Enquanto passeava pela floresta, Elore era constantemente surpreendida pela energia dos pequenos que a acompanhavam. Eles pareciam sempre dispostos a arrancar um sorriso dela, tentando aliviar o peso de sua situação. Foi durante uma dessas caminhadas que Firik surgiu com uma ideia.
“Vamos brincar de esconde-esconde!” ele anunciou, suas asinhas tremulando de empolgação.
“Esconde-esconde?” Elore perguntou, inclinando a cabeça.
“Sim! Mas antes, joquempô pra ver quem vai contar!” Sila sugeriu, já esfregando as mãos animadamente.
Elore riu. “Certo, tô dentro.”
Depois de uma rodada divertida de pedra, papel e tesoura, um pequeno de aparência peculiar, com anteninhas douradas, foi escolhido para contar. Ele cruzou os bracinhos e começou: “Dez... nove... oito...”
Elore disparou pela floresta, sentindo o vento acariciar seu rosto e o perfume floral ao seu redor. Os galhos farfalhavam com o movimento, como se aplaudissem sua corrida desajeitada. Quando acreditou ter se afastado o suficiente, encontrou uma árvore grande e se encostou ali, ofegante e sorrindo.
O silêncio da floresta foi interrompido por um som peculiar, algo como um grunhido baixo vindo à distância. Intrigada, Elore olhou em direção ao som e percebeu uma pequena abertura entre as árvores.
Tomando cuidado para não tropeçar – algo que havia se tornado uma prioridade depois de tantas advertências – ela avançou. Conforme caminhava, a luz do sol se intensificava, revelando um pequeno prado banhado de brilho dourado. No centro, uma magnífica cerejeira rosa balançava levemente ao vento.
Sob sua sombra descansava uma criatura que tirou o fôlego de Elore. Com belas asas douradas que pareciam capturar a luz do sol, uma pelagem branca como a neve e um bico curvado e imponente, um grifo repousava com elegância.
Ela ficou hipnotizada, seus olhos presos na majestade daquela criatura. Nunca em sua vida imaginara ver um grifo pessoalmente, algo que até então existia apenas nas páginas dos livros que tanto amava. Seu coração acelerou, uma mistura de encanto e reverência.
Sem pensar, começou a se aproximar, seus passos leves, como se temesse quebrar a mágica do momento.
Antes que pudesse chegar mais perto, sentiu algo agarrar sua perna. “Não se mexa!” Firik disse, sua voz alarmada.
“Por quê?” Elore perguntou, congelando no lugar.
“Porque você vai morrer, é por isso!” ele respondeu, os olhos arregalados.
“M-morrer?!”
“Essa é Pina,” explicou Firik, ofegante. “Ela não permite que ninguém se aproxime dela. Ninguém além da falecida princesa... e agora, do Príncipe Guardião.”
Elore lançou um último olhar para o grifo. “Mas ela é tão linda... eu só queria olhar mais de perto.”
“Linda ou não, ela pode te transformar em um lanche,” Sila disse, pousando ao lado de Firik.
Elore suspirou e começou a recuar, mas tropeçou – como sempre – e caiu de bunda no chão, chamando a atenção de Pina. A criatura ergueu a cabeça, seus olhos dourados fixando-se na humana.
O coração de Elore parou.
Com movimentos lentos, o grifo se levantou, suas asas enormes se abrindo parcialmente. Os pequenos prenderam a respiração, estáticos.
De repente, Pina disparou em direção a Elore.
“Corra!” os pequenos gritaram, mas Elore estava paralisada.
O grifo parou bem diante dela, inclinando a cabeça como se estudasse sua presa.
“E-eu só queria...” Elore começou, mas não conseguiu terminar.
Para a surpresa de todos, o grifo inclinou-se para ela e, com um movimento inesperado, começou a empurrá-la com o bico, emitindo sons estranhos que mais pareciam risadas.
Elore começou a rir incontrolavelmente. “Ei, para! Isso faz cócegas!”
Os pequenos observavam boquiabertos enquanto Pina continuava, sua postura antes séria completamente desfeita.
“Ninguém nunca conseguiu se aproximar assim,” Firik murmurou, incrédulo.
Sila balançou a cabeça. “Somente a princesa conseguia fazer carinho em Pina...”
Elore, ainda rindo, olhou para o grifo. “Você gosta de cócegas, hein?”
Pina bufou levemente e recuou, deitando-se novamente, mas manteve os olhos fixos nela, como se estivesse intrigada.
A atmosfera ficou mais leve, e Sila pousou ao lado de Elore. “Você quer ouvir a história da nossa princesa?”
“Princesa?” Elore inclinou a cabeça, curiosa.
Firik e Sila começaram a narrar, suas vozes alternando em um ritmo hipnotizante.
“Há muito tempo,” começou Sila, “nossa floresta estava em perigo. Forasteiros descobriram este lugar e vieram com fogo e armas, tentando tomar nossas terras.”
“Foi um tempo terrivel...sombrio, mas nossa princesa corajosa e bondosa interviu a nosso favor” continuou Firik, “uma princesa gentil que amava seu povo e vivia livre pela floresta. Ela era forte, corajosa e cheia de magia. Ela nos defendeu quando ninguém mais podia... ou queria”
“E, no final, ela precisou fazer a escolha... ela fez o sacrifício supremo,” disse Sila, sua voz mais baixa. “Para salvar nossa floresta, e todos que amava ela usou todo o seu poder para lançar um feitiço que nos ocultou do mundo. Os invasores esqueceram que a floresta existia, e finalmente tivemos paz. Uma barreira mágica foi colocada ao redor da floresta e quando um humano tenta se aproximar, imediatamente pensa em mudar de direção e vai embora, sem nunca perceber que esteve ali”
Elore ouvia com atenção, seu coração apertado.
“Mas o custo foi alto,” disse Firik. “Ela deu sua vida por nós. Seu corpo desapareceu, mas sua magia permanece em todo o lugar. Cada canto da floresta ainda guarda um pedaço dela.”
Elore sentiu os olhos arderem. “Ela foi... incrível,” disse, sua voz embargada.
“Ela foi,” concordou Sila, com um sorriso melancólico.
Elore enxugou discretamente as lágrimas que escaparam. Ela se levantou, encarando os pequenos. “Ela foi uma heroína. O tipo de pessoa que eu gostaria de ser.”
Firik a observou por um momento antes de falar. “Sim, voce pode”
Elore riu, sem acreditar. “Eu? Uma heroína? Mal consigo andar sem tropeçar.”
“Talvez tropeçar seja parte do caminho,” disse Sila, piscando para ela.
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Atualizado até capítulo 65
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