O som da campainha marcando o fim da aula de física ecoou pelos corredores, e com ele, veio o habitual alvoroço dos estudantes, todos apressados para o intervalo. Julia e Miguel saíram juntos da sala, como sempre faziam, mas dessa vez havia uma quietude entre eles. O peso do que não foi dito no dia anterior ainda pairava no ar, mas nenhum dos dois parecia disposto a quebrar o silêncio.
Conforme caminhavam pelo corredor, eles foram interrompidos por Pedro, um dos amigos mais próximos de Miguel, que rapidamente entrou na conversa, puxando Miguel para longe de Julia.
– Cara, você vai na quadra mais tarde? A galera vai jogar. Precisamos de mais gente pra completar o time – disse Pedro, sempre animado com qualquer oportunidade de esporte.
Miguel olhou para Julia, como se pedisse permissão silenciosa para ir. Ela sorriu, mas não de forma totalmente genuína. O futebol sempre parecia um escape para Miguel, uma maneira de evitar as coisas que ele não sabia como enfrentar, e isso a incomodava, mesmo que ela nunca admitisse.
– Vai lá, Miguel. A gente se vê depois – disse Julia, acenando levemente enquanto se distanciava.
Pedro deu um sorriso malicioso, notando a troca entre os dois.
– Vocês estão estranhos ultimamente. O que está rolando? – ele perguntou, mas a voz tinha um tom despreocupado. Como se qualquer coisa que acontecesse entre Miguel e Julia fosse apenas uma fase passageira.
Miguel hesitou por um momento, sem saber como responder. Pedro não entenderia, e talvez nem precisasse.
– Nada demais, cara. Coisa da cabeça dela – respondeu Miguel com um meio sorriso, tentando minimizar seus próprios sentimentos. – Vamos lá jogar, já que estou livre.
No entanto, mesmo enquanto caminhava em direção à quadra, Miguel sentia um desconforto crescente no peito. Não era só a relação com Julia que o deixava inquieto; era a sensação de que ele estava preso entre dois mundos: o dos amigos, onde tudo parecia simples, e o mundo que dividia com Julia, onde as coisas eram mais profundas, mais reais.
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Julia e os desafios com Clara
Julia, por outro lado, foi em direção ao pátio, onde se sentou sozinha em um dos bancos próximos ao jardim. A luz do sol iluminava as folhas caídas no chão, mas seus pensamentos estavam longe, focados em Miguel e no que o relacionamento deles estava se tornando. Ela sabia que Miguel estava se afastando, ou ao menos tentando se distrair. E, sinceramente, ela não sabia como lidar com aquilo.
Enquanto olhava para o nada, Clara, uma colega de classe com quem Julia sempre teve uma relação cordial, mas distante, se aproximou e sentou ao lado dela.
– Oi, tudo bem? – Clara começou, a voz carregando uma curiosidade genuína, mas também um tom de fofoca disfarçada.
Julia assentiu, tentando parecer mais tranquila do que se sentia.
– Sim, tudo certo.
Clara não era a pessoa com quem Julia normalmente desabafaria. Clara fazia parte de um grupo de meninas populares, sempre no centro das atenções, enquanto Julia se mantinha mais à margem, preferindo a companhia de poucos amigos próximos. No entanto, Clara parecia ter notado o distanciamento entre Julia e Miguel, como muitos outros na escola.
– Eu percebi que você e Miguel estão meio... diferentes. Tá tudo bem com vocês? – Clara perguntou, com um sorriso meio curioso, meio preocupado. Julia sentiu a pressão de ser educada, mas também não queria abrir seu coração para alguém que via mais como uma conhecida.
– Ah, são só coisas da vida. Sabe como é... – Julia tentou encerrar o assunto rapidamente, mas Clara parecia insatisfeita com a resposta vaga.
– Bom, se precisar conversar, tô aqui – disse Clara, finalmente se levantando e deixando Julia sozinha com seus pensamentos novamente.
O colégio inteiro parecia perceber que havia algo entre ela e Miguel, mas o que eles não sabiam era que Julia estava tão perdida quanto os outros. Por mais que quisesse ter uma resposta para tudo, ela simplesmente não sabia para onde aquilo iria.
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Miguel e Pedro: O Desabafo
Na quadra, enquanto Pedro e Miguel corriam atrás da bola, o assunto inevitavelmente voltou para Julia.
– Cara, eu tô dizendo, você tá muito distraído. Nunca vi você perder um lance tão fácil – zombou Pedro, após Miguel errar um passe simples.
– Só tô pensando em umas coisas – Miguel respondeu, secando o suor da testa com a barra da camiseta.
Pedro, que normalmente não se importava com os problemas alheios, notou a seriedade no tom do amigo e parou de correr por um momento.
– Ok, fala aí. O que tá pegando?
Miguel olhou para os outros amigos jogando, tentando encontrar as palavras certas. Pedro não era exatamente o tipo de pessoa para quem ele costumava desabafar, mas, naquele momento, ele sentiu que precisava dizer algo, qualquer coisa.
– Julia e eu… – ele começou, hesitando. – Eu acho que a gente tá mudando, sabe? Não sei explicar.
Pedro balançou a cabeça, meio confuso.
– Vocês sempre foram grudados. Não vejo o problema. Mas se tá complicando, por que vocês não dão um tempo?
A simplicidade da sugestão de Pedro incomodou Miguel. Não era assim tão fácil. Não se tratava apenas de "dar um tempo". A relação deles tinha camadas, memórias, expectativas. E, no fundo, Miguel sabia que não queria ficar longe de Julia, mas também não sabia como lidar com a intensidade do que estava sentindo.
– Não sei se dar um tempo resolveria. Acho que o problema sou eu, Pedro – confessou Miguel, finalmente soltando a verdade. – Eu não sei o que ela quer, e eu também não sei o que eu quero.
Pedro deu de ombros, simplista como sempre.
– Cara, complicou demais. Só foca no jogo, depois vocês resolvem isso. Futebol primeiro, drama depois – disse ele, batendo nas costas de Miguel de forma amigável.
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Julia e Miguel: De Volta à Rotina
O resto do dia na escola passou devagar. Entre aulas, risadas forçadas e o esforço para manter a normalidade, Julia e Miguel evitaram conversas mais profundas. Era como se ambos soubessem que algo estava por vir, mas nenhum dos dois estava pronto para confrontar o que sentiam.
Na última aula, eles se encontraram novamente, dessa vez em silêncio, lado a lado. O contato visual era breve, mas carregado de significados. A proximidade física não bastava para resolver o que estava acontecendo entre eles, mas ainda assim, estar perto um do outro trazia certo conforto.
Julia olhou para Miguel, e por um momento, considerou se deveria abrir o coração naquele instante. Perguntar o que ele estava pensando, o que ele queria para eles. Mas antes que ela pudesse dizer algo, a campainha tocou, marcando o fim do expediente escolar.
– Vamos embora? – perguntou Miguel, com um sorriso cansado.
Julia assentiu. Talvez aquela conversa ainda tivesse que esperar mais um pouco.
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Atualizado até capítulo 55
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