Enfim paz por enquanto...

O refúgio estava um caos.

A madeira do teto rangia, estilhaços de vidro cobriam o chão, e o ar ainda carregava um resquício da presença maligna de Morvana.

Mas, aos poucos, o silêncio tomou conta.

Sophia ainda sentia o coração martelando dentro do peito.

Aria estava imóvel, encarando a própria mão, onde a marca deixada por Morvana brilhava em um tom fraco e ameaçador.

Kael guardou a espada e respirou fundo.

"Ela recuou… por enquanto."

As palavras dele pairaram no ar.

Por enquanto.

Morvana sempre estava um passo à frente, mas sua arrogância a fazia subestimar os "fracos".

Ela não sabia de tudo.

Ela achava que sabia.

E isso poderia ser a vantagem deles.

Sophia se aproximou de Aria, hesitante.

"Você está bem?"

Ária não respondeu de imediato.

Então, fechou a mão com força e sussurrou:

"Ela não vai me levar."

Havia determinação na voz dela.

Sofia sentiu um alívio tímido brotar no peito.

Kael suspirou, passando a mão pelo cabelo.

"Precisamos nos reagrupar. Descansar. Ela pode ter recuado, mas não por muito tempo."

Sophia sabia que ele estava certo.

Morvana era persistente. Mas… por que recuar agora?

Talvez estivesse enfraquecida. Talvez não pudesse cruzar o Véu com facilidade.

Ou talvez… estivesse esperando o momento certo para atacar.

Isso significava que eles tinham tempo.

Não muito, mas o suficiente para respirar.

Ária olhou para a bagunça ao redor.

"Eu… eu preciso sair daqui," ela disse, a voz levemente trêmula. "Eu preciso sentir o ar de verdade."

Sofia segurou a mão dela.

"Então vamos."

Kael concordou com um aceno de cabeça.

"E podemos aproveitar para pensar no nosso próximo passo."

Sem mais delongas, deixaram o refúgio e seguiram para um pequeno lago escondido entre as árvores, não muito longe dali.

A lua refletia-se na água calma, e a noite carregava um silêncio que, pela primeira vez em muito tempo, não parecia ameaçador.

Sofia e Aria sentaram-se perto da margem.

Kael permaneceu em pé, observando os arredores com atenção.

Finalmente, um momento de paz.

Sophia virou-se para Ária.

"Você tem certeza de que está bem?"

Aria hesitou por um momento, depois assentiu.

"Eu só… me sinto suja. Como se ela ainda estivesse dentro de mim."

Sofia apertou sua mão com mais força.

"Ela não tem você, Ária. Ela nunca vai ter."

Ária respirou fundo.

Então, pela primeira vez naquela noite, ela sorriu de leve.

Foi um sorriso pequeno, tímido, mas verdadeiro.

E Sophia sentiu seu coração aquecer.

Por agora… elas estavam seguras.

Por agora… Morvana estava fora do caminho.

Mas logo, muito em breve…

A tempestade voltaria.

Continua…A noite estava calma.

O vento soprava suavemente pelas folhas das árvores, e o lago à frente refletia a luz da lua em um brilho prateado.

Por um momento, apenas o som das águas tranquilas preenchia o silêncio entre eles.

Kael estava um pouco afastado, mantendo-se atento ao redor. Mesmo que Morvana tivesse recuado, ele não queria ser pego de surpresa.

Já Sofia e Aria estavam sentadas lado a lado, próximas à margem do lago.

Sofia virou-se para Aria.

"Como você está se sentindo agora?"

Aria olhou para o próprio reflexo na água, e sua expressão suavizou.

"Melhor. Pelo menos um pouco."

Sophia sorriu.

Ela ainda podia sentir a tensão nos ombros de Aria, mas o fato de que ela conseguia respirar sem medo já era um progresso.

Aria desviou o olhar para Sofia, observando-a com atenção.

"Você se preocupa demais comigo."

Sophia soltou uma risada curta.

"Alguém tem que fazer isso."

Ária suspirou e balançou a cabeça com um sorriso quase imperceptível.

O reflexo da lua brilhava nos olhos castanhos dela, tornando-os ainda mais profundos e misteriosos.

Sofia percebeu que estava encarando-a por tempo demais.

Ária percebeu também.

"Por que está me olhando assim?" Ária perguntou, a voz mais suave do que o normal.

Sofia sentiu seu rosto esquentar.

Ela desviou o olhar rapidamente, fingindo observar o lago.

"Eu só… estava pensando."

"Pensando em quê?"

Sofia respirou fundo antes de responder:

"Em como eu me sinto segura quando estou com você."

A confissão pairou no ar.

Aria arregalou levemente os olhos, surpresa.

Sophia pensou que talvez tivesse falado demais.

Mas então, algo inesperado aconteceu.

Ária pegou a mão de Sofia.

Foi um toque hesitante, quase tímido, mas cheio de significado.

Sophia olhou para a própria mão entrelaçada com a de Ária e sentiu o coração disparar.

Ária desviou o olhar, visivelmente envergonhada.

"Eu também me sinto segura com você," ela murmurou.

Sofia prendeu a respiração.

O peito dela se aqueceu de um jeito que nada no mundo poderia substituir.

Era tão estranho.

Ária sempre foi fechada, sempre manteve uma barreira ao redor de si mesma.

Mas ali, naquela noite, ela estava abrindo uma fresta.

E Sofia não queria perder essa chance.

Então, com cuidado, ela entrelaçou os dedos nos de Ária.

Ária não recuou.

Sofia mordeu o lábio.

Era agora ou nunca.

Ela olhou para Ária novamente.

Os olhos castanhos dela pareciam brilhar sob a luz da lua.

"Posso te beijar?" Sophia perguntou, baixinho.

Ária piscou, surpresa com a pergunta direta.

O silêncio se prolongou por alguns segundos, mas então…

Ária assentiu.

Com o coração acelerado, Sofia se inclinou para frente.

Ela fechou os olhos quando seus lábios tocaram os de Aria.

Foi um beijo lento, delicado, cheio de sentimentos que palavras nunca conseguiriam expressar.

Aria retribuiu o beijo de forma tímida no começo, mas logo se entregou completamente ao momento.

A mão livre de Sofia deslizou suavemente pelo rosto de Ária, sentindo o calor da pele dela.

O tempo pareceu parar.

Ali, naquele momento, nada mais existia.

Não havia medo.

Não havia tensão.

Não havia Morvana.

Só havia elas.

Quando finalmente se separaram, Ária estava corada.

Sofia sorriu.

Aria desviou o olhar, mordendo o lábio, mas Sofia viu um pequeno sorriso se formando no canto da boca dela.

"Isso foi…" Ária começou, mas não terminou a frase.

Sofia riu suavemente.

"Foi real."

Ária olhou para ela de novo e assentiu, ainda corada.

"Sim… foi."

Elas ficaram ali, de mãos dadas, olhando para o reflexo do lago, sem precisar dizer mais nada.

Por um breve momento, pareciam apenas duas garotas apaixonadas, esquecidas de todo o caos ao redor.

E era exatamente disso que precisavam.

Continua…

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