Conforme Elore atravessou o arco formado pelas árvores entrelaçadas, foi como se uma onda de calor e luz passasse por seu corpo, como um abraço invisível. Ela hesitou por um momento, mas os pequeninos a incentivaram com gestos, alguns mais impacientes do que outros.
O que ela viu ao outro lado do portal fez seu queixo cair.
O Refúgio das Flores era um lugar de uma beleza tão surreal que parecia pertencer a outra dimensão. Flores gigantes em tons vibrantes decoravam campos ondulantes. Algumas tinham pétalas que brilhavam como joias à luz do sol, outras exalavam aromas que mudavam dependendo do humor de quem as cheirava. Árvores altas com troncos translúcidos revelavam rios de seiva dourada que corriam por dentro delas, pulsando como se fossem artérias. Pequenos insetos luminosos voavam em padrões elaborados, deixando rastros de luz no ar, como constelações vivas.
No centro do refúgio, havia uma estrutura circular feita inteiramente de videiras entrelaçadas e cobertas de flores que mudavam de cor constantemente. A luz dentro dela pulsava com um brilho quente e acolhedor.
"É aqui que trazemos aqueles que precisam de respostas," explicou Filó, pousando delicadamente no ombro de Elore.
"Isso é... impossível," Elore murmurou, girando lentamente enquanto tentava absorver tudo ao seu redor. "Nada disso faz sentido."
"Nem tudo precisa fazer sentido," disse o pequenino esverdeado. "Às vezes, as coisas simplesmente são. Agora, venha. Não podemos perder tempo."
Os pequeninos a guiaram até a estrutura circular. Ao se aproximarem, as videiras se moveram sozinhas, desenrolando-se como se estivessem vivas e abrindo uma entrada. Elore hesitou, mas Filó lhe deu um pequeno empurrão.
"Vai, humana! Você não vai explodir, eu acho."
"Você acha?" Elore retrucou, mas deu um passo adiante.
Dentro da estrutura, havia uma figura de aparência etérea. Parecia feminina, mas sua forma era difícil de definir. Seus cabelos eram longos e feitos de pétalas que caíam como uma cascata. Sua pele brilhava com tons dourados e verdes, e seus olhos eram como duas luas cheias, brilhando suavemente. Ela flutuava levemente acima do chão, rodeada por pequenas luzes que dançavam ao seu redor.
"Uma humana no Bosque das Mil Estrelas," a figura disse, sua voz ecoando como o som de folhas ao vento. "Isso não acontece há muitos, muitos anos."
Elore sentiu um nó na garganta. A presença daquela figura era esmagadora, mas não de um jeito ameaçador. Era como estar diante de algo antigo, sábio e incrivelmente poderoso.
"Eu... não sei como vim parar aqui," Elore começou, sua voz baixa e hesitante. "Eu só... acordei neste lugar."
A figura inclinou a cabeça, estudando-a com curiosidade. "Humana, sua presença aqui é uma raridade. O bosque não permite intrusos sem razão. Há algo em você que chamou sua atenção. Você sente isso, não sente?"
Elore não sabia o que responder. Sentia, sim, algo diferente, uma conexão inexplicável, mas não conseguia colocar em palavras.
"Mas por que eu? O que esse lugar quer comigo?"
A figura sorriu levemente, mas não respondeu de imediato. Em vez disso, ergueu uma das mãos, e uma luz dourada começou a brilhar ao seu redor. Quando a luz se dissipou, um pequeno objeto flutuava no ar: o anel com a pedra ametista e água-marinha que Elore tinha encontrado antes de tudo isso começar.
"Reconhece isso?" a figura perguntou.
Elore assentiu, sentindo o coração acelerar. "É meu. Quer dizer, eu ganhei... no... meu mundo."
"Não foi um encontro acidental," a figura respondeu. "Esse anel é uma chave, humana. Uma conexão entre dois mundos. E ele escolheu você."
"Vocês podem parar de me chamarem de "humana"? Eu tenho um nome. Elore".Os pequeninos atrás de Elore começaram a murmurar entre si, intrigados e nervosos.
A senhora sorriu gentilmente concordando.
"Então ... Por quê?" Elore perguntou, sua voz cheia de emoção. Ela foi escolhida para o que?. "O que isso significa?"
