O vento cortante varria as terras áridas enquanto Lúcifer caminhava, sentindo a energia no ar mudar. O encontro com o anjo e o demônio havia deixado claro que ele não poderia mais apenas vagar pelo mundo sem interferir. O Céu e o Inferno não o deixariam em paz.
Mas ele também não era mais alguém que aceitava ordens.
Parou no topo de um penhasco, observando o horizonte escuro. A noite estava carregada de uma energia estranha, e então ele sentiu: uma fissura se abrindo entre os mundos.
O primeiro a surgir foi outro anjo, diferente do anterior. Suas asas eram ainda mais luminosas, e sua presença fazia a atmosfera vibrar com poder divino. Ele carregava um cetro dourado e seu olhar era de puro julgamento.
— Lúcifer. Você não pode continuar com isso. Sua existência fora do controle ameaça a ordem sagrada.
Atrás dele, portais começaram a se abrir. Um esquadrão inteiro de anjos surgiu, suas armaduras brilhando sob a luz da lua. Eles estavam ali para eliminá-lo.
Mas então, o chão tremeu, rachaduras se espalharam, e uma fumaça negra subiu do solo. Do Inferno, demônios emergiram, rindo, rosnando, prontos para o caos. À frente deles, um imponente senhor das trevas, com chifres enormes e olhos ardentes como brasas.
— O que temos aqui? — O demônio falou, sua voz reverberando como um trovão. — O Céu quer matar Lúcifer, mas e se o Inferno quiser algo diferente?
Os anjos ergueram suas armas. Os demônios afiavam suas garras.
Lúcifer percebeu que aquilo não era apenas sobre ele.
Era uma guerra prestes a explodir.
Ele não hesitou. Sua aura se expandiu, uma mistura de luz e sombras, dominando o espaço entre os dois exércitos.
— Vocês não entenderam nada, não é? — Ele falou, sua voz ecoando. — Eu não pertenço a nenhum de vocês. Mas se querem guerra, eu vou mostrar a ambos o que significa desafiar alguém que não tem mais correntes!
Com um estalo, o céu se iluminou com relâmpagos dourados e chamas negras surgiram do solo. Lúcifer ergueu os braços, absorvendo a energia ao redor.
A batalha estava prestes a começar.
O primeiro ataque veio do Céu. O anjo com o cetro dourado ergueu sua arma e, num instante, uma onda de luz desceu sobre Lúcifer como um raio divino. Mas ele não era mais o mesmo de antes.
Com um simples levantar de mão, Lúcifer absorveu a energia celestial e a dissipou como se fosse uma brisa. O anjo arregalou os olhos, surpreso.
— Isso... é impossível.
Antes que pudesse reagir, os demônios atacaram. Uma horda de bestas das trevas avançou contra os anjos, seus rugidos cortando o ar. O céu se encheu de espadas e garras, e a batalha começou.
Lúcifer permaneceu no centro do caos, observando. Ele via anjos e demônios caindo um após o outro, mas nenhum deles realmente entendia por que estavam lutando. Eram apenas peças no tabuleiro de forças maiores.
E ele já estava farto disso.
Com um estalo dos dedos, Lúcifer liberou uma explosão de poder que separou os dois exércitos. Anjos foram jogados para trás, suas asas tremulando no ar. Demônios foram forçados a recuar, arrastando suas garras no solo queimado.
O silêncio pairou no campo de batalha. Todos olharam para ele.
— Isso precisa acabar. — Lúcifer disse, sua voz soando como um trovão. — Vocês estão lutando por ordens que nem sequer entendem. O Céu quer controle. O Inferno quer caos. Mas ninguém aqui está realmente escolhendo.
O anjo de armadura dourada se ergueu, a raiva queimando em seus olhos.
— Não cabe a você decidir o destino do mundo, Lúcifer! Você é uma falha, um erro que precisa ser apagado!
Lúcifer suspirou.
— Não. Eu sou a prova de que vocês estão errados.
Ele desapareceu em um instante e reapareceu diante do anjo, segurando-o pela gola da armadura. Os olhos do celestial se arregalaram.
— Vocês falam sobre ordem e equilíbrio, mas nunca perguntaram aos humanos o que eles querem. Nunca perguntaram se eles desejam ser protegidos por um poder que os trata como meros seguidores sem escolha.
Lançou o anjo ao chão com força, fazendo a terra rachar. Os outros anjos hesitaram, sem saber se deviam atacar.
Então, o líder dos demônios riu.
— **Ora, ora. Você está começando a soar como um verdadeiro governante, Lúcifer. Talvez você tenha finalmente percebido que o Inferno
não é seu verdadeiro lar, mas o reino dos indecisos, dos poderosos que se recusam a seguir regras.
