CAPITULO 3

"Elore saiu do banho com uma toalha ainda enrolada nos cabelos, as gotas de água ainda espalhadas pelo corpo. Seu quarto estava envolto numa atmosfera de tranquilidade e prazer, uma música lenta tocava suavemente ao fundo, e o aroma de um incenso de flores do campo preenchia o ar. Ela se sentou na cama para passar creme hidratante, perdida em pensamentos, sem perceber a presença de um homem alto, robusto, charmoso e de aura dominante observando-a.

"Olá, pequena fada," uma voz profunda e repentina a fez sobressaltar. Elore olhou para a porta, onde Kael estava recostado no batente, braços cruzados e o olhar intenso fixo nela. Ela agradecia o fato de estar sentada, pois sentiu as pernas falharem por um momento.

"O-olá," gaguejou, a presença de Kael transmitindo um nervosismo que ela não conseguia controlar. Ele caminhou em sua direção, um sorriso no rosto, claramente se divertindo com o nervosismo dela. Cachorro, pensou Elore, ele sabia o que causava nela e se aproveitava disso.

"Dia difícil hoje, fadinha?" Ele se ajoelhou, pegando o creme que Elore havia deixado cair com o susto.

"Uhum," foi a única resposta que ela conseguiu articular, sem saber onde enfiar a cara. Kael então tocou seu pé, puxando-o gentilmente para seu joelho, e começou a massagear sua panturrilha.

"Ahh," Elore gemeu sem querer, um rubor imediato tingindo suas bochechas. Ela rapidamente tampou a boca com as mãos, mortificada. Kael, por outro lado, parecia se divertir com cada expressão e nuance sincera dela. Era extremamente divertido provocá-la.

"Posso ajudar a aliviar seu cansaço com uma massagem. Sou ótimo com as mãos, sabe?" Ele piscou para Elore, um sorriso de lado safado, deixando claro o duplo sentido da oferta. O rosto de Elore ficou ainda mais vermelho.

A massagem continuou, e Elore já sentia os dedos das mãos doerem de tanto apertar os lençóis da cama, esforçando-se para conter qualquer som que escapasse de sua boca.

"Por favor, não se segure. Adoro ouvir sua voz," Kael murmurou, sua mão subindo devagar pela perna dela, provocando arrepios por todo seu corpo. Elore já não sentia que seu corpo pertencia a si mesma. Consciente apenas do toque de Kael, seus pensamentos se dissolviam.

Conforme ele se aproximava de sua boca, Elore fechou os olhos, esperando sentir o toque daqueles lábios desejados. E quando ele estava prestes a tocá-la...

Elore acordou com o som estridente do despertador, o coração ainda acelerado e o corpo quente pelo que parecia ser uma experiência vívida demais para ser apenas um sonho. Ela piscou algumas vezes, tentando se livrar da névoa do sono, até que a realidade caiu sobre ela como uma onda fria: tinha tido outro sonho indecente com Kael.

Outra vez. Ja era o Sexto dia...consecutivo.

Ela soltou um suspiro longo e cansado, afundando o rosto no travesseiro, sentindo-se uma completa idiota. Como alguém normal poderia ficar acordando no meio da noite, completamente arrepiada e envergonhada, por causa de um vilão fictício? Estava começando a achar que sua sanidade mental estava de fato em risco.

Ainda enrolada nas cobertas, Elore levantou um pouco a cabeça e olhou para o lado, onde o livro de capa gasta repousava na mesinha de cabeceira. Aquela maldita história estava a afetando de formas que ela jamais poderia ter previsto. Como é que um homem que nem sequer existia tinha tanto poder sobre ela?

Enquanto se levantava da cama, resmungando e xingando mentalmente sua própria mente por não lhe dar uma trégua, Elore não pôde deixar de se perguntar como seria viver em um mundo onde Kael fosse real. Talvez isso explicasse por que, mesmo sabendo que era só um sonho, ela sempre se deixava levar por aquelas fantasias. Era o tipo de coisa que a deixava rindo de nervoso e corando ao mesmo tempo, odiando a si mesma por sentir o que sentia, mas ao mesmo tempo incapaz de parar.

Ela caminhou até o banheiro, o chão frio sob seus pés contrastando com o calor que ainda sentia no corpo. Enquanto escovava os dentes, Elore se pegou olhando para o espelho e se repreendendo mentalmente: "Sério, Elore, Sonhar com ele de novo?" Um sorrisinho sem graça escapou, seguido de uma careta. "O que eu faço com voce?"

Mas, por mais que tentasse ignorar, aquela sensação persistia, o que a deixava ainda mais frustrada. Talvez o pior de tudo fosse saber que, por mais que tentasse se afastar daquele livro e daquele personagem, sempre acabava voltando. A verdade era que, nos momentos mais difíceis, Kael estava se tornando a única coisa que a fazia sentir algo diferente de tristeza. Mesmo que fossem sentimentos complicados e confusos, ainda assim eram um alívio da dor que vinha tentando superar.

