Capítulo 14

Solitária, deitada na cama olhando para o teto, sinto falta do meu amigo Henri. Fico imaginando como ele está, ele era um dos únicos que conseguia me entender e sempre me apoiava. Resolvo descobrir o quarto que ele está, me levanto e coloco meu casaco e vou andando até a porta, abro a porta lentamente e vejo se tem alguém por perto, não vendo ninguém por ali, começo a andar em direção ao posto dos enfermeiros. Procuro nas gavetas alguma pista que me leve até o Henri, encontro uma pasta com o nome dele e vejo que ele está em um andar abaixo do meu, vejo o número do quarto e sigo para o elevador olhando para os lados com medo de que alguém que trabalhe para o Matheus me veja e me proíba a continuar o meu caminho. Chego no andar em que o Henri está e vejo que uma enfermeira sai do quarto dele, espero um pouco e entro no quarto dele. Já quase chorando por não acreditar que finalmente vou conseguir vê-lo, olho para Henri ainda entubado e com máquinas ligadas nele, me dói o coração ver meu melhor amigo assim, começo a chorar e me sento ao seu lado. Mesmo sabendo que talvez ele não escute nada do que estou falando, começo a contar tudo para ele, das coisas que estão acontecendo desde que ele foi “assaltado”. 

-Lia- Quero te ver bom de novo viu?! (Fala com lágrimas nos olhos e soluçando de chorar). Obrigada por ser essa pessoa incrível que apareceu na minha vida, você foi o meu bote salva-vidas quando eu estava me afundando. Não vou descansar até descobrir o que realmente aconteceu com você, meu amigo.

De repente, escuto a voz do Matheus pelo corredor, com medo dele entrar no quarto, me jogo no chão e fico debaixo da cama de Henri. Mas escuto os passos do Matheus se afastando, ainda ofegante me levanto do chão, me despeço do Henri e corro para perto da porta, espero chegar coragem para abrir a porta e correr, da forma que eu posso, até o elevador. Na hora passa um enfermeiro empurrando a maca de um paciente, logo depois dele passar eu saio do quarto e vou até o elevador, mas no caminho, escuto as enfermeiras que estão no posto delas, comentando sobre Matheus está usando o hospital e a minha recuperação como fachada para outra coisa e sobre uma sala de Matheus que fica no subsolo do hospital, e que é proibido a entrada de qualquer pessoa a não ser o mordomo dele. Corro para o elevador e sigo para meu quarto, quando chego no andar que fica o meu quarto, vejo os enfermeiros correndo e papéis espalhados no chão.

-Matheus- QUERO SABER QUEM É O IMBECIL QUE DEIXOU ISSO ACONTECER!!

De longe escuto a voz de Matheus berrando com todos e derrubando tudo que tem pela frente. Já posso imaginar que isso vai sobrar para mim, tento disfarçar, como se não tivesse feito nada demais, com uma cara de quem não está entendendo nada, vou andando e perguntando “o que está acontecendo?”. Chego no meu quarto e Matheus está lá, vasculhando tudo com um de seus capangas, derrubou todas as minhas roupas e as coisas do meu armário. 

-Lia- O que aconteceu aqui Matheus?!

Matheus me olha com tanto ódio...

-Matheus- Como você ainda tem a capacidade de perguntar isso Lia? Onde você estava? (joga um objeto que estava em sua mão e fica esperando a resposta).

-Lia- Calma Matheus, eu estou bem. Só estava cansada de ficar sozinha aqui no quarto e fui procurar você pelo hospital, eu vi pela janela que seu carro ainda estava estacionado no mesmo lugar...

-Matheus- Foi atrás de mim?

-Lia- Para onde eu iria? Não tenho mais ninguém por aqui. Estou cansada de ficar vendo você apenas nos horários que você acha melhor. Pelo que sei, somos casados, não é isso?

-Matheus- Claro que somos casados, você não viu as fotos do nosso casamento? Sua mãe e amiga falando sobre como nós dois éramos felizes...

-Lia- Não estou duvidando Matheus, foi só uma forma de falar. Só quero ir para casa, a casa da minha mãe na verdade, ficar um tempo com ela. Você é tão ocupado, me deixa sozinha por muito tempo.

-Matheus- Hoje eu consegui ficar um tempo com você. 

-Lia- Hoje, mas eu sempre estou aqui presa Matheus. Pelo menos lá eu teria minha mãe.

-Matheus- Ok. Você conseguiu, amanhã vejo sua ida para casa da sua mãe. (Beija a testa de Lia e suspira aliviado). Você me assustou, pensei que tinha ido embora.

-Lia- Eu tenho motivos para fazer isso? 

Matheus começa a sorrir e leva Lia novamente para a cama. 

-Matheus- Você quer que eu fique mais tempo?

-Lia- Seria ótimo. Me fala mais sobre você, não sei muito além de como nos conhecemos.

-Matheus- Sobre mim? O que quer saber?

-Lia- Me conta sobre sua infância.

-Matheus- Não foi como a sua infância, tenha certeza. Foi complicado ser uma criança inocente... (Fica olhando para o nada e pensativo).

-Lia- Matheus?

-Matheus- Desculpa. Então... Minha família sempre foi rica, mas eu quase que o tempo todo ficava sozinho, não ia para a escola, meu pai não queria, estudei em casa com professores. Minha mãe tinha que ficar viajando com o imbecil do meu pai, ele traia e batia nela na minha frente, ela sofreu muito. Até que um dia, ela entrou no meu quarto durante a madrugada, falou que eu era tudo para ela, falou mais algumas coisas e me deu o pingente do colar dela. No dia seguinte, só via os funcionários da mansão chorando, meu pai destruindo tudo por onde passava... Minha mãe apareceu morta em uma caverna que ficava a uns quilômetros da nossa casa, desde então, carrego o pingente que ela me deu antes de morrer. 

-Lia- Que horror Matheus! Eu eu lamento muito... Mas e seu pai?

-Matheus- Depois da morte da minha mãe, eu quase não via o meu pai, sempre viajando e com as amantes dele, sempre trabalhando... Depois ele me colocou em um internato, só sai de lá quando tinha uns 17 anos, foi quando ele morreu e eu assumi os negócios da família. Até você está pronta para me dá um herdeiro. (sorri)

-Lia- Quem sabe, um dia. 

Depois de me contar sobre sua infância, comecei a ver o Matheus de outra forma, vi o lado frágil dele, e comecei a entender o motivo dele ter tanto medo de que eu fuja ou vá embora. Ali mesmo, sentado na cadeira ao lado da minha cama, ele deitou a cabeça nas minhas pernas e acabou dormindo. Fiquei alisando sua cabeça e olhando seu rosto, tão lindo...Ultimamente só tenho medo dele e acabo esquecendo de como ele é um homem tão atraente.

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