O demônio avançou em direção a Lúcifer, com um sorriso vitorioso no rosto, como se ele estivesse apenas brincando. Lúcifer olhou para ele com um olhar penetrante e, em um movimento rápido, fez o chão tremer. Uma onda de pura energia irracional irrompeu do solo, separando os dois de forma brutal, fazendo o demônio cair de joelhos.
Lúcifer então se virou para os dois exércitos que o cercavam, observando o caos que ele mesmo havia causado. Mas, ao contrário dos outros, ele sentia algo diferente. Ele não queria mais controle, não queria mais ser o ponto de equilíbrio entre o Céu e o Inferno. Ele só queria liberdade. A liberdade de ser quem realmente era, sem imposições, sem dogmas, sem nada. Apenas a escolha de existir.
Ele caminhou até o centro do campo de batalha, onde todos o observavam com temor, raiva ou uma espécie de confusão. Cada um desses seres estava ali por um motivo. Os anjos queriam restaurar o que consideravam ser a ordem divina, e os demônios queriam aproveitar-se do caos para conquistar mais territórios. Mas Lúcifer já não via mais como partes de um conflito eterno. Para ele, tudo isso já era irrelevante.
— O que é ordem? — Ele perguntou, com uma voz que ecoava pela vastidão. — Quem define o que é certo ou errado? O Céu, que nos julga por aquilo que não entendemos? O Inferno, que nos utiliza como peças num jogo sem fim? E os humanos, onde estão? Eles são apenas marionetes? Ou têm o direito de escolher o seu próprio caminho?
Lúcifer olhou diretamente para o líder celestial, que estava se levantando da queda.
— Eu não pertenço a nenhum dos dois lados. Não sou seu inimigo, mas também não sou o seu aliado. Eu sou apenas Lúcifer, e eu escolho o meu destino. Não aceito mais ser parte de um sistema que não permite a verdadeira liberdade.
O anjo, enfurecido, se levantou completamente, seus olhos agora fulgurando em pura luz. Ele gritou para seus exércitos.
— Lúcifer, você está condenado. A ordem será restaurada!
Com um gesto de mão, ele ordenou a seus anjos que atacassem, mas Lúcifer se preparou para a luta, sentindo a energia fluindo em suas veias. Ele não queria destruir, não mais. Não queria mais guerra. Mas ele sabia que, se fosse necessário, ele teria que lutar para mostrar que a liberdade sempre viria em primeiro lugar.
Antes que os anjos pudessem reagir, uma onda de sombra cobriu o campo. O líder demônio, com seu poder sombrio, levantou as mãos para o céu e gritou em um tom grotesco e desafiador. Ele liberou sua energia, tentando enfraquecer a pureza da luz celestial. O confronto foi imenso, com a terra estremecendo e os céus se dividindo entre luz e trevas.
No entanto, no meio do caos, Lúcifer percebeu uma verdade mais profunda. Ele não precisava escolher entre o Céu e o Inferno. Ele não estava aqui para ser um simples agente de um dos lados, mas sim para abrir o caminho para algo novo. Para dar aos humanos a capacidade de escolher seu próprio destino, sem depender das forças cósmicas que o controlavam.
Com um estalo, Lúcifer ergueu os braços para o alto, e um feixe de energia imensa irrompeu do fundo da terra, envolvendo-o completamente. Era uma energia que não pertencia ao Céu, nem ao Inferno, mas uma força pura e imensa que vinha do próprio coração do mundo.
— Chegou a hora da escolha verdadeira. Não há mais espaço para divisões. Não há mais necessidade de lutar por um poder que nunca foi nosso para controlar. O que nos resta agora é a liberdade.
Os dois exércitos, olhando para ele, começaram a vacilar. A luta havia parado por um momento, como se a própria natureza estivesse se perguntando se aquilo era o fim de uma era de opressão.
Lúcifer sorriu suavemente, a energia ao redor de seu corpo se dissipando lentamente. Ele não precisaria forçar ninguém a seguir seu caminho. Ele havia mostrado a eles que a verdadeira escolha sempre esteve ao alcance. E talvez, apenas talvez, os humanos pudessem finalmente viver sem os jugos do Céu ou do Inferno, escolhendo, por si mesmos, o que fazer com o que lhes restava.
O campo de batalha estava em silêncio, mas o futuro, agora, estava repleto de possibilidades. Lúcifer sabia que a guerra ainda não havia acabado, mas ele havia dado um passo vital para um novo começo. O começo da verdadeira liberdade.
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Atualizado até capítulo 32
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