Há 80 anos...
— Bem-vindos todos à final da Centésima Olimpíada de Aurelith! — A voz de Aldarion ecoou pelo imenso Anfiteatro, reverberando nas paredes de pedra, preenchendo cada canto do espaço com uma energia vibrante.
Eu me encontrava logo abaixo da arena, esperando a minha vez de entrar. A cada palavra que meu pai proferia no alto, sentia o eco de sua voz reverberando no ar, enquanto eu ajustava cuidadosamente minhas botas de couro, apertando-as até que ficassem bem presas. Usava uma calça de couro marrom que se ajustava ao corpo, uma camiseta branca de manga curta e por cima, um corpete de couro escuro que moldava minha silhueta. Meu cabelo estava preso em um alto rabo de cavalo. Também usava a pulseira de ametista que foi um presente de Drakion, ela tinha se tornado meu amuleto da sorte.
— Está pronta para mais uma vitória? — A voz de Nyxa soou logo à minha frente, arrancando-me de meus pensamentos.
— Bem, vou tentar. — Respondi com um sorriso, tentando esconder a pressão que começava a crescer no peito.
— Sempre tão modesta. — Drakion apareceu então, seu sorriso malicioso típico estampado no rosto. — Só estamos na final por causa de você, Sylwen.
— Não digam isso. — Retruquei, balançando a cabeça com firmeza. — Somos um time. Se chegamos à final, foi pelo esforço de todos nós. — Minha voz estava séria.
— Mas todos sabem que você é a Elunari mais habilidosa de Aurelith. — A voz suave de Aryn surgiu por trás de mim.
— Ah, gente, já disse! Tudo faz parte do trabalho em grupo. — Sorri, tentando suavizar o momento.
As Olimpíadas de Aurelith eram um dos eventos mais prestigiados e aguardados do reino, uma tradição que se perpetuava por gerações. Somente jovens Elunaris que já haviam se formado podiam se inscrever. O evento ocorria uma vez a cada cem anos, o que lhe conferia ainda mais prestígio. Era uma oportunidade única de provar a força, habilidade e destreza dos participantes, e os vencedores conquistavam um lugar na história de Aurelith.
Se alguém se inscrevesse uma vez, ficaria automaticamente impedido de participar novamente, independentemente do resultado. Isso tornava as Olimpíadas ainda mais acirradas, elevando o nível da competição e tornando a vitória um feito ainda mais grandioso e cobiçado.
No total, havia dez times, cada um formado por quatro integrantes. As provas eram realizadas uma vez por mês, variando em seu formato: desafios de resistência, combates com espadas com regras simples, voos, corridas e até provas de natação. Muitas levando dias ou até semanas para serem concluídas. A exigência física e mental das tarefas era grande, e a paciência de todos era testada ao longo do tempo. Era um ano inteiro de dedicação intensa, onde o esforço e o trabalho em equipe eram essenciais para alcançar a tão sonhada final.
Chegar à final das Olimpíadas era uma honra imensa, um reconhecimento da habilidade, do sacrifício e da união do time. E agora, ali, com meus amigos, eu estava prestes a viver esse momento. Um ano atrás, quando decidimos nos inscrever, eu pensava que fosse loucura. Como um time tão inexperiente poderia competir contra os melhores de Aurelith? Mas agora, diante da grandiosidade do evento, sentia-me de certa forma especial, como se aquele fosse o meu destino, o culminar de um esforço coletivo e pessoal que estava prestes a se concretizar.
— Muito bem! — Disse Nyxa, sua voz vibrante de entusiasmo. — Está na hora!
Ela estendeu a mão à frente, o olhar firme e determinado, como se quisesse transmitir toda a confiança que sentia. Então, com um sorriso confiável, ela perguntou:
— Estão prontos para vencer?
Nos olhamos rapidamente, cada um absorvendo a energia que ela emanava. A presença de Nyxa sempre tinha o poder de nos motivar. Drakion foi o primeiro a reagir. Ele colocou a mão em cima da dela, os olhos brilhando com a certeza da vitória.
— Eu estou! — Disse ele, com uma confiança inabalável.
Aryn, sempre sereno, seguiu o gesto, colocando sua mão sobre as de Nyxa e Drakion, seus olhos cintilando com a mesma determinação.
— Vamos arrasar! — Exclamou, seu sorriso doce e otimista contagiando a todos.
Eu observei meus amigos com um sentimento de orgulho profundo. Sentia que, juntos, éramos imparáveis. Então, coloquei minha mão sobre a deles, unindo-nos em um só movimento.
— Vamos dar o nosso melhor! — Falei, com a voz firme, mas cheia de emoção.
Todos sorriram, o espírito de equipe mais forte do que nunca, e Nyxa, com um brilho nos olhos, nos conduziu ao momento final.
— No três — disse ela, sua voz agora mais grave, como um comando.
