Capítulo 2: A Cidade da Luz/Capítulo 3: O Confronto na Praça Central

A jornada para a cidade de Lumina foi mais longa do que Aiden imaginava. A cada passo, ele sentia o peso de sua decisão pesar mais em seus ombros. O mundo à sua volta parecia uma distorção, onde a luz não iluminava, mas cegava, e as sombras não eram protegidas, mas perseguidas. Aiden e Veris viajavam por campos vastos e florestas densas, sempre alertas para qualquer sinal da Ordem da Luz, que mantinha um controle rígido sobre o território. Em cada cidade que passavam, os sussurros da Ordem ecoavam nas ruas, com cartazes e avisos sobre a erradicação das sombras.

Quando chegaram finalmente à capital, Lumina, Aiden sentiu um choque de realidades. A cidade era um monumento ao poder e à opressão. As ruas eram largas, mas vazias, e os prédios se erguiam como colossos, todos feitos de cristal e mármore, brilhando intensamente sob a luz do sol. O céu parecia ser eternamente claro, como se a cidade fosse alimentada pela luz que nunca cessava. Mas havia algo profundamente errado com aquele lugar. As pessoas andavam pelas ruas com rostos impassíveis, suas expressões vazias e resignadas. Não havia sorrisos, apenas uma obediência silenciosa. A Ordem da Luz havia criado uma fachada de perfeição, mas Aiden podia sentir o peso da repressão sobre cada pessoa ali.

"Bem-vindo à Cidade da Luz", disse Veris, sua voz carregada de amargura. "Aqui, a ordem é mantida pela iluminação, mas os corações estão nas sombras. As pessoas têm medo da escuridão, mas não sabem que é ela que os mantém vivos."

Aiden olhou ao redor, tentando absorver tudo. Ele sempre imaginou que a luz fosse a salvação, a pureza, mas ali, na cidade que se autodenominava um farol de esperança, a luz parecia apenas uma prisão dourada.

Enquanto caminhavam pelas ruas, Aiden notou que os soldados da Ordem da Luz estavam em cada esquina, observando as pessoas com olhos vigilantes. Nenhuma ação passava despercebida. Qualquer movimento estranho era prontamente corrigido, qualquer sussurro contrário à ordem era silenciado. A liberdade estava apenas em nome, mas não em essência. Eles eram prisioneiros sem saber.

"Não se deixe enganar", disse Veris, como se lendo seus pensamentos. "A Ordem da Luz é uma tirania disfarçada de benevolência. Eles escondem a verdadeira face da luz. A verdadeira luz não teme as sombras, mas busca a harmonia entre elas. A Ordem está apenas tentando controlar essa harmonia."

Aiden se sentiu dividido. Aquele mundo não parecia ser o que ele imaginava, mas ele também sentia uma chama crescente dentro de si. Ele sabia que, para trazer o equilíbrio que Veris mencionara, precisaria enfrentar a Ordem da Luz de frente. E isso significaria confrontar tudo o que ele acreditava ser verdadeiro.

Aiden sentia os passos ecoando enquanto caminhava pelas ruas de Lumina. A cidade, com suas enormes estruturas de cristal, era um labirinto de luz e reflexos, onde nada parecia real. As ruas estavam vazias, mas ele podia sentir a vigilância constante dos soldados da Ordem da Luz. O calor do sol era sufocante, e cada pedacinho de sombra parecia ser rejeitado, como se o próprio ar estivesse sendo controlado.

"Isso é uma prisão," Aiden murmurou, mais para si mesmo do que para Veris, que caminhava ao seu lado, sua expressão imperturbável.

Veris não respondeu de imediato. Ela sabia que ele estava absorvendo as tensões dessa cidade. Para Aiden, Lumina representava tudo o que ele odiava: uma cidade que se alimentava da luz, que via a escuridão como um inimigo a ser erradicado. Mas ele também sabia que era impossível escapar da luz, não aqui.

Quando chegaram à praça central, a cena que se desenrolava fez Aiden parar de repente. No centro da praça, rodeado por uma multidão silenciosa, estava o Cavaleiro Corvus, uma figura imponente em sua armadura dourada e brilhante. Sua espada estava erguida, refletindo o sol em faiscas intensas, como se estivesse realizando uma cerimônia. A multidão observava com atenção, os rostos sem expressão, como se estivesse em transe.

"Quem é ele?" Aiden perguntou em um tom baixo, sentindo a presença esmagadora do cavaleiro.

"Corvus," Veris respondeu com um tom de desprezo. "Ele é um dos cavaleiros mais poderosos da Ordem da Luz. Sua única missão é erradicar qualquer vestígio de sombra. Para ele, qualquer coisa que não seja luz é uma ameaça."

Aiden sentiu uma ondulação de ansiedade em seu peito. Ele sabia que o confronto era inevitável. Não importava o quanto ele tentasse fugir, o que estava em jogo agora era maior do que ele. Ele precisava confrontar a Ordem da Luz, mas não sabia se estava pronto para isso.

Antes que pudesse se preparar, Corvus se virou, seus olhos dourados cravados em Aiden. Ele observou o jovem por um momento, com um olhar penetrante e, então, deu um passo à frente.

"Ah, o Portador da Sombra," Corvus disse com uma voz profunda que reverberava pelo ar. "Eu sabia que encontraria você aqui. Lumina será purificada, e você não será diferente dos outros. A sombra não tem lugar aqui."

Aiden sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Era como se as palavras de Corvus fossem uma sentença de morte, mas ao mesmo tempo, ele sentiu algo despertar dentro de si, uma chama interior que não queria apagar.

"Eu não sou uma ameaça!" Aiden respondeu, sua voz mais firme do que ele imaginava. "Eu sou o que este mundo precisa. A luz não pode ser tudo. Sem sombra, não há equilíbrio."

Corvus riu, uma risada amarga. "Equilíbrio? A luz é perfeição. As sombras são a corrupção, e você é a personificação desse erro. Vou garantir que você seja apagado de uma vez por todas."

Sem mais palavras, o cavaleiro levantou sua espada, e com um movimento rápido, desferiu um golpe na direção de Aiden. O impacto foi forte, mas Aiden conseguiu desviar, sentindo a lâmina cortar o ar próximo a seu rosto. O chão tremeu sob seus pés. Ele não estava preparado para isso.

Veris, que até então observava em silêncio, finalmente interveio. Com um gesto, ela invocou uma onda de energia escura que se materializou como uma tempestade de sombras, desviando a lâmina de Corvus e fazendo-o recuar.

"Você não está mais em posição de dar ordens aqui, Cavaleiro," Veris disse com frieza. "Aiden ainda está aprendendo, mas você não está em condições de vencê-lo agora."

Corvus, furioso, se ergueu de novo, sua expressão contorcendo-se com ódio. "Se você acha que vai salvar esse garoto, está enganada. Lumina nunca permitirá que a escuridão volte a tomar o controle!"

Aiden, agora sentindo a energia das sombras pulsando dentro de si, ergueu as mãos. Ele não sabia como, mas a energia das sombras parecia querer se unir a ele, como se ele estivesse se conectando com algo muito mais antigo e profundo.

"Eu não vou ser silenciado," Aiden disse, e as sombras se agitaram ao seu redor, tomando uma forma mais concreta. A pressão da luz parecia diminuir, e uma aura escura envolveu seu corpo, como se ele estivesse absorvendo a escuridão ao seu redor.

Corvus parou por um momento, o olhar de dúvida e preocupação agora presente em seus olhos. Ele sentia o poder de Aiden, mas também sabia que isso significava que a batalha estava apenas começando.

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