Miguel entrou no colégio naquele dia com uma sensação de peso no peito que ele mal conseguia descrever. Desde o término com Julia, tudo parecia fora do lugar. Os corredores, as aulas, até os rostos familiares de sempre pareciam diferentes agora. Era como se o mundo ao redor tivesse mudado, enquanto ele continuava preso no mesmo lugar, sem saber ao certo o que fazer.
Ele soube, logo ao chegar, que aquele seria o primeiro dia de Julia de volta ao colégio. Parte dele queria vê-la, tentar descobrir como ela estava lidando com tudo. Mas a outra parte, a que carregava o orgulho ferido e a dor do término, preferia evitá-la o máximo possível. Enfrentá-la, encarar aqueles olhos que já foram tão familiares, seria muito mais difícil do que ele queria admitir.
Durante a primeira aula, Miguel ficou inquieto, seu olhar frequentemente se desviando para a porta, como se esperasse que ela entrasse a qualquer momento. Quando finalmente o sinal do intervalo tocou, ele se levantou apressado, decidindo que precisava sair daquela sala sufocante.
Foi no pátio que ele a viu. Julia estava conversando com Lucas, e, de onde estava, Miguel observou a cena com um desconforto crescente. Havia algo na proximidade deles que o incomodava. Lucas estava sempre por perto, e, embora Miguel soubesse que ele era um amigo de Julia, a visão dos dois juntos agora, após o término, fazia um nó se formar em seu estômago.
Ele sabia que não tinha mais direito de se sentir assim, afinal, ele e Julia tinham terminado. Mas a proximidade dos dois parecia... diferente agora. Julia sorria de uma forma que ele não via há muito tempo, e Lucas parecia estar ao lado dela em todos os momentos, como um apoio que Miguel, por muito tempo, deixou de ser.
Enquanto observava, um pensamento amargo atravessou sua mente: Eu nunca ouvi ela de verdade, ouvi?
Ele se lembrou das várias vezes em que Julia tentara falar com ele, quando mencionava como se sentia sobre o relacionamento, suas inseguranças, seus sentimentos. Mas ele, distraído com outras coisas — principalmente com Luísa —, não lhe dava a devida atenção. Sempre achava que as coisas se resolveriam sozinhas, que Julia estava exagerando ou que ele tinha tempo para consertar as coisas depois. Mas agora, vendo-a ali, sendo confortada por Lucas, Miguel percebeu que talvez nunca tivesse realmente escutado o que ela queria dizer.
Os momentos em que ela tentava expressar suas frustrações sobre o quanto ele estava distante, o quanto ele parecia mais interessado nas interações com Luísa , agora faziam sentido de uma maneira dolorosa. Miguel sempre achou que o relacionamento deles era sólido o suficiente para resistir a tudo, mas agora via o quanto foi cego.
João, seu amigo de longa data, e Luísa... Eles sempre foram próximos, e por isso Miguel nunca achou que deveria se preocupar. Mas Julia via de outro jeito. E agora, olhando em retrospecto, ele entendia porque ela se sentia incomodada. A maneira como se aproximava de Luísa, o tempo que Miguel passava com ela, deixando Julia em segundo plano, tudo isso foi se acumulando até que não havia mais como ignorar.
No entanto, enquanto Julia tentava falar sobre isso, Miguel estava distraído demais, achando que era um problema pequeno ou temporário. Agora, estava claro que nada disso era pequeno para ela.
Miguel passou a mão pelos cabelos, sentindo a frustração se transformar em algo mais profundo — arrependimento. Ele deveria ter feito mais, deveria ter prestado atenção. Mas agora, talvez fosse tarde demais.
Ainda parado, observando à distância, ele percebeu o quanto a dinâmica entre ele e Julia havia mudado. Quando estavam juntos, ele nunca soube lidar com os sentimentos dela da maneira correta, nunca conseguiu ouvir suas preocupações. Agora, era Lucas quem parecia ocupar esse espaço, oferecendo a ela o apoio que Miguel nunca foi capaz de dar. E isso o incomodava mais do que ele queria admitir.
Quando Julia e Lucas se levantaram e começaram a caminhar juntos pelo pátio, Miguel desviou o olhar, sentindo uma pontada no peito. Ele sabia que não tinha mais o direito de se sentir magoado ou traído, mas a verdade é que a ideia de Julia estar tão próxima de Lucas o atingia de uma forma que ele não esperava.
Enquanto voltava para a sala de aula, Miguel tentou ignorar os olhares curiosos dos colegas, as fofocas que ainda pairavam no ar sobre o término, sobre ele e Luísa. Mas a verdade é que, por mais que tentasse evitar, ele também se lembrava dos momentos com Luísa e. A forma como os dois sempre andavam juntos, como ele dava risada das piadas dos seus amigos enquanto Julia ficava de lado, esperando uma atenção que nunca vinha.
Talvez ele tenha sido ingênuo ao pensar que não havia nada de mais naquilo. Mas agora, com Julia tão distante e Lucas tão próximo, tudo parecia fazer mais sentido.
O que o incomodava mais, no entanto, era o arrependimento crescente por não ter dado a devida importância às palavras de Julia quando ainda estavam juntos. Ela falava, tentava expressar o que sentia, e ele, distraído com Luísa e tudo mais, apenas deixava passar. Agora, era tarde demais para corrigir isso.
Miguel sabia que, por mais que se sentisse mal com a situação, ele era o responsável por grande parte do que aconteceu. E, mais do que nunca, começava a se questionar se havia algum caminho para consertar o que ele quebrou.
Quando o sinal da próxima aula tocou, ele se levantou lentamente, sem muita pressa de voltar para a sala. Enquanto caminhava pelos corredores, seus pensamentos continuavam girando em torno de Julia, Lucas, Luísa... e todas as escolhas que ele fez, que o levaram até aquele momento.
No fundo, ele sabia que, mesmo que não estivesse mais com Julia, ainda sentia algo por ela. E ver Lucas tão perto dela, ver o que ele nunca conseguiu ser, só aumentava a sensação de perda que o consumia.
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Atualizado até capítulo 55
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