CAPÍTULO 20 – REMORSO

Chegam ao hospital e Cíntia é atendida, Helena estava do lado de fora do quarto esperando aflita por notícias, andando de um lado para o outro. 

Helena: Ai meu deus, eu prometo que se ela ficar bem eu nunca mais na minha vida vou causar nenhuma encrenca! Se bem que isso eu não consigo cumprir... eu prometo... Já sei... Prometo não comer o ravioli do Álvaro por um ano, não melhor seis meses... isso, está prometido, se a Cíntia sair dessa, eu prometo não comer o ravioli do Álvaro por seis meses. – falava sozinha, praticamente implorando aos céus que ela ficasse bem.

Médico: Senhora Roy? Quer entrar para falar com a paciente?

Helena: Eu posso? Como ela está? Foi grave? O que ela teve?

Médico: Calma, pode ficar tranquila, ela teve uma virose, nesse tempo é muito comum acontecer essas coisas.

Helena: Virose? Como assim? Mas, ela vai ficar bem?

Médico: Não se preocupe, ela vai ficar bem, vou deixa-la aqui em observação, mas amanhã darei alta. Você pode entrar para vê-la se quiser.

Helena apenas assentiu com a cabeça e entrou no quarto para vê-la, ela se aproxima da cama e pega sua mão. Ela estava de olhos fechados e com soro na veia. Assim que Helena pega sua mão, ela acorda.

Cíntia: A senhora ainda está aqui?

Helena: Sim, eu queria ter certeza que você estava bem, você deu um susto e tanto na gente.

Cíntia: Me desculpe eu não sei o que houve, acho que comi alguma coisa que não me caiu bem. Vou me arrumar agora mesmo para voltarmos ao restaurante.

Helena: Não pense nisso agora, você precisa descansar, amanhã você vai para casa.

Cíntia: Mas eu preciso trabalhar, não posso ficar aqui, por favor, não posso me dar ao luxo de perder dias de trabalho, preciso do meu salário integral, preciso desse emprego!

Helena: Ei, calma, fique tranquila, você não vai perder seu emprego, muito menos será descontado nada de seu salário. Eu te dou minha palavra.

Cíntia tinha uma tristeza muito grande em seu olhar, as lágrimas caíam de seus olhos sem parar.

Cíntia: Sabe, a senhora é bem legal mesmo, me desculpe pela forma como a tratei antes, a senhora não saiu de perto de mim nenhum segundo, eu sujei seu carro inteiro de vômito. Me desculpe por ter sido tão má com a senhora. Eu aceito seu pedido de trégua e acho que podemos sim ser amigas, eu vou adorar ser amiga da senhora, já que eu não tenho nenhuma.

Helena só conseguia se sentir cada vez pior com as palavras de Cíntia, quem era a malvada ali era ela, quem deveria estar naquele lugar era ela, Helena desaba chorando muito pensando em como tinha sido injusta com a menina. Se sentia um monstro.

Cíntia: Por favor não chore, sabe, vou contar um segredo para a senhora. Um segredo meu e do senhor Álvaro.

Helena: Segredo?

Cíntia: Sim, vou contar como eu conheci o senhor Álvaro. Primeiro a senhora precisa saber sobre mim um pouquinho. Eu moro com minha mãe e um irmãozinho de 10 anos. Tem seis anos que nosso pai saiu de casa e nunca mais voltou, a típica história do cara que sai e diz que vai comprar cigarros e nunca mais volta. 

Helena: Eu sinto muito.

Cíntia: Está tudo bem, ele nunca foi um bom pai, chegava bêbado e agredia minha mãe. Foi melhor assim, quando ele sumiu foi um alívio para gente. Desde que ele foi embora minha mãe se virava para nos manter, ela trabalhava numa pequena fábrica de costura, mas a fábrica faliu, aí ficamos em dificuldade, eu ainda estudava, mas aos trancos e barrancos consegui terminar, e minha mãe fazia bicos de faxina para nos manter. Meu irmão ou estava na escola, ou com uma vizinha que o olhava.

Helena: Nossa, deve ter sido muito difícil para vocês.

Cíntia: Sim, a senhora nem imagina o quanto, aí quando começou apertar de verdade, quando minha mãe já não estava conseguindo mais faxinas com frequência, começou a faltar alimentos dentro de casa, nossa, passamos fome mesmo. Alguns vizinhos nos ajudavam, mas minha mãe não gostava de incomodar. Enfim, um dia eu disse para minha mãe que ia procurar trabalho, e realmente fui, aí quando passei em frente ao centro de distribuição de alimentos, onde os grandes restaurantes fazem suas compras, eu vi que estavam descartando muitos alimentos bons, eu não pensei duas vezes, peguei o máximo de coisas que eu podia para levar para minha casa. Foi aí que eu conheci o senhor Álvaro.

Helena: Ele te viu pegando os alimentos?

