capítulo 14

Capítulo 14

Lize

Cassian veio andando na minha direção, rígido, sério e muito, muito irritado.

Controlei minha risada, apenas o encarando. Ele apertou um botão na chave do carro e abriu o porta malas. Colocamos as compras em silêncio ali.

Quando entramos no carro, achei que ficaria aquele climão.Ou que iríamos brigar, mas Cassian disse do nada:

- me conte mais sobre você - agora sua voz parecia contida, não vi raiva ali...

O olhei meio perturbada. Achei que tinha o irritado...

- bom, eu... tinha pai e mãe até os treze anos, eles morreram num acidente de carro, eu fui parar num orfanato e fugi, então virei a ladra que você conhece - falo resumindo

- disso eu sei, quero a história longa - ele fala olhando a rua enquanto dirige

- é... seja mais específico, ou vou começar desde a minha primeira lembrança com três anos, quando cai no parque e chorei - falo ele sorri e vejo seus ombros relaxarem um pouco

- ok... me conte sobre o orfanato, quanto te prendemos a primeira vez, falou que eu não tinha idéia do que acontecia nestes lugares, principalmente os orfanatos femininos

Suspirei alto e vi que Cassian ficou rígido novamente.

- é... eu fiquei lá uns dias, não lembro, talvez quase um mês. Era só meninas, e até aí tudo bem. Eu ficava no meu canto, falava com uma ou outra as vezes. Tinha a diretora a coordenadora, nossas professoras... mas aí, a diretora saiu... e entrou um diretor - falo

- não devia ser permitido homens num lugar que é só para meninas - ele diz sério

- também acho... Enfim, um dia uma colega minha de aula, puxou briga comigo, do nada, acho suspeito até hoje. Tenho a impressão que foi coisa dele... Manuel era o nome do diretor, fomos levada até a sua sala. Levamos um esporro, nada demais. Só que ele dispensou Laura, a minha colega e pediu que eu ficasse... - levei uns segundos para voltar a falar - ele levantou da sua cadeira, rondou a minha e sentou a minha frente... - Cassian começou a dirigir mais devagar - ele me elogiou, disse que eu era bonita, que eu já parecia uma mulher

- você só tinha 13 anos, se agora com 19 para 20 ainda parece mais jovem que é, imagina com 13! - ele diz e parecia irritado

- pois é. Não parou por aí... eu estava apavorada apenas com o olhar dele, mas quando ele esticou a mão e tocou meus lábios e foi descendo, eu congelei. Não conseguia me mover, nem respirar. A gota d'água foi quando ele apalpou meu seiø - falo com ânsia de vomito, devido a lembrança - eu corri

- desgraçadø filho da mãe! - Cassian diz e bate no volante com uma mão, me arrancando daquelas memórias horríveis.

- está tudo bem, já passou - falo

- não passou Lize! com quantas mais ele fez isso... quero que me conte tudo! - ele diz em um tom estranho

Chegamos em casa e descarregamos tudo. Cassian estava sério e pensativo. Pegamos uns biscoitos e refrigerante e sentamos na sala. Achei que veríamos tv. Mas não. Cassian disse:

- termine a história

- bom é - fico meio perdida tentando lembrar onde parei - eu saí correndo da sala dele, me tranquei no meu quarto, muito assustada. Chorei por horas... mas minha colega voltou no fim do dia, não Laura. Minha colega de quarto, Marta. Ela me viu naquele estado e perguntou o que houve. Contei tudo a ela. Marta disse para eu contar a coordenadora, que ela iria me ajudar! E foi o que fiz - falo e solto uma risada de indignação

- ela não ajudou, não é? - ele diz e morde um biscoito de chocolate

- não! quando contei a ela, a coordenadora me repreendeu por inventar histórias assim e disse "meu marido não faria tal coisa, sua criança mentirosa". Ali eu soube que estava perdida. Ou fugia ou ele iria fazer algo pior comigo - falo apenas olhando o pacote de biscoitos, queria comer, mas sentia um enjôo horrível com aquelas lembranças

- quero investigar isso Lize... sei que faz anos, mas se esse Manuel ainda trabalhar num destes orfanatos... posso fazer algo - ele diz e olho em seus olhos

- não... não... - falo nervosa

- por que não? não precisa ter medo Lize! homens como ele fazem isso apenas com crianças ou pessoas indefesas!

Minha respiração ficou agitada, meu peito subia e descia e o ar pareceu que não era mais suficiente.

- por... por que faria isso?

Ele me olha confuso, como se minha pergunta não fizesse sentido.

- Deus Lize... sei que temos nossos problemas. Mas eu sou um policial, não um policial perfeito. Mas meu departamento é especializado em roubos e violência contra criança e o adolescente... a tendemos outras coisas também claro, mas esse é nosso foco...

- bom, mas não saberia como ajudar você. Sei apenas o nome dele...

- já está ótimo. Qual era o nome do orfanato que você ficou?

- Lar das crianças abençoadas - falo

Cassian bufa, provavelmente devido ao nome. De abençoadas não tínhamos nada ao cair naquele lugar.

- conte como fugiu - ele pede e bebe quase meio copo de refrigerante de uma vez só

- bom, depois que falei com a coordenadora, fui até meu quarto arrumei minhas coisas numa bolsa que a gente ganhava para carregar os nossos livros e enchi com minhas roupas e uma coberta. Convidei Marta para ir comigo, ela até queria, mas teve medo. Esperei ser de madrugada, me espremi nos corredores, abri a porta principal com um estilete e corri até os muros, depois achei um lugar que desse para escalar e pulei- conto a ele todo o resto, ele não precisou pedir, eu simplesmente falei.

Nunca ninguém perguntou sobre minha vida. Eu tinha conhecido algumas pessoas a longo destes anos, mas não tinha amigos, nem ninguém próximo, sempre quis ser sozinha. Não confiava em ninguém.

Mais populares

Comments

Ilma Matias da Cruz

Ilma Matias da Cruz

tadinha 😢😭😢😭

2025-02-17

0

amor por leitura 📚

amor por leitura 📚

não era 12 anos?

2025-01-26

2

Jamily

Jamily

Bah pensando agr acho q ela nem deve ter ido pra escola e tals

2024-12-29

2

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!