CAPÍTULO IV

Damon relutantemente deixa Cris ir embora, ainda confuso com a expressão “desejo momentâneo”. Com um aceno, autoriza a transferência da ligação, que se trata de uma emergência em um dos projetos no exterior. A equipe responsável está com dificuldades de entregar o projeto, mesmo depois de tudo validado. “Próximo projeto no exterior levarei Cris e sua equipe.” Sorri brevemente com a ideia, mas logo fecha a cara, pensando na possibilidade de ficar longe de Cris. A chamada durou mais que esperava e já era tarde quando finalizou. Cansado, não consegue deixar de pensar no panorama de sua relação com Cris. Apesar de terem se aproximado naquela noite e Cris também o desejar, a situação parece mais crítica agora, já que Cris recuou ainda mais. “Preciso de um drink.”

Damon chega ao seu bar habitual. O ambiente é taciturno, com uma luz baixa, quase uma penumbra. O balcão é de mármore negro e as cadeiras acompanham o tom. Há algumas mesas dispostas ao longo do pequeno salão, com espaços para duas ou quatro pessoas. O piso negro com detalhes brancos, reluz a meia luz. Damon se senta ao balcão e o bartender lhe serve o de sempre. No primeiro gole Damon sente um pouco da tensão se dissolver. Aquele líquido dourado desce quente e aconchegante, ajudando- a relaxar.

Mike – Faz tempo que não te vejo assim!

Damon – Hum... estou exausto e de frente a um impasse.

Mike – Negócios?! Você sempre resolve e sempre vence. Mike é um antigo amigo de Damon, que desistiu da vida de CEO e se tornou bartender. Com a ajuda de Damon, montou esse bar e, apesar dos tempos difíceis, considera que sua vida está melhor que nunca. – E você sempre pode desistir e vir servir mesas...

Damon ergue o olhar, de forma debochada e encara o amigo. – Não sou corajoso como você. Os negócios vão bem, bem até demais...

Mike encara seu amigo, que está com um olhar nebuloso, e percebe que nunca o havia visto neste estado. – O que aconteceu com você?

Nesse momento, Sophia senta-se ao balcão, do lado esquerdo de Damon e agarra seu braço. – Pode me servir o mesmo que o dele. Sophia é uma mulher no início dos 30 anos, corpo escultural, complementado por cabelos negros e longos, que estão presos em um rabo de cavalo no alto de sua cabeça, e os fios caindo elegantemente sobre seu ombro direito. O terno de corte justo, valoriza seu corpo e é complementado com acessórios reluzentes.

Damon se desvencilha do agarrão de Sophia e encara a mulher ao seu lado com um olhar carrancudo. – Já te avisei que não gosto desse seu comportamento.

Sophia – Só estou te cumprimentando. Você sabe o quanto gosto de você.

Damon – Mas eu não gosto de você, muito menos de ser agarrado por você.

Sophia suspira fundo e afunda na cadeira, fechando a cara e levando a boca o whisky recém servido. – Qual o problema dele? Questiona ao bartender em sua frente. Mike dá de ombros e diz – Pergunte a ele! Com isso, Mike se retira para atender um casal que está do outro lado do balcão.

Damon – Nada que diz respeito a você Sophia. Desculpe minha franqueza, mas com você só sendo incisivo. Nosso relacionamento é estritamente profissional e há muito tempo não te devo satisfação. Tivemos um lance, breve, mas ficou no passado. Ficou claro?!

Sophia – Mais que claro. Mas você deveria saber que sou como você e não desisto do que desejo. E você sabe que eu te desejo.

Damon – Não é meu problema. Mas não invada mais meu espaço pessoal. Caso contrário, nem relacionamento comercial teremos mais.

Sophia levanta as mãos em sinal de rendição e volta a beber, em silêncio. “Ele nunca foi muito tolerante, mas dessa vez ele foi muito direto. Preciso recuar.” Sophia finaliza sua bebida e se despede de Damon, que apenas acena com a cabeça. Também se despede com um breve aceno de Mike, que retorna para próximo do amigo.

Mike – O que aconteceu? Ela desistiu rápido hoje... Sempre achei que ela te ganharia pelo cansaço.  Nunca entendi como você teve algo com ela, mesmo que breve.

Damon lança um olhar fuzilando seu amigo, que ri. Damon empurra o copo em direção ao amigo, para que esse sirva mais uma dose, enquanto massageia a parte de trás do pescoço. O cansaço realmente bateu, o pensamento girando em torno dos últimos eventos com Cris. Quando disse ao Mike que os negócios estão indo bem, foi verdadeiro. Sabe que hoje em dia possui uma equipe muito eficaz, que consegue manter todos os projetos rodando sem a necessidade de sua supervisão. Alguns imprevistos podem ocorrer, mas nada que requeira sua atenção o tempo todo. Isso lhe confere uma certa liberdade para comprometer seu tempo com outras coisas, mas já estava habituado a ser um viciado em trabalho, sempre focado nos negócios.