Cíntia: Sim, ele ficou me observando, eu fiquei morrendo de vergonha, porém já não tínhamos nada em casa há uns três dias, nessas horas a fome fala mais alto. Ele se aproximou de mim e começamos a conversar, eu contei toda minha história para ele e na mesma hora ele disse que ia me ajudar. No começo eu fiquei desconfiada, mas vi que ele era sincero comigo. Ele me levou até minha casa e ainda comprou várias coisas que faltavam para a gente, na verdade fez uma compra completa pois não tínhamos nada.

Helena: Nossa, ele é incrível mesmo.

Cíntia: Sim dona Helena, ele voltou em casa no dia seguinte e me fez o convite de trabalhar no restaurante com ele, eu aceitei na hora pois estava procurando trabalho. Ele foi um anjo em nossas vidas, por isso eu gosto tanto dele. Eu sei que exagerei com a senhora, eu senti um ciúme besta, eu fiquei com medo de que a senhora pudesse fazer a cabeça dele e me mandar embora, e eu preciso muito desse emprego. Agora nossa situação lá em casa melhorou muito, minha mãe também conseguiu um emprego, e eu até estudo. Faço um curso de administração para poder quem sabe crescer cada vez mais, e se eu perder esse emprego, não vou conseguir dar conta dos meus compromissos.

Helena: Eu não tenho porque fazer isso, fique tranquila.

Cíntia: Me sinto envergonhada em ter agido daquela forma com a senhora, hoje quando disse que poderíamos ser amigas, eu me senti uma bruxa, na verdade acho que confundi meus sentimentos com o senhor Álvaro, ele foi nosso salvador, e eu sou imensamente grata por ele, e aí acho misturei as coisas, eu sei o quanto ele te ama, nunca duvide disso, me desculpe de verdade. 

Helena: Você não tem que me pedir desculpas por nada, não se preocupe.

Cíntia: Tem mais, eu preciso confessar, na verdade acho que a senhora já sabe, mas quero que me desculpe pelo que fiz. Eu triturei muitas pimentas propositalmente e coloquei em seu sanduíche. Queria que passasse muito mal, peço desculpas por isso, pois foi muito imaturo da minha parte, por favor me perdoe.

Helena não conseguia falar nada, somente chorava muito. Aquela menina não era a sonsa que ela pensara. Se sentiu o pior dos seres humanos tentando prejudicar somente uma menina. Ela decidiu abrir seu coração, já que Cíntia havia feito o mesmo.

Helena: Sabe Cíntia, na verdade eu é que peço desculpas, você está aqui por minha causa, eu é que sou uma bruxa, sou uma ridícula como você mesma me disse uma vez. Eu coloquei laxante em seu copo de suco, e dei para você beber, eu só não entendo porque o médico disse que você teve uma virose.

Cíntia: Porque realmente foi uma virose! Eu vi a senhora colocando laxante no meu suco. A senhora não viu que quando peguei o copo, eu coloquei primeiro no balcão atrás de mim? Eu troquei os copos, peguei um já cheio que estava lá e tomei. A senhora não teve culpa nenhuma, e para falar a verdade eu bem que merecia, pois te desrespeitei, e merecia um castigo.

Helena: Não fala isso, então quer dizer que você viu tudo? Você não sabe o alívio que eu sinto de te ouvir falando isso. Me perdoe por favor, você não sabe como me arrependi. Me desculpe.

Cíntia: Não se preocupe, estamos quites, empatamos, e nenhuma das duas conseguiu executar seu plano! Não sabemos executar maldade direito!

Helena: Ainda bem! Olha, da minha parte, o que eu te disse para sermos amigas está de pé. Vamos zerar nossas diferenças e começar de novo. Aliás eu sei que não é o momento, mas se eu fosse você eu começaria a olhar o Gabriel com outros olhos viu. Eu notei que ele arrasta um bonde por você.

Cíntia: A senhora acha? – diz muito vermelha de vergonha.

Helena: Sim, tenho certeza, você deveria se aproximar dele, e eu nem falo isso com ciúme do Álvaro não, eu falo porque eu vi como ele te olha. Bom, eu preciso ir e você precisa descansar, pode ficar tranquila que agora esse será nosso segredo, e de minha parte eu prometo que vou me empenhar para sermos boas amigas. Agora descanse, e quando você tiver alta, eu mesma venho te buscar para leva-la para casa.

Cíntia: Não se incomode, não quero dar trabalho.

Helena: Está decidido. Descanse, até mais Cíntia.

Cíntia: Obrigada por hoje dona Helena, e me desculpe por tudo. Boa noite.

Helena sorri para ela ainda com um peso no coração. Ela sai do hospital, entra em seu carro, se debruça em cima do volante e começa a chorar compulsivamente.

Só depois de muito tempo é que liga para Álvaro avisando que estava tudo bem, e que iria direto para casa dele, naquela noite precisava ficar com ele.

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Comments

Eliza Castro / Beth

Eliza Castro / Beth

que momento revelador,

2024-02-07

2

Maria Alves

Maria Alves

Mal nunca se paga outro.

2023-12-28

1

flor bela

flor bela

essas duas são bem parecidas

2023-11-07

3

Ver todos

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