CAPÍTULO 12 – REENCONTRO

Quarta-feira, nove da manhã, Helena entra no escritório e bate à porta da sala de Felipe. Ele a olha espantado, como se não estivesse enxergando direito.

Felipe: Onde você se meteu Helena? Você evaporou.

Helena: Eu precisava de um tempo, eu sei que fui muito antiprofissional e egoísta, mas eu precisava de um tempo para colocar minha cabeça em ordem.

Felipe: Mas você está bem? Aconteceu alguma coisa? Seu irmão esteve aqui louco atrás de você, e ninguém sabia de nada, um amigo seu também veio aqui, acho que era Álvaro o nome dele, ele apareceu aqui por duas vezes, mas depois não voltou mais.

Helena: Não se preocupe, eu coloquei minha cabeça no lugar e percebi algumas coisas, vou direto ao assunto, a primeira é que eu quero te vender minha parte da imobiliária, eu não quero mais fazer isso, eu percebi que fiz só para mostrar ao meu pai que eu podia crescer, eu queria a admiração dele, o que nunca aconteceu, então quero saber se quer comprar a minha parte.

Felipe: Mas eu não sei se eu teria como comprar sua parte, somos a maior do país, lidamos com cifras milionárias. Essa imobiliária vale muito e você sabe. Temos contratos milionários.

Helena: Não se preocupe, vou facilitar muito a venda da minha parte para você, eu sei com quem trabalhei todo esse tempo e mais do que ninguém você merece isso aqui, não seria justo vender minha parte para alguém de fora, você deu seu sangue para levantarmos juntos esse lugar.

Felipe: Nem sei o que te dizer, eu aceito claro, você nos causou um problema e tanto sumindo, pois alguns clientes só negociavam com você, mas nos saímos bem. Vou sentir sua falta me chamando de cretino e me mandando a merda.

Eles riram, Helena estava muito calma e tinha certeza de sua decisão, não ficou triste em nenhum momento.

Helena: Minha outra decisão é que venda a minha casa. Para qualquer um, quem oferecer mais, pode vender.

Felipe: Como assim? E o papo de escolher a dedo o comprador ideal?

Helena: Percebi que não faz sentido, eu inventava desculpas para não vender a casa, me sentia presa ao passado pois, naquele tempo em que era criança, eu tinha o afeto dos meus pais, então eu tinha dificuldade de me livrar da casa porque me livrando dela, me livraria também dessa época que eu era aceita, e de certa forma é tudo o que eu tinha deles. Hoje em dia quase não temos contato. Eu sei que não sou a pessoa mais fácil do mundo, mas não fiz nada demais para não merecer o afeto deles.

Felipe: Entendo, e se é sua vontade, eu venderei. Na verdade, nesse ano em que ficou fora, apareceram 4 compradores, mas como não consegui te localizar não pude fazer nada. Mas dessa vez será fácil.

Helena: Ótimo, eu aguardo notícias suas então. Devo avisar que estou me desligando daqui imediatamente, e todo o trâmite será realizado pelo meu advogado, mas não se preocupe, porque da minha parte você não terá problema algum.

Felipe se levanta e abraça Helena calorosamente, ela era impulsiva, mas era também uma mulher inteligente e que fazia seu trabalho com muita eficiência, sabia também que sua implicância com ele era da boca para fora.

Helena se despede com o coração leve. Decide ir ao supermercado fazer compras, seu armário estava vazio pois havia jogado tudo fora por causa da data de validade. Ela passeava com seu carrinho de compras por entre os corredores, quando seu coração para, quase sai pela boca. Era ele. Estava de barba, um pouco mais magro, mas era ele. Álvaro continuava lindo. Ela estava paralisada no mesmo lugar, não sabia o que fazer, só sabia que dessa vez não fugiria novamente. Não demora nada e ele percebe sua presença também. Os dois ficam se olhando por um longo tempo antes de se aproximarem. Ela toma a iniciativa e vai até ele.

Helena: Oi

Álvaro: Oi

Helena: Como você está?

Álvaro: Como você está? 

Falam os dois ao mesmo tempo ainda muito sem jeito um com o outro. Riem timidamente.

Álvaro: Por onde andou esse tempo todo?

Helena: Eu fiz uma viagem, conheci alguns lugares do mundo, é claro que ainda faltam muitos países, mas já é um começo.

Álvaro: E quando você voltou?

Helena: Antes de ontem. Fiquei um ano fora.

Álvaro: Eu fui atrás de você na imobiliária acho que duas vezes, mas ninguém sabia de você, depois de um tempo desisti.

Helena ouve aquilo como uma sentença. Álvaro havia desistido dela, não tinha mais volta.

Helena: E você e Louise? 

Álvaro: Não te devo satisfação, você não acreditou em mim há um ano atrás, não tem porque falar disso agora.

Helena: Me desculpe, você tem razão. Foi bom te ver, eu preciso ir, adeus. – falou muito sem graça pois sabia que merecia o coice.

Helena não o esperou responder, se virou e foi para o caixa do supermercado, ela ainda não havia comprado tudo o que precisava, mas por hora estava bom. Dizia para si mesma que não estava fugindo novamente afinal ela que havia tomado a iniciativa de falar com ele.

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