Um homem morto

Ian MacAllister não podia acreditar em seus olhos quando entrou no pequeno cubículo em que Lady Leana havia estado durante os seus vinte anos de vida.

A cama velha e desconfortável ocupava quase todo o espaço do quarto. Em um dos cantos ficava um pequeno baú, que certamente era usado para guardar a meia dúzia de roupas esburacadas da jovem.

As paredes de pedras eram úmidas e frias e a única coisa agradável era a bela e imensa vista da janela, que sequer poderia ser apreciada por sua esposa.

---- Não posso acreditar que Leana viveu assim por tanto tempo... é um verdadeiro milagre não ter morrido pelas péssimas condições desse lugar... A maioria das prisões em que estive eram muito mais agradáveis que isso...

De cabeça baixa, Lady Lorna não escondia a tristeza.

---- Acredite, milord, se minha irmã morresse de causas naturais, isso agradaria muito meu pai... creio que ele fez o possível para que isso ocorresse, como pode ver!

---- Mesmo sendo um miserável, seu pai ainda era um Laird escoses... como pode permitir que a filha vivesse em condições tão precárias? ---- Ian estava visivelmente atordoado.

---- Oh Senhor, crê que era apenas isso que ele fazia? ---- Lorna o fitou com seus olhos flamejantes ---- Ele era muito pior que isso... minha irmã sofreu as piores torturas e humilhações nas mãos de nosso pai e de meu marido.

---- A que se refere, Lady Lorna? ---- perguntou Ian cerrando os punhos.

---- Meu pai assassinou nossa mãe em uma crise de raiva depois do meu nascimento... ele não aceitava que ela houvesse parido duas meninas... E uma cega, ainda por cima! ---- disse Lorna olhando para o pequeno espaço ao seu redor ---- Com apenas três anos, Leana foi jogada aqui e praticamente esquecida. Eu não tinha autorização para ficar com ela sempre e nossas babás eram sempre cruéis e negligentes... meu pai sempre as escolheu para que agissem dessa forma! Quando bebia, meu pai costumava chamar Leana até o salão principal e realizar brincadeiras para humilhá-la! Ela andava pelo salão sem saber quando haviam pregos ou vidros pelo chão... os homens riam quando ela caia ou se machucava! Ela era apenas uma criança e sua tortura era motivo de diversão para eles...

Ian não podia acreditar no que ouvia.

---- Milord diz que quer conhecer sua esposa, então me escute bem... aquela garota passou pelo pior que qualquer ser humano pode passar, mas mesmo assim, jamais perdeu sua inocência e felicidade! Mesmo quando aquele homem horrendo tentou...

---- Tentou o que? ---- disse Ian, um tanto exasperado.

---- O senhor é o marido dela e o único que pode protegê-la... no fundo, ela não deseja a morte de ninguém... mas eu sim! Em uma noite, há dois anos atrás, Peter Douglas estava bêbado como um gambá e teve a cruel ideia de tomar a jovem cega na torre a força... eu imagina que isso pudesse ocorrer e sempre estive alerta, porém, naquela noite Peter colocou algo em minha bebida que me fez ficar sonolenta. Ele subiu até aqui e encontrou minha irmã dormindo tranquilamente e ele tentou... bem, o Senhor sabe...

Atônito, Ian ficava cada vez mais furioso.

---- Como deve ter notado, minha irmã ainda era virgem quando se casou com milord e isso só se deve a uma intensa luta corporal que teve que travar com Peter Douglas... ---- Lorna olhou para o pequeno baú ----... Seu antigo baú espatifou-se quando encontrou a cabeça daquele bêbado nojento... é claro que ele também a machucou muito! Quando cheguei, o encontrei desmaiado no chão e minha irmã encolhida e tremendo em um dos cantos do quarto. Sua velha camisola rasgada e seus braços e pernas repletos de hematomas. Seu rosto, vermelho, com o peso da bofetada que Peter Douglas desferiu contra ela.

O Príncipe dos Bastardos havia decretado: Peter Douglas já era um homem morto!

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