Elore terminou sua rotina matinal, ainda lutando contra a sensação de que estava perdendo o controle sobre seus próprios pensamentos. Mas, no fundo, sabia que não conseguiria se afastar daquele livro por muito tempo. Kael poderia ser fictício, mas as emoções que ele despertava nela eram tão reais quanto possíveis. E, por mais que se sentisse uma idiota, talvez não fosse tão ruim assim ter algo – ou alguém – em quem se refugiar, mesmo que fosse apenas em seus sonhos.

...

Vivendo uma encruzilhada em sua vida, Elore estava com sérios problemas. Admitir que estava se apaixonando por alguém que não existia ou ... ela não sabia o que viria depois desse "ou". De toda forma Elore ja estava se habituando a sua rotina diária de sonhar com Kael todas as noites. serio... todas as noites.

E eram sonhos tão reais que ela as vezes precisava de um tempo sentada na cama para recuperar a consciência olhando ao redor para ter certeza que ele não estava la. Era vergonhoso todas as vezes.

Nem sofi sabe sobre isso ainda, e Elore cogita a ideia de nunca contar nada a amiga. Vai que ela decida lhe internar de vez.

Sofi continua ligando todos os dias para saber como Elore esta e para botar o papo em dia. Ela esta muito feliz por ver essas mudanças em Elore. Em uma das ligações ate chorou emocionada quando ouviu Elore gargalhar de forma espontânea. E ela sabia que era real. Aquela alegria. então Sofi disse: "Seja la o que você estiver fazendo, continue e não pare. Você esta melhor que antes e isso me deixa muito feliz. "

Elore ainda não havia saído de casa desde seu termino. Sofi a visitava de vez em quando para assistir um filme ou somente para sentar na sala fazendo companhia a Elore lendo um livro. Thomas, namorado de sofi, sempre mandava beijos e muitas guloseimas para Elore através de sua namorada. Ele decidiu dar espaço para Elore se sentir confortável com sua presença, por isso não vinha junto quando sofi aparecia para visita-la. Um querido.

Em uma dessas visitas Sofi tenta mais uma vez convencer Elore a sair de casa.

"Você sabe, Elore, que o escritório está um caos sem você, né? Todo mundo sente sua falta. O chefe até comentou que nenhum relatório chega perto da perfeição dos seus."

Elore suspira, fechando o livro e colocando-o no colo "Eu sinto falta de lá também... mas ao mesmo tempo, não sei se estou pronta para voltar. Ainda é tudo muito recente, sabe?"

Sofi coloca o livro de lado e se vira para Elore, com uma expressão compreensiva "Claro que sei. Você está lidando com muita coisa agora. Todos la estão te dando muito apoio. Mas, ao mesmo tempo, voce não pode se isolar para sempre."

Elore abaixa a cabeça, brincando com a borda do livro "Eu sei... é só que... eu não estou pronta para enfrentar a possibilidade de encontrar com ele na rua ou, pior, aqui na porta do meu apartamento. Eu ainda me sinto... frágil." Elore se abraça como se tentasse se proteger de algo invisível.

Com a mão no ombro de Elore Sofi diz  "É natural se sentir assim. Você sofreu abuso psicológico El, e o que ele fez não foi justo com você. E você passou por tanta coisa nas mãos daqueles merdas, Mas você é mais forte do que imagina, Elore. E não precisa enfrentar isso sozinha."

"Eu sei que não estou sozinha... tenho você e meus queridinhos aqui - Elore diz levantando seu livro - mas às vezes parece que estou presa em um loop, revivendo cada palavra que ele disse, cada momento em que me fez sentir menos... menos eu."

Sofi puxa Elore para um abraço apertado "Você é incrível, meu amor. Ele é quem perdeu. E se um dia ele aparecer, você vai estar pronta. Ou eu vou estar la para quebrar a cara dele. - sofi sempre consegue arrancar risadas de Elore com suas ideias mirabolantes. - Mas, até lá, vamos nos focar em você, ok? "

"Obrigada, Sofi."

"Agora, vamos voltar para os livros, mas depois quero te ver fora dessa casa. Nem que seja para dar uma volta no quarteirão, ok?"

"Tudo bem, tudo bem. Mas você vai comigo, certo?"

Sofi pisca o olho "Sempre."

Alguns dias depois...

Elore estava deitada na cama, o livro ainda aberto ao seu lado, com os olhos fixos no teto. O sol da tarde entrava pelas cortinas semi-abertas, lançando um brilho suave no quarto. Mas em sua mente, era como se uma tempestade estivesse se formando. Kael a havia envolvido de uma forma que ela não conseguia entender completamente. Ele era tudo o que ela jamais esperaria se apaixonar: frio, calculista, e perigosamente charmoso.

"Ok, vamos pensar racionalmente. Ele é fictício. F-i-c-t-í-c-i-o. Então, por que isso está me afetando tanto? Será que é porque ele me lembra alguém? Não, Marcus nunca teve esse tipo de... profundidade. Ele era apenas cruel. Mas então por que Kael mexe tanto comigo?"

