Cap 7 Carol

Trouxe o delegado até o lugar que me escondo, ele ficou surpreso. É um quartinho pequeno de dois cômodos e um banheiro minúsculo. Tem um colchão, um frigobar que dentro só tem água e bebidas alcoólicas..., uma bolsa com algumas roupas.

André:_ Então é aqui que fica?..., como consegue?

Carol:_ É só do que preciso...

Ainda tenho mais coisas que muita gente. O dinheiro da venda do meu antigo carro paguei alguns meses de aluguel adiantado e comprei o outro carro bem mais barato, que até agora não sei onde está, só sei que deixei próximo ao club que fui da última vez. E o que minha mãe me deu da última vez que a vi comprei mais bebidas, um pouco de comida, nada de mais...

André:_ Como chegou á esse ponto?

Carol:_ Você sabe..., escolhas ruins..., é o que mereço...

André:_ Você não irá ficar mais aqui...

Carol:_ Não vou voltar pra casa dos meus pais.

André:_ Sei que se quiser pode ter um apartamento mobiliado em qualquer prédio..., por quê insiste em querer isso?

Carol:_ Tô melhor que muita gente...

André:_ Você quer mesmo acabar assim?

Carol:_ Não é o que se quer..., são as consequências..., outro dia vi uma reportagem sobre uma modelo, conhecida internacionalmente, ela foi encontrada em uma favela no Rio de Janeiro em situação de rua e com problemas psiquiátricos..., ela também tinha uma vida boa..., mas escolhas, pessoas..., paixões nos levam a perder o controle...

André:_ Sei disso..., mas o que está querendo dizer com esse exemplo?

Carol:_ Que nem todos sabemos lidar com problemas..., seja ele qual for, dos mais simples aos mais complexos e algumas pessoas escolhem meios mais "fáceis"..., ou só aceitam as consequências...

André:_ Por isso está acabando sua vida em drogas, bebidas..., se expondo?

Carol:_ Não sou uma viciada em drogas..., já usei algumas vezes..., mais do que devia, mas a bebida é meu maior problema. As vezes a gente só quer fugir e esquecer de tudo que nos faça lembrar de uma vida medíocre..., de uma pessoa ou mesmo de um ato, como o que cometi....

André:_ Você se culpa?

Carol:_ Olha pra mim... eu quase ajudei a matar uma mulher e por minha culpa ela perdeu o filho que estava gerando... tem noção disso?..., do peso disso?qualquer pessoa com o mínimo de senso, me odiaria...

Ela senta no chão e começa a chorar..., não vou tentar consola-la, ela precisa lidar com isso..., acho que essa conversa tá fluindo e ela tá enfim falando de como se sente...

André:_ Mas você quis se livrar dela naquele momento..., não é mesmo?

Carol:_ Eu só queria afastar ela..., acreditei naquele cretino, estava cega de amor ou sei lá o quê...

André:_ Quis machuca-la?

Carol:_ Não..., só não pensei que de qualquer forma estaria a machucando..., se imaginasse quem ele era, jamais teria feito aquilo..., sei que, iria tentar outra forma de me enfiar na cama de Henri, mas nunca cometeria um crime... como acabei cometendo...

André:_ Precisa seguir em frente, pagar de outras formas, cumpra sua sentença na justiça e siga sua vida...

Carol:_ Não existe segunda chance para bandidos, não existe perdão para o que fiz..., mesmo se eu fizer isso que você falou, nada irá mudar..., isso não vai trazer o bebê dela de volta..., nem o trauma que fiz ela reviver...

André:_ Por que fala isso? Algumas pessoas dão segundas chanc...

Carol faz um gesto com a mão para me calar..., levanta vai até o frigobar, pega uma garrafa de vodka e vira na boca. Num impulso tomo a garrafa das mãos dela..., ela senta no chão novamente e apoia a cabeça entre os joelhos, está falando com a voz trêmula, mas controlando o choro.

Carol:_ As pessoas são hipócritas, vivem em redes sociais passando uma imagem que não existe..., falam essas frases bonitas de segunda chance, mas na prática..., vão sempre dá um jeito de jogar isso na sua cara quando tiver uma oportunidade... Sabe aqueles casais que alguém trai e depois voltam... nunca mais dá certo... a confiança já era... e na primeira oportunidade a sua traição vai ser jogada no ventilador..., é assim pra qualquer erro...

André:_ Não vamos mais falar disso.Quero que levante daí, pegue as suas coisas, ficará na minha casa.

Carol:_ Não posso... Você é um delegado e eu uma criminosa, as pessoas irão te julgar e quando o seu amigo souber que ta tentando me ajudar...

André:_ Sou adulto, independente e pago meus impostos..., sei o que tô fazendo e o que quero...

Carol:_ E isso... inclui ajudar a criminosa que facilitou um bandido a sequestrar e quase matar a esposa dele e a matar o filho que ele nem chegou a saber da existência enquanto ainda estava vivo?

André:_ Disse que aceitaria a minha ajuda, quero você por perto e fora dos perigos que pode causar a si própria.

Carol levanta, recolhe a bolsa de roupas, os documentos e saímos de lá sem falar mais nada um para o outro. Minha cabeça ta doendo, porque por mais que eu queira negar, ela tem razão, como me coloquei nessa situação: Ter sentimentos pela mulher que quase acabou com a vida e a família de um amigo, ainda se ele não o fosse meu amigo, sou policial, luto contra o crime todos os dias e cá estou eu, apaixonado por uma criminosa. É isso mesmo... apaixonado, querendo protege-la e ajuda-la de todas as formas. Eu só posso ser um grande idiota mesmo.

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***