Feliz Aniversário

O sol da manhã bate nas cortinas do meu quarto, ele é o suficiente para me acordar antes do meu despertador. Me reviro na cama tentando voltar a dormir, mesmo sabendo que não vou conseguir. Depois de tentativas falhas, decido me levantar. Ligo a televisão mesmo não tendo nada de interessante para assistir faço questão de deixá-la ligada. Na cozinha faço uma das escolhas mais difíceis do meu dia: -Ovos ou cereais? Por fim escolho waffles. Me sento na cadeira do balcão da cozinha, ainda não comprei um sofá, meu apartamento é pequeno o suficiente para escutar perfeitamente o que passa na TV. Prestes a dar a primeira mordida no waffle: -Tlinnnnnn-o interfone toca. -Ótimo-Resmungo.

-Senhorita Montes?

-Olá Seu Rodrigo, algum problema? - Rodrigo, é o porteiro do apartamento, ele tem um jeito único de me avisar das reclamações que as vizinhas fazem.

-De forma alguma-diz com a voz exaltada-liguei apenas para comunica-la que sua encomenda acabou de chegar.

-Encomenda?

-Sim, pelo que estou vendo é o nome da senhorita que consta na caixa. Deseja que eu a devolva? -ele pergunta com um tom preocupado.

-Não precisa, já estou descendo, Obrigada.

Desço rapidamente intrigada com a tal caixa, mas logo me lembro que hoje é o meu aniversário, não me julgue! Não gosto muito da data, sabendo disso desço mais tranquila. Chego na portaria onde está Seu Rodrigo com seu sorriso radiante.

-Aqui está-colocando a caixa em cima do balcão.

-Obrigada-agradeço pronta para voltar para o apartamento, mas logo desperto meu extinto investigativo.

-Seu Rodrigo?- chamo sua atenção

-Sim? -ele diz, tirando os olhos do monitor, e os dirigindo para mim.

-Como era esse homem que trouxe a encomenda?

-Ele era alto e vestia o uniforme da empresa de transportes. -ele me responde, dando um gole no seu café fumegante em seguida.

-Tudo bem, Obrigada. -Relaxa, Mariah é apenas um presente de aniversário, você sabia que as pessoas recebem presentes nessa data? -penso.

Ele acena com o copo na mão e volta a seus afazeres. Eu volto para o meu apartamento. Ao chegar coloco a caixa estreita e achatada em cima do balcão da cozinha. É uma caixa muito bonita, roxa, com fitas brancas peroladas. Puxo as fitas delicadamente, e abro a caixa.

-Merda!! -xingo pulando para trás.

Fico tão gelada quanto os waffles que deixei em cima do balcão. -Coragem Mariah, coragem-repito incansavelmente, até perceber que não vai funcionar. Me aproximo da caixa novamente e vejo os dois vestidinhos um rosa e o outro azul, ambos ensanguentados, acompanhados de flores amarelas, diferente dos vestidos, elas estão em perfeito estado e juntamente a elas um cartão. ''Senhorita Montes, espero que tenha gostado do meu presente, foi de coração pode acreditar. A vi observando essas lindas flores amarelas na vitrine, espero que tenha gostado. Um grande abraço. Feliz Aniversário.'' Eu tento me recompor pego minhas coisas, e vou para o Departamento. Chego lá mais rápido do que de costume ou foi apenas a adrenalina que fez parecer tudo mais rápido. Abro a grande e pesada porta , seguro firme a caixa em minhas mãos.

-Layla...Yuri está? -vamos Mariah fique calma.

-Sim, ele está no laboratório. -notando minha expressão de pânico e minha palidez, ela pergunta: - Mariah, você está bem?

-Sim, claro, apenas não dormi muito bem. Foi bom te ver Layla. -me viro e vou para a sala do Yuri.

-Yuri?

-Mariah, entre. – ele diz com entusiasmo- posso ajuda-la?

Mostro para ele os vestidos, ele me olha com cara de espanto.

- Acho que você precisa me explicar isso, Mariah.

-Apareceu esse presentinho- digo com ironia- na portaria do meu apartamento hoje, junto também veio esse cartão e umas flores.

Ele tenta manter a calma para ler o bilhete deixado no cartão e me lança um olhar de remorso.

-Qual é o problema? - pergunto com preocupação.

-Esqueci que era seu aniversário, sinto muito. – ele diz com um olhar triste.

-Jesus, Yuri, eu entrei no seu escritório com uma caixa e dentro dela dois vestidos infantis ensanguentados.

A situação nós faz rir por um momento, mas logo nos olhamos novamente com desespero.

-Certo, eu posso analisar a amostra de sangue dos vestidos. -ele fala os observando com atenção

-Isso pode ser muito bom, podemos saber quem são as vítimas?

-Claro! Já o bilhete ele foi digitalizado por uma gráfica, está com marca d'água '' Flores de Thamburg'' você conhece essa floricultura?

-Só estava de passagem, e achei as flores bonitas.

-Talvez possa ser uma boa ideia você pedir para a Carla ir lá. -ele fala virado de costas para mim concentrado nas primeiras amostras dos vestidos.

-Então, Yuri..... -uso um tom baixo e calmo.

-Mariah, não!

-Vai ser melhor mantermos isso entre nós, você não acha? É muito recente ainda.

Ele para de fazer o que estava fazendo e olha para mim fixamente.

-Mariah, um louco sabe onde você mora, entrega para o porteiro do SEU apartamento uma caixa com dois vestidinhos infantis ensanguentados, um cartão, flores amarelas por que sabia que você havia achado elas bonitas e lhe desejando feliz aniversário, e você me pede sigilo?- ele fala incrédulo

Fico um tempo sem falar nada apenas o observando e mesmo sabendo que ele está coberto de razão eu repondo:

-Sim.

Ele vira de costas de novo.

-Mariah preciso de um tempo para pensar nisso tudo. -ele fala com decepção.

-Yuri, por...

De costas para mim, ele levanta a mão pedindo para que eu parasse de falar. Eu saio do laboratório dele, e vou para a minha sala, mas antes.

-Mariah.

Layla me chama.

-Oi Layla precisa de alguma coisa?

-O coronel Ramos está esperando por você na sua sala.

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