Agora está se sentindo perdido, pois além de não saber como resolver o impasse com Cris, não está acostumado a se dispersar tanto de seu trabalho. Mike coloca o copo a sua frente, que Damon pega e vira em um único gole. Seu amigo o observa mais atentamente, percebendo que há algo sério acontecendo.

Mike – Cara, o que está acontecendo?

Damon – Acho que estou apaixonado...

Mike não aguenta e solta uma gargalhada. – Repete cara, acho que não ouvi direito. O coração de gelo está derretendo?

Damon se irrita e se levanta abruptamente. Mike para de rir e pede desculpas para o amigo, pedindo para que esse se sente novamente. Damon se senta e aceita o copo que seu amigo lhe serviu. Dessa vez, dá um gole em sua bebida e respira fundo.

Damon – Não sei o que está acontecendo comigo. Nunca me senti assim. Conheci uma pessoa, que desde o primeiro momento mexeu comigo. Agora não consigo tirá-lo dos pensamentos. Não estou sabendo lidar com meus desejos, nem com essa sensação... é tudo novo e frustrante.

Mike – Deixa eu adivinhar... Você está tratando isso como se fosse um processo de aquisição, sendo incisivo nos seus avanços, tentando ganhar espaço a todo custo e dominar o processo?!

Damon encara seu amigo, que está com um sorriso divertido.

Mike – Cara, você nunca passou vontade. Sempre soube como conseguir algo para uma noite e nada mais. A Sophia é prova disso, tá na sua até hoje (diz isso e dá uma risada). Mas você nunca precisou lidar com seus sentimentos, porque você nunca teve sentimentos.

Damon – Qual o ponto?

Mike – A frustração é por ser um sentimento totalmente novo e que para se desenvolver não depende só de você. Você está na mão da outra pessoa, e isso está te incomodando, porque você sempre dominou e resolveu as coisas a sua maneira.

Damon dá mais um gole em sua bebida e fica em silêncio. “Mike tem razão, nunca precisei esperar outra pessoa. Mesmo nos negócios, sempre dominei os processos e obtive os resultados rapidamente. Agora tenho que esperar ele tomar uma posição, dar um passo... é tão frustrante!” Damon leva as mãos a cabeça, apoiando-se nos cotovelos.

Mike – Meu caro amigo, o que você precisa agora é ser paciente. Você já avançou o que podia, talvez agora seja o momento de recuar e permitir que o outro tome uma atitude.

Damon olha para seu amigo, que lhe dá um sorriso acolhedor. “Ele realmente está confortável como bartender.” Toma o restante de sua bebida em um último gole e se levanta, preparando-se para sair. – Obrigado meu amigo, vou encerrar a noite por aqui. Dizendo isso, dá um aceno com a cabeça e sai para noite fria.

***

No dia seguinte, já no escritório, Damon ainda está perdido em seus pensamentos, considerando as palavras de seu amigo. “Recuar... Ter paciência... Mas isso não quer dizer que eu não possa ligar para ele... Mas não sei se ele quer falar comigo?... Pelo amor de Deus Damon!!! Quem é você? Uma adolescente?”

Damon pega o celular e busca o contato de Cris, o número chamado cai na caixa postal... Damon digita uma mensagem, pedindo para Cris retornar o contato, mas a mensagem não apresenta confirmação de recebida. “Ele está me evitando? Ele me bloqueou?” Damon irritado, larga o celular sobre a mesa e volta sua atenção para a tela de seu notebook, para um e-mail com o relatório de uma de suas filiais. O dia transcorre sem novidades, o que dificulta ainda mais que Damon tire Cris dos pensamentos. Ele sabe que tem um comportamento meio obsessivo, esse comportamento sempre o ajudou nos negócios, mas agora, isso está dificultando até mesmo organizar seus pensamentos. Seu telefone toca e em sua tela aparece o nome de Cris. Imediatamente atende.

Cris – Boa tarde Damon! Desculpe, meu celular descarregou e só percebi a pouco. Aconteceu alguma coisa?

Damon – Precisamos terminar nossa conversa. Pode jantar comigo hoje? Damon faz o convite antes mesmo de pensar.

Cris – Desculpe, já tenho compromisso essa noite.

Damon fica irritado com a resposta e sua frustração aumenta. – Não precisa arranjar desculpas, mas precisamos realmente conversar. A frustração de Damon transparece em sua voz.

Cris – Sei que precisamos conversar. Mar realmente não é desculpa. Uma amiga retornou recentemente do exterior e tenho um compromisso com ela essa noite.

Damon – Me avise quando tiver disponibilidade. Damon está irritado com essa situação e não consegue controlar seus sentimentos.

