás, desde o meio até o teto.

- Lembre-se cor única, meus pais são conservadores- ele diz baixo no meu ouvido

- Bom dia, como posso ajudar? - a mulher pergunta nos olhando.

Não combinavamos em nada. Ele era alto, devia ter 1,90m de altura e bem forte, já eu, com meus 1,60 de altura e super magricela. Cassin com seu porte militar e eu parecendo mais uma moradora de rua. Eu entendia os olhares maldosos..

- Marquei um horário para minha... - ele faz uma pausa e me olha, forçando um sorriso - futura noiva, marquei em nome de Lize... - a mulher ergue bem de leve as sobrancelhas, surpresa, óbvio!

- Claro, Lize... venha! sente-se aqui! - disse a mulher, devia ser a toda, tinha jeito. Ela era meio rechonchuda, pouca coisa mais alta que eu, seu cabelo era bem curto, mas tinha um franjão na altura do queixo, bem loiro na frente. Seus olhos eram castanhos e suas mãos pequenas.

- Vou resolver as coisas que falei a você. Não esqueça do que eu disse... - Cassian fala e acena para nós, rígido como sempre, ele sai pisando firme do salão

- Então, o que vai ser amada? - a mulher pergunta

- Quero emparelhar a cor, deixar tudo num tom só, vou conhecer os pais dele... são bem conservadores sabe... - falo a olhando pelo espelho, ela estava logo atrás de mim

- Uhum... sei bem! isso que você tentou em seu cabelo não deu certo, porque claramente, tentou em casa... mas eu posso ajeitar aqui! - ela diz se referindo ao meu cabelo ruivo alaranjado, com luzes nas pontas

- Ah não... Cassian me mataria! coloque um loiro escuro, ou castanho - falo

- Querida, vou lhe dizer uma coisa, os pais do meu marido, eram como são seus sogros! Eu não mudei nem fingi, por eles! não poderia passar o resto da minha vida fingindo ser o que não sou para agradar os outros! Além do mais, se ele te ama, vai te aceitar - ela fala

Acontece que eu e Cassian não nos amávamos... Mas ela tinha razão, eu não iria mudar quem eu era para agradar os outros...

- Você tem toda a razão... qual seu nome? - pergunto

- Sempre tenho razão menina! meu nome é Pauline! - ela fala

- Deixa o ruivo bem laranja. Só tira o loiro... nunca gostei mesmo - falo rindo

- Perfeito! - ela fala e sorri

Depois de três horas, lavando, hidratando, cortando e pitando, finalmente ela estava terminando de escovar meu cabelo.

- Prontinho! - ela diz desligando o secador e guardando a escova no seu avental cheio de penduricalhos.

- Uau... você é a melhor! ficou lindo!- falo passando as mãos nos meus cabelos

Assim que termino de falar, Cassian passa pela porta e arregalo os olhos, seu nariz se dilata e a sua boca vira aquela linha fina, de quando ele ficava irritado...

- Lize... - ele diz quase entre os dentes

Meu cabelo parecia pegar fogo, Pauline tinha colocado um ruivo super laranja vibrante. Eu tinha amado, embora me deixasse mais pálida, mas podia ser a falta de vitaminas no meu corpo, devido a má alimentação.

- Amor - falo sorrindo, para o irritar mais

Ele fica mudo, completamente parado e mais rígido do que nunca.

- Deu 300 dólares tudo

Cassian respira fundo e caminha até Pauline, os dois vão até o caixa e ele paga. Ainda não tinha ninguém ali. Nem outras funcionárias, nem clientes, talvez ela nem abrisse pela manhã.

- Tchau querida, precisando é só retornar! - Pauline diz sorrindo

- Obrigada Pauline! volto sim!

- Até mais senhor - Pauline diz o olhando de cima a baixo, com certeza notou que ele era policial

Vamos andando até o carro dele que estava ali perto, Cassian respirava com dificuldade, suas mãos estavam fechadas em punho ao lado do corpo. Resolvi ser prudente e não rir dele, mas tive muita vontade.

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