Elore ouve novamente a batida na porta. Quase que bruta. Lentamente ela solta o livro no sofa, vai andando ate a porta vagarosamente, sentindo aquela sensação de medo querer retornar somente em imaginar que é Marcus do outro lado da porta. Elore coloca as mãos na porta sentindo a madeira fria, causando arrepios nos braços e de vagar aproxima seu rosto do olho magico, temendo quem pode acabar vendo ali, mas Elore imaginava tudo, menos aquilo...
... o que aquela pessoa estava fazendo aqui? Outra batida na porta tirou Elore de seus devaneios e de forma cautelosa, ela destranca a porta e assim que faz isso a porta é empurrada bruscamente fazendo Elore ir para tras, e antes que pudesse fazer alguma coisa, Elore sente seu rosto arder com o tapa repentino que levou.
A dor era intensa, mas nada se comparava ao choque de ver aquela mulher ali, na porta de sua casa. Elore ergueu os olhos devagar, encontrando o rosto dela contorcido de raiva, as sobrancelhas franzidas em uma expressão de puro desprezo. As palavras de Cecília ressoavam como veneno.
"Sua insolente desgraçada! O que você pensa que está fazendo?" Cecília cuspiu as palavras, a voz dela transbordando ódio. "Por que voltou a atormentar meu filho? Por que voltou para a vida dele depois de tanto tempo?"
Elore mal teve tempo de processar. Voltar? Aquilo soava insano. Marcus é quem havia invadido sua paz, ele quem reaparecera sem aviso, forçando uma presença que ela passara anos tentando esquecer. A tensão queimava no peito, uma mistura de medo, indignação e uma irritação crescente que ela mal conseguia conter. No entanto, Cecília continuava, agora mais perto, a voz subindo em um crescendo quase histérico.
"Ele estava ótimo sem você, sabia? Estava feliz, normal! Você é a praga na vida dele. Desde o dia em que se meteu com ele, tudo começou a desmoronar. E agora você aparece de novo, como se nada tivesse acontecido, como se tivesse algum direito de se intrometer na vida dele!"
A fúria daquela mulher era irracional, mas cada palavra cortava como lâminas. Cecília sequer tentava entender o que realmente acontecera. Ela tinha decidido a história toda em sua mente, e nela, Elore era a vilã. Os ombros de Elore tremiam, os punhos cerrados. Cada frase acusadora trazia à tona memórias dolorosas que ela tentara enterrar; lembranças de Marcus, das vezes que ela se sentiu enjaulada, impotente, sem voz. Mas algo nela estalou. Ela não era mais aquela mulher assustada e vulnerável. Não ia se curvar.
"Cale a boca," Elore disse, num tom baixo e frio, mas firme o suficiente para fazer Cecília interromper a frase no meio. Cecília ficou estupefata, seus olhos se estreitando.
"O que você disse?" perguntou Cecília, a voz carregada de descrença.
"Eu mandei você CALAR A BOCA, SUA VELHA NOJENTA!" A última frase escapou da boca de Elore como uma explosão, libertando anos de amargura, de sofrimento engolido. Era uma voz que ela nem sabia que possuía.
Cecília ficou momentaneamente sem reação, uma mistura de choque e desprezo estampando o rosto. Mas em segundos, ela recuperou o controle e disparou novamente. "Como ousa falar assim comigo? Eu sou a mãe dele, a única pessoa que realmente importa para ele. Você é nada! Ele te usou, como sempre usou todas as outras. Você foi só mais uma, e ainda teve a audácia de machucar meu filho!"
As palavras desferidas como facadas buscavam atingir Elore, fazê-la sentir-se pequena, culpada. Mas Elore, respirando fundo, deixou a raiva tomar conta. Ela não recuaria. "Ele não é a vítima aqui, Cecília. Ele é um homem perigoso, e você sabe disso! Ele foi atrás de mim. Eu estava bem, vivendo minha vida, até ele resolver me atormentar outra vez."
"Mentira!" Cecília gritou, a voz aguda ecoando pelo corredor. "Você é uma manipuladora, uma mentirosa, uma..."
"Chega!" Elore interrompeu, firme. "Você quer culpar alguém? Culpe ele. Culpe a si mesma por tê-lo criado assim! Eu sobrevivi ao que voces fizeram comigo. Eu segui em frente! E nada do que você disser vai me fazer acreditar que eu sou a culpada."