Cris – Não fique chateado. Vamos marcar até semana que vem, só preciso confirmar minha agenda.

Damon – Humm.

Cris – Desculpe, preciso entrar em uma reunião, nos falamos depois. Dizendo isso, Cris encerrou a ligação.

Damon se sente mais calmo... Apesar de não ver Cris, só dele ter retornado ajudou a apaziguar seus pensamentos. Mas aflorou seus desejos... “Como posso estar tão preso a ele? Só de ouvir sua voz, minha fome voltou... Eu preciso controlar esses impulsos.”

Mais tarde, já em seu apartamento, Damon sai do banho e senta-se em sua poltrona favorita, com uma taça de vinho. Ao fundo, toca um blues melancólico, num volume baixo, agradável. Damon alcança o livro em sua mesinha e passa a folhear, encontrando o ponto onde parou. “Deixa eu tentar mudar meu foco.” Damon passa a ler, se perdendo entre a história e seus pensamentos. Depois de um tempo, seu telefone dá dois toques e para. Damon alcança seu celular e vê que foi Cris quem ligou. Automaticamente disca de volta. O número chama até cair na caixa postal. Disca novamente e após tocar três vezes uma mulher atende, com muito barulho ao fundo.

Lixxie – Oii, quem é?

Damon – Esse número é do Cris, onde ele está?

Lixxie – É o gostoso tatuado? Após dizer isso, gargalha.

Damon – Quem está falando? É a amiga do Cris? Onde ele está? Ele está bem? Por que ligou e desligou?

Lixxie – Calma gato, quantas perguntas! Ele está bem, só estamos um pouco altos. Fui eu quem liguei e ele desligou.

Damon – Vocês beberam? Onde vocês estão?

Lixxie desliga. Damon irritado, volta a ligar, mas cai na caixa postal. Em seguida recebe uma mensagem com uma localização. Damon rapidamente se troca, pega as chaves do carro e segue para o endereço informado.

Chegando no local, Damon percebe que se trata de uma balada. Entrando facilmente, tenta ligar mais uma vez para Cris, sem sucesso. Segue para o camarote, acreditando que eles possam estar lá. Sem muito esforço, entra no camarote e começa a procurar por Cris... Após algumas voltas naquele local, Damon vislumbra um rapaz loiro, com um coque se desfazendo lindamente pelos ombros, vestido com uma calça preta justa e uma camisa branca transparente, dançando abraçado com uma garota um pouco mais baixa, de compleição franzina, mas que conseguia manter aquele homem ancorado. Damon se aproxima rapidamente do casal, contornando o rapaz para ver seu rosto. Encontra Cris com um olhar semicerrado e um rosto avermelhado, seja pelo calor ou pela bebida. Damon ergue levemente o rosto de Cris, se aproximando. Cris abre os olhos e encara aquele lindo homem a sua frente, segurando seu rosto...

Cris – Por que você se parece com Damon? Estou vendo ele agora?

Lixxie se vira abruptamente e Cris cambaleia, sendo amparado por Damon.

Lixxie – Então você é o gostoso do dragão? Diz, medindo Damon da cabeça aos pés.

Damon acena com a cabeça, ajustando Cris no seu abraço.

Lixxie – Vou deixá-lo aos seus cuidados. Cuida bem do meu querido!!! Lixxie diz isso mandando beijinhos e sai serpenteando pela multidão.

Cris está olhando fixamente para o rosto de Damon, que retribui o olhar. – Já que isso é um sonho e você está nele, vou aproveitar. Após dizer isso, Cris entrelaça o pescoço de Damon e o beija intensamente. Damon retribui o beijo, puxando Cris para mais perto de seu corpo. O beijo é longo e intenso. Cris se afasta lentamente dos lábios de Damon e questiona – Estou sonhando? Nesse momento, Cris dá uma cambaleada e Damon percebe que ele não tem condições de continuar ali. Damon ancora Cris e o direciona para a saída. Após colocar Cris no banco do passageiro, Damon segue para seu apartamento.

O telefone de Cris toca e Damon o alcança. Na tela, uma mensagem de Lixxie dizendo “aproveite a noite, meu querido!”.

***

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Comments

rosangela aparecida

rosangela aparecida

Eitaaaa kkkkkkk Adorando cada capítulo 🤩

2025-01-31

1

Kellyla Nunes

Kellyla Nunes

Ah, Cris, queria eu está em seu lugar, eu não pensaria duas vezes em tirar as calças do Damon e aproveitar cada centímetro do seu p**.🤭

2025-03-12

0

Clesiane Paulino

Clesiane Paulino

Cris desejou Damon por tanto tempo e agora que tem ele tá colocando dificuldade... eu não entendo 😥😥😥

2025-02-20

2

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