Fomos conduzidos pelo extenso corredor do castelo, cuja grandiosidade era de tirar o fôlego. O teto alto e abobadado ampliava ainda mais a sensação de imponência, enquanto as paredes eram adornadas com magníficas pinturas da família real, retratando gerações de monarcas com expressões altivas e imponentes. Quadros de molduras douradas exibiam cenas de batalhas heroicas e momentos de glória do reino.
Um tapete vermelho entrelaçado com fios prateados se estendia por todo o comprimento do corredor. Candelabros de prata ornamentavam as paredes, refletindo a luz bruxuleante das chamas e criando sombras dançantes que davam ainda mais vida à decoração.
Ao adentrarmos a sala do trono, a grandiosidade do ambiente se revelou por completo. O salão era vasto, com janelas imensas que permitiam a entrada generosa da luz do dia, banhando o espaço em um brilho suave e dourado. Pilares arredondados, habilmente esculpidos com desenhos em alto-relevo, conduziam o olhar até uma plataforma elevada por três degraus, onde repousavam dois tronos imponentes, forjados em prata reluzente.
No maior deles, o rei estava sentado. Ele trajava um elegante conjunto negro, enriquecido por detalhes azulados e prateados que ressaltavam sua postura régia. Suas botas de couro preto eram visivelmente de alta qualidade, polidas a ponto de refletirem a luz ambiente. Sobre sua cabeça repousava uma coroa de ouro adornada com rubis cintilantes, cuja tonalidade carmesim contrastava com seus cabelos negros de reflexos azulados, que caíam suavemente sobre sua testa. Seus olhos esverdeados, profundos e serenos, transmitiam uma autoridade incontestável, mas também uma calma calculada. A barba bem aparada acrescentava um ar maduro e respeitável à sua aparência, que sugeria um homem na casa dos trinta anos, imponente e inabalável em seu trono.
Apesar de toda a riqueza ao seu redor, o rei não ostentava joias luxuosas como muitos nobres faziam. Não havia colares pesados de ouro, braceletes cravejados de pedras preciosas ou anéis ostentosos em cada dedo. Sua escolha discreta sugeria que ele valorizava a simplicidade mais do que a ostentação.
O guarda que nos guiava fez uma reverência ao rei, que respondeu com um leve aceno de cabeça. Em seguida, o guarda se posicionou ao lado, mantendo-se firme e atento. O olhar do rei então recaiu sobre mim, e tanto eu quanto Dante nos curvamos em um gesto respeitoso. Assim que ergui a cabeça, ele falou:
— Então... uma Elunari!
— Sim, majestade. Meu nome é Sylwen, e este é meu amigo Dante — respondi com calma.
— E o que a traz ao meu reino?
— Sei que vossa majestade tem uma Elunari como serva.
O rei franziu ligeiramente a testa, pensativo. Por um momento, pareceu hesitar, mas logo suspirou e sorriu ao se lembrar.
— Ah... Refere-se a Lyss?
Uma pontada de indignação me atravessou ao ouvir a forma como ele a mencionava. Não havia formalidade, apenas uma familiaridade que parecia íntima demais para um rei e sua serva. No entanto, me controlei e mantive a compostura.
— Exatamente, Lyssia. Gostaria de saber se posso falar com ela.
O rei ergueu as sobrancelhas, como se minha pergunta fosse inusitada, e então respondeu com naturalidade:
— Claro, claro! Pode falar com ela... Kaio os levará até ela.
Kaio?
O soldado que nos guiara anteriormente assentiu diante da ordem do rei e então se aproximou.
— Me acompanhem, por favor — disse ele, com profissionalismo.
O guarda passou por nós, e, sentindo-me um pouco surpresa com toda a situação, fiz uma última reverência ao rei em agradecimento antes de segui-lo. Algo naquela interação parecia estranho. O rei sabia o nome de seus soldados e se referia a Lyssia como Lyss, como se fossem velhos amigos. Isso não era o tipo de comportamento que eu esperava de um monarca.
De qualquer forma, senti um alívio pelo rei não ter exigido minha afiliação. Era estranho, considerando que ter duas Elunaris sob seu comando seria extremamente valioso para ele. Ainda assim, decidi não me aprofundar nessa questão.