"Isso, minha querida, é algo que você terá que descobrir por si mesma." A figura sorriu de forma enigmática. "Mas esteja preparada. O caminho à frente será desafiador, e suas respostas podem ser tão assustadoras quanto libertadoras."
Antes que Elore pudesse responder, a luz ao redor da figura começou a se intensificar, ofuscando sua visão. Quando a luz diminuiu, a figura havia desaparecido, deixando Elore e os pequeninos sozinhos.
"Bem," Filó disse, quebrando o silêncio, "isso foi... dramático."
"Silêncio, Filó," Troco retrucou. "Isso é sério!"
Elore segurou o anel em suas mãos, sentindo seu peso, que parecia maior do que deveria ser. A confusão ainda a dominava, mas uma coisa era clara: ela não estava apenas perdida em um lugar estranho. Havia algo mais em jogo, algo que ela precisava entender.
"isso é seu?" seus pensamentos foram interrompidos quando Firik pergunta apontando em direção a porta. Elore observa os pequenos carregarem sua bolsa como um troféu precioso.
"Minha bolsa" Elore corre rapido praticamente arrancando sua bolsa das mãos dos pequenos e beijando duas vezes agradecendo a Deus por isso.
“Não sei por que você se importa tanto com isso!” comentou Firik, um dos pequenos, franzindo o nariz. Ele era baixinho, mesmo para os padrões de sua espécie, com o cabelo dourado e olhos vivos como a luz do sol.
“Você não entende,” disse ela, apertando a bolsa contra o peito. Seus dedos acariciaram o couro desgastado, e ela suspirou, como se algo vital tivesse sido devolvido a ela. “Isso é... é tudo o que eu tenho do meu mundo. De mim mesma.”
Os outros pequenos a observaram em silêncio, trocando olhares intrigados. “É só uma bolsa,” murmurou Sila, uma das criaturas com asas translúcidas que refletiam a luz do sol como arco-íris em movimento.
“Para mim, não é só uma bolsa.” Elore respirou fundo, tentando acalmar a onda de emoção que a surpreendeu.
Firik coçou a cabeça, inclinando-a para o lado enquanto analisava Elore segurando sua bolsa como se fosse uma relíquia sagrada. “Bem... ok. Mas cuidado, tá? Aqui tem coisas mais perigosas do que você imagina.”
Elore arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços. “Perigosas como o quê? Eu achei que esta floresta fosse encantada, tipo... mágica e segura. Não é isso que vocês vivem dizendo?”
Sila, que estava ajeitando suas asas brilhantes, deu uma risadinha. “Segura pra gente, talvez. Mas você é humana.”
“E?”
“E claramente uma humana não muito esperta,” Firik completou, com um sorriso irônico.
“Ei!” Elore fingiu indignação, mas sua expressão logo desmanchou em uma risada. “O que te faz pensar isso?”
“Você tropeçou três vezes desde que passou pelo portal ” Sila respondeu, contando nos dedos minúsculos.
"certo, vamos deixar isso para depois. Ela claramente ainda precisa se recuperar. Deve estar muito cansada."
Elore não ia mentir, estava mesmo sentindo o peso da exaustão. Principalmente psicológica. Os pequenos saíram e Elore seguiu com eles. Mostrando onde ela poderia ir descansar, eles apontarão para uma porta enfeitada com flores ao redor. Elore nem se deu o trabalho de admirar o lugar. Assim que viu a cama, se jogou com a bolsa ainda presa nos braços e dormiu, ou desmaiou. Os pequenos a cobriram e fecharam a porta deixando a humana estranha descansar.
....
Os dias passaram em um ritmo peculiar. Cada canto da floresta era uma explosão de vida e cor, como se o mundo inteiro tivesse sido pintado com as mãos de um artista sonhador. Elore passou horas caminhando entre árvores que pareciam sussurrar segredos e riachos que cantavam canções suaves.
“Você vai tropeçar de novo, não vai?” provocou Sila, rindo enquanto Elore quase caía ao desviar de uma raiz.
“Eu? Tropeçar? Nunca!” Elore respondeu com um sorriso tímido, mesmo enquanto tentava recuperar o equilíbrio. “Sou a imagem da graça e da elegância.”
