Capítulo 10

Alguns minutos depois, as meninas estavam prontas, e todas desceram juntas para a recepção. Quando chegaram, perceberam que eram as últimas. Todos os outros alunos já estavam reunidos, e Hugo aguardava de braços cruzados. Ele lançou um olhar ligeiramente impaciente, mas não fez comentários. Assim que elas se juntaram ao grupo, ele começou a falar.

Hugo: Certo, agora que estamos todos aqui, vamos às instruções. O jogo será amanhã de manhã, então hoje vocês têm a oportunidade de explorar um pouco a cidade. Mas, antes que alguém se empolgue, já aviso: não vamos nos separar.

Os alunos soltaram um leve murmúrio de desapontamento.

Hugo: Vamos ao Museu Histórico da cidade. É um lugar incrível e cheio de história, algo que vocês podem levar como aprendizado além do esporte.

Jenna cochichou para Sabrina.

Jenna: Claro, porque todo mundo adora museus.

Sabrina deu um leve sorriso, mas não respondeu. Hugo continuou, ignorando a reação geral.

Hugo: Sei que nem todos vão adorar, mas é importante para vocês entenderem a cultura local. Depois, quem sabe, podemos ver algo mais descontraído.

Sem muitas escolhas, os alunos aceitaram a proposta. Em poucos minutos, estavam todos novamente no ônibus, prontos para o trajeto até o museu.

O clima no veículo era misto. Alguns conversavam animadamente sobre a viagem e as expectativas para o jogo, enquanto outros, como Sabrina, permaneciam mais introspectivos. Ela ouvia as conversas ao seu redor, mas mantinha o olhar fixo na paisagem urbana que passava pela janela.

Jenna, ao lado dela, parecia pouco interessada no destino.

Jenna: Espero que esse museu não seja um tédio total.

Sabrina: Você pode sempre tentar aproveitar.

Jenna: Se você diz…

Chegando ao museu, o grupo foi recebido por um guia local, que parecia animado em compartilhar as histórias e fatos importantes sobre a cidade. Hugo assumiu a liderança, organizando os alunos em pequenos grupos e pedindo que todos prestassem atenção.

O museu estava silencioso, com os passos do grupo ecoando pelas galerias. Sabrina caminhava tranquilamente, observando as obras ao seu redor. Ela nunca foi especialmente religiosa, mas tinha suas próprias crenças firmes, desenvolvidas ao longo dos anos. Enquanto explorava, uma pintura chamou sua atenção.

Era uma representação de Jesus na cruz, com o rosto marcado pela tristeza e a expressão carregada de sofrimento. O quadro tinha traços realistas, quase dramáticos, que enfatizavam a dor do momento. Sabrina parou em frente à obra, estudando cada detalhe.

Poucos segundos depois, Hugo, que estava acompanhando o grupo à distância, percebeu a atenção dela naquele quadro. Sendo católico e admirador de arte sacra, não conseguiu evitar se aproximar.

Hugo: É lindo, né?

Sabrina não desviou o olhar da pintura. Sua expressão era introspectiva, como se estivesse tentando entender algo além da imagem.

Sabrina: A inspiração do pintor é falsa.

Hugo franziu o cenho, surpreso com o comentário dela. Ele não esperava uma resposta dessas.

Hugo: Falsa? Como assim?

Sabrina respirou fundo, ainda encarando o quadro.

Sabrina: Não acredito num Jesus com um rosto vencido e cheio de amargura. Esse semblante de dor não reflete o que ele representa pra mim.

Hugo ficou em silêncio, intrigado com aquela visão tão direta e diferente.

Sabrina: Eu creio num Cristo de rosto alegre, num Jesus que é vencedor.

Sem mais nenhuma palavra, Sabrina se virou e começou a se afastar, deixando Hugo parado diante do quadro. Ele ficou pensativo, surpreso não apenas pelas palavras dela, mas pela convicção com que ela as disse.

Ele olhou novamente para a pintura, como se tentasse enxergar algo além do que sempre viu. A resposta de Sabrina ecoava em sua mente, desafiando sua própria percepção.

Após cerca de uma hora e meia no museu, o guia agradeceu pela visita e encerrou o passeio. Hugo reuniu os alunos na entrada e fez uma breve chamada antes de encaminhá-los de volta ao ônibus.