Dante, por outro lado, não parava de me observar, e eu já sabia o que isso significava. Assim que tivéssemos um momento a sós, ele me bombardearia com perguntas.
Kaio nos guiou pelos corredores até pararmos diante de um lugar que mais parecia uma casa dentro do próprio castelo. As paredes eram de madeira envernizada, e o ambiente possuía dois andares. No térreo, uma lareira de pedra acesa espalhava um calor confortável, tornando o espaço acolhedor. Diante dela, um tapete felpudo e branco contrastava com um sofá de tecido azul-escuro. Logo ao lado uma poltrona confortável, exibia as mesmas cores do sofá. Em um dos cantos, uma prateleira recheada de livros. Uma escada bem trabalhada, de degraus de madeira polida e corrimão detalhado, fazia uma leve curva em direção ao segundo andar.
Kaio fez uma breve reverência e seguiu seu caminho, deixando-nos ali. Demos alguns passos para dentro do local e então, subi as escadas.
No andar superior. Pequenos vasos de plantas aromáticas estavam dispostos em prateleiras de madeira, espalhando um perfume suave pelo ar. Frascos de vidro contendo líquidos de cores variadas estavam organizados metodicamente, cada um possivelmente guardando misturas de diferentes efeitos. À luz bruxuleante dos castiçais fixados nas paredes.
Lyssia estava sentada de costas para mim, concentrada em seu trabalho. Ela mexia cuidadosamente uma poção dentro de um pequeno frasco, alheia à nossa presença. Vestia um longo vestido bege de mangas compridas, simples, mas elegante em sua discrição. Seus cabelos rosados estavam presos em um rabo de cavalo longo e bem alinhado, que caía suavemente pelas costas. Suas asas, translúcidas e delicadas, brilhavam suavemente sob a iluminação, refletindo um brilho singelo conforme repousavam contra o chão.
Com um tom baixo, chamei por ela:
— Lyssia...
Ela se virou imediatamente, e assim que ela me viu, percebi um brilho diferente em seus olhos esverdeados, uma mistura de felicidade e saudade. Sem hesitar, ela se levantou e, em um gesto espontâneo, me envolveu em um abraço apertado. Retribuí de imediato. Quando nos afastamos, um sorriso radiante iluminou seu rosto.
— Sy-Sy! Quanto tempo, minha querida! Senti tanta saudade! — Disse ela, segurando minhas mãos com carinho.
— Eu também senti saudade, Lyss.
Ela abriu um sorriso satisfeito.
— Que bom que veio me visitar!
Seu olhar então se desviou para Dante, analisando-o com curiosidade. Em seguida, ela se inclinou levemente para mim e cochichou com um ar travesso:
— Quem é ele, Sy-Sy...? Seu namorado?
Senti meu rosto esquentar no mesmo instante.
— O quê? Não! — me apressei em responder, tentando manter a compostura. — Ele é meu amigo. O Dante.
Ela arqueou uma sobrancelha, claramente duvidando da minha resposta, mas não insistiu.
— Certo... — disse, deixando um sorrisinho divertido escapar.
Antes que eu pudesse rebater, ela voltou sua atenção para mim com um olhar mais sério.
— Mas me conte tudo, como estão as coisas em Aurelith?
Meu semblante mudou, e a alegria do reencontro foi substituída por um peso silencioso.
— Na verdade, é por isso que eu vim...
Ela notou a tristeza em meu olhar, e sua expressão se tornou imediatamente mais séria.
— Bem... então por que não me conta tudo? Vou preparar um chá para nós.
Apenas assenti, sentindo um nó na garganta. Depois que o chá ficou pronto, nos acomodamos na sala. Dante sentou-se ao meu lado no sofá, enquanto Lyssia tomou lugar na poltrona à nossa frente, nos observando com atenção. O aroma suave do chá preenchia o ambiente, trazendo um conforto quase ilusório diante do peso da conversa que estava por vir.
Expliquei tudo a Lyssia, desde a acusação injusta, os três meses terríveis que passei sozinha. Falei sobre como conheci Dante, as informações perturbadoras que Malrik me trouxe e a ideia de achar uma cura. Ela permaneceu em silêncio o tempo todo, apenas ouvindo atentamente, seus olhos absorvendo cada detalhe. Quando terminei, ela se recostou na poltrona, tomou um gole generoso do chá e, após um breve suspiro, disse:
— Agora entendo por que sinto meus poderes mais fracos… Mas pensei que fosse apenas por estar tanto tempo longe de Orinthar.