Cecília arregalou os olhos, a expressão distorcida pela fúria. "Você é uma praga! Uma praga que precisa ser arrancada da vida do meu filho!"
Cecília avançou contra Elore com um ódio que a consumia, os olhos ardendo em fúria cega. Mas, desta vez, Elore estava preparada. Quando a mão de Cecília voou em sua direção, Elore a agarrou no ar, os dedos firmes ao redor do pulso da mulher. Ela a encarou com um olhar gelado, que ocultava toda a dor e todo o medo que, por tantos anos, ela fora obrigada a suportar em silêncio.
"Nunca mais," Elore murmurou entre os dentes cerrados, a voz fria e controlada, "nunca mais vou deixar alguém como você me machucar."
Cecília, em um rompante de histeria, tentou se desvencilhar, mas Elore a manteve no lugar. A indignação escorria do rosto da mulher como uma máscara distorcida. "Você vai pagar, sua ingrata! Vou acabar com a sua carreira, com sua vida, com tudo que você ama! Não vou permitir que uma praga como você continue na vida do meu filho! Voce não merece Marcus. Nunca mereceu."
Elore sentiu um frio rastejar por sua espinha, mas não desviou o olhar, mesmo com o coração batendo forte. "Concordo com você, Cecília," ela respondeu, uma calma desafiadora permeando cada palavra. "Eu não mereço seu filho. Eu mereço alguém muito melhor. Alguém com valor, princípios. Não um merda como ele."
Cecília estremeceu de raiva, e, em um rompante de fúria ainda mais cega, se soltou e tentou avançar novamente. Mas, antes que ela pudesse sequer completar o movimento, uma pequena mão interceptou a dela com um aperto tão forte que quase arrancou um grito de dor. Cecília olhou ao redor, atônita.
Sofi havia chegado. Ela surgiu como uma força silenciosa, mas implacável. A expressão em seu rosto era algo que Elore nunca tinha visto antes: fria, cortante, uma raiva reprimida por anos finalmente solta. Uma raiva enjaulada por ter aguentado parada assistindo sua amiga sofrer nas mãos dessa familia sem nunca poder fazer nada para impedir, ou proteger Elore de tudo isso. Mas agora é diferente.
Sofi apertava o pulso de Cecília com uma força descomunal, os olhos fixos na mulher mais velha, que agora lutava para se desvencilhar, a surpresa e o odio estampados em cada linha de seu rosto.
"Solta... minha... mão!" Cecília grunhiu, mas Sofi apenas intensificou o aperto, aproximando-se de seu rosto, a voz tão baixa e venenosa que cada palavra parecia um golpe.
"Você escute bem," começou Sofi, com um tom controlado que deixava cada palavra ainda mais perigosa. "Se você ou seu filho sequer pensarem em chegar perto da Elore outra vez, vão se arrepender de terem nascido. Eu não estou brincando, Cecília. Esse é o último aviso."
Cecília finalmente puxou a mão com força, soltando-se do aperto de Sofi. Ela olhou para ambas com um ódio febril, mas, por um momento, recuou. Parecia que a força de Sofi, e o desprezo no rosto de Elore, a haviam abalado.
Mas, como uma víbora, Cecília nunca recuava completamente. "Você vai ver, Elore," ela sibilou. "Vou acabar com você, de um jeito ou de outro. Seu fracasso está escrito, só estou aqui para acelerar o processo." Ela lançou um último olhar mortal para Sofi. "E você... vai se arrepender de se meter onde não é chamada."
Então, Cecília virou as costas, saindo do apartamento com passos pesados, mas não sem uma última olhada sobre o ombro. "Isso não acabou."
A porta se fechou, e o som ecoou no apartamento como o bater de um martelo. Elore, ofegante, olhou para Sofi, a adrenalina ainda a percorrendo, mas agora sentia um alívio e um êxtase tão profundos que quase parecia impossível. Sofi não tirava os olhos da porta, ainda tensa, mas assim que se virou para Elore, seu olhar suavizou.
"Eu te falei, El," murmurou ela, envolvendo a amiga num abraço, sua voz agora baixa e protetora. "Eu estou aqui. E ninguém vai machucar você."
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Atualizado até capítulo 65
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