Conforme os pequeninos a levavam pelo bosque, Elore começou a notar detalhes que antes não tinha percebido. As árvores pareciam sussurrar umas para as outras, suas folhas se movendo em padrões que não eram ditados pelo vento. Flores gigantescas de cores impossíveis abriam-se suavemente ao seu redor, lançando perfumes que a faziam lembrar de memórias que ela nem sabia que tinha. Algumas delas pareciam acompanhá-la com seus movimentos, como se estivessem curiosas sobre quem era a estranha humana em seu território.
Os pequeninos mantinham-se ocupados, discutindo entre si em sussurros rápidos e agudos.
“Ela deve ser importante. O bosque nunca reage assim para ninguém,” murmurou Filó, com as asas cintilando enquanto flutuava ao lado de Elore.
“Importante ou perigosa,” respondeu Troco, ainda cruzando os braços, mesmo enquanto flutuava com uma pequena antena tremendo de irritação. “Eu não confio em ninguém que aparece magicamente aqui.”
“Você não confia nem na própria sombra,” provocou um pequenino de cauda felpuda, rindo enquanto balançava de um galho.
“Isso porque minha sombra não anda caindo em bosques proibidos!”
Elore suspirou, incapaz de evitar um pequeno sorriso diante da troca de farpas entre eles. Havia algo reconfortante na forma como discutiam; quase fazia parecer que tudo era normal, que ela não estava em um lugar que desafiava todas as leis do que ela conhecia como realidade.
“Vocês disseram que este lugar é protegido… O que isso significa exatamente?” ela perguntou, interrompendo a conversa.
Os pequeninos pararam por um momento, trocando olhares nervosos. Foi o pequenino esverdeado quem finalmente respondeu, com uma expressão que misturava orgulho e cautela.
“Este bosque é o coração de nosso mundo. Ele mantém a vida, a magia e o equilíbrio. Mas também é um lugar que ninguém, nem mesmo nós, deve desrespeitar. Há forças aqui que não devem ser perturbadas.”
“Elas protegem o bosque, a floresta,” acrescentou Filó, pousando ao lado de Elore. “Mas também têm suas próprias regras. E nós… respeitamos essas regras.”
“E você as quebrou,” completou Troco, apontando um dedo acusador para Elore.
“Eu não quebrei nada!” ela retrucou, exasperada. “Eu nem sei como cheguei aqui! Se pudesse voltar para casa, eu…” Ela parou, percebendo que não sabia como terminar a frase. Porque, apesar de toda a confusão, uma parte dela estava hipnotizada por aquele lugar. Era lindo demais, mágico demais.
“Não seja rude, Troco,” disse a pequenina com a tiara de pétalas. “Ela pode ser uma intrusa, mas isso não significa que tenha vindo aqui de propósito. Humanos são… desajeitados.”
“Eu ouvi isso,” Elore disse, olhando para a pequenina.
“Era para ouvir,” ela respondeu com um sorriso travesso, antes de voltar a flutuar com graça.
Enquanto avançavam, o bosque se tornava ainda mais fascinante. Pequenos rios brilhavam como se carregassem estrelas líquidas, e animais mágicos espreitavam das sombras: cervos com galhos no lugar de chifres, raposas com caudas múltiplas que cintilavam, e pássaros com penas que mudavam de cor conforme voavam.
“Isso é… incrível,” Elore murmurou, sua voz baixa, quase reverente.
“E perigoso,” respondeu o pequenino esverdeado. “Se você não pertencer a este lugar, ele pode rejeitá-la. Então, é melhor que tenhamos respostas logo.”
A menção de “rejeitá-la” fez um calafrio percorrer sua espinha. Ela apertou os braços ao redor de si mesma, sentindo-se mais vulnerável do que nunca.
Finalmente, o grupo parou diante de um imenso arco natural formado por duas árvores entrelaçadas. Suas copas criavam um portal que brilhava com uma luz dourada e pulsante.
“O Refúgio das Flores,” anunciou Filó com um tom solene.
Elore engoliu em seco, sentindo que estava prestes a entrar em algo muito maior do que podia compreender. As vozes dos pequeninos haviam se silenciado, e todos olhavam para ela com uma mistura de expectativa e apreensão.
“Bem,” disse o pequenino esverdeado, “está pronta para encontrar quem pode responder suas perguntas?”
Elore não estava pronta. Mas ela não tinha escolha.
Se levantou ainda sentindo um pouco de fraqueza nas pernas. Os pequenos atentos para uma possível queda, mas ela se manteve firme. Respirou fundo e deu um passo hesitante em direção ao portal.
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Atualizado até capítulo 65
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