Abaixei o olhar e levei a xícara aos lábios, tentando dissipar o nó que se formava em minha garganta. Reviver tudo aquilo era doloroso, reabrindo feridas que eu tentava manter fechadas.
— Mas, Sy-Sy… — Lyssia continuou, franzindo a testa. — Não faz sentido nenhum você ser acusada de envenenar Orinthar. Logo você?
Soltei uma risada amarga e balancei a cabeça.
— Bem… Você é a única que pensa assim.
Ao meu lado, Dante pigarreou alto. Virei o rosto para ele, e seus olhos me encararam de um jeito que quase dizia "e eu?". Suspirei e corrigi:
— Claro, você também.
Ele sorriu satisfeito.
— Drakion e Malrik também sabem que não fui eu — continuei. — Mas eles ainda parecem céticos quanto a isso… Como se quisessem acreditar, mas não pudessem se dar ao luxo de confiar totalmente.
Lyssia assentiu devagar, mordendo levemente o lábio inferior, pensativa.
— E você quer achar a cura para, enfim, provar sua inocência? — Lyssia perguntou, a voz cheia de compreensão e preocupação.
— Isso mesmo, se você permitir, podemos procurar por uma cura na biblioteca de Elarian. Tenho certeza de que lá podemos encontrar algo que nos ajude! — respondi com um pouco mais de esperança, já visualizando o caminho à frente.
Lyssia suspirou e repousou a xícara em seu colo, ainda a segurando entre os dedos, como se a bebida quente fosse sua única ancoragem no momento. Ela me olhou com um sorriso cansado.
— Bem, acredito que provavelmente deva haver algo... mas já aviso, serão horas e mais horas de estudo!
— Tudo bem, estou disposta a isso! — falei com determinação.
— Nós estamos. — Afirmou Dante.
Olhei para ele e sorri, aliviada por sua companhia constante. Lyssia olhou para nós dois, avaliando-nos com um sorriso gentil, e então disse:
— Bem, posso, sim, ajudar vocês. Terão a biblioteca inteira à disposição, mas acredito que estejam cansados da viagem. Que tal descansarem um pouco primeiro?
Fiz uma leve careta, tentando esconder o cansaço acumulado da jornada.
— Isso seria bom, e um banho também — falei descontraída.
— Terão tudo isso — respondeu Lyssia, se levantando e colocando a xícara sobre a mesinha ao lado. — Vou levá-los até o quarto de vocês, me sigam.
Lyssia nos conduziu até o andar superior do palácio, ao chegarmos, ela abriu duas portas grandes de madeira envernizada que nos levaram a um quarto amplo e acolhedor.
Em um dos cantos, uma lareira esculpida em mármore branco dominava a parede, sua superfície polida. Diante dela, duas poltronas estofadas em tecido branco estavam dispostas lado a lado, convidativas e elegantes. Um tapete felpudo azul cobria boa parte do piso de madeira envernizada. Nas paredes, castiçais com velas acesas iluminavam delicadamente o quarto, criando um brilho suave. O quarto possuía quatro janelas, grandes e generosas. Com cortinas brancas que balançavam suavemente com a brisa. Uma delas, em particular, era uma porta de vidro que levava a uma sacada. No outro canto, entre duas janelas, tinha uma cama de casal, uma colcha azul claro estendia-se perfeitamente sobre o colchão, convidativa e elegante.
— Vem comigo, Sy-Sy — disse Lyssia, com um sorriso gentil.
A segui até o interior do quarto, onde uma porta menor se destacava. Ela a abriu, revelando um banheiro que parecia tão luxuoso quanto o quarto. O lavabo era de mármore branco, com uma pia perfeitamente esculpida, e logo acima dela, um espelho arredondado refletia a luz suave das velas do quarto. No centro, tinha uma banheira elegante .
— Quer ver algo legal?