Hugo: Agora vamos voltar ao hotel. Vocês terão um tempo livre antes do jantar, então aproveitem para descansar ou organizar o que for necessário para amanhã.

O grupo retornou ao hotel, e Sabrina sentiu um leve alívio ao entrar novamente no quarto. Jenna, como sempre, estava cheia de energia, enquanto Anna e Melissa pareciam um pouco mais cansadas.

Jenna: Ok, gente, vamos planejar algo pro tempo livre?

Melissa: Acho que vou só descansar um pouco. Amanhã vai ser um dia longo.

Anna: Concordo com a Melissa. Melhor guardar energia.

Jenna olhou para Sabrina, esperando sua opinião.

Sabrina: Vou dar uma volta pelo hotel. Não pretendo sair muito.

Jenna: Vocês são tão sem graça!

Apesar da reclamação, Jenna não insistiu. Sabrina pegou um livro de sua mochila e saiu para explorar as áreas comuns do hotel, aproveitando o silêncio para relaxar. Enquanto caminhava, sentiu-se grata por aquele pequeno momento de tranquilidade antes de enfrentar o dia seguinte, que prometia ser cheio de emoções e responsabilidades.

Sabrina procurou um lugar tranquilo para relaxar. O jardim era amplo e bem cuidado, e ela logo encontrou uma grande árvore com sombra refrescante. Sentando-se no gramado, encostou-se no tronco e abriu o livro que havia trazido. A paz daquele momento era exatamente o que ela precisava.

Perdida na leitura, Sabrina quase não percebeu a aproximação de Lucas. Ele surgiu do nada, com seu habitual jeito descontraído, parando ao lado dela.

Lucas: “Orgulho e Preconceito”. Clássico. Aposto que você não esperava que eu soubesse o nome.

Sabrina levantou os olhos do livro, surpresa com o comentário, mas com um sorriso no rosto.

Sabrina: Eu realmente não esperava. Impressionado com Austen?

Lucas: Vamos dizer que minha mãe tem uma coleção enorme de clássicos. Ela tentou me fazer ler, mas eu só assisti o filme.

Sabrina fechou o livro, mantendo o marcador na página onde havia parado.

Sabrina: E o que achou do filme?

Lucas: Meio parado, mas eu gostei do Mr. Darcy. Ele é do tipo que parece frio, mas na verdade tem um coração de ouro.

Sabrina: Parece que você prestou atenção.

Lucas riu, sentando-se na grama perto dela.

Lucas: É, mais ou menos. Mas você gosta mesmo desse tipo de história?

Sabrina: Gosto. Tem algo fascinante nos diálogos, nas trocas sutis. Sem pressa, mas com muita intensidade.

Lucas: E você se identifica com a Elizabeth?

Sabrina parou para pensar por um momento.

Sabrina: Talvez um pouco. Gosto da forma como ela enfrenta os preconceitos sem perder a compostura.

Lucas: Você tem mesmo esse jeito... firme, mas elegante.

Sabrina arqueou uma sobrancelha, mas manteve o sorriso.

Sabrina: Você é bom com palavras, sabia?

Lucas: Não o suficiente pra escrever um livro, mas acho que me viro.

Eles passaram os minutos seguintes conversando sobre livros, filmes e até sobre as viagens que o time fazia. Lucas contou histórias engraçadas de viagens passadas, sobre como alguns colegas se perdiam nas cidades ou faziam compras inesperadas.

Lucas: Uma vez, o goleiro comprou um pato de cerâmica enorme e queria levar no ônibus. Foi um caos convencer o motorista a deixar.

Sabrina: Um pato?

Lucas: Exatamente. Ele dizia que era uma obra de arte.

Sabrina riu, imaginando a cena.

O tempo passou rápido, e o sol já começava a se esconder no horizonte. Sabrina olhou para o relógio e percebeu que precisava se preparar para o jantar.

Sabrina: Foi bom conversar com você, Lucas. Mas agora preciso ir.

Lucas: Claro. E boa sorte com o jantar. Aposto que as animadoras vão arrasar no estilo.

Sabrina apenas sorriu, pegou seu livro e se levantou.

De volta ao quarto, encontrou Jenna e as outras já escolhendo suas roupas. Sabrina decidiu se organizar com calma, pegando um vestido simples, mas elegante, que combinava com o clima leve daquela noite. Depois de guardar o livro na mala, começou a se arrumar, pronta para o próximo momento do dia.

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