Juntos, com um único coração e uma só alma, todos respondemos em uníssono:
— Um... dois... três... Rumo a vitória, Guardiões Celestiais! — Exclamamos, erguendo as mãos para o alto em um gesto de união e força.
O nervosismo misturado com a excitação era palpável, enquanto esperava o anuncio para entrar no anfiteatro, mas eu tentava manter a compostura, focando no momento que estava prestes a acontecer. Não demorou muito, até que a voz do meu pai ressoasse em alto e claro, preenchendo o local:
— É com orgulho que apresento os finalistas dos Jogos deste ano! O time Guardiões Celestiais e time Fúria dos Céus!
A plateia explodiu em comemorações, os gritos e assobios misturados com o som de aplausos fervorosos. As pessoas estavam em êxtase, a tensão antes da competição agora transformada em uma onda de entusiasmo. Enquanto avançávamos, não pude deixar de acenar para o povo que olhava para mim com admiração e orgulho. Cada rosto, cada sorriso, alimentava ainda mais a minha determinação.
Paramos em frente ao palco, nossos olhares se voltando para o alto, onde meu pai estava, a figura imponente que sempre representou autoridade e sabedoria. Ele era um Elunari de seiscentos anos, mas o tempo parecia ter pouco efeito sobre ele. Seus cabelos ciano mantinham um brilho sutil, e seus olhos de um azul escuro profundo carregavam a quietude de alguém que já vira muito. Apesar da idade, seu corpo permanecia forte e ágil, com um porte atlético resultado de anos de disciplina.
Procurei, por um momento, tentar controlar as emoções, quando meu olhar se desviou e se encontrou com o de Malrik, que estava do outro lado, no time adversário. Eu acenei pra ele, mas ele desviou o olhar rapidamente. O time dele, composto por Garruk, Lorcan e Violet, estavam igualmente focados. Foi então que percebi algo estranho: todos no time adversário evitavam qualquer troca de olhares com o nosso. Antes que pudesse pensar mais sobre meu pai, tomou a palavra novamente, sua voz grave e cheia de orgulho, mas com um toque de emoção sincera.
— Eu não poderia estar mais orgulhoso de vocês. E não digo isso apenas como rei, mas também como pai. Quero que saibam que foi o trabalho em equipe que os trouxe até aqui. E independentemente de quem vencer hoje, ambos os times são campeões, só por terem chegado até aqui!
As palavras dele ecoaram pelo anfiteatro, e o peso da honra que estava sendo depositada sobre nós se fez sentir em cada um de nós. Era mais do que uma competição. Era a validação de todo o esforço, todo o sacrifício, tudo o que havíamos feito para chegar até aquele momento.
— A prova de hoje é O fogo da Vitoria!
Um pedestal de mármore branco se ergueu imponente no centro do Anfiteatro, e no topo, onde normalmente o fogo dourado da Pira Olímpica deveria estar, havia apenas um vazio, uma ausência inquietante. A Pira Olímpica, que sempre mantinha seu fogo crepitando, agora estava apagada!
Minha primeira reação foi de surpresa, o que logo se transformou em uma sensação de perplexidade. Mas antes que questionamentos surgissem, meu pai ergueu a mão em um gesto calmo, pedindo que a plateia se aquietasse. Em seguida, com uma voz firme e autoritária, ele falou:
— O fogo foi transformado em runas, oito runas, para ser mais exato.
O Anfiteatro inteiro ficou em absoluto silêncio, enquanto as palavras de meu pai pairavam no ar, carregadas de tensão.
— A prova será a seguinte. — ele continuou, sua voz agora ressoando por todo o espaço. — Essas runas foram escondidas por toda Aurelith. O objetivo é desvendar os enigmas, encontrar as runas e jogá-las na Pira Olímpica para acender o fogo. Lembrando que cada integrante só pode carregar uma runa mágica. O time que chegar aqui primeiro e acender o fogo utilizando as quatro runas, vencerá a prova!
O murmúrio de inquietação se espalhou pela plateia, e uma onda de excitação percorreu o Anfiteatro. Então, um pergaminho surgiu diante de mim, enrolado e amarrado com uma fita cintilante azul. Peguei o pergaminho e, ao olhar para o lado, vi meu irmão pegando o pergaminho do time deles.
— Este pergaminho contém o primeiro enigma. Cada runa que encontrarem revelará um novo enigma, até que completem o quarto. Desejo a vocês boa sorte, e que o último jogo comece.
A plateia se agitou em animação, e então vi o time oposto começar a abrir o pergaminho. Fiz o mesmo, desenrolando o papel com cuidado. Todos do meu time ficaram ao meu redor, tentando ler o enigma junto comigo.
Aquilo era uma verdadeira prova de habilidade e resistência mental. Mas, assim como eu, meu time estava imensamente determinado, e isso me dava forças para dar o meu melhor.
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Atualizado até capítulo 55
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