Em busca do segredo

O Chamado do Véu

O frio das montanhas ficou para trás, mas algo mais gélido os acompanhava. O vento cortava a pele, carregando sussurros que apenas Kael parecia escutar.

Sofia caminhava à frente, os passos firmes, mas sua mente ainda oscilava entre determinação e dúvida. Ária estava ao seu lado, sempre vigilante, os sentidos apurados detectando cada som, cada cheiro estranho na trilha. Kael, alguns passos atrás, mantinha os olhos na floresta densa ao redor, como se esperasse que algo saltasse das sombras a qualquer instante.

Eles estavam seguindo para um lugar antigo, esquecido por quase todos: o Coração do Véu.

“Se realmente queremos entender nossa magia, precisamos ir até a raiz dela,” Kael explicou na noite anterior. “O Véu é a barreira entre este mundo e o outro lado. No seu coração, dizem que tudo que foi reprimido se manifesta. O medo. O desejo. A verdade. Se quisermos controlar nossos sentimentos, é lá que devemos ir.”

Agora, com o silêncio pesado ao redor, Sophia começava a se perguntar se essa era mesmo uma boa ideia.

O Caminho Entre Dois Mundos

O Coração do Véu não aparecia em mapas. Era um lugar que se movia, como um sussurro no vento. Às vezes, estava em um deserto. Outras, em uma cidade esquecida. Mas Kael sentia que, desta vez, ele estava próximo dali, escondido na floresta de árvores retorcidas à frente.

Ao atravessarem a linha das árvores, algo mudou. O cheiro do ar, a densidade da escuridão, a forma como o silêncio parecia vivo. Sophia franziu a testa e olhou para Aria, que já estava tensa, a mão no cabo da adaga.

“Tem algo... estranho,” Aria murmurou, farejando o ar.

Antes que pudessem reagir, a floresta se fechou atrás deles.

Os troncos das árvores se retorceram como se tivessem vida própria, selando o caminho de volta. A névoa subiu do chão, e sussurros começaram a ecoar por todos os lados.

Kael suspirou. “Bom, pelo menos sabemos que estamos no lugar certo.”

Sofia olhou para a frente. Não havia trilha, apenas escuridão. Mas então, algo piscou ao longe.

Uma luz pálida, tremeluzente como a lua refletida na água.

“Isso é...?” Sophia começou a perguntar, mas Kael já estava andando.

“Se for o que eu acho, estamos prestes a ver coisas que talvez preferíssemos esquecer.”

A Floresta do Reflexo

A névoa se adensou à medida que caminhavam. Aos poucos, sombras começaram a se formar dentro dela. Primeiro, apenas vultos distantes. Depois, rostos.

Sofia parou abruptamente quando se viu diante de si mesma.

Uma versão sua, mas diferente. Os olhos eram completamente negros, sem vida, e o sorriso em seu rosto era algo que gelou sua espinha.

“Você não pode fugir do que realmente é,” a outra Sophia sussurrou.

Sophia deu um passo para trás, o coração martelando no peito. O que diabos era aquilo?

Ao lado, Ária também congelou. Sua versão distorcida não dizia nada, apenas a encarava com olhos vazios. Mas o medo no rosto de Aria era real.

Kael olhou ao redor e murmurou algo. “O Véu está nos testando. Ele nos mostra a versão de nós mesmos que tememos ser. Se cederem ao medo, ficarão presos aqui.”

Sofia cerrou os punhos. Não. Não dessa vez.

Ela encarou sua cópia sombria, que continuava sorrindo para ela, zombeteira.

“Eu não sou você,” Sophia disse, com firmeza.

A sombra inclinou a cabeça. “Tem certeza? E se perder o controle? E se machucar Aria?”

Sofia respirou fundo. Sim, ela já havia sentido medo disso. Mas então olhou para o lado e viu Aria. O olhar dela não era de medo agora. Era de confiança.

“Não importa o que eu fui,” Sofia continuou. “O que importa é o que eu escolho ser agora.”

A sombra dela começou a tremer, como se estivesse rachando. Então, desmoronou em pedaços de névoa negra, desaparecendo.

Ária apertou a mão de Sofia. “Estamos juntas nisso.”

Kael sorriu de canto. “Parece que vocês passaram no primeiro teste.”

Mas então, antes que pudessem respirar aliviados, uma voz diferente ecoou pela floresta.

Feminina. Fria. Imensamente familiar.

“Ah... então vocês finalmente chegaram ao Coração do Véu.”

O sangue de Sofia gelou.

Ela conhecia aquela voz.

Era Dama Morvana.

E ela não estava sozinha.

Continua...