Ela riu de si mesma, sabendo o quão absurda era a situação. Mas algo a fez perceber o que não tinha considerado antes: a transparência brutal de Kael era algo que Marcus nunca teve. Com Marcus, sempre havia aquela sensação de andar sobre cascas de ovos, de tentar se moldar para evitar críticas e desaprovação.

Elore se levantou, bebeu água e foi para o sofa, ela pegou o livro de novo, mas desta vez sem a mesma ansiedade de antes. Agora, havia uma nova clareza surgindo.

Kael, o homem solitário e mal compreendido, cuja vida era uma constante batalha contra a escuridão. Ele não era o herói tradicional. Ele era real, com falhas, sombras e uma coragem silenciosa que a fazia acreditar em algo mais.

Elore Folheou até a página que mais a marcava, onde Kael, em seu silêncio obstinado, enfrentava acusações sem se defender. Ele era incompreendido, mas nunca cedia.

“Por que você não diz nada?” ela murmurou para si mesma, sentindo as palavras dele ecoarem em sua própria vida. "Por que ninguém entende o que realmente está em seu coração?"

Diferente dela, Kael não se rendia à dor. Ele a carregava como uma armadura, enfrentando o mundo com uma força silenciosa. “Sera que eu consigo ser assim?” ela murmurou para si mesma, tocando a capa do livro com cuidado. Ele era tudo o que ela queria ser: forte, resiliente, inquebrável.

Cada vez que lia havia uma nova percepção. Cada interação de Kael, cada palavra cortante, parecia menos uma ameaça e mais um reflexo de sua própria necessidade de honestidade. Ela começou a perceber que talvez seu interesse pelo vilão não fosse apenas sobre o personagem em si, mas sobre o que ele representava: a busca por autenticidade e a rejeição de compromissos superficiais. Ser amado por quem você é.

Ao folhear mais páginas, chegou à parte em que Kael enfrentava novamente acusações falsas sem sequer tentar se defender. “Ele é perigoso,” diziam os outros. “Um monstro que deveria ser banido.” Mas Kael permanecia em silêncio, aceitando o ódio, enquanto protegia aqueles que nem sabiam de seu sacrifício.

“Por que ninguém vê o que você realmente é?” a voz de Elore tremeu. “Eu vejo. E, se pudesse, te tiraria dessa escuridão.” Elore parou por um momento e pensou em sua vida.

"Meu querido Kael, sua historia esta me transformando, então vou continuar buscando conhecer você melhor porque talvez você esteja me ajudando a ser a heroína da minha própria história."

......

Elore percebeu que algo realmente estava mudando dentro dela. O peso que carregava nos ombros começou a se dissipar, como se a história estivesse limpando as teias de aranha de sua mente. Sua casa, antes um caos de livros empilhados, cobertores espalhados e pratos não lavados, de repente parecia digna de atenção. Estava uma belezura. E, milagrosamente, Elore estava tomando banho todos os dias — um grande progresso, considerando o estado em que se encontrava semanas atras.

Kael, seu vilão literário, havia se infiltrado em sua mente de uma maneira que ela não queria admitir. Cada vez que lia o livro, seu coração acelerava um pouco mais. Ela ja poderia recitar algumas frases de cor de tanto que leu o livro. Mas admitir que estava se apaixonando por um personagem fictício? Isso ainda era demais. Mesmo assim, ela não podia negar o efeito positivo que ele estava tendo em sua vida.

Entre momentos de leitura e devaneios sobre Kael, Elore começou a escrever. Inicialmente, eram pequenas anotações, cenas que imaginava entre os dois. O que começou como um simples exercício de imaginação rapidamente se transformou em algo mais. Ela se via vivendo aventuras com Kael, enfrentando desafios e, claro, compartilhando momentos íntimos. Elore se pegava sorrindo para a tela do laptop, rindo sozinha das situações que criava e até corando com algumas das coisas que escrevia.

Mas, obviamente, ninguém precisava saber sobre isso. Afinal, quem poderia entender sua súbita obsessão por um personagem de livro? No entanto, enquanto escrevia, Elore descobriu uma nova paixão. A escrita, que começou como um escape, e que se transformou em uma terapia pessoal. Era como se, ao criar essas histórias, ela estivesse reconstruindo pedaços de si mesma que haviam se perdido.

A cada palavra que escrevia, Elore se sentia mais animada, mais conectada consigo mesma. E assim, entre cenas de romance e aventura, ela começou a perceber que a escrita não era apenas uma fuga, mas uma ferramenta poderosa para descobrir quem realmente era.

"Poise, Elore, Você está escrevendo fanfics sobre você mesma e um vilão fictício... Tem alguma coisa muito errada ou muito certa aqui. Quem sabe, talvez escrever seja meu verdadeiro chamado. Não como um pedido de ajuda ao universo para encontrar o amor, mas como uma maneira de finalmente amar a mim mesma. Isso soa tão brega, mas, sinceramente? Estou começando a gostar disso."

O que começou como uma tentativa de preencher o vazio deixado por um relacionamento tóxico se transformou em uma jornada de autodescoberta. E, no fundo, Elore sabia que esse era apenas o começo.

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