"Aposto 5 moedas que ela vai tropeçar de novo"
"Feito"
"ei... eu não sou tão desastrada assim." Elore diz cruzando os braços.
"Você tropeçou na mesma raiz tres vezes." Filo diz rindo.
“Sem falar que você tentou subir em uma árvore e ficou presa nos galhos,” Firik acrescentou, rindo baixinho. "Você não pode mesmo andar sozinha"
“E quem é que quase cai em um riacho tentando pegar... o que era mesmo?” Sila perguntou, franzindo o rosto como se tentasse lembrar.
“Uma borboleta azul,” Firik respondeu prontamente.
“Era uma borboleta muito bonita!” Elore rebateu, tentando defender-se, mas começou a rir junto com eles. “Tá bom, tá bom! Eu sou um desastre ambulante, mas o que isso tem a ver com eu andar sozinha por aí?”
Os dois pararam de rir e ficaram sérios, quase ao mesmo tempo. Sila flutuou mais perto, sua voz suave. “A floresta é protegida, mas nem todo mundo que vive aqui gosta de humanos, entende? Existem criaturas... que não são tão amigáveis quanto nós.”
“Algumas são só irritadas,” Firik completou, “outras... bem, são perigosas mesmo.”
Elore piscou, curiosa. “Que tipo de perigosas? Tipo, ‘vou te morder’ ou ‘vou te transformar em algo estranho’?”
Sila deu de ombros. “Depende do humor delas. Você não quer descobrir, confia em mim.”
“E, honestamente, com o jeito que você anda por aí tropeçando e chamando atenção para si mesma, vai acabar sendo um alvo fácil,” Firik concluiu, apontando para ela com um dedo minúsculo.
Elore suspirou dramaticamente, mas o canto de sua boca tremia em um sorriso. “Vocês realmente sabem como fazer uma garota se sentir segura e confiante.”
Sila pousou em seu ombro e deu um tapinha reconfortante. “É pra isso que estamos aqui. Pra garantir que você não vire comida de troll ou algo assim.”
“Ah, ótimo,” Elore murmurou, rindo. “Vocês são um encanto, sabiam?”
“Somos mesmo,” Firik respondeu com um sorriso largo. “Então, por enquanto, nada de aventuras sozinha, entendeu? Pelo menos até você aprender a andar sem tropeçar.”
Elore revirou os olhos, mas acabou rindo mais uma vez. Apesar da situação estranha e assustadora, a leveza dos pequenos tornava tudo mais suportável. “Tá bom, tá bom. Prometo que não saio correndo sozinha... ainda.”
“Boa garota,” Sila disse, batendo as asas para levantar voo. “Agora vamos. Temos muito mais da floresta pra te mostrar. E talvez algo menos escorregadio pra você pisar.”
Elore apenas sorriu, sentindo-se mais leve do que os primeiros dias ali. Tudo ainda era muito estranho e impossível, mas depois de dormir e acordar várias vezes, acabou por acreditar que aquilo realmente não era um sonho. E Por mais surreal que fosse aquela experiência, ela estava grata por não enfrentá-la completamente sozinha.
Os pequenos riram, e Firik balançou a cabeça. “Você é a coisa mais desajeitada que já vimos, e olha que vimos um unicórnio cair de cara na lama uma vez.”
“Ei!” protestou Elore, rindo junto com eles.
Apesar de seus tropeços e gafes, Elore rapidamente conquistou a confiança das criaturas mágicas. Elore sempre foi gentil, e ali não seria diferente . Nos primeiros dias para ocupar a mente, oferecia ajuda e pedia para fazer alguma coisa, mas, acabava sendo alvo de risos e gargalhadas quando derrubava alguma coisa ou seu lado desastrado aparecia. Todos tiveram certeza que Elore não era uma ameaça. Pelo menos na para ele, talvez para si mesma. Eles a mostraram os cantos mais secretos da floresta: clareiras onde fadas dançavam sob a luz da lua, árvores tão antigas que suas cascas contavam histórias em símbolos, e uma cachoeira cujas águas brilhavam como diamantes ao toque do sol.
“Este lugar é... mágico,” disse Elore certa noite, sentada ao redor de uma fogueira improvisada.
“Porque é,” respondeu Firik, com um tom de orgulho.
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Atualizado até capítulo 65
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