Bolo de Chocolate

Sair da INT é como ficar presa por anos e pegar preventiva, mas de alguma forma eu gostava de trabalhar lá. Decidi que vou ao velório da Dona Lurdes, apesar do seu excesso de curiosidade sobre a vida alheia, ela era uma boa pessoa, e eu me sinto um pouco culpada pelo que aconteceu com ela.

Meu celular toca:

-Mariah?

-Sim?

-Fiquei sabendo o que aconteceu com sua vizinha, sinto muito.

-Ah, claro que você sabe -uso um tom baixo.

-Tentei ligar para você, mas você não atendeu. Está tudo bem?

-Sim...claro, só estava pensando em ir ao velório. Claro só se você não precisar de mim.

-Pode ir, pegue folga hoje.

-Obrigada coronel.

-Se cuide.

Como eu peguei uma carona no camburão, estou sem o meu carro, o único jeito é chamar um taxi -levanto a mão indicando a direção que desejo ir, então o taxista para e eu entro:

-Bom dia moça, qual é o destino?

-Cemitério das flores.

Após ouvir o nome do local, ele não fala mais nada apenas dirige. De alguma forma foi uma viagem agradável.

-Chegamos -ele diz olhando pelo retrovisor.

-Aqui está, fique com o troco.

-Oh! Muito obrigado.

Saio do taxi e caminho pela extensa estrada cercada de flores. Ao chegar onde aconteceria o velório me deparo com dois funcionários do cemitério com pás nas mãos:

-O que está acontecendo? -pergunto confusa

Um olha para o outro e um decide falar:

-A senhorita é da família dela?

-Não apenas uma conhecida. Vocês podem me explicar, por que não tem ninguém aqui?

-Estamos esperando há horas, mas ninguém apareceu, bem, ninguém além de você. Temos ordens de esperar 10 horas caso passe do horário e nenhum familiar o amigo aparecer, devemos enterrar.

-Então, eu sou a única?

-Sim.

-Podem esperar um pouco? preciso me despedir dela. -digo olhando para o caixão.

-Claro, fique à vontade.

Eles se retiram do local. Eu me sento no banco ao lado do caixão.

-Então Dona Lurdes, a senhora sabe que era muito fofoqueira, né? -eu dou uma risada. Mas eu adorava seu bolo de chocolate, por mais que eu saiba que a intensão era só saber o que acontecia lá em casa. Sei que eu deveria ter agradecido em vida, mas muito obrigada por tudo que fez por mim, posso ter sido mal agradecida e eu sinto muito...muito mesmo, prometo que vou descobrir quem fez isso com a senhora e essa pessoa vai pagar -enxugo as lagrimas que rolam no meu rosto. Pode ficar tranquila que vou cuidar bem do Mike, acho que ele gosta de mim:

-Claro que ele gosta.

Uma moça de cabelos pretos e olhos castanhos entra na tenda:

-Quem é você? -eu pergunto

-Olha meus modos, prazer Liz.

Ela estende a mão para me cumprimentar.

-Um pouco tarde, não acha?

-Sim acho, bem tarde. Mas eu não sabia, minha mãe escondeu a notícia. O cemitério ligou para ela e eu atendi...Minha vó era incrível -lagrimas rolam desesperadamente pelo rosto dela. Por que Mariah? Por que ela...

-Eu sinto muito, mas como você sabe meu nome?

-Ela falava bastante de você. -ela diz desviando os olhos do caixão para mim.

-Como assim?

-Ela me contou que você salvou o Mike quando ele caiu da escada -ela dá um sorriso torto.

-Não foi nada de mais, eu era uma criança.

-Mas para ela foi muito importante. Ela também me contou, o quanto você gostava do bolo de chocolate dela. Mas tem uma história que nunca saiu da minha cabeça, de uma garotinha de 10 anos que perdeu os pais e que ela cuidou dela para que não fosse para o orfanato. Minha mãe dizia que era mentira e que ela estava ficando louca, mas sabe quando você sente que é verdade e... -ela faz uma cara de espanto quando olha para mim -Meu Deus! é você, não é?

Eu continuo olhando para o caixão e só aceno com a cabeça afirmando a conclusão dela.

-Eu sinto muito, pela sua perda.

Ainda com os olhos fixos no caixão eu falo:

-Eu não merecia tudo que ela fez por mim, não mesmo.

-Não foi isso que ela me disse, eu ficava até com ciúmes as vezes -ela da um sorriso fraco -Ela dizia que você era muito forte e inteligente e que tinha certeza que.... quando ela morresse você seria a única a comparecer no velório. Bem parece que ela estava certa-ela abaixa a cabeça.

-Você também está aqui.

-Sim, estou, mas além do motivo principal, eu queria saber se você estaria aqui mesmo. Mariah você cuidou melhor da minha vó do que qualquer um de nós.

Eu desvio os olhos do caixão e me viro para ela:

-Se eu tivesse ''cuidado'' tão bem assim como você está falando, ela não estaria aqui.

-A culpa não foi sua.

-Tem certeza Liz?

Eu me levanto do banco, dou uma ultima olhada para o caixão.

-Você já vai?

-Sim.

-Pega. Meu telefone está anotado atrás do cartão. Se você precisar de mim para qualquer coisa, me liga.

-Você é tecnóloga?

-Sim, não tenho cara? - ela sorri

-Achei interessante só isso.

-Obrigada por vir Mariah.

-Nos vemos.

Eu volto para a estrada esperando um taxi passar. Até que um carro preto para na minha frente.

-Dia ruim, Elizabeth?

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