O anjo na torre

Leana ouviu quando a jovem criada Muria empurrou delicadamente a pequena porta do quarto.

---- Por um segundo pensei que fosse Lorna, Muria... ---- disse Leana decepcionada.

---- Me surpreendo como milady sempre sabe que sou eu? ---- disse Muria de maneira divertida.

Nos últimos dias foi permitido a Lady Lorna que desse ordens à cozinha e às criadas, coisa que era proibida de fazer. Esse trabalho era incumbência de Nessie, amante de seu pai. Lorna não há via desde a fuga desesperada dos homens de Norvell. Com esse novo privilégio, pode requisitar á gentil Muria que fosse responsável pela alimentação e cuidados de Lady Leana.

Muria era uma moça sorridente e delicada e sua personalidade era perfeita para ser a criada pessoal da frágil e doce Leana.

---- Que cheiro delicioso é esse, Muria? ---- perguntou Leana enquanto sentia o aroma da comida.

---- É uma saborosa sopa de legumes com galinha, Lady Leana! ---- disse Muria em meio a sorrisos. Estava se acostumando com o olhar parado e morto de Lady Leana.

---- Que incrível, Muria! ---- disse Leana sorrindo de volta para a recente amiga ---- Mas não gosto que me chame de Lady Leana...

---- É o costume, milady, não se incomode e coma a sua sopa enquanto está quente!

Muria posicionou a bandeja de prata em cima da velha cama e Leana pegou a colher com rapidez. Nunca havia comido tão bem em toda a sua vida.

Seu pai e Nessie tinham regras muito cruéis em relação à primogênita dos Norvell. Leana nunca podia sair do quarto quando os homens estavam no Castelo. Nos rápidos momentos que conseguia, Lorna costumava levá-la para breves passeios pelos arredores do vilarejo. Eram nesses momentos que era mais feliz, sentindo a água corrente dos riachos e o cheiro das plantas e flores.

Nessie também proibia que Leana fosse alimentada mais de uma vez por dia. Seu almoço era sempre um caldo ralo e pouco nutritivo, já que era considerado um desperdício alimentar bem uma inválida.

Nessie também fazia questão de delegar ás criadas mais grosseiras e relapsas, os cuidados com Leana. Era mais uma forma que os líderes do Clã encontravam para poder torturar a jovem.

Com a chegada do príncipe bastardo do Norte, tudo parecia melhorar no Castelo SilverStone. No entanto, faziam quatro dias que Leana não via sua irmã caçula:

---- Lorna ainda está sendo vigiada, Muria? ---- perguntou Leana enquanto dava uma colherada na deliciosa sopa.

---- Sim, milady... o jovem Tobias McKay a segue como um cachorro leal!

---- Ele continua sendo gentil com ela, Muria? ---- diariamente Leana ouvia as histórias que Muria lhe contava sobre o que ocorria no Castelo. Até então o comportamento de Tobias tinha sido impecável.

---- O mais gentil dos homens, milady... Lady Lorna não pode sequer espirrar sem que ele tenha um lenço pronto para acudi-la.

Leana imaginou a cena e sorriu alegremente. Muria achava a jovem muito bela quando sorria. Apesar de ser pequena e magra, Leana tinha os cabelos laranjas como a irmã e um sorriso largo e acolhedor em um rosto de traços delicados e etéreos.

---- Você acha que ela poderá vir me hoje? ---- perguntou Leana esperançosa.

---- Creio que não, milady... ---- disse Muria despedaçando as esperanças da bela amiga ----... Lady Lorna não quer que saibam onde a senhorita vive e dorme... ela teme...

---- Teme que me matem ou me violentem... ---- disse Leana entristecida ----... e ela está certa! Se não fosse por Lorna eu já teria sido violada ou morta há muito tempo...

Leana pensou no nefasto Peter Douglas! Não foram poucas as vezes que ele lhe deu surras! Mesmo que seu pai desejasse a sua morte, os antigos sempre disseram que o assassinato de um filho trazia grande má sorte sob um clã, e foi só por essa crença que Leana permaneceu viva por tanto tempo. No entanto, deixá-la quase morta era um passatempo divertido para os homens do Castelo!

---- Eu sinto muito, milady... ---- disse Muria com os olhos marejados ---- .... mas o Senhor MacAllister e seu exército estão aqui agora... sentimos que as coisas podem melhorar!

Há muito tempo Leana não se sentia esperançosa como naquela semana. Será que realmente poderia acreditar que a invasão do príncipe dos bastardos seria de fato a salvação de Norvell?

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