Intan olhou para os fundos da casa, que pareciam mais assustadores do que qualquer outra parte, a enorme árvore de rambutão com seus frutos abundantes e vermelhos. Ela ficou surpresa porque nenhuma criança ousava se aproximar. Parecia que os rumores sobre a casa mal-assombrada eram reais, a ponto de ninguém ter coragem de chegar perto ou entrar na propriedade da Senhora Nisa. Intan não sabia o que realmente havia acontecido, mas sabia que a morte de sua mãe tinha sido estranha. Disseram-lhe, inclusive, que havia um arame saindo de sua boca e partes íntimas. Quem lhe contou foi sua amiga, Suci.
“É melhor eu encontrar Suci para saber mais sobre a história da minha mãe”, pensou Intan enquanto pegava um pedaço de madeira.
Sua intenção era visitar Suci levando algumas dessas deliciosas frutas. Se fossem todas colhidas, poderiam ser vendidas no mercado da vila vizia. Mas Intan não conseguiria colher tudo sozinha, precisaria de ajuda, e teria que pagar por isso, pois ninguém trabalharia de graça. Ela não sabia como iria se sustentar. Sua vila era muito isolada e seria difícil encontrar trabalho ali.
“Colhendo, Intan?”, Anto apareceu, cumprimentando sua velha amiga.
“Meu Deus, Anto! Você me assustou. Como vai você?”, Intan reconheceu o homem.
“Estou bem, graças a Deus. E você, como está?”, perguntou Anto, amigavelmente.
“Não muito bem, mas sou grata”, respondeu Intan, com um sorriso doce.
Anto riu e olhou para a árvore de rambutão carregada de frutos. Ele sabia por que as frutas de Intan duravam tanto: a fama de casa mal-assombrada impedia as crianças de se aproximarem. Mesmo se elas tivessem coragem, seus pais as proibiriam terminantemente.
“Vai vender ou o quê?”, perguntou Anto, pegando um pedaço de madeira.
“Não consigo colher tudo sozinha. Se eu for vender, vai dar um bom dinheiro”, respondeu Intan, lamentando ver tantas frutas sendo comidas por morcegos.
“É, e hoje é terça-feira, o tio To vai passar pela vila comprando coisas para vender na cidade”, disse Anto.
“Mas é muito em cima da hora! Ainda preciso encontrar alguém para me ajudar a colher.”
“Eu ajudo, se tiver comissão”, brincou Anto, que estava de folga por ser feriado.
“Sério? Combinado!”, Intan concordou.
No fim, Anto e Intan colheram as frutas juntos. Eram muitas. Intan encontrou vários sacos de estopa no depósito. Quando a metade das frutas estava colhida, já tinham enchido oito sacos grandes.
“O que aconteceu com sua perna, Intan?”, Anto perguntou, notando que ela mancava.
“Torci”, mentiu Intan, sem querer contar a verdade.
“Meu Deus! Tome cuidado ao andar”, disse Anto, deixando cair várias frutas.
Vendo a árvore de rambutão de Intan balançando, Tedi, que também estava de folga do trabalho, se aproximou. Ele tinha visto Anto ali e deduziu que eram eles colhendo as frutas, e não o fantasma da Senhora Nisa, que assombrava e aterrorizava os moradores. O fantasma da Senhora Nisa era o terror da região.
“Vocês estão colhendo e não me chamaram?”, disse Tedi, já experimentando as frutas.
“Tedi! Você por aqui?”, Intan o cumprimentou com entusiasmo.
“Quanto tempo!”, disse Tedi, apertando a mão de Intan.
A bela mulher sorriu ao reencontrar outro velho amigo. Eles conversaram sobre a infância. Tedi também ajudou a colocar as frutas nos sacos para que terminassem logo, pois o tio To chegaria às duas horas em busca de produtos para vender na cidade. Seria um bom lucro para Intan.
“Que frutas doces!”, exclamou Intan, surpresa com o sabor.
“Acho que vão vender a cinquenta mil a saca, Intan”, disse Anto.
“Graças a Deus! E não são só dez sacas, não é?”, disse Intan, olhando para as frutas espalhadas pelo chão.
“Vão dar mais de vinte, se colocarmos tudo nos sacos”, calculou Anto.
“Será que o tio To vai comprar tudo?”, perguntou Intan, preocupada.
“Vai, sim. Ele tem os clientes dele na cidade. O mercado lá é grande”, explicou Anto.
“Então vá pegar mais sacos”, ordenou Tedi.
Intan correu para dentro de casa, deixando seus dois amigos para trás. Eles imediatamente se aproximaram, sentindo medo, apesar de ser dia.
“Eu não estava vendo coisas, estava, To?”, sussurrou Tedi, subitamente apreensivo.
“Vendo o quê?”, Anto olhou para o amigo assustado.
“Tinha uma mulher parada na janela, de costas”, explicou Tedi.
Anto olhou para a janela que Intan havia deixado aberta, mas não viu nada. Tentou acalmar o amigo.
“Você deve ter visto errado. Não estou vendo nada”, disse Anto, tentando parecer tranquilo.
“Ela ainda está lá, To!”, insistiu Tedi, após olhar para a janela novamente.
“Você viu o rosto dela?”, perguntou Anto, que sabia que Tedi não estava mentindo.
“Não! A cabeça dela estava coberta por um pano preto. O que será que é?”, Tedi estava apavorado.
“Leia o verso da cadeira”, sussurrou Anto.
BAM!
“Meu Deus!”
Os dois pularam quando a porta se abriu de repente. Intan também se assustou com a reação deles. Na verdade, ela estava com pressa para sair, lembrando do que havia acontecido na noite anterior.
“Que susto vocês me deram!”, reclamou Tedi, levando a mão ao peito.
“Desculpem. A porta estava emperrada e eu tive que forçar”, explicou Intan com um sorriso nervoso.
“Você encontrou os sacos?”, perguntou Anto, querendo mudar de assunto.
Intan entregou os sacos que havia pegado, mas voltou para dentro para pegar sacolas plásticas. Ela se lembrou de Inah, que sempre dividia sua colheita com os vizinhos. Intan faria o mesmo. Era importante ser solidária na vila.
“A Intan não tem medo, né, To?”, comentou Tedi.
“A fé dela é forte”, respondeu Anto, sem pensar muito.
“E você acha que a minha fé não é forte? Olha o que você vai falar!”, Tedi ficou ofendido.
Anto começou a rir para aliviar a tensão e espantar qualquer presença estranha. Tedi tinha que vir com esse papo de fantasma logo agora. Intan saiu da casa com várias sacolas plásticas nas mãos. Deviam ser umas vinte, cheias de frutas para distribuir aos vizinhos. Mas Intan não se importava. A colheita havia sido abundante. Uma única árvore tinha produzido tudo aquilo.
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Atualizado até capítulo 111
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