Assenti, curiosa, mantendo o olhar em Lyssia. Ela caminhou até uma prateleira e pegou um pequeno frasco de vidro, que continha um líquido transparente. Sem dizer nada, inclinou-o sobre a banheira, e eu esperava que apenas algumas gotas caíssem. No entanto, para minha surpresa, o líquido não cessava. Uma cascata incessante fluía do frasco, como se fosse inesgotável.
Foi então que percebi: era simplesmente água quente, mas a forma como ela jorrava sem fim me deixou perplexa. O vapor começou a se espalhar pelo banheiro, envolvendo tudo em uma névoa reconfortante. Quando a banheira finalmente se encheu, Lyssia tampou o frasco e o colocou de volta na prateleira. Ele continuava tão cheio quanto antes.
— Mas o quê? — Exclamei, boquiaberta.
Lyssia sorriu, divertida com minha reação.
— É uma engenhoca de Zofes, o inventor real. Esse frasco é encantado… Qualquer coisa que você colocar dentro dele se torna infinita e duradoura.
— Nossa! — Pisquei, ainda assimilando a ideia. — Mas usar um feitiço desse nível só para água de banho?
Soltei uma risada pelo nariz, e ela me acompanhou, dando de ombros.
— Eu sei, parece bobo. Mas a água quente é só um teste... Zofes ainda está aperfeiçoando a magia. Se tentamos aplicá-la em outro material que não seja vidro… ou em um recipiente maior, não funciona.
— Entendi… E esse Zofes é…?
— Humano — completou Lyssia. Seu tom carregava um toque de admiração. — Sim! Eles são bem interessantes, não acha?
Virei o rosto, refletindo por um instante.
— Até que são… curiosos…
Era fascinante pensar que uma raça sem nenhuma afinidade natural com a magia fosse capaz de criar algo tão impressionante. O frasco encantado era uma prova de que, mesmo sem poderes inatos, os humanos encontravam maneiras engenhosas de desafiar os limites do possível.
— Ele criou isso recentemente, mas tenho certeza de que logo encontrará um jeito de melhorar. — Lyssia acrescentou, confiante.
Assenti, impressionada. Então, Lyssia apontou para uma bancada ao lado.
— Ali tem toalhas, e eu vou trazer roupas limpas para você.
Suspirei aliviada.
— Obrigada, Lyss.
— Não precisa agradecer. Não demoro!
Ela saiu do banheiro, fechando a porta atrás de si, e eu finalmente me senti mais à vontade. Olhei ao redor e vi vários frascos com óleos e cremes dispostos sobre prateleiras. Peguei alguns e os deixei mais perto da água quente.
Comecei a tirar a roupa, sentindo o peso do dia e da viagem começando a se dissipar, mas, por um momento, hesitei. Pensei em ver se Dante estava bem. No entanto, logo percebi que, provavelmente, Lyssia o tinha levado para o quarto dele. Dei de ombros, afastando qualquer preocupação, e então continuei a me despir.
Desliguei a torneira e entrei lentamente na banheira. O calor da água morna se espalhou pelo meu corpo, e logo senti meus músculos se relaxarem, como se a tensão acumulada tivesse finalmente se dissolvido.
Peguei o creme espumante e passei nos cabelos e pelo corpo. Sua textura era diferente do que eu estava acostumada, mais densa, mas o cheiro era delicioso, uma mistura cítrica refrescante que logo invadiu meus sentidos. Enquanto espalhava o creme pelos fios e sentia as pontas dos meus dedos deslizando pelos cabelos, minha mente começou a vagar.
Agora, estava um passo mais perto de encontrar a cura, embora a pesquisa ainda nem tivesse começado. O pensamento me dava uma sensação de alívio, como se o objetivo finalmente estivesse à vista. Malrik não apareceu ao meu encontro, mas imaginei que ele estivesse ocupado com seus afazeres reais. Drakion, por outro lado, provavelmente já havia informado a ele que estou viva, e isso de alguma forma me dava um pouco de paz.
Decidi aproveitar aquele momento de tranquilidade e relaxar um pouco mais na banheira, permitindo que a água morna envolvesse meu corpo e acalmasse a mente. A pressão das responsabilidades, das expectativas e das decisões que logo precisariam ser tomadas, podia esperar um pouco. Eu precisava daquele tempo, nem que fosse só por alguns minutos, para simplesmente desligar e respirar profundamente.
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Atualizado até